Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 91
Capítulo 91: POV Sebastian Regen


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Scar Tissue" do Red Hot Chili Peppers.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/542825/chapter/91

Fazia exatamente uma semana que a Seleção tinha começado. Mas ainda assim era a primeira vez que a Princesa Lola se juntava a nós para tomar café da manhã. Antes dos selecionados chegarem, aquilo era algo comum. Mas talvez ela tivesse ficado com medo de eles verem o quanto ela comia, ou como gostava de juntar geléia com manteiga no mesmo sanduíche, pois tinha evitado a Sala de Jantar praticamente toda manhã desde então.
E talvez agora ela tenha decidido aparecer porque, como Nina mesma tinha explicado, uma tragédia tinha acontecido ontem à noite. Ou seja, um selecionado tinha sido pego com a estilista principal do castelo. Nina realmente tinha tratado aquilo como tragédia, me deixando sozinho a noite inteira para ajudá-la com sei-lá-o-quê.
Mas o fato era que Lola tinha feito questão de aparecer nessa manhã, ganhando alguns pontos na minha opinião dela. E o selecionado estava presente, pelo que eu tinha ouvido, por pedido dela. Todos já estávamos sentados quando ela entrou, e cada um dos dez se levantou e permaneceu de pé até ela estar confortavelmente em seu lugar.
E, não, ninguém conseguiu parar de olhar para o grande traidor, que se mantinha focado em seu prato, enchendo-o do máximo de comida possível. Até eu estava interessado. Nem na Seleção de Charles algo assim tinha acontecido. A menina que se casou com o Príncipe Irlandês fez o favor de fugir sem falar tchau, a rainha da Alemanha se trancou em seu quarto com seu rei depois que noivaram. Ninguém teve que passar por uma só refeição desconfortável. Lola realmente tinha ganhado meu respeito por ter a coragem de aparecer assim. E olha que ela não fez a menor cara de quem sabia que algo como aquilo tinha acontecido. Impressionante.
Mas a graça daquilo desapareceu rápido. Logo já fazia alguns vários minutos que estávamos comendo e ninguém falava nada. Nada. Absolutamente nada. Nem Nina, nem meus pais, nem Gabrielle! Nem Gabrielle, pelo amor de deus, que sempre insistia em conversar durante absolutamente todos os segundos que ela tinha disponível. Até ela resolveu encher a boca de comida e não chamar tanta atenção enquanto olhava de Lola para o selecionado, repetidas vezes.
Eu não estava nem perto de ter comido tudo que eu queria, mas assim que vi Thomas passando pela porta da Sala de Jantar, aproveitei o momento e saí daquela situação desconfortável. O resto da galera que se virasse, eu preferia pedir mais comida no escritório a ter que passar outro minuto ali dentro.
"Ei, Woodwork," chamei, assim que passei pelas portas. Ele já estava a alguns metros de distância de mim, mas me ouviu e voltou. Olhei à nossa volta, indo até o mais perto que podia das janelas. "Aquela encomenda chegou?" Perguntei, pensando cuidadosamente em cada palavra antes de falar.
Ele também olhou para os lados. "Ainda não," disse. "Mas ainda temos tempo."
"Que dia que é?" Quis saber.
"Quinta que vem," ele respondeu, olhando para fora da janela. "Eu ainda não acho que seja boa ideia, Majestade-"
"Já falei que não tem o que você diga que vá me fazer mudar de ideia," por impulso, aumentei minha voz, mas voltei a abaixá-la quando percebi, quase chegando a cochichar. "Thomas, é a diferença que nós estávamos procurando. Não dá pra não fazer nada. E se a gente se esforçar-"
"Se vocês se esforçarem no quê?" Era a voz de Nina, que me fez endireitar na hora.
"-Nós conseguimos fazer a melhor festa de aniversário da Melody possível!" Continuei alto, usando a desculpa que Thomas e eu já tínhamos concordado que seria perfeita.
