Eu estava no meu caminho para o quinto picolé, quando senti alguém tocar em meu ombro.
"Princesa Nina," a menina disse, me oferecendo um cartão, que eu peguei dela.
Mesmo depois de cinco anos, ainda estranhava aquele título. Já tinha me acostumado, já não insistia para me chamarem só pelo meu primeiro nome. Mas ainda não era algo que me passava despercebido. Pelo contrário, só de ouvir a palavra 'princesa' já me dava frio na barriga.
O cartão era simples, mas rosa e cheio de coraçõezinhos vermelhos desenhados na borda. Eu mesma o tinha feito com Gabrielle no dia anterior, como uma pausa da nossa reunião.
Procurei por Sebastian pela festa. Quando o encontrei, ele me observava a alguns metros de distância. Levantou seu copo no ar na minha direção, e eu assenti com a cabeça. Abri o cartão logo em seguida, querendo ver o que ele tinha escrito.
"Querida Nina,
Você faz cada gota da pior tempestade valer a pena.
S."
Quando levantei o rosto para olhar para ele, Sebastian fazia uma careta, que me deu vontade de rir. Ou talvez fosse minha própria histeria, que ajudava no frio na barriga.
Ele devia estar tentando me fazer esquecer das milhares noites em que ele passava trabalhando ou de todas as vezes em que simplesmente 'precisava' sair com Thomas e não podia me encontrar para tomar um chá da tarde. Só assim para escrever uma coisa daquelas e me mandar em um correio elegante.
Mas era graça assim mesmo e eu precisava respondê-lo! Já tinha salvado o cartão mais bonito para ele na noite anterior, só queria mesmo esperar para ver se ele teria a mesma ideia.
Antes de mais nada, fiz questão de pegar outro picolé de morango. E aí sim, eu saí andando pelas pessoas, dançando conforme a música, mas sem parar no meio do caminho até a mesa do correio elegante.
Ou, pelo menos, esse era meu plano. Até Gabrielle aparecer na pista de dança e me pegar pelo braço.
"Você tá sabendo?" Ela perguntou, olhando em volta e abaixando a voz quando continuou. "Sobre o selecionado?"
"Qual selecionado?"
Ela olhou de novo para os lados. Era bem mais alta do que eu e conseguia facilmente parecer da realeza, o que eu inveja um pouco. Mas tinha uma fraqueza inegável para fofocas, que eu costumava tentar diminuir. Depois de ouvir o que era, é claro.
"Dylan Stroud," ela respondeu, chegando mais perto de mim e abaixando a voz o máximo que podia, quando estava competindo com a música.
"O que chegou bravo?" Perguntei e ela concordou freneticamente com a cabeça.
"Dizem que ele tem um caso com uma menina do castelo," ela disse, mordendo os lábios.
Só por isso, eu podia imaginar que ela sabia quem era. E que estava prestes a me contar.
"Quem?" Pedi, só para saciar sua vontade de alguém que quisesse a fofoca como ela.
Ela me mirou fundo antes, como se precisasse da preparação. Ou acreditasse que eu precisava. "Madison Hunter."
Por um segundo, achava que ela estava brincando. Até ameacei sorrir. Mas ela levantou as sobrancelhas, arregalando os olhos. Era verdade. Ela não tinha só escolhido uma das minhas melhores amigas para tirar sarro da minha cara. Ela estava falando sério.
"A Mad?" Não pude evitar de perguntar, mesmo que o nome e o sobrenome dela não deixassem dúvidas.
Ela era uma das pessoas mais focadas que eu conhecia. Completamente diferente de mim, era uma líder nata. Inteligente, talentosa, simplesmente minha ídola de personalidade. Eu sabia que nunca seria nem perto de parecida com ela e a verdade era que não queria ser. Mas ainda tinha uma admiração enorme por ela. Quando ela tinha acabado de se mudar para cá, a via mais como uma pessoa com quem nunca nem conversaria. Mas ela tinha nos ajudado muito na nossa nova coleção de joalheria, com todo tipo de conhecimento que podia precisar. Era difícil imaginar alguém tão adorável e incrível assim fazendo algo tão estúpido.
