Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 93
Capítulo 93: POV Margaret Degrasse


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Blazin'" da Nicki Minaj com o Kanye West.



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Quando eu finalmente tive a chance de me jogar na minha cama, tinha toda a intenção do mundo de aproveitá-la. Nas últimas milhares de horas, eu tinha passado sonhando com ela, com o toque do meu travesseiro, com o quanto era bom poder abraçar meu edredon e esquecer do mundo. E quando pude me deitar, queria me deixar sentir o máximo possível as maravilhosas sensações de conforto que só minha cama poderia me fornecer.
Mas meu corpo tinha outros planos para mim. Nem fazia dois segundos que eu estava deitada e já tinha apagado. Apagado. Completamente. Sem sonhos, sem me mexer, sem conseguir pensar antes. Eu simplesmente apaguei.
Mas não durou muito. Logo alguém bateu à porta com um excesso desnecessário de vontade e força, me obrigando a abrir os olhos. Sentia meu corpo inteiro quase duro, cada articulação gritando quando eu a forçava a mexer para me virar de costas na cama.
"Maggie?" Era uma das criadas, Liberty.
"Quê?" Perguntei, sem nem abrir os olhos. Ela não sabia que eu tinha acabado de deitar, mas eu não tinha a menor intenção de me levantar.
"Estão te chamando no ateliê."
Abri os olhos.
Como assim, estão me chamando no ateliê? Eu tinha acabado de sair de lá! O que poderia ter acontecido?
"Como é?" Perguntei.
"Estão te chamando no ateliê," ela repetiu, soando bem irritada. "Já passei a mensagem, agora se você vai ou não, é problema seu. Eu tenho muita coisa para fazer."
Pude ouvir seus passos também quando ela se afastou.
Ela devia estar errada. Não me chamariam logo em seguida. Madison e eu tínhamos sido as últimas a ficarem lá e tínhamos tido certeza de cada detalhe. Não, nada podia ter dado errado. Liberty que não sabia o que falava. Eu ainda poderia dormir.
Nem tinha terminado de chegar a essa conclusão e já mergulhava em um sono profundo, escuro e completamente necessário.
"Maggie?" Outra criada bateu na porta. "Precisam de você no ateliê!" Ela falou, sem esperar minha resposta.
Mas meu deus! O que estava acontecendo no mundo que não podiam me deixar dormir por cinco minutos?
Me sentei na cama, ainda sentindo meus braços pesados com a falta de sono. Olhei para a porta e vi meu despertador de relance.
Tive que pegá-lo para ver mais de perto. Ainda não conseguia abrir os olhos direito e estava começando a achar que estava ficando louca.
Não, não podia ser. Ele marcava que eram onze horas da manhã! Aquilo estava errado, eram oito, no máximo! Eu tinha acabado de chegar ali! Não era possível que três horas tinham passado rápido assim.
"Maggie?" Outra batida forte. "Devo avisar que você não vai?"
"Não," respondi, respirando fundo e tentando bloquear cada um dos pensamentos que queriam me fazer voltar a dormir. Se eu deixasse, eles criariam desculpas e razões para me manter na cama.
Me levantei antes que pensasse duas vezes, meu corpo mole e jogado. Nem fiz tanta questão de abrir os olhos quando coloquei uma camiseta e uma calça qualquer, nem quando comecei meu caminho de volta ao ateliê. Mas, quando estava chegando, uma coisa me ocorreu.
Madison devia ter sido demitida. Essa era a única razão para terem me chamado logo depois de eu ter ido dormir! Ela tinha sido demitida e eu assumiria seu trabalho!
Parei de andar e virei de costas para a porta do ateliê que eu já avistava.
Não, eu não estava pronta para ser a estilista do castelo! Nem de longe! O que eles estavam pensando?
Ai, deus. E Madison? Ela devia estar arrasada! Depois de passarmos a noite inteira tentando criar o vestido mais maravilhoso possível, ela foi demitida do mesmo jeito? Será que eu conseguiria me despedir dela? E dizer o quanto eu a admirava? E o quanto aquilo não estava certo?
Me virei de volta, dessa vez andando ainda mais rápido para o ateliê. Se aquela ainda era minha última chance de a ver, eu precisava acordar e ir até lá. Abri a porta, buscando por ela.
