Elemento escrita por Grind


Capítulo 26
Capítulo 26 - Reencontros




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Elemento / Capítulo 26 - Reencontros

Depois de certa pressão psicológica em Marco, ele finalmente disse quando Gabrielle estava pra chegar de viagem. E quando ela chegou, não fui direto a seu encontro, deixei que ela se estabelecesse, colocasse as coisas em lugar. Foi depois de uma semana, o coração batendo no peito em ansiedade que no meu dia de meio expediente eu resolvi ir atrás dela. E a julgar o horário, ela anda estaria na floricultura, o que facilitaria as coisas para que eu fosse até a casa dela. Eu estava a poucos centímetros da floricultura quando ela saiu, paramos os dois, ela deu dois passos para se virar e ficamos nos encarando pelo que me pareceu milhares de anos, eu estava nervoso.

Os cabelos soltos, embaraçados e enrolados de qualquer jeito nas costas provavelmente para que não se esvoaçassem demais. A bolsa marrom pendurada em um dos ombros, guardando o celular no bolso de trás do jeans surrado era visível que passara os últimos dias aproveitando de alguma praia, a pele morena, queimada pela sol, parecia ainda mais macia, dando lhe um toque jovial, sensual.

– Oi - Eu exclamei surpreso por ela estar saindo mais cedo, ela congelou no lugar onde estava, mas não me respondeu. Eu a vi passar as mãos pelos cabelos, certificando-se de que os fios rebeldes estivessem escondidos pelos mais longos.

– Oi - Eu voltei a repetir e ela me lançou um sorriso fraco que não lhe alcançou os olhos - Tudo bom?

– Tudo - Respondeu friamente.

Eu avancei um passo, seus olhos mantinham-se focalizados no meu rosto, como uma criança curiosa descobrindo um brinquedo novo.

– Eu falei com minha mãe.

Uma breve desconfiança passou por ela, que logo tratou de esconder.

– Sei

– Ela me disse o que aconteceu enquanto eu estive... Você sabe, em coma.

Houve um suspiro de alivio, e soube que o segredinho que ela e minha mãe compartilharam pelo telefone era importante demais para eu ficar sabendo.

– Eu queria falar com você.

– Acho que não temos mais nada pra falar - Deu de ombros, completamente indiferente, no entanto séria.

– Mas eu quero falar. - Eu dei outro passo e ficamos cara a cara, ela ergueu os olhos para me encarar.

– Eu quero te pedir desculpas.

– Desculpas? - Ela ergueu uma sobrancelha com o ar duvidoso

– É.

– Tudo bem então - Deu de ombros com um ar indiferente.

Franzi o cenho.

– Tudo bem?

– Claro, eu estou indo agora.

– Não espera - Eu dei um passo para o lado entrando outra vez em sua frente quando ela resolveu avançar - Não pode ser só isso.

– É claro que não, que diferença faz se você pede desculpas ou não?

– Eu errei, você errou, nós erramos. Eu estou tomando a iniciativa. - Tentei me justificar

– Espera ai - Ela balançou a cabeça em negativo enquanto dava um passo pra trás - O quê?

– Eu não devia ter gritado com você.

– Ah - Ela cruzou os braços - Então é a isso que você se refere, a ter gritado comigo? Esse foi o seu erro? E não ter me acusado de mentirosa - Sua expressão foi de horror para irônica - Ah espera, eu menti, então eu também tenho que me desculpar. - Dramatizou e eu suspirei - O que te faz pensar que você seria tão maravilhosamente perfeito pra me dar falsas expectativas ao ponto de me fazer mentir pra te agradar?

– Deixa eu terminar de explicar está bem.

– Você não me deve explicação nenhuma. - Ralhou

– Eu me precipitei está bem? Eu te julguei mal, eu não deixei que você se explicasse e entendendo se não quiser deixar eu fazer o mesmo.

– Eu não sou você - Ela colocou as mãos atrás do corpo, visivelmente insatisfeita.

– É claro que não é, não teria graça não é mesmo?

Ela não me respondeu, mas seu sorrisinho de satisfação de segundos atrás sumiu rapidamente, minha ironia sobre ela sempre achar tudo extraordinariamente engraçado durante o ensino médio havia sido entendida com sucesso.

Não. Eu me adverti mentalmente, você não veio pra discutir.

– Acabou? - Ela me fuzilava com os olhos - Já me encheu o suficiente? Eu tenho vida.

– Não. Eu quero fazer as coisas direito, quero que deem certo.

– E se eu não quiser? - Maneou levemente a cabeça. Passamos alguns minutos nos encarando, ela não poderia estar falando sério. Não estava.

– Eu vou continuar tentando.

