Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 90
Capítulo 90: POV Clarissa Simpson


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Stop Right There" da Lily Allen.



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Eu abri os olhos. Precisei de alguns segundos encarando o teto para me lembrar de onde estava. Aquele quarto não me parecia familiar.
Illéa, pensei, me sentando na cama. Era o dia seguinte à festa na piscina.
Voltei a me deitar.
Aquela festa tinha sido...Diferente.
"Está tudo bem?" Ouvi uma Lola sonolenta me perguntando. Verdade, eu tinha dormido no quarto dela. Era natural que ela estivesse ali. "Clare?"
"Tudo ótimo," falei, voltando a fechar os olhos, com toda a intenção de adormecer outra vez. "Espera," me sentei de novo, com tudo. "Que horas você chegou aqui?"
Na noite anterior, depois de descobrir que estavam procurando por ela (e não a encontrando), fiz questão de esperar em seu quarto. Mas devo ter adormecido, pois a última coisa da qual eu me lembrava era de ficar olhando para as paredes em silêncio.
"Meia-noite, não sei," ela disse, deitada do meu lado e esfregando os olhos. "Você já estava apagada."
"Não era minha intenção. Estava planejando voltar e dormir em meu quarto mesmo."
"Não se preocupe, Clare. Sempre haverá espaço na minha cama para você," ela se sentou também, seu cabelo todo bagunçado e os olhos sendo forçados a ficarem abertos. "Mesmo quando você me ignora para ficar com um cara qualquer."
Enterrei minha cara nas mãos. "Eu sei. Sou uma péssima amiga, me desculpe!"
Ela puxou uma das minhas mãos para desfazer meu escudo protetor de vergonha. "Desculpada. Agora me conta, quem é ele?"
Dei de ombros. "Um guarda aí," falei.
E nós ficamos em silêncio. Lola só fez cara de quem esperava mais coisa, mas eu me fiz de desentendida.
"Clare!"
"Quê?"
"Um cara aí?" Ela bufou uma risada. "Acha mesmo que eu vou me contentar só com isso quando você passa praticamente o dia inteiro me perguntando se algum selecionado me beijou?"
"Verdade!" Me lembrei na hora, me virando para sentar de frente para ela. "E o Alaric? Ele te beijou? Vocês se beijaram? Foram sete minutos mágicos?"
Ela fez cara de que não estava nem um pouco feliz. Depois revirou os olhos. "É bem por isso que eu tinha mandado te chamar! Eu queria te contar! Mas você estava ocupada com um cara aí."
"Argh," reclamei, cruzando os braços. "Se eu te contar do Chris, você me conta do Alaric?"
Ela levantou as sobrancelhas, divertida. "Chris, é? Já se chamam pelo primeiro nome?"
Foi minha vez de revirar os olhos. "Chris é um guarda daqui. E ele me chamou para um encontro."
"Sério?"
"É, eu também não conseguia acreditar," admiti, pegando uma das mil almofadas da cama dela para abraçar.
Ela também pegou outra, mas para jogar em mim. "Não falei que não acredito," disse, quase brava. "Só achei legal! Você está precisando!"
"Precisando? A última coisa da qual eu preciso agora é de um cara querendo sair comigo. Já tenho problemas o suficiente com o Kyle."
Só a menção do nome dele, mesmo que viesse de mim, ainda era o suficiente para me fazer ficar com frio na barriga. Mas Chris não tinha sido tão diferente. Ele também me deixava nervosa cada vez que eu pensava nele e na possibilidade de alguém realmente me querer como ele parecia querer.
"Por falar nisso," Lola falou, "você já leu a carta, não é?"
Arregalei os olhos. "Já," admiti. "Ontem à noite. Você não chegava, não tinha muito o que eu podia fazer enquanto esperava!"
"Não precisa criar desculpas para mim, eu não sei porque você demorou tanto," ela chegou mais perto de mim. "E aí, o que ele escreveu?"
Respirei fundo, tentando ignorar que só pensar naquela carta já me fazia querer me enrolar na coberta e nunca mais sair da cama.
"Que ele nunca conheceu uma garota como a Karen," comecei. "Que ele seria um idiota de não ir atrás dela."
"Idiota, ele já é normalmente," Lola brincou, me obrigando a jogar minha alfomada nela. E pegá-la de volta logo depois. "Por não perceber que você é incrível!"