Mas ela não estava sozinha. Marlee estava com ela, sentada em volta da sua mesa. Rindo.
"Maggie!" Madison disse, se levantando e indo até mim. Ela só parou quando me deu um abraço apertado, me fazendo ficar paralisada. "Sua linda! Funcionou!"
"Funcionou?" Olhei para Marlee e ela levantou uma taça de champanhe no ar, como oferecendo um brinde.
"Funcionou!" Madison se afastou e me segurou pelos ombros. "Eu vou ficar. Lola não me mandou embora!"
Não pude evitar de abrir a boca de espanto. Mas ainda assim sorria.
Como eu era lerda! Qual era meu problema? Nem para entender de primeira!
"Funcionou!" Eu praticamente gritei, rindo depois. "Você vai ficar," dessa vez, fui eu que puxei Madison para mim e lhe dei um abraço. "Lola não te mandou embora!"
Sim, eu estava repetindo tudo que ela tinha dito. Mas era muita felicidade para raciocinar direito.
"Vem," Madison disse, rindo do meu jeito. "Você também merece participar do brinde!" Ela se afastou de mim e me puxou pela mão até a cadeira. Serviu uma taça para mim e me entregou, pegando a sua e a levantando. "À Maggie," ela começou, "que trabalhou essa noite inteira como se fosse ela mesma que estivesse tentando sobreviver! Que é a melhor assistente que eu poderia ter! A melhor pessoa para me apoiar em uma hora tão terrível!"
"À Maggie!" Marlee concordou e nós três brindamos, apesar de eu querer protestar e falar que eu não tinha feito nada demais.
Aquele champanhe estava ótimo, desceu fácil e borbulhando, me distraindo completamente do meu cansaço. Madison também parecia exausta, mas ela sorria de orelha à orelha e parecia não se importar. Marlee já devia estar acostumada. Eu que era a amadora ali quanto a noites viradas.
"É sério, Maggie," Madison disse, depois de engolir o maior gole de champanhe que podia. "Eu realmente estou te devendo uma! Aliás, estou devendo uma à Marlee também. E às princesas!"
"Não precisa se preocupar, ninguém te ajudou só para ganhar algo em troca," Marlee garantiu.
"É verdade," falei, virando mais um pouco de champanhe na minha taça. Eu só tinha percebido o quão vazio meu estômago estava quando finalmente o tinha enchido de alguma coisa. E não tinha comida ali, precisaria me contentar com aquela bebida borbulhante e maravilhosa.
"Vocês são incríveis, sério," Madison disse, olhando para nós. Podia jurar que ela estaa lacrimejando. "Eu não sei o que seria de mim sem vocês."
"Bom, por sorte, você não terá que imaginar," Marlee se levantou e deu um último gole na sua taça. "Agora, já que você vai ficar, o trabalho tem que continuar."
Eu só bufei uma risada, mas Madison se virou para mim. "Maggie, posso te pedir só uma coisa?"
Minha risada morreu. "Claro," falei, se for para pedir para eu voltar para a minha cama, completei na minha cabeça.
"Você não precisa fazer nada hoje," ela começou, me animando. "Eu tenho um terno para fazer, mas você pode tirar o dia de folga."
"Ótimo," não pude evitar de falar.
"Mas tem como você me fazer só um favor?" Ela deixou sua taça na mesa e foi até uma quarta cadeira que estava vazia. Ela pegou alguns cabides e os levantou no ar. "Tem como você levar esses vestidos até o quarto da Princesa Nina? É para um jantar hoje à noite."
"Só isso?" Também deixei minha taça e fui até ela, pegar os cabides.
"Só," Madison abriu um sorriso. "E aí você tem o resto do dia livre. E a gente se vê amanhã cedo. Combinado?"
"Combinado!" Falei, já fazendo menção de me afastar.
Mas, para a minha grande surpresa, Madison me puxou outra vez para um abraço. Eu não questionei, tinha a leve impressão de que aquele bom humor dela acontecia uma vez a cada década e resolvi aproveitar.
Eu saí de lá bem mais animada do que em qualquer outro dia. E nem era só por saber que todo nosso esforço e cansaço tinha dado certo! Era aquela promessa de poder voltar para a minha cama depois daquela pequena tarefa. E então eu não precisaria fazer mais nada. Só esquecer de que o resto do mundo existia.
