Íroda: As Crônicas Dos Oito Reinos escrita por Dracul Lothbrok


Capítulo 10
Capítulo IX - ''Sou o escuro, o injustiçado o vingativo e o odioso''


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Como sempre os estudos. Enfim, gostei muito do final deste capítulo, farão alguns pensar (eu espero), muitas coisas acontecerão apenas por causa desse finalzinho IUSAHDUHSAI Enfim, se houverem erros me perdoem, procurei escrever o mais claro e certo possível. Espero que gostem.



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Turim estava começando a ficar gelada e os ventos sopravam forte levando tendas, cestos e mercadorias dos camponeses que vendiam o que colhiam nas feiras de rua. Dhagdan escolhera ficar em Pósenos, pois no inverno Vaithe era muito fria. Os navios estavam começando a migrar para as baías do oceano Lyr, pois as águas ficariam menos agitadas e como haviam cortado o comércio com Thuathan o sul favoreceria o comércio os deixando mais próximos de Carnos e Dyfed.

Havia muito que fazer em seu extenso reino. Alianças não era o problema para os turianos, decerto que Carnos e Ivernos se aliariam a ele e Mabbon do deserto mantinha uma relação amigável e linhas comerciais importantes que não deveriam sem quebradas gratuitamente. O que preocupava a cabeça do rei era o futuro de seu reino, de sua esposa e dele mesmo. Bithe ainda não havia lhe dado um filho, ainda não tinha um herdeiro e sua esposa se recusava a ter relações com ele. Ele nunca tivera muito sucesso na cama e com as mulheres como tinha nas batalhas e no reinado. Agora era preciso deixar a pena de lado e obrigar a mulher a fazer o que lhe era solicitado, o dever dela deveria ser cumprido neste momento decisivo.

Ele estava em pé, estático a observar sua mesa com mapas pintados. Essa não era tão realista e perfeita quanto à de Vaithe, mas lhe dava uma noção de espaço e auxilio para pensar em estratégias geográficas. Hegg, que sempre o acompanhava, estava sentado a olhar pela janela de vidros em mosaico colorido com formas de árvores e flores, parecia pensativo e tenso, como todos aqueles que tinham que se preocupar em se preparar para uma guerra.

– Eu preciso de um herdeiro! – disse ele em voz alta, cortando o silêncio.

– Sim, nessas horas tem que haver alguém para garantir que seu sangue reine. – ele olhava para Dhagdan se ajeitando na cadeira de couro marrom – Há algum problema com a senhora Bithe?

– Não, tenho certeza de que é fisicamente apta.

– Então o que ocorre? – indagou Hegg – Se é que me permite perguntar.

– Ela é distante e fria. Não me aceita. – suspirou – Terei de tomar uma atitude indigna e podre, mas é pelo bem de toda Turim, não posso ir à guerra e deixar minha terra sem um governante, sem alguém de minha linhagem.

– Não é nenhuma atitude indigna e podre querer um filho, muito menos se deitar com sua esposa.

– Não me sentiria bem obrigando-a a se deitar comigo, sabendo que ela não tem nenhuma vontade.

– Mas terá de fazer, sabe disso.

– Sei Hegg, infelizmente sei.

O rei se retirou da sala, com o semblante serio de quem teria algo árduo a realizar. A cada dia que se passava e a cada problema que era jogado contra sua face ele só sentia mais ódio de Lugh e de seus homens. Queria acima de tudo, de todas as leis e regras mata-lo em frente á seus homens e acabar de vez com esta ameaça que se engrandecia. Pensava que matando o amado irmão do rei elfo acabaria assustando a todos e freando a ira e a vontade de ascender dos thuathans, mas agora tudo parecia um plano insensato e falho que dera estupendamente errado. A morte de Cian incitara a raiva e dera a Lugh a coragem que lhe faltara.

No meio do corredor de pedra cinzenta polida encontrou uma serviçal que carregava panos dobrados e limpos. Ela se espantou ao ver o rei e logo fez sua reverencia, desviando o olhar.

– Onde está Bithe, minha esposa? – perguntou rapidamente Dhagdan.

– Ela está em seus aposentos, meu senhor.

