" Não tenha medo da escuridão. O pior, é saber que você não está sozinho nela "

" Tinha desmaiado... De Novo "

NÃO. Eu não tinha desmaiado, era muito real para eu estar inconsciente. Aquela... Névoa me trouxe para um lugar muito familiar. Era a mesma estrada do meu sonho...

Era o mesmo lugar com o qual eu sonhei da vez em que caí da escada, mas agora, o odor dominante era de total podridão e minha boca estava com um gosto amargo e salgado.

Minhas pernas estavam igual a macarrão que acabara de passar do tempo de cozinhamento. Uma pessoa me ajudou e eu me apoiei nela. A mesma parou na minha frente e vi que era apenas Nickolas. Com um olhar sombrio e um meio sorriso nos lábios. Novidade não?

– Está tudo bem ? - perguntou me olhando com aqueles olhos tentadores.

– Estou, obrigada. - agradeci me afastando e trombando com outra pessoa. Mellie.

– Valerie, você sabe o que aconteceu ? - Mellie perguntou com os olhos arregalados. Meus lábios se formaram em uma palavra mas nenhum som saiu da minha boca.

– Aii... Acho que perdi um Rim. - disse Josh estirado no chão. Mesmo com dor o ruivo conseguia ser bem humorado.

– Acho que não foi uma boa mandar meu servo ir buscar vocês - uma voz familiar nos chamou a atenção, giramos em torno de nós mesmos a procura da dona da voz.

Quando encontrei, quase pulei de alegria e espanto ao ver que era Crystal, minha irmã mais nova. Não controlei minhas pernas depois disso, só fui perceber quando já estava abraçada a ela. Crystal tinha cabelos longos escuros e sua pele era morena... Quando pequena, eu brincava com ela e dizia que ela era a minha jóia preferida. Brega... Bom, eu só tinha oito anos.

Quando me afastei dela, percebi que ela usava uma roupa estranha... Não estranha do tipo... Josh ... E sim estranha - estranha.

Ela usava sobre a cabeça um laço roxo, da qual segurava seu cabelo, um vestido estilo camponesa meio rasgado nas pontas era usado para vestir seu corpo, e coturnos simples estavam quase desaparecidos embaixo do vestido. Sem esquecer da capa vermelha vinho pendurada em si.

Na época de meus catorze anos, pedimos á nossa avó uma capa para cada, as duas de cor vermelha, mas a minha era um vermelho sangue, e a dela, era um vermelho vinho.

Ficamos nos encarando por alguns minutos, relembrando cada detalhe uma da outra. Quando percebi que ninguém falaria nada, resolvi dizer :

– Que roupa é essa Heinn ? - debochei.

– Faz anos que a gente não se vê e é ISSO que você diz ? - diz ela indignada - e ESSA roupa é essencial para a ocasião... Afinal acho melhor vocês se trocarem, a floresta é bem rigorosa e fria.

– Não temos roupa, e antes de tudo... Gente, essa é minha irmã e melhor amiga Crystal e... Crys esses são: Mellie, Josh e... Nickolas ! - disse por fim.

– Prazer galera, agora eu vou dar as suas vestimentas e depois me sigam. - ela enfiou a mão dentro de sua mochila e de lá saíram algumas mudas de roupas. O que parecia impossível pois sua bolsa era pequena e não era fisicamente possível que elas coubessem lá.

As roupas dos meninos eram simples, a calça jeans permaneceu e eles só tiveram que colocar luvas, coturnos e agasalhos grandes e quentes. Já eu e Mellie colocamos vestidos ao mesmo estilo de Crys, além de coturnos. Mellie quis usar a luva por conta do frio. Eu já estava acostumada e nem me importei. Estava feliz e isso me fez esquecer qualquer resquício de frio que fosse presente.

– Bom... Acho que você sente falta disso ! - da mochila apareceu uma capa vermelho sangue muito conhecida por mim, estava rasgada nas pontas. Provavelmente por conta das nossas corridas na floresta.

– Uau... Isso ainda existe ? - peguei a capa e a vesti com lágrimas nos olhos. - Gêmeas - disse e a mesma gargalhou repetindo a frase.

Começamos a andar numa estrada vazia e silenciosa. Depois de uns metros chegamos a uma parte escura e gelada da floresta. Suas árvores continham afiados espinhos longos e largos do qual eu mantinha distância. Tudo era um tanto familiar, me lembrava de vir aqui quando menor. Era a casa de minha avó. Ela ficava separada da cidade e vivia em uma casa na árvore no meio da floresta.

– Foi pra cá que você veio depois do... 'Incidente" ? - engoli em seco, me sentindo um tanto magoada - Veio morar com ela ?

– Sim, eu queria um tempo dos nossos pais - forçou um meio sorriso - acho que papai e mamãe nunca nos entenderam - disse por fim olhando para o chão

– Quem? Você ? Ah fala sério. Papai e Mamãe te idolatravam... Eu sempre fui a estranha da família... - disse por fim desanimada. Tinha até me esquecido de meus amigos andando atrás da gente... Sussurravam algo que não identificaria nem se estivesse ao lado deles.

O cheiro era de chuva e grama molhada, com um leve tom de tortas de amoras, as quais minha avó era Expert, eram as favoritas de Crys e eu.

Devíamos estar perto... O cheiro ia ficando cada vez mais forte e adocicado. Minha avó sempre morou aqui. Já ouvi umas conversas dela e de meus pais mas era muito pequena pra me interessar, eles sempre tomavam cuidado pra que eu não escutasse o bastante.

Sempre fui a estranha da escola, junto de minha irmã, éramos vejamos, as netas de Fenície Valdez, a mulher da qual eles tinham medo. Todos olhavam estranho para nós duas e depois saiam do caminho, como se fossemos tranformá-los em sapos só por estar nos olhando... Minha avó mexia com cartas e previsões do futuro. Também vendia algumas jóias que dizia trazer sorte ou tragédia. Já ouvira falar de pessoas que consultaram-na e coisas ruins aconteceram com as mesmas.

O fato de as pessoas terem medo de mim não me deixava nem de longe incomodada, era um motivo para não ser atormentada por pessoas indesejadas. Era reconfortante saber que eu era temida. E as vezes me sentia mal por pensar desse jeito.

*****Continua*****