Nina tinha saído da Sala de Jantar e parou do nosso lado. "Espera, vocês estão organizando uma festa pra Melody? E ninguém me chamou para ajudar?"
"Não é uma festa, na verdade," Thomas disse, me ajudando. "É só para eu e ela. Por isso que achei melhor cuidar de tudo sozinho."
"Mas e Bastian?"
"Eu só ajudo nas ideias," corri para explicar. "Não se preocupe, Nina, tudo vai dar certo e ela vai adorar." Me inclinei para colocar a mão na sua cintura e lhe dar um beijo na testa. "Concentre-se no lançamento da sua coleção que você já tem problemas o suficiente."
Ela sorriu para mim, levantando o rosto para me olhar nos olhos. "Você tem razão."
"Bom, Majestade, agora preciso ir cuidar do local do jantar de vocês," Thomas disse, nos fazendo uma reverência. "Com licença."
Eu puxei Nina para o lado contrário a tempo de ela não ver a expressão que Thomas fez para mim. Olhos arregalados, cara de assustado, cara de quem quase foi pego em uma mentira.
"Nosso jantar?" Ela perguntou, quando começamos a andar.
"Não exatamente," falei. "O Chris, sabe o Chris? O guarda filho do Ed, o cozinheiro."
"Sei."
"Ele me pediu uma ajuda. Está querendo organizar um jantar romântico para a criada da Princesa Lola."
"Ah, que graça!"
"É, foi exatamente isso que eu pensei quando ele me contou," falei, sarcástico. Ela só revirou os olhos. "Na verdade, eu ofereci fingir que o jantar é nosso. Falar para os cozinheiros, as criadas, todo mundo. Até Thomas."
"Nossa. Se você está guardando algum segredo dele, a coisa deve ser séria," até quando ela fazia uma piada, ainda mantinha seu tom de quem não tinha a menor ideia se daria certo.
Mas, só pelo seu esforço, tive que parar de andar para lhe dar um beijo.
"Como eu estava dizendo," continuei, quando ela passou o braço pelo meu e nós voltamos a andar. "Estou falando para todo mundo que o jantar é para a gente, assim, ninguém poupa esforços de fazer o melhor que podem."
"Nossa," ela suspirou. "Estou impressionada, Sebastian Schreave."
"Obrigado, muito obrigado," levei uma mão à barriga, engrossando a voz por graça. "Mas, então, tinha uma coisa que eu queria te pedir."
"Qualquer coisa no mundo."
"Há. Agora eu tenho que aproveitar e pensar em algo que você nunca quis fazer antes," parei de novo, levando um dedo à boca, fazendo cara de quem pensava.
Nina me deu um empurrãozinho, soltando do meu braço. Mas não passei nem dois segundos longe dela, já que ela voltou correndo para continuarmos andando abraçados.
"Falando sério agora," comecei. "Queria saber se tem como você me ajudar."
"Em que tipo de coisa?" Ela perguntou, quando chegamos à porta do seu escritório e paramos na frente.
"Nada demais," disse. "Só vestidos mesmo, para a menina. E, se desse para ela se vestir em seu quarto e continuar com o segredo, seria perfeito."
"Com prazer," ela disse, se colocando na ponta do pé para se despedir de mim com mais um beijo. "Tem alguma outra pessoa com quem eu posso falar sobre isso?"
"Gabbie," falei. "Mas tente fazê-la aguentar segurar esse segredo pelo menos até às sete da noite? Que é a hora do jantar?"
"Não posso prometer nada," ela disse, olhando de lado, depois voltando a me mirar. "Amo você."
"Amo você," respondi, com um último beijo. E então ela foi trabalhar.
Eu, em compensação, fiz todo o caminho de volta e ainda continuei até chegar nas portas da cozinha principal. O ar quente me abraçou de uma vez, fazendo a barrulheira lá de dentro me passar despercebida nos primeiros segundos. Mas, depois, mais alguns passos, e eu percebi a loucura que estava acontecendo. Criadas passavam por mim, cozinheiros quase se esbarravam, pessoas gritavam para sair do caminho. E eu me coloquei o mais no canto possível.
