Eu estava bem, mas isso não quer dizer que não estava chorando. Não era uma coisa para qual eu tinha me preparado psicologicamente. Nesse exato momento, eu estava sentado em baixo de uma árvore oca no parque. Chorando. O parque estava vazio, porque metade da cidade estava no enterro da minha avó, e a outra metade estava trancada em casa. Não fui para o enterro dela, porque sei que minha avó não vai estar lá. E não estou preparado para ver seu corpo ser enterrado três metros em baixo da terra para se decompor até sobrar somente seu esqueleto.

– Você está bem? - Me virei assustado, não esperava encontrar ninguém no parque hoje, principalmente ela... A garota do caderno preto

– Estou

– Você mente muito mal - Disse ela se sentando no meu lado

– Você tem razão, estou péssimo

– Está - Ela fez uma pausa - Mas ela ainda está aqui

– Como você sabe?

– Simplesmente sei - Disse ela torcendo o colar entre os dedos

– Essa não é uma boa explicação - Ela sorriu

– Você nunca foi um bom aluno - Ela parou pra olhar pra baixo - Você ainda tem o resto da sua família

–Só a minha mãe e minha tia

– E o seu pai?

– Ele é só um turista safado que estuprou minha mãe e deu um fora da cidade - Eu falei isso em um tom alto e arrogante que a fez chegar um pouco pra trás

– Pelo menos seu pai não tentou te matar - Disse ela com um olhar triste e vago

– Seu pai tentou te matar? - Perguntei incrédulo

– Sim e acabou matando minha mãe

– Sinto muito

– Não sinta. Ele é um idiota. Não faz parte da minha vida

– Você mora com quem?

– Minha tia e meu avô - Eu percebi que ela ficou meio sem graça.

– Então... - Parei para pensar em alguma coisa mudar de assunto -... Conte-me mais sobre essa tal de "Afroselene" - Ela sorriu

– O nome foi dado a essa pedra em nome às deusas gregas Afrodite e Selene - Ela olhou pra mim sem jeito - Mas acho que não é o tipo de coisa que você se interessa em saber e principalmente hoje eu não vou encher sua cabeça com histórias da Grécia, então acho que vou embora - Ela se levantou e foi caminhando com passos leves até que de repente se virou pra mim, sorriu e disse

– A propósito... Meu nome é Claire