Ela estava exatamente onde deveria estar, sozinha. Bithe sabia que este dia chegaria e que seria logo, com a guerra e todas as ameaças ele logo requisitaria seus atributos, mas ela se negava a pensar nisso e rezava todos os dias para que o marido nunca a procurasse. Ela passava a maior parte do tempo sozinha, a pensar ou cantarolar. Recusava até a presença das serviçais, se vestia e penteava os cabelos sem o auxilio de ninguém. A companhia mais próxima que tinha era os dois guardas que sempre ficavam distantes para protegê-la caso percebessem alguma ameaça, sempre estavam postos na porta de entrada de seu quarto ou do local que estivesse. Algum dia sonhara em se casar com um lorde jovem e bonito, que fosse gentil e charmoso. Nutria uma paixão platônica por Niall Eresil, sempre fora seu desejo se casar com ele, mas seu pai achava que se casar com um mero conselheiro nem se comparava a se casar com um dos reis mais importantes de Íroda. Havia nascido na cidade portuária, vinha de uma família nobre dona de muitos navios de comércio e transporte. Era prima da rainha agnesa Eileen.

Seu vestido de cetim e panos finos estava jogado em cima de uma cadeira de mogno, odiava ter que vesti-los. Não usava nada por debaixo do cobertor de pele de urso negro, estava parada, vendo as árvores se entortarem e dançaram junto com o vento forte. Boa parte de seus dias eram assim, enrolada nas peles apenas imaginando como seria sua vida de fosse casada com Niall, o chamoso ivro, com suas tranças da cor do fogo soltas e seu corpo forte e imponente totalmente desnudo a sua espera.

Interrompendo seus devaneios e desejos impossíveis à porta se abriu ruidosamente, seu marido estava ali em pé, com sua aparência arcaica e austera, algo que ela odiava ter que olhar no momento. Estava completamente desarrumada e alquilo poderia parecer um desrespeito para com ele, mas ela jamais imaginaria que ele fosse aparecer ali daquela forma. Das raras vezes que ele a procurava e que precisava vê-la a chamava, fora isso quase não se viam intimamente.

– Meu senhor! Me desculpe – disse ela com a voz trêmula ajeitando o cobertor em seu corpo – Não sabia que viria senhor, me desculpe.

– Não se preocupe Bithe, está do jeito que deveria estar.

– Como? – ela havia entendido, mas parecia não querer acreditar – Eu... O que quer dizer meu senhor?

– Precisa me dar um filho, um herdeiro. – sua voz era severa e imponente – Adiamos isso por muito tempo, mas sabia que esse dia chegaria.

– Sei disso. – seu rosto foi invadido por lágrimas.

– Terá de me perdoar Bithe. – disse ele retirando o cinto e bainha de couro e o seu pesado casaco de camurça.

Ele se aproximou dela e a olhou, odiava ter que fazer aquilo, mas ela teria de entender. Os olhos dela estavam cerrados e molhados de lágrimas que ela tentava conter. Com toda delicadeza retirou a pele grossa que cobria o corpo pálido e voluptuoso dela.

– Deite-se, por favor.

Bithe deu com dificuldade passinhos curtos e se deitou. Tampava os seios com os braços e se recusava a abrir os olhos para olha-lo. Sentia frio, medo e asco. Sempre imaginou ter sua primeira vez com um grande príncipe, mas sua realidade era dura e sórdida. Ele logo terminou de se despir e com dificuldade se pôs em cima dela.

– Abra suas pernas e descruze os braços. – era extremamente desconfortável para ele pedir aquilo, soava frio e grosseiro, mas não sabia como agir diante daquilo – Vai acabar logo!

Lentamente ela descobriu os seios e moveu as pernas, seus punhos apertavam o lençol de seda como quem sentisse dor, as lágrimas agora escorriam como dois rios em seu leito. Dhagdan se acomodou nela, ela deixou escapar um gemido baixo, mas ele sabia que era de dor e repulsa. Jamais uma mulher como ela sentiria prazer em um velho decrépito como ele. Tentou ser o mais rápido possível e se movia depressa e repetidamente tentando atingir o ápice. E logo aconteceu o esperado, num gemido alto e rouco ele terminara.

– Saia de cima de mim! – disse ela em meio de soluços.

Ele a olhou com pesar e percebeu que não adiantaria pedir perdão ou tentar se redimir, sabia que a esposa o odiaria para o resto da vida e que agora, se os deuses quisessem, teria de carregar um filho que não pediu. Levantou-se e vestiu suas roupas o mais depressa que pode, sentia desgosto de si mesmo por aquilo, por ter que chegar a esse ponto.

– Obrigada por facilitar isso. Sei que não me perdoará.

– Saia agora! – berrou ela.