Bati récordes ao chegar até a escada. Usava uma sapatilha, mas mesmo assim. Eu não corria, só andava. Poderia apostar que ninguém nunca tinha feito aquele caminho tão rápido.
Comecei a subir as escadas de dois em dois degraus, sonhando com o momento em que deixaria os vestidos e estaria livre. E não teria parado por nada, se não tivesse avistado Dane pela janela.
Eu já tinha deixado o segundo andar para trás e só faltavam alguns poucos passos para chegar ao quarto da Princesa Nina. Mas era mais forte do que eu e tive que parar no meio das escadas. A janela dava uma vista perfeita para o jardim. E eu tinha certeza de que era ele. Era Dane.
E Lola.
Eles andavam de braços dados, conversando. Era um encontro, eu tinha certeza. E, mesmo a alguns bons metros de distância, eu poderia apostar que estava indo bem. Parecia estar indo extremamente bem.
E, o pior de tudo, eles ficavam muito bem juntos. Lola tinha aquele ar de princesa invejável e Dane encaixava perfeitamente do seu lado. Eles já pareciam voltar, andavam na direção do castelo, e eu pude ver quando os dois sorriram de algo que eu nunca ouviria. Eles pareciam felizes. Eles pareciam um casal de verdade.
Os próximos degraus que eu subi foram bem mais devagar. Eu sempre soube que Dane estava ali no castelo por ela. Não era mais uma adolescente idiota, eu sabia que não devia nem sonhar com aquilo. Mas era a primeira vez que a via com ele. E eu senti como se tudo dentro de mim despedaçasse. Será que era possível que eu estivesse mesmo criando uma esperança por algo que eu sabia ser impossível? Que eu sabia ser errado?
Eu era muito idiota mesmo, disso eu tinha certeza. Ele nunca tinha me dado razões para ter esperança. Eu não era nada para ele, mas ainda me sentia no direito de admirá-lo. E era aquilo que estava errado. Torcer por ele, trabalhar para ele, conversar uma ou duas vezes com ele, nada disso me garantia que ele me veria de verdade.
E nem deveria. Ele estava lá com a intenção de ficar com a princesa. E tudo que eu fizesse para ele só seria recebido por ele, nunca teria algo voltando para mim em troca. Por mais que eu quisesse, por mais que eu tentasse transformar suas palavras e seus olhares em algo com um significado mais profundo, ainda estava tudo dentro da minha cabeça. Ele nunca teria um interesse verdadeiro por mim. Eu estava me iludindo.
Quando cheguei à porta da Nina, toda a minha felicidade já tinha desaparecido. Um guarda avisou que eu estava ali e eu esperei para entrar. E foi quando eu vi a etiqueta de um dos vestidos.
Não era o tamanho da Nina! Era grande demais para ela! Madison tinha errado! Era seu primeiro dia depois de quase ter sido demitida e ela tinha errado.
"Margaret, pode entrar," o guarda falou, abrindo a porta para mim.
O quarto estava cheio, o que só piorava tudo. Não queria falar da falha da Madison para várias pessoas ouvirem. Mas Nina fez um gesto para eu entrar e eu obedeci.
"Princesa Nina, Princesa Gabrielle," disse, fazendo uma reverência. "Mil perdões, mas," meus olhos caíram sobre os vestidos. Eu não poderia causar problemas para a Madison, não agora. Ela não merecia aquilo, "eu acredito que cometi um erro," falei. "Acredito que trouxe os vestidos errados."
As criadas que estavam lá foram até mim, deixando o caminho livre para eu ver quem estava sentada na penteadeira. Era a amiga da Princesa Lola, Clarissa.
"Estão errados?" Nina perguntou para suas criadas.
"Não, Majestade. São esses mesmo," uma delas disse, pegando-os de mim.
"Eu acredito que não são do seu tamanho, Majestade," eu mesma falei para a Nina. "Posso correr e buscar os certos."
Ela se levantou da sua cama e veio até mim, abrindo um sorriso. "Não se preocupe, Maggie. Eles não são do meu tamanho, porque eles não são para mim," ela explicou.
"Mas-" Eu mesma me cortei, olhando para as outras garotas no quarto, confusa. "Achei que fosse para seu jantar hoje à noite," disse.
"Maggie," Princesa Gabrielle se levantou e se juntou a nós. "Você consegue guardar um segredo?"


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