– Comece se desculpando pela acusação mais grave. - Ela voltou a cruzar os braços, jogando seu ar de superioridade sobre mim e foi inevitável não sorrir.

– Desculpe por ter te acusado de mentirosa, acreditar que você estava mentindo, eu me exaltei, não pude me adaptar tão facilmente a ideia de você preocupada com o meu bem estar.

– Vá se ferrar - Ela fez uma careta - Eu tenho coisas mais importante do que pensar se você lembrou de tomar o café da manhã antes de sair da sua casa. Estou terminando a faculdade, é meu último ano e já estou procurando emprego na área pra poder largar a floricultura, e se Deus quiser você vai sair do meu pé até lá.

Eu dei um passo a frente, novamente ficamos cara a cara e ela olhou para os lados perdida.

– Como pode ter tanta certeza? - Eu comecei a encurrala-la e foi quando ela deu com as costas no muro que me olhou nos olhos raivosa.

– Pra tudo da-se um jeito.

– Então eu ainda tenho uma chance.

– O que quer dizer? - Franziu o cenho horrorizada - Enlouqueceu? Nós nos odiamos lembra, você deixou isso bem claro na nossa última conversa!

– Você também deixou na anterior a essa!

Ela me pareceu afetada, quase como se arrependesse de ter feito ou dito algo.

– Você que ficou irritadinho, eu estava brincando, você começou a falar merda eu tive que falar também, não achou mesmo que poderia gritar comigo que nem um demente e que eu permaneceria calada não é mesmo?

– Claro que não, seria monótomo demais, não seria você.

– Eu já disse - Esbravejou a todos os pulmões - Era uma brincadeira não me torne a vilã da história quando foi você que ameaçou coisas como 'não dar as costas pra você'. - Bateu com as duas mãos no meu peito com força - Ou quando você deu indícios de que iria bater em mim na frente dos seus pais. - E outra - Quando você simplesmente invade a minha casa em uma manhã de domingo com a desculpa de 'devolver chaves' porque seria perigoso deixar tudo destrancado - Ela gesticulava de form irônica - Desde quando você se preocupa com o meu bem estar? - Ela deu enfase nas palavras 'você' e 'meu'.

– Já tem um certo tempo, eu só não queria admitir pra mim mesmo.

– Onw, que lindo, conversou com a psicologa? Ela conseguiu tirar todo o seu machismo e ego gigante dessa sua cabeça dura? É provável que não a julgar o fato de que até agora você não tem feito nada direito!

– O que eu fiz de errado? Eu estava indo pra floricultura, você saiu mais cedo, nos encontramos e eu a parei pra pedir desculpas, o minimo que você deveria fazer era agradecer.

Elas bateu as mãos no meu peito com ainda mais violência e eu recuei dois ou três passos, ela permanecia irada.

– Desculpas não nos levam a nada! Eu odeio essa palavra! Odeio o modo como as pessoas a falam achando que tudo se resolve em um piscar de olhos! Pois eu tenho uma surpresa pra você - Ela abriu os braços com um sorriso desdenhoso - Não resolvem! - Berrou, ofegando entre uma frase e outra. - Essa palhaçada de 'desculpa' - murmurou entre dentes - você, minha irmã, meu pai, todos iguaizinhos. Achando que é só bater na minha porta falar 'desculpa' e eu tenho que simplesmente esquecer tudo o que vocês me fizeram passar. Aprenda outra coisa também sobre essa palavra horrível e o significado que as pessoas acham que ela tem - Abriu os braços - Não se pede desculpas por algo que sabe que faria de novo!

– O que quer que eu faça então?

Ela se calou, o rosto corado e os olhos brilhando pela raiva de segundos atrás.

– E desde quando o que eu quero importa?

– Já tem um tempo - Eu sorri abertamente - Só não queria admitir pra mim mesmo.

Ela abaixou a cabeça, o cabelo lhe cobrindo parte do rosto enquanto olhava para os próprios pés, uma ou duas pessoas passaram por nós antes que ela voltasse a olhar para mim.

– Por favor Elemento - Suspirou de forma exaustiva - Eu quero acabar logo com isso, estou cansada, preciso descansar um pouco antes de ir pra aula mais tarde e não tenho tempo pra essas discussões infantis. Diga o que quer de uma vez.

Eu avancei devagar.

– Tem muita coisa que eu quero agora, mas posso me contentar por enquanto só com o seu perdão. Não vou força-la a nada que não queira Gabrielle, disso você pode ter certeza.

Ela ergueu os olhos para olhar nos meus e quando abriu a boca pra responder fomos brutalmente interrompidos.