"Tá, claro," fingi acreditar. "Ele falou também que só queria uma chance de poder conhecê-la sem máscaras e sem títulos," abracei meus joelhos, amassando a almofada no meu colo e apoiando minha testa na perna para que não tivesse que olhar para Lola. "Que entenderia se ela não quisesse, mas que seria o cara mais sortudo do mundo se ela o deixasse a ver pelo menos outra vez."
"Tem certeza de que foi Kyle que escreveu isso?" Lola perguntou, debochando.
"Tenho. E tenho certeza de que ele que escreveu isso também," me estiquei até alcançar o criado-mudo, de onde eu peguei um cartão e joguei no colo dela.
"Um correio elegante?" Ela perguntou, rindo. "Ele te mandou um correio elegante?"
"Não, ele mandou um para a Karen," a corrigi. "Isso está indo longe demais, Lola!"
Ela jogou o cartão de volta para mim, aonde ele só tinha escrito que não se cansaria de procurar para ela, não importando o tempo que levasse.
"Eu concordo," ela disse. "Vamos até seu quarto agora para contar que, na verdade, você é a Karen."
"Não!" Praticamente gritei, quando ela fez menção de se levantar. "Tem noção do quão ridículo seria simplesmente falar a verdade? A única coisa que ele veria seria eu, a menina que mentiu e ainda desenvolveu a mentira durante dias!"
Ela abriu os braços, depois voltou a se sentar. "Clare, o buraco está cavado. Ou você deixa ele mais fundo, ou pula pra fora!"
Respirei fundo, sabendo que ela estava certa, mas odiando ter que admitir. "Posso falar que não imaginava que viraria tudo isso quando eu resolvi fingir ser outra pessoa?" Ela concordou com a cabeça. "Eu achava que ele só falaria comigo rapidamente, me deixaria sozinha, só isso. E agora eu não sei como sair dessa sem ele me odiar!" Eu estava me contorcendo em mim mesma, amassando a almofada.
"Já sei!" Nem tinha ideia de que Lola tinha estado pensando tanto até ela dar um salto da cama, se colocando de pé. "Já sei! Você responde ele como Karen, dizendo que não quero vê-lo, que está voltando para a Inglaterra. E aí pronto, esse assunto acaba! E você-"
"Volto a ser a amiga invisível dele," completei, desanimada.
Ela tinha andado pelo quarto, desenvolvendo sua ideia. Mas parou e colocou as mãos na cintura, se virando para me encarar.
"E você começa do zero, é o que eu ia dizer," ela continuou. "Dessa vez com seu nome verdadeiro. Ou pode simplesmente se esquecer dele e ir atrás do Chris," quando ela falou o nome dele, eu me lembrei de nós nadando juntos na noite anterior.
Nunca na minha vida eu poderia imaginar que só precisaria de alguns minutos de conversa com alguém para parecer que já nos conhecíamos a vida inteira. E todos os seus elogios também não eram de se dispensar.
"Espera," virei para Lola. "Você ainda não me contou do Alaric!"
"Manchester," ela me corrigiu, voltando até a cama e se sentando. "E sim, nós nos beijamos. Várias vezes. Tantas, que nem vale a pena tentar contar quantas."
"E como foi?" Quis saber, me aproximando mais dela.
"Foi," ela suspirou, olhando para o teto, pensando, "intenso," acabou falando. "Ele é inteiro intenso, não?"
"Demais até," falei.
"Não, mas foi bom. Foi ótimo. Foi," ela pausou outra vez, "exatamente o que eu esperava quando vim para cá."
Tive que arregalar os olhos. E abrir a boca. E os braços.
"Então você está dizendo-"
"Estou dizendo que ele é o melhor candidato, mas que essa Seleção está longe de terminar, Clare. Não se anime!"
"Não estou animada," prometi. "Pelo contrário. Acho Alaric ótimo e entendo perfeitamente porque vocês se dão tão bem. Mas ainda preferia que você tivesse um marido um pouco mais..."
"Tonto?"
"Amigável," a corrigi.
Ela riu. "Bom, eu ainda não escolhi ninguém. E, na verdade, preciso fazer uma coisa antes de tudo isso acabar."
"Eliminar o Dylan?" Arrisquei perguntar, não sabendo se ela queria falar daquilo ou não.
