Elemento escrita por Grind


Capítulo 13
Capítulo 13 - Querer não é poder




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Elemento / Capítulo 13 – Querer não é poder

Se Elemento não estivesse me segurando eu poderia ter certeza de que aquilo não era real, mas a julgar a pressão de seu braço em minha cintura, e as caricias de sua mão em meu rosto e pescoço, era bem real. Marco desligou o telefone com raiva e se eu não o salvasse antes ele o teria quebrado.

– Então o que ele te disse?

– Que tinha compromisso –Levei uma madeixa para trás da orelha – Deu uma de idiota e eu saí.

– Só pelo senhor você, heim – Marco riu com o nervosismo – Eu sabia que ele tinha segunda intenções contigo.

Surpreendi-me pela calma reação dele.

–Não está bravo? –Curvei o tronco para frente, aguardando ansiosamente para a resposta.

– Claro que estou – Ele retorno repentinamente à sua postura padrão – Só que... Já somos adultos, não posso mais ficar te defendendo dos males do mundo.

– Não é como se o Elemento fosse um male... – Cocei a bochecha, um pouco embaraçada com a colocação.

– Claro que é! Você não sabe como eu odeio ele... – Ele apoiou o peso do rosto em uma das mãos – Mas você se decidiu que gosta dele, o que eu posso fazer?

– Você decidiu ser compreensivo do dia pra noite?

– Sua bestona! - Riu, bebericando um copo d’água logo em seguida – Só não vai se acostumar com essa pegação no meio da rua e se esquecer de mim

Antes que eu pudesse beber o conteúdo dentro de uma xícara de café, cuspi em surpresa devido ao término da indelicada frase.

– Marco!

– Fatos são fatos – Um feitio cômico tomou conta de sua expressão.

– Você acabou de quebrar nossa promessa – Disse num tom melódico e visível.

– Como assim?

– De morrer sozinho.

Nós dois rimos

– Onde ele está agora?

– Você não perguntou no telefone?

– Não, não sou o namorado dele.

Segurei uma expressão risonha.

– Algum compromisso com os descolados, e provável que As Garotas estejam lá também.

Marco suspirou

– O grupinho dos descolados e das descoladas, e pra variar, nem fomos convidados.

–Nunca gostaram da gente, por que mudaria de opinião a essa altura do campeonato?

– Talvez por que você esteja ficando com um deles.

– Eu não estou ficando com o Elemento – Virei em sua direção – Aconteceu.

– É claro, isso acontece com frequência comigo também. Ontem eu esbarrei com Ana, lembra dela? A garota que gostava de mim na escola? Pois então, conversamos e no final quase nos engolimos na rua.

– Verdade? – Meus olhos se arregalaram.

– É claro que não né Gabrielle?! – Bateu as mãos na bancada incrédulo – Ficou maluca?!

Foi inevitável rir.

– Pelo medo como você falou pareceu verdade...

– Eu sei que sou bom ator – Respondeu, convencido.

– Tive uma ideia! – Estalei os dedos.

– O que foi, Albert Einstein?

Levantei-me num salto.

– Vamos até onde o D está?!

Marco suspirou, massageando o cenho.

– Agora você vai correr atrás dele?

– Não sua cabeça dura. Vamos de penetra até a festa que não fomos convidados.

– Ficou doida?! – Gritou - Não dá pra passar despercebido por aquelas pessoas

– Acho que trocamos os papéis.

– E como você pretende entrar? – Pareceu mais interessado na proposta.

– Você vai ver, pega o endereço com o D! – Falei, animada.

– Por que eu tenho que pegar endereço? O que faz você achar que ele vai passar o endereço escondido? Justamente pra mim?

– Tá bom, eu faço isso – Tirei o celular da sua mão com brusquidão e Marco sorriu, no entanto eu não tive tempo de se quer procurar o nome na lista de contatos, ele vibrou na minha mão antes que eu fizesse algo.

– Alô? - Franzi o cenho.

– As coisas começam a piorar quando eles resolvem liberar a piscina já com um nível alto de álcool no sangue. Então você percebe que já está quase na hora de ir embora quando oito de dez olham feio pra você por ter socado o Alessandro e o chamado de bichinha.

– Você socou o Alessandro? – Marco sorriu com a forma com que eu me exaltei – Por que?

– Longa história, o que você está fazendo?

– O que você está fazendo?

– Sentado bebendo com um prato de carne no colo, agora faça o favor de responder porque eu perguntei primeiro.

– Eu não estou fazendo nada, estava prestes a te ligar pra te pedir o endereço pra eu chegar sem ser convida, não iriam mandar eu voltar pra casa mesmo porque eles não tem coragem.

– Ótimo! Eu estava precisando de uns barracos aqui pra dar uma animada.