Assim que o viu deixar o quarto ela se pôs a chorar exageradamente, tudo que queria agora era ficar ali presa para sempre sem nunca mais ter que contemplar o rosto do nobre rei a quem todos saldavam e elogiavam. Ele havia sido mais frio e bruto do que ela esperava, ao menos poderia ter sido mais delicado e caloroso, mas a usou como se fosse apenas um recipiente que abrigaria seu primogênito e logo seria descartada quando não tivesse mais utilidade.

– Por favor, deusa Macha me dê forças para aguentar ser mulher e para passar por todas as privações de felicidade, ajude-me! – ela berrava por entre os travesseiros com os olhos cheios de lágrimas – Arawn leve-me se eu não puder caminhar dentre esses caminhos sujos e obscuros, leve-me. Escute-me, por favor, eu imploro! Morrigan atenda-me como atendeu a Ivernea! Ouçam-me ó deuses, não me abandonem!

Certamente os deuses estavam ouvindo, mas alguns poderiam preferir não interferir no destino. Já outros poderiam dar um empurrão para um acontecimento, para a vingança ou para a justiça, assim como Morrigan costumava fazer. Mas nenhum daqueles que ela solicitara apareceu, ela fitava a janela com os olhos embaçados a procura do corvo ou da luz que Macha emitia, mas nada podia ser visto ou ouvido a não ser um estridente uivo de lobo.

Ela agora parecia sozinha, a sua única companhia era a luz da lua e aquele animal que estava em sua janela a berrar sozinho, como se pedisse ajuda aos deuses também. Mas logo se podia ouvir mais um uivado, esse agora mais estridente e alto do que do outro, o que chamou a atenção dela, a noite era escura e fria, o céu era negro e a lua enorme clara contrastava com ele. Pode ser um sinal? De quem seria? Pensava. Ela olhou para fora os lobos pareciam a encarar, seu semblante triste e melancólico parecia os cativar e os aproximava. Dois lobos vinham correndo no horizonte em direção a sua janela, aquilo estava deixando-a bastante curiosa e amedrontada.

Um vento muito frio veio em suas costas, estranhamente parecia ter surgido dentro do quarto, não havia vindo da janela que estava a sua frente. Parecia que mais alguém estava em seu quarto, mas não conseguia ver ninguém. Os lobos uivavam e olhavam incontinentes para a janela como se vissem e farejassem algo, mas ela não conseguia ver nada. A fraca luz dos candelabros deixava os cantos escuros, sem que ela pudesse ver o que se escondia neles.

– Dhagdan?! – perguntou ela receosa.

– Errou, não sou um homem. Não sou seu marido! – respondeu uma voz nítida e grave.

– Quem está ai?! Arawn? Vieste me levar? – ela se agarrava no parapeito da janela.

– Não sou o deus do submundo.

– Então quem és tu?

– Eu sou Koll, você pediu ajuda e eu lhe ouvi.

– Não pedi ajuda a você, não sei o que tu és.

– Pediu que os deuses lhe ouvissem, pois bem, eu lhe ouvi. – respondeu ele – Agora não seja ingrata.

– Você é um deus? Não conheço nenhum Koll, podes muito bem ser um Outro.

– É o que sempre diziam, mas sou um deus. Não reconhece-me de nome, sou o deus do obscuro, da vingança e da noite, somente atendo aqueles que vivem em escuridão.

– Vingança?

– Sim, vingança minha querida. – ele saiu do canto escuro em que se escondia, sua pele era extremamente alva e seus olhos de um negro profundo, seus cabelos eram longos e trançados e suas vestes eram negras e adornadas com penas de corvo – Acredito que queria se vingar de seu abominável marido.

– Você é... Familiar. – ela o analisava delicadamente – Eu conheço você?

– Todos me conhecem e todos me viram. Todos falaram e falam de mim, pois sou o escuro, o injustiçado o vingativo e o odioso. – ele falava como quem entoava os versos de uma poesia – Posso ser um Outro, um elfo e um humano, muitas vezes um monstro. Sou aquele que alguns desejavam e admiravam e que outros abominavam.

– Koll, eu lhe conheço sim! Sei quem tu és, o odioso e o injustiçado! – ela estava deslumbrada com aquele ser – Você é à noite. Todos conhecem a noite.

– Eu lhe ajudarei princesa, lhe vingarei! – Koll se aproximou dela, fazendo-a recuar – Não tenha medo, não lhe machucarei.

– Como? Me levará daqui? – perguntou ela entusiasmada.

– Não.

– Então o que farei?

– Você tem que matar seu marido e apenas isso. Logo tudo acabara!


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