"Isso também," ela disse. "Mas não. Sabe aquele selecionado que parecia estar sofrendo durante os jogos?"
"Dane."
"Liverpool," ela continuou. "Quero saber o que está acontecendo com ele. E quero poder ajudar."
"Você acha que ele tem algum problema de saúde?"
"Acho que pode ser alguma coisa desse tipo," ela admitiu. "E, se for, eu tenho bem mais recursos para ajudá-lo do que ele jamais poderia imaginar. Quero poder fazer alguma coisa."
"Como um presente, assim?" Perguntei, enquanto uma ideia brotava na minha cabeça. "Ei, a partir de amanhã é você que chama os selecionados para sair! Já pensou em alguma coisa incrível? E quem vai chamar para o quê?"
"Acho que vou começar com Keon, já que ele ganhou o encontro na praia."
"E depois?" Sem perceber, tinha apoiado os cotovelos nas pernas e a mirava como uma menininha esperando para ouvir sua história preferida.
Ela revirou os olhos. "Penso nisso quando precisar," disse, se levantando da cama e indo até o closet.
"Aonde estão as suas criadas?" Perguntei, já que ela claramente queria se vestir.
"Eu as dispensei hoje de manhã," disse lá de dentro. "O que acha de uma saia lápis azul marinho com uma camisa branca?"
"Acho sério demais," também me levantei, indo até ela, que saiu do closet antes que eu entrasse.
"Eu preciso de alguma coisa séria. É a roupa que eu vou usar para eliminar o primeiro seleconado."
"Então está ótimo."
"E também a roupa que vou usar para demitir alguém que nem trabalha para mim," ela disse, começando a se trocar.
"A estilista, você diz?" Me lembrava bem dela antes da primeira festa. Ela tinha sido tão legal comigo, era terrível pensar que ela estava para perder seu emprego e eu sabia disso. "Tem certeza que quer demiti-la?"
"Não," Lola respondeu, terminando de abotar sua camisa e pegando a saia. "Mas que tipo de impressão eu deixaria se ela continuasse com seu emprego? Que qualquer pessoa pode vir e roubar os caras que estão literalmente competindo para se casar comigo e tudo bem? Eu vou deixar?"
"Mas e se não foi culpa dela?"
"Como pode não ter sido culpa dela, Clare? Eu vi o beijo. Eu sei bem o quanto ela queria aquilo."
Não pude evitar de arregalar os olhos. Pelo que eu tinha ouvido, os dois tinham sido pegos juntos. Mas nunca ninguém me disse que tinha sido a própria Lola que os tinha encontrado.
"Foi você que viu?" Perguntei e ela só concordou com a cabeça, chegando perto de mim para eu ajudá-la a fechar a saia e ajeitar sua camisa. "Mas e se foi só uma vez?"
"Não interessa," ela suspirou. "Eu também não gostaria de ter que demiti-la. Não tenho problemas em ter que eliminar o selecionado, porque também já perdi qualquer interesse que poderia ter por ele. E deixá-lo aqui seria ridículo. Mas é estranho pensar nela nessa posição."
"Porque ela foi tão legal com a gente antes?"
"É! Ela me parecia bastante razoável. Podia jurar que era inteligente. E faz um negócio desses com menos de uma semana de Seleção?"
Eu suspirei. "É," concordei. Não tinha mais o que falar, ela tinha razão. Aquilo era errado, não tinha o que fazer.
"A Rainha America me disse que esse tipo de traição contra alguém da realeza costumava levar à morte aqui," Lola falou, de um jeito tão calmo que meu espanto pareceu quase como um grito. "Pois é. Uma demissão não parece tão ruim agora, não é?"
"Não. Definitivamente, não."
"E aí," ela disse, se virando para me olhar quando só faltava colocar os sapatos e se maquiar. "Devo continuar me arrumando para irmos tomar café da manhã com todo mundo ou você ainda quer se esconder?"
"Podemos ir," falei. "A não ser que você agora queira se esconder."
Ela riu. "E desde quando eu sou do tipo que me escondo, Clare?" Ela foi até sua penteadeira, já preparando as coisas para começar a se maquiar. "Além do mais, preciso conseguir tomar café da manhã uma vez pelo menos com todos os meus selecionados, não?"


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