"Sebastian, o que você está fazendo aqui?" Era Marc, o primeiro que me notou e parou para falar comigo, apesar de segurar um vasilha com uma massa que parecia muito pesada. "Acabou o pão?"
"Não, não se preocupe. Pelo clima dessa manhã, todo mundo resolveu comer pouco e evitar uma indigestão," lhe garanti, dando-lhe um tapa no ombro que não deve ter ajudado em nada com o peso.
"Imagino," ele disse, continuando seu caminho até a sala que era reservada para coisas de padaria.
"Na verdade, eu precisava falar com-" eu mesmo me cortei, assim que Ed apareceu no meu campo de visão. "Ed!" Tive que desviar de algumas pessoas, mas cheguei até ele.
"Majestade!" Ele me percebeu também, praticamente gritando para mim, enquanto parava o que fazia. Quase todos à sua volta também pararam, ou pelo menos diminuíram seus ritmos.
"Ótimo, na verdade, eu queria poder falar com todo mundo," pedi. E aí sim todo mundo parou de vez. O silêncio que reinou era quase assustador, poderoso o suficiente até para fazer Marc se importar e colocar a cabeça para fora da salinha. "Eu preciso que vocês cozinhem um jantar especial hoje à noite. Só para Nina e eu. Será na Sala de Música," alguns deles trocaram olhares estranhos. "Eu sei, não muito convencional. Mas é meu jeito de agradá-la. E eu preciso que seja digno de uma comemoração especial da realeza." Outra vez, eles trocaram olhares. Não me importava muito o que passasse pela cabeça deles. Podiam imaginar que Nina estava grávida ou qualquer coisa do tipo. A única coisa que eu realmente queria era poder impressionar Chris. E agradecê-lo, de certo modo, por manter o segredo meu e de Thomas, quando não devia nada a nós.
"Tem alguma comida em especial que Vossa Majestade esteja planejando?" Ed perguntou.
Quando olhei de volta para ele, vi Chris no fundo. Ele me fez um aceno com a cabeça.
"Francesa," falei, e o percebi abrindo um sorriso. "E agradeço desde já, de verdade."
"Sem problemas, Majestade," Ed disse, voltando a fazer o almoço devagar e levando todos a acompanhá-lo também.
"Bom, era só isso," falei, começando meu caminho até a porta. Mas aí então uma criada passou por mim. "Liberty!" Eu a chamei, fazendo-a parar na hora. Ela segurava lençóis amassados que provavelmente seriam limpos.
"Majestade," disse, depois de se virar para mim e fazer uma reverência.
"Eu queria mesmo falar com você."
Ela olhou para os dois lados e as incontáveis pessoas que passavam por nós. "Tem certeza que quer que seja aqui?" Perguntou, me mirando e engolindo a seco.
"Não é nada desse tipo," falei, apesar de chegar ainda mais perto dela. "Queria te pedir para supervisionar esse jantar."
"Por que eu?"
Olhei também à nossa volta e baixei a voz quando voltei a falar. "Porque eu confio em você," a mirei fundo nos olhos por alguns segundos.
Até que ela desviou os seus e concordou com a cabeça. Podia ver que estava enrubecida, mas tinha sido essa mesma a minha intenção.
"Pode deixar, Majestade," ela acabou dizendo, sem voltar a me mirar. Fez uma reverência, deu meia volta se afastou de mim.
Antes que eu pudesse sair, Chris se aproximou.
"Sala de música, é?" Disse, levantando uma sobrancelha.
"É o lugar mais bonito do castelo," expliquei. "Agora, se você prefere comer na sala de máquinas de lavar, eu posso fazer uns ajustes," ofereci.
"Não, não," ele riu. "Sala de música será perfeito."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Do Outro Lado do Oceano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.