Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 99
Capítulo 99: POV Clarissa Simpson


Notas iniciais do capítulo

Alguém acredita que já estamos no capítulo 99? Que coisa de doido!
Haha. Escrevi ouvindo "Stuttering" da Fefe Dobson. Adoro as músicas dela!



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"CHRIS!" Gritei com toda a força que tinha, segurando-o pelos ombros e tentando levantá-lo. "ALGUÉM AJUDA!"
Senti sua mão buscando pela minha e eu a segurei forte com as minhas duas. Chris sorria, o que só me assutava ainda mais. Ele fechou os olhos e eu entrei em pânico. Soltei da sua mão e voltei a tentar segurá-lo pelos ombros, a tentar chacoalhá-lo. Mas ele era muito pesado e não parecia reagir. Tentei mais forte.
"AJUDA!" Berrei mais alto ainda, mas já podia sentir as lágrimas contornando meu rosto, o que me fez engasgar e quase nenhuma voz sair. "Chris," dei alguns tapas no rosto dele, chegando mais perto para olhá-lo. "Fica acordado," pedi, baixinho. "Por favor, fique acordado."
O barulho das portas se abrindo me fez dar um salto. Era um dos selecionados, Danio, e uma criada. Os dois entravam determinados, mas brecaram juntos a nos avistarem.
"Por favor, ele desmaiou!" Voltei a olhar para Chris, que ainda sorria, como se estivesse tendo o melhor sonho do mundo, e me abaixei outra vez, segurando-o firme pelos ombros.
Imaginei que fossem chegar perto de nós logo, mas, depois de alguns segundos sem nada acontecendo, me virei para eles. Danio e a criada trocavam olhares, sem saber o que fazer. Até que ele tomou uma decisão.
"Vá até a ala hospitalar, avisa que estamos chegando," ele disse para a criada, tirando seu blazer e o jogando no chão. "Vai!"
Ela o obedeceu e ele veio logo até nós, me empurrando para longe de Chris com o braço.
"Ele- ele desmai-iou," tentei falar, mas engasgava na minha própria falta de ar. "Eu não se-ei. Não sei o quê-" Droga, meu vestido não tinha um tecido bom para eu enxugar o rosto e as lágrimas pareciam não parar de cair. "Ele tá bem?"
Danio parecia nem me ouvir. Não reagiu a nada que eu tentava falar ou ao som de como eu estava soluçando do lado dele. Ele estava mais preocupado com Chris. Levantou suas palpebras, checou para ver se ele estava respirando com uma colher abaixo do nariz e viu seu pulso.
Depois, sem nem me perguntar o que tinha acontecido ou tentar entender o que eu queria explicar, ele o pegou no colo com certo esforço e começou a sair de lá.
Eu saí correndo logo atrás dele, quase esbarrando no carrinho enorme da criada que ela tinha deixado ali. Danio andava com passos largos e ele era bem mais alto que eu, o que me fazia ter que me matar para não ser deixada para trás. Eu já nem sentia meus pés dentro dos sapatos, nem pensava no que estava fazendo, só o seguia. Mas meus pulmões, sim, eu sentia, ardendo por dentro depois de cada inspirada pesada que eu dava.
Nós chegamos à ala hospitalar, onde ouvi Danio avisando que Chris tinha sido envenenado. Ele era realmente ótimo, eu nem tinha precisado falar nada para ele entender. Que sorte a minha de logo ele estar por perto quando tudo aconteceu!
Vários médicos se aproximaram, alguns trazendo uma maca, onde Danio deixou Chris deitado. Eles começaram a falar todos juntos, e eu não consegui entender nada. Só os seguia, para dentro de um quarto, onde eles tiraram Chris da maca e o colocaram na cama. Eu estava procurando sua mão para segurar, quando uma médica loira me avistou.
"Você não pode ficar aqui," ela disse, me olhando como se eu fosse um alien.
"M-mas eu estava com ele," eu apontei para Chris, segurando minha saia do vestido e descontando nela todo meu nervosismo. Outros médicos a ajudavam a bloquear meu caminho e eu já não conseguiria alcançá-lo de onde estava.
"E vamos querer saber o que aconteceu, mas lá fora," ela colocou as duas mãos nos meus ombros e me girou, me empurrando para o corredor. Até tentei brecar, mas ela era mais forte que eu, pelo menos no estado em que eu estava.
Quando finalmente me soltou e eu me virei, ela já tinha batido a porta na minha cara e tive que me contentar em ver pela janela.
No começo, estava prestes a quebrá-la com meus punhos, só para conseguir entender o que estava acontecendo. Todos os médicos e enfermeiros se mexiam como em uma coreografia, quase sem precisar dos outros ali para saberem o que cada um tinha que fazer. Mas eu não sabia era se eles tinham entendido! Se eles tinham alguma ideia do que podia ter acontecido! Eles checavam os sinais de Chris e não pareciam muito preocupados, mas tão pouco pareciam felizes.