"Sim, Madison Hunter, de todas as pessoas do castelo, está tendo um caso com um dos selecionados!" Gabbie se deixou levar por um segundo e sua voz ficou alta demais para um segredo.
As pessoas à nossa volta nos olharam, mas ela não pareceu se importar.
"Duvido," falei, balançando a cabeça. "Ela é inteligente demais para essas coisas, Gabbie."
"Ah, Nina!" Ela riu rápido. "Parece que você não se lembra de como é estar em uma Seleção."
"Do que você tá falando?"
"Arya Noleira? Melissa McQueen? Esses nomes te dizem alguma coisa?"
Tive que me dar por vencida. "Só porque as selecionadas do Charles achavam que estavam no direito de sair procurando outros maridos durante a Seleção, não significa que as meninas farão o mesmo. Só que ao contrário. Que os selecionados vão fazer. Você me entendeu."
"Falou a menina que acabou casada com o IRMÃO do príncipe."
Fiquei quieta.
Não tinha mesmo muito argumento contra aquilo.
"Tá," acabei dizendo. "Você entendeu o que eu falei!"
"E você ainda não entendeu que ser inteligente não muda nada nesse tipo de coisa," ela olhou por cima do ombro, ainda parecendo bastante distraída. Mas de repente virou o rosto com tudo para mim. "Espera. Você sabe disso sim! Claro que sabe!
"Do que você está falando?"
"Valentine DeChamps," ela pronunciou o nome de sua irmã como se estivesse amaldiçoado.
Eu sorri fracamente, tentando não demonstrar tudo que estava pensando. Me lembrava bem de quando sua irmã tinha vindo me procurar para saber o que eu pensava dela se interessando por um selecionado. Claro, tinha acontecido ontem. Mas me lembrava também de que eu tinha insistido que Lola não era Charles. Charles era bondoso e nunca puniria ninguém por se apaixonar. Mas eu mal conhecia Lola. E ela podia não ser cruel, falavam bem dela. Mas só de olhar para ela, eu já tinha a sensação de que ela era rígida. E de que eu nunca seria próxima dela.
"Sua irmã é diferente," eu disse, baixando tanto minha voz que tive medo de Gabbie não me ouvir. "Ela me prometeu que não agiria antes de ele ser eliminado. Que só quer saber se tem chance. Ter um caso com um selecionado depois de uma semana de eles terem chegado não é a mesma coisa. E eu ainda não acredito que Madison seria tão inconsequente."
"Todos somos inconsequentes no amor, querida Nina," ela disse, colocando o braço em volta do meu pescoço, quase me fazendo derrubar o resto do picolé que derretia na minha mão. "Ela me fez a mesma promessa, mas tenho a leve impressão de que teremos que ficar de olho nela."
Como se tivéssemos combinado, nós duas nos viramos para onde Valentine estava conversando alegremente com um dos selecionados.
"Aquele é ele?" Perguntei, e Gabbie concordou com a cabeça. Voltei meus olhos para os dois e só os observei por um tempo. "Ele não parece nem perceber que ela está ali."
"Ela disse que era questão de honra fazer ele a perceber," Gabbie disse, logo rindo. "Precisa gostar tanto de um desafio assim?"
"Ah," dei de ombros. "Acho que seria gracinha se ele acabasse se apaixonando ela. Ela fazendo tudo pela atenção dele, e ele ocupado com suas coisas. Até que outro cara dá bola para ela e aí sim, ele percebe que tinha tudo de que precisava do seu lado. Mas que é tarde demais."
"Anda lendo muitos livros com finais tristes, Nina?" Gabbie perguntou, tirando sarro de mim. E eu a responderia, se ela não tivesse se virado de costas para mim na hora em que percebeu que Marlee passava por nós.
"Woodwork," ela chamou, tirando o braço da posição mais desconfortável possível em volta do meu pescoço. "É verdade?" Ela perguntou, fazendo Marlee olhar dela para mim, depois de volta para ela. E então ela assentiu com a cabeça, uma vez e discretamente.
"Preciso ter certeza de que Vossas Majestades não dirão nada a ninguém ainda," Marlee pediu.
"Tem alguma coisa que a gente possa fazer?" Ofereci, enquanto Gabbie só concordava.
Marlee suspirou. "Eu tive uma ideia. Mas eu ainda não