Elemento me passou o endereço, e quando desliguei o telefone eu e Marco nos arrumamos mil por hora. Entramos no carro de Marco e não foi difícil encontrar o lugar. Já com o carro estacionado na rua de terra podíamos escutar o som alto da musica. Peguei minha bolsa no banco de trás e descemos. Elemento estava parado em frente ao portão. A expressão distante, os braços cruzados e uma das mãos segurando um copo meio cheio. Ele não nos viu, mas eu parei para observa-lo. Eu podia ver o suor escorrer ela sua testa e como seus cabelos estavam úmidos e molhados, como se acabasse de sair de um banho, o olhar distante dava-lhe um ar imponente. Marco me cutucou me trazendo de volta a realidade, e quando chegamos perto do D virou em nossa direção e seus olhos sorriram.

– Vocês demoraram.

Marco abriu a boca, mas foi interrompido.

– Não importa, venham.

Marco me olhou de cara feia, mas eu o ignorei, Quando entramos, vi mais pessoas de quem eu não gostava do que eu realmente gostaria, mas tentei ignorar esse fato. Avistei Gael e seu jeito desajeitado ao longe, sentado perto da piscina. Se Deus quisesse eu não poderia a oportunidade de empurra-lo.

Foi só então que me dei conta de que Alessandro se aproximara, cruzou os braços sobre o peito suspirando e Elemento sorriu de orelha a orelha.

– Eu os convidei. - Disse antes de mais nada

– É claro – Ele revezou olhares entre mim e Marco – Vão entrando

– Ah que banquete! – Disse Marco, perdido no apetitoso e chamativo cheiro de carne.

– Vamos comer depois, temos assuntos para resolver – Respondi.

– Eu até tinha esquecido o porquê de termos vindo. – Ele sobrepôs o indicador no lábio inferior, provavelmente formulando pensamentos aleatórios, como era de seu costume.

Todos olhavam com cara feia para nós. Éramos com um trio de gêmeos siameses num show de horrores. Não vi ninguém que nos cumprimentou com um descontraído e informal “Eaí!”, apenas frios e forçados “Olás” e “Ois”. Isto é, dava para contar nos dedos quem vinha nos cumprimentar. Percebi que tanto o D quanto o Marco mantinham uma considerável distância um do outro. Senti-me deslocada em meio a este fato, porque era a primeira vez que andávamos juntos.

Antes que eu pudesse notar, Marco já havia se garantido e levava consigo quatro espetinhos de carne em uma só mão. Eu já estava acostumado com seus “modos”, diferente de D, que encarava com devido desdém. Marco percebeu o olhar e retribuiu, o problema era que sua boca estava estufada por carne.

Indiretamente, estávamos causando o maior caso e desordem - de forma mais rapida que eu poderia imaginar - Parecia mais um protesto pacífico – não fazíamos nada, mas ainda assim as “autoridades” e os “conservadores” sentiam-se incomodados com nossa presença.

No entanto, logo as autoridades, mais precisamente no singular, “a autoridade”, veio se rebelar contra nós, os manifestantes, quando senti um irritante toque, uma palma rechonchuda e grudenta, bater em meu ombro, claramente querendo chamar minha atenção.

– Ei! – Reconheci aquela voz fanha e insuportável. Era a ultima pessoa no mundo que eu queria ver. O desgraçado do Gordo.

Qual o meu preconceito com gordos? Nenhum, eu até tive alguns amigos 'gordos', eu não achava que a palavra gordo era exatamente alguma especie de xingamento, mas pelo tempo de convivência que tive com Gael eu sabi que tipo de poder essa palavra tinha sobre ele, como ela o afetava mais do que ele realmente gostaria.

– O que você quer Gael? – Marco virou procurando falar, mesmo com a boca cheia de bife. Sua voz saiu totalmente abafada e não se entendia quase nada da sentença.

– Eu que pergunto pra vocês. Foram convidados? Acho que não! – Continuou. Seus dedos gesticulavam pelo ar, rasgando o mesmo com velocidade. A outra mão estava apoiada na cintura.

Eu o analisei de cima a baixo, sentindo nojo, que era visível pela minha expressão.

– Eu os convidei – D deu um passo à frente, o que ele estava fazendo? Essa discussão era minha, e eu ainda estava sóbria.

– E desde quando convidados convidam? Que eu saiba você não é o anfitrião.

– Muito menos você. Então que eu cuido da minha vida e você da sua – Intervi

Marco assistia a tudo que se passava com um grande sorriso fechado, em risco. Eu sentia sua animação à espera de uma briga.

– Olha aqui! – Gael levantou o dedo para nós. Maneei a cabeça para o lado curiosa vendo até onde ele ia – Isso não está certo!

D deu outro passo a frente, cara a cara com Gael e só então percebi que a música parou, e todo a atenção estava concentrada em nós.

–E quem é você pra me dizer o que é certo? – D respondeu entre dentes, os punhos fechados e a veia saltando em seu pescoço.

Gael simplesmente não conseguia se impor, Elemento parecia maior que ele em tudo, todos os aspectos, todas as características e algo me disse que não fui a única a perceber.