Até que a médica loira chegou perto da boca dele e cheirou. Achei aquilo bem estranho, mas logo depois ela sorriu.
"Eu sei o que foi," eu a entendi falando, apesar de bastante abafado.
Quando perguntaram o que era, ela já tinha abaixado a voz e, mesmo comigo indo até a porta para grudar meu ouvido lá e tentar entender alguma coisa, não ouvi nada.
Nos próximos milhares de minutos, eu fiquei andando de um lado para o outro bem ali, na frente do quarto dele. Mas vários médicos o deixaram, o que ajudava um pouco a me acalmar. Demorou para algum sair pela porta do lado da qual eu estava, mas o ataquei assim que tive a chance.
"O que ele tem?" Perguntei, ainda sentindo a exaustão no meu peito, mas já bem mais calma. "Ele vai ficar bem?"
O médico parecia mais velho, mais experiente que a outra. Ele anotava alguma coisa em uma prancheta e a colocou do lado da porta. Ele estava sereno demais e eu não sabia se levava aquilo como outro sinal de que estava tudo bem, ou de que não tinha o que eles podiam fazer.
Mas ele parou e olhou para mim, sorrindo. "Ele está bem," disse, me fazendo respirar fundo pela primeira vez em muito tempo. "Não era um veneno, era um sedativo. Mas é tudo que eu posso te dizer," ele se virou para a direita e começou a andar, como se aquela conversa tivesse acabado.
"Espera, mas o que era? Por que alguém iria querer sedá-lo?" Eu corri atrás dele, que andava na direção de um guarda na porta, enquanto mil perguntas apareciam na minha cabeça. Nem sabia direito por onde começar, eram mil peças de um quebra-cabeça infinito e eu não estava nem perto de conseguir me concentrar para juntá-las. Só sabia que precisava segui-lo, que não estava pronta para ficar para trás.
"Loric," o médico disse para o guarda, parando na sua frente e me ignorando, apesar de eu ter parado logo ao seu lado.
"Green," o guarda respondeu, pegando um papel da mão dele e o lendo rapidamente. Depois o dobrou outra vez e olhou para o médico. "Vou deixar dois homens na porta. Ninguém deve entrar ou sair da ala hospitalar sem passar por eles. A saída nos fundos também está sendo vigiada. E eu vou precisar falar com todos que tiveram algum contato com ele nas últimas horas," seus olhos caíram em mim, como se fosse a primeira vez que ele percebesse que eu estava ali. "Clarissa Simpson?" Perguntou, e eu concordei com a cabeça. Praticamente pulava no meu lugar, minhas pernas mexendo sozinhas e freneticamente, apesar de eu estar de pé. "Príncipe Sebastian me informou que era você que estava no jantar com ele."
Por besteira minha, ele falar aquilo me deixou um pouco envergonhada. Mas eu só concordei outra vez.
"Bom, se precisarem de mim, estarei por aqui," o Dr. Green disse, "E Loric," ele apontou para Danio, que estava a alguns metros de nós, sentado em uma cadeira e parecendo incrivelmente irritado, como se fosse obrigado a estar ali. "Aquele é Vicenza. Ele que trouxe Chris aqui."
Logo depois de falar isso, ele se afastou e ficou só o guarda e eu. Ainda queria ir atrás dele, mas o tal Loric parecia bem interessado em falar comigo, a ponto de me segurar pelos ombros quando eu fiz menção de me afastar.
"Senhorita Simpson-"
"Clarissa, pelo amor de deus!" Não tinha a intenção de ser rude, mas a última coisa que queria naquele momento era ter que ser formal. "E eu não me importo com o que você quer saber, eu conto tudo. Só preciso ter certeza de que ele vai ficar bem."
Loric se colocou na frente de um jeito que me impossibilitava de olhar para os lados e me mirou intensamente. "Chris Collins é um de nós, Clarissa. E nós vamos fazer de tudo para descobrirmos não só o porquê disso tudo, mas o culpado. E pode ter certeza de que não vamos aliviar para ninguém aqui até ele estar de pé e cem por cento outra vez." Concordei com a cabeça firmemente, apesar de suas palavras terem feito meus olhos lacrimejarem outra vez e eu precisar absurdamente de um abraço. "Agora, tem outra coisa que eu preciso conversar com a senhorita."
Ele abriu caminho, me indicando que não poderia ser ali. Eu o segui, já sem forças para ir contra tudo e todos, e nós fomos até o corredor. Como ele mesmo tinha dito, dois guardas estavam estacionados na porta e pareceram quase nem querer nos deixar sair, até verem que eu estava com ele.
Nós nos afastamos alguns metros e ele parou perto da janela, onde eu me apoiei.
"Recebi informações de que esse jantar não era exatamente para vocês, correto?" Perguntou.
Balancei a cabeça, tentando que focar meus olhos no chão para conseguir entender o que ele estava dizendo. "Como assim, não é para nós?"
