Elemento escrita por Grind


Capítulo 14
Capítulo 14 - Acidente




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Elemento / Capítulo 14 – Acidente

Uma sensação de vazio me atingiu, e de repente o peso na consciência, mas por dentro eu ainda estava irado. Irado com a forma com que falou comigo, irado pelo modo que me deu as costas, irado por ter quase admitido em voz alta que eu era seu inimigo. Porém eu nem estava com toda razão, o que eu poderia esperar que ela me considerasse? Passamos a vida toda nos odiando e discutindo, por que agora seria diferente?

Mas eu queria que fosse diferente, que queria que ela se preocupasse comigo como eu já me preocupava com ela involuntariamente, mas Gabrielle insistia em se esconder, não dizer o que estava sentindo, estar sempre no modo defensivo e bloquear toda e qualquer tentativa minha de me aproximar, e isso era outra coisa que me dava nos nervos.

Gabrielle em si me deixava nervoso, nervoso com seu jeito superior, nervoso por ser rancorosa, nervoso por não me dar uma segunda chance e o direito de falar, Gabrielle em si era um problema total pra mim, que parecia fazer questão de estar sempre pegando no meu pé, invadindo minha privacidade e tirando meu sono.

E talvez fosse por isso que eu gostasse dela, tivesse esse carinho tão especial por sua pessoa e adorasse perturba-la também, acho que a ideia dela ser um desafio fosse o que me impedisse de desistir tão cedo de jogar tudo para o alto e tocar minha vida procurando evitar todo e qualquer contato com ela.

Eu pensei muito antes de me levantar a procura de Gabrielle, eu estava chateado sim estava, mas completamente dividido por dentro. Revisei nossa discussão mentalmente até perceber que mesmo ela estando errada, eu também estava.

No entanto, quando perguntei por Gabrielle ou Marco a noticia que chegou a mim foi que haviam partido, Gabrielle cabisbaixa. Por dentro, eu entrei em desespero, e ao mesmo tempo revoltado. Ela não tinha o direito de ser a vitima, não era só ela que havia se machucado, eu também preferia que nada daquilo tivesse acontecido.

Eu respirei fundo pelo menos umas cinco vezes antes de sair pisando fundo, ignorando os protestos de Alessandro ou qualquer um dos outros, às vezes eu tinha tanto ódio do modo com Gabrielle se comportava que minha vontade era de sufoca-la, gritar com ela dizendo que eu também tinha o direito de resposta, de sentir, de ficar nervoso, mas Gabrielle é cabeça dura demais, eu sou cabeça dura demais.

Entrei no carro bufando, a raiva correndo em minhas veias. Ela poderia ao menos ter me avisado.

Dei partida no carro e tive certa dificuldade por conta de uma tontura que me embaçou a visão. Por fim, afundei o pé no acelerador e o veiculo explodiu em alta velocidade, cortando as ruas pintadas pela escuridão que a noite e o matagal proporcionavam. Minha adrenalina era intensa, e sem nem olhar para o painel, deduzi que o carro estava, no mínimo, a uns 160km/h.

Ao fazer a curva, virei o volante com tanta violência que vários de meus pertences caíram nos bancos traseiros, e no segundo que virei a rua, percebi a ausência do cinto de segurança em meu tronco, mas na hora só conseguia lembrar da raiva que estava passando e portanto nem me tinha dado ao trabalho de coloca-lo.

Um trovão abriu passagem para uma garoa, cujas fracas gotas foram responsáveis por embaçar o para brisa. Logo acionei os limpadores que não me ajudaram muito, mas eu estava com a cabeça longe demais para me preocupar com a situação do vidro. Eu senti um grande mal estar, um nó na garganta foi o bastante para que eu percebesse que estava totalmente incapacitado de conduzir um automóvel naquela hora. O mundo estava girando ao me redor, eu tentei me recompor, tentando fazer minha cabeça voltar a funcionar, eu não poderia estacionar agora e mesmo se quisesse, já não conseguia ver o acostamento.

A chuva pareceu ficar mais forte e o limpador não conseguia acompanhar, bufei de ódio por não conseguir pensar direito, pela chuva parecer estar contra mim, ódio de Gabrielle, ódio de mim mesmo.

Balancei a cabeça tentando tirar esses pensamentos da mente, procurando me concentrar. Em vão. As rodas deslizaram pelo asfalto molhado com brusquidão, jogando tudo para o ar. Tudo se tornou mais lento, como se não houvesse mais gravidade naquele espaço. Eu cedi. Meus braços soltaram o volante, e o que eu mais temia aconteceu. O carro estava descontrolado, e eu não sabia o que sentir sem ser uma mistura de desespero com indignação.

Eu divaguei em segundos quando é que eu havia entrado na contra mão, e as coisas acontecera mais rápidas do que me pareceram. A luz dos faróis do outro carro pareceram iluminar tudo a minha volta e conforme se aproximava ele me parecia cada vez mais claro, até o instante em que só me pareceu um clarão e depois, mais nada de que eu me lembre.


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