– Gabrielle - A voz de alguém soou firme um pouco longe de nós, e ambos viramos os rostos para ver quem era. Eu não reconheci mas Gabrielle sorriu de orelha a orelha enquanto ia até ele, abracando-o, beijando-o no rosto. Um sentimento de posse me invadiu e eu permaneci parado, o acido me descendo outra vez pela garganta. Ele a cumprimentou e quando seu olhar caiu novamente sobre mim ele voltou a seriedade.

– E aquele é...

– Ah! - Ela deu um salto para o lado em alegria, terrivelmente feliz por ele estar ali. Eu mantinha a expressão fechada.

– Biel, esse é o Elemento, que eu te falei - Ela terminou a frase diminuindo um pouco o volume da voz, e quando olhou pra mim e meu viu respirar fundo seu sorriso diminuiu, preocupado.

Elemento, esse é Gabriel, meu irmão.

Ele estendeu a mão com um sorriso curioso, e eu o cumprimentei com um aperto firme.

– Gabrielle falou muito de você, mais especificamente, reclamou muito de você. - Seu sorriso pareceu se estender e eu franzi o cenho. - Você estar perto de onde ela trabalha mesmo depois de vocês terem cortado relações é um motivo pra eu me preocupar? - Ele tinha um olhar ameaçador nos olhos, mas ainda divertidos.

– Não.

– Que bom - Ele exclamou satisfeito colocando o braço sobre os ombros dela, enquanto ela o abraçava de lado.- É sempre bom evitar inconveniências. Vamos Gabrielle? - Ele a olhou.

Ela olhou pra mim e depois pra ele.

– Você veio de carro?

– Sim senhora.

– Então pega ele onde tá estacionado e trás aqui, só vou-

– Está bem - Ele lhe lançou um sorriso camarada impedindo-a de terminar de falar - Volto em poucos minutos, está aqui pertinho.

Quando ele virou a esquina eu comece a esbravejar.

– O que ele está fazendo aqui? - Eu avancei um passo irritado enquanto apontava por onde ele tinha passado - Que parceria era essa? Quem visse vocês dois diriam ser namorados que não se veem a anos sem pensar duas vezes!

– O quê? - Ela ergueu as mãos ao lado do corpo sem entender - O que aconteceu? Ele é meu irmão, passei o último mês na casa dele e agora ele está na minha, o que tem demais?

Eu passei as mãos pelo rosto tentando me acalmar. Agora não é hora pra ciume, agora não.

– Gabrielle - Eu suspirei enquanto olhava para cima, os nervos a flor da pele - Por Deus, não me faça ter que repetir mais de uma vez. Domingo, esse domingo, é Dia das Mães, pra variar - Eu bufei enquanto girava o rosto - Dona Angela vai fazer um almoço. E quando ela tem essas ideias mirabolantes, é porque vai ser O almoço, e ela vai convidar pelo menos uma duzia de pessoas, vai obrigar meu pai a gastar o dinheiro que ele não tem só pra satisfazer as luxurias dela. - Ela permaneceu muda. – Eu estou te convidando pra ir comigo.

Seus olhos se arregalaram.

– O quê?

Eu fechei os meus brevemente enquanto sorria. Ela riu mas logo se controlou, colocando a mão em frente aos lábios, mas de certa forma, seus olhos ainda brilhavam.

– Não!

Agora a indignação era minha.

– Por que não?

– Espera que eu simplesmente confie em você e aceite seu convite pra sair? O que você tem na cabeça? Nós nunca chegamos nem a considerar o outro como colega de sala pra você querer um voto de confiança tão grande! Não sei se lembra - Revezou o dedo entre nós dois - Mas não temos nada, e eu não pretendo falar com você de novo depois de hoje

– Não espero que confie em mim com tanta rapidez, estou pedindo pra dar um tiro no escuro, se não quiser fazer isso por mim faça por sua tão adorada amiga Angela - Eu falei com ironia e seus olhos brilharam vagamente - Afinal, vocês são amigas não é mesmo?

Escutamos a buzina do carro na rua. Ainda com a mão em frente aos lábios ela revezou olhares entre mim e o carro confusa.

– Pode abaixar a mão se quiser.

– Não... Eu.. Não... - Ela recuou a mão devagar e no instante seguinte eu queria agarra-la ali mesmo, independente se o irmãozinho querido estava no carro nos observando. - Eu vou pensar no seu caso - Ela começou a recuar, desviando dos carros estacionados - Mas isso não é um sim, é um quase não, e se for um sim, não vai ser por você, vai ser pela Angela.

Ela abriu a porta do carro.

– Isso é um sim? - Ergui uma sobrancelha.

Ela falou algo para ele, ele riu, ela colocou o cinto e colocou a cabeça para fora da janela.

– Não!


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