Ele olhou à nossa volta, como se fosse possível alguém estar tão perto de nos ouvir sem que tivéssemos percebido antes. Depois voltou a me mirar.
"Em uma primeira investigação com os criados, todos acreditavam que esse jantar era para o Príncipe Sebastian e a Princesa Nina," ele continuou. "Temos razões para acreditar que o sedativo era para eles, e não vocês."
Não pude evitar de abrir a boca e levar as duas mãos para cobri-la. Estava levemente aliviada de saber que tinha estado certa, que ninguém teria alguma razão para envenenar Chris. Mas era um caso bem mais aterrorizante se o alvo era um membro da família real.
"A investigação ainda não terminou," Loric continuou, provavelmente percebendo minha inabilidade de encontrar palavras para responder. "E eu precisarei que me diga tudo que aconteceu. Mas, antes, tem outra coisa que preciso te perguntar."
"Qualquer coisa," falei, abaixando minhas mãos e segurando meus próprios ombros, como se me abraçasse.
"Estamos considerando essa uma ameaça à família real," ele falou. "Por enquanto, já colocamos todos em proteção. Só não conseguimos encontrar a Princesa Lola."
Lola! Verdade, tinha me esquecido completamente dela.
"Por que precisam encontrá-la? Se acreditam que foi uma ameaça à família real illéana?"
"É de nossa responsabilidade certificar que a Princesa Lola está protegida."
"Ela está," falei, firme e determinada. "Não precisa se preocupar, ela está bem."
Ele assentiu, mas não parecia aceitar tão fácil. "Entendo que diga isso, mas eu preciso ver com meus próprios olhos. E preciso levá-la para o esconderijo."
Na hora, imaginei Lola em algum lugar do mundo com Marc, sem a menor noção do que estava acontecendo no castelo. Se eu soubesse aonde ela estava, poderia mandar buscá-la. Mas não sabia.
"Infelizmente, não será possível," falei, assumindo a pose formal que tanto tinha me incomodado antes. "A princesa e o rei ficarão cientes de sua preocupação e ela é muito apreciada. Mas a princesa já está em um esconderijo próprio e acho melhor ela continuar lá até que tudo tenha se acalmado."
Ele franziu as sobrancelhas. "Esconderijo próprio."
"É tudo que eu posso dizer," falei, tentando manter a pose que ela mesma teria se estivesse em meu lugar.
Eu não sabia se ela estava mesmo a salvo, não sabia nem aonde do mundo ela estava. Tudo que tinha me dito era que sairia com Marc. Mas voltar para o castelo agora não seria uma boa ideia.
"Desculpe, senhorita, mas eu preciso mais do que sua palavra para acreditar que ela está bem."
Levantei um pouco mais o queixo, respirando fundo para não fraquejar. "Acredite no que quiser, não vai conseguir encontrá-la de qualquer jeito. Vá fazer sua investigação e resolva o que tiver que resolver, que eu vou voltar para o lado de Chris," dei a volta nele, o deixando para trás, minhas pernas tremendo.
Mas era verdade. Não tinha o que ele fizesse. Podiam procurar por todos os lugares do castelo que não iriam encontrá-la. E se tinha mesmo uma ameaça à família real, era melhor assim.
Estava chegando perto da porta da ala hospitalar, quando avistei uma criada aparecendo no final do corredor. Quando vi que era Carolyne, saí correndo para alcançá-la.
"Carol," chamei, chegando perto dela e a segurando pelo braço. "Preciso de um favor."
"Clarissa, está tudo bem? Ouvi dizer que você estava com o Chris-"
Fiz um gesto para que ela parasse de falar. "Por enquanto, está tudo," pausei, balançando a cabeça e procurando uma palavra. Tudo que tinha acontecido com Chris, pensar nele ainda naquela cama, apagado, aquilo era como um nó na minha garganta que eu precisava esquecer pelo menos pelos próximos minutos. "Eu preciso de um favor seu, Carol."
"Claro, qualquer coisa."
"Mas preciso que guarde segredo," a mirei fundo e ela concordou com a cabeça, séria. Ela era a pessoa perfeita para aquilo. "Não pergunte porquê, mas preciso que você escreva um bilhete para Lola por mim e que o deixe no quarto de Marc, sem falar nada para ninguém. Nem para nenhum guarda, nem para o Rei Maxon."
Ela pareceu assustada de primeira, mas depois assentiu, aceitando a missão.
"O que precisa que eu escreva?"


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Notas finais do capítulo

Desculpa a demora para postar. Eu passei por uma crise aí, quase querendo abandonar a fic. Me dá essas coisas de vez em quando, e nem posso dizer que está tudo bem agora. Mas pelo menos eu postei outro capítulo, né? Pelo menos a fic vai continuar aqui por mais um dia.