– Rapaz, isso é melhor que a Sensação da Tarde! – Marco terminou sua fala com um demorado gole de cerveja Gael respirou fundo, deu meia volta e se afastou, aumentaram novamente o volume da musica e os murmurinhos, Elemento virou na minha direção visivelmente mais amo.

–Tudo bem? - Ergui uma sobrancelha e ele fechou os olhos suspirando.

– Não.

– Que bom – Sorri e ele abriu os olhos como quem perguntava “O que disse?”. Eu ri mais ele não achou engraçado.

– Não sei do que você está rindo.

– Foi só uma brincadeira – Ergui os braços como quem me rendia – Eu em

– Não gostei da sua brincadeira.

Revirei os olhos bufando.

– Tsc, sai do meu pé vai – Dei meia volta – Não sabe brincar não brinca.

– Eu não sei brincar? – Puxou meu braços fazendo com que eu olhasse em sua direção – Desculpe se eu estava tentando te defender do gordo

– Tá bom D – Puxei meu braço com brusquidão, eu achava tudo aquilo um exagero – Eu já entendi, e só pra deixar claro, eu não pedi a sua ajuda.

–Na próxima se vira sozinha então

– Ótimo! – Voltei a dar-lhe as costas – Sai do meu pé vai.

Eu o escutei bufar, depois passos rápidos e ele voltou a puxar meu braço, eu o olhei incrédula.

– Você não vira as costas pra mim tá me ouvindo Gabrielle?

– Que palhaçada é essa agora? – Eu tentei me soltar, sem sucesso – Deu pra achar que manda em mim agora? Eu deixei claro que era só uma brincadeira!

– Deu pra achar que eu sou seus inimigos que você discute, grita, esperneia e dá as costas?

– E você se considera o que meu então? – Esbravejei.

Ela me analisou, a mão ainda prendendo meu punho com força, e a veia de seu pescoço prestes a explodir, no entanto, ao ver minha indignação ele me soltou respirando fundo cerca de três vezes antes do vermelho sair do seu rosto.

– Nada – Respondeu por fim, visivelmente mais calmo – Eu não sou nada seu.

Aquela frase quase doeu, quase. Uma pontada de desapontamento passou por mim e desviei o olhar procurando me recompor já sentindo meus olhos ficarem marejados.

– Muito bem então, posso ir agora?

– Pode – Respondeu frio, sem expressar emoção alguma.

Dei as costas novamente, arrependida de tê-lo feito. Senti um aperto na coração, como se meu peito estivesse sendo esmagado por uma pedra de uma tonelada, carregada por tristeza e melancolia. Eu tinha feito algo errado, no entanto, não era forte o suficiente para me desculpar ou voltar atrás para consertar meu erro. Eu sou realmente muito estúpida... Uma grande idiota. No fundo, eu vi minha alegria repentinamente destruída por simples palavras e gestos. Na verdade, tudo o que eu queria era que ele viesse atrás de mim e implorasse por desculpas. Aproximei-me de Marco, que estava encostado num banco tomando, como sempre, tomando álcool.

– Deu umas beijocas? – Perguntou, rindo ao me ver. Não respondi. Abaixei a cabeça e usufrui da minha franja para usa-la como mascara visando ocultar a tristeza que sentia. Não fui capaz de esconde-la; Estava mais do que visível em meus olhos.

Olhei com o canto dos olhos para ele, e percebi sua atmosfera animada e contagiante evaporar, então logo percebi um silêncio nos envolver.

– Você quer ir pra casa? – Falou com lentidão. Marco tinha dificuldade de lidar cm situações e momentos mais depressivos.

– Por favor – Respondi. Minha voz quase não ressoou, pois estava rouca e trêmula. Fomos até se carro e ultrapassamos os olhares dos outros, que deram “Graças a Deus” quando saímos, juntos.

Ao entrar, a quietude novamente nos envolveu numa cúpula degradante. No final, eu não pude mais atuar na minha falsa, porém confortante, personalidade. Desatei a chorar.

As lagrimas acompanhavam infinitos soluços, e para piorar, minhas mãos tremiam, sem parar.

Marco não se surpreendeu. De repente, o senti me envolver em seus longos e quentes braços na tentativa de afogar minhas magoas num abraço afável. Ele era o único que conhecia esse meu lado. Seu peito recepcionou meu rosto, e logo eu senti minhas lágrimas deixarem tímidas manchas no tecido de sua camisa. Meu estado era dos piores, mas enquanto eu o sentia acariciar minha cabeça, percebi que o pranto se misturou com o carinho de uma das únicas pessoas que eu verdadeiramente considerava a amizade. Essa receita formava o pior dos venenos, e eu tinha tomado a partir do momento em que decidi aparecer nesse lugar, com essa gente, todavia, os sintomas só foram aparecer agora. O que eu mais queria agora era ser o nada, o vazio da indiferença que me preenche a cada dia que passa.

Ser um ser humano é uma coisa muito idiota, rodeado por emoções que muitas vezes me prejudicam. Marco me soltou, suspirando, ligou o carro e deu a partida.


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