Elemento escrita por Grind
Elemento / Capítulo 25 - Praia
– Fico feliz que tenha resolvido passar um tempo aqui.
Eu lhe respondi com um sorriso singelo.
– Desde que eu não esteja atrapalhando você e a Mariana.
– Ah não - Não negou com rapidez - De forma alguma, foi até bom pra vocês se conhecerem, eu ansiava por isso se quer saber - Abriu um sorriso radiante.
Estávamos na Praia da Costa, e Gabriel tinha conseguido me arrastar até a praia, mesmo com minhas recusas sobre entrar no mar e como ele estaria estupidamente gelado. Tentei também lhe explicar que não fazia sentido ir se não havia sol mas ele resmungou qualquer coisa sobre não ser um problema e que não demoraria muito para o céu abrir, que o mormaço me confortaria até então.
Eu odiava como ele estava certo, pegamos o carro. Eu, Gabriel, e a Mariana, a noiva dele. Eu fiquei feliz por eles e ela me fez questão de me contar como estavam os preparativos para o casório, que só aconteceria em alguns meses.
Não pensei que um casamento poderia ter tanta coisa. Eu e ele estávamos em um quiosque, conversando enquanto Mariana saíra a cerca de meia hora dizendo que ia dar uma volta.
– E como anda a Ísis?
Eu torci o nariz.
– Nós não estamos nos falando pra variar, a última vez foi no ano novo.
– Pelo que?
– Bobagens, sempre bobagens. - Balancei a cabeça em negativo, querendo evitar aquele assunto - E Eric?
Gabriel deu de ombros.
– Não tem dado noticias, ele tem um namorado novo agora e parece que tudo gira em torno dele, se não durar, talvez ele lembre de um de nós pra se reconfortar.
Aquilo me fez sorrir.
– Talvez. - Eric era completamente imprevisível.
– E o que te motivou a viajar? Você está sempre presa aos estudos e no trabalho, quando não está em um está em outro, eu sei que nem adianta insistir muito pelo telefone.
– Eu estava... Precisando de uma troca de ares.
Ele sorriu de canto.
– Qual o nome dele?
Franzi o cenho.
– Dele quem?
– Não queira me enganar, isso está me cheirando a coração partido.
– Eu não estou de coração partido - Lhe neguei com a cabeça sorrindo.
– Não se preocupe, eu não vou bancar o irmão ciumento e sair daqui, fazer uma viagem de quase um dia pra dar uns socos na cara dele. Estou em um dia bom, e a distância é muito grande. - Aquilo me fez rir. - Vou adiar pra quando for a minha estadia na sua casa - Concluiu.
Eu olhei para o copo de suco de laranja vazio na minha frente, o canudo pendia de forma desleixada. Apesar de estar abafado e as nuvens estarem 'dando espaço' pro sol uma brisa gelada passou por nós, e eu esfreguei os braços arrepiados.
– Nós estudamos juntos, uma parte do fundamental e o ensino médio, não eramos amigos. Eu fiz uma carta pra ele - Eu não pude conter o sorriso - Na última semana de aula, deixando claro todo o meu ódio por ele.
– Que ousada - Ele correspondeu o sorriso inclinando o corpo sobre a mesa. - E o que ele fez?
– Nada, não dei tempo a ele, eu fugi a tempo foi o único dia que nosso pai foi me buscar na escola.
– Curioso. - Maneou a cabeça para o lado entretido. Nosso pai com certeza, jamais teria concorrido a pai do ano.
– Mas ai - Eu desviei o olhar, a areia se tornando subitamente mais interessante - Nós tivemos um súbito encontro ano passado, e desde então tínhamos nos esbarrado mais vezes do que eu gostaria de me lembrar. Quando começamos a nos entender ele sofreu um acidente. - Gabriel recuou o corpo, devidamente surpreso. - E então ele passou os últimos três vezes em coma, e quando acordou, voltamos a discutir. E eu percebi que, quem tinha mudado era eu e não ele, e ele não pretendia mudar.
– O que ele disse pra você?
– Me chamou de mentirosa. - Eu fechei o punho com força. Não tinha pior acusação pra mim ouvir.
– É uma pena - Ele cruzou os braços, enquanto relaxava o corpo - Pensei que vocês poderiam reatar e você finalmente desencalharia.
Eu lhe joguei o papel amassado do pastel que tínhamos comprado - e eu já tinha comido - lhe acertando o ombro enquanto ele ria. Eu tive uma sensação de alivio, era bom contar a ele as coisas que tinham acontecido, era de certa forma como tirar um peso do peito apesar de eu me sentir estranha.
Não me lembrava da sensação de ter o coração partido e pelo rumo das coisas eu não queria passar por aquilo de novo, eu enfiei a mão por entre os cabelos, afundando a cabeça na mesa, se eu realmente estava de coração partido, isso não era boa coisa.
Eu não poderia me submeter aquela humilhação. Eu tinha ido ali para espairecer, e apesar da alternativa de voltar pra casa, e ver se o que eu sentia era o suficiente para sustentar nós dois, eu sabia, que de certa forma, seria um fracasso, e eu seria a mais prejudicada, mas algo em mim queria tentar, fazia se tornar algo tentador.
"Não!" O outro lado da minha mente berrava.
Eu escutei a voz de Mariana longe, Gabriel disse algo que eu não entendi e eu respondi murmurando, eles se afastaram e eu fiquei sozinha. Eu não poderia ter esses tipos de pensamento.
Não poderia dar a Elemento o gostinho de me ver fraquejando, de me ver me esforçando para que algo entre nós dois desse certo. Não de maneira alguma, ele havia feito a escolha dele.
E eu a minha.
Eu detestaria ver a satisfação em seu rosto quando pudesse ver que eu havia mudado, por culpa dele. Esfreguei a cabeça com força, eu aproveitaria a viagem.
Aproveitaria o mês que estava passando na casa de Gabriel, ajudaria Mariana com os planos do casamento se preciso. Concordaria em ir para os lugares que ele me convidasse e dissesse serem bons pra mim.
Tiraria Elemento da cabeça, e talvez até ligasse para Ísis e fizesse o meu tipico papel de trouxa para com ela. Faríamos as pazes, eu diria aonde estou e ela esconderia o ciume na voz. Estaria me esperando na porta de casa quando eu voltasse.
Íamos voltar a nos falar, eu poderia terminar a faculdade e finalmente as coisas tomariam um rumo. Finalmente eu realizaria um dos meus sonhos. E não haveria figura masculina com ilusões amorosas para me atrapalhar.
Fosse ele Elemento, A, Marcelo - que provavelmente estaria saindo com Sthella por iniciativa dela - ou até mesmo Gael. Eu sempre me virei perfeitamente bem sozinha, e dessa vez não seria diferente, eu não tinha tempo pra ser romântica.
– Gabrielle! - Gabriel berrou, longe na areia, um sorriso largo no rosto enquanto Mariana ria. - Vem! A agua está fresca!
Eu sabia que não estava. Ainda assim, me levantei meio a contra gosto, agradecendo com a cabeça o rapaz no balcão enquanto me afastava. Eu tirei os chinelos, o contato direto com areia molhada me provocando arrepios.
– Se eu ficar doente, a culpa é toda sua!
Ele riu
– Fica sossegada, comigo não tem perigo. Eu sou o rei desse lugar.
Eu gargalhei alto.
– Rei, tá bom então, vai nessa e muito surfista vai querer pegar você em alguma esquina!
Ele voltou a rir me puxando pelo braço, forçando o contato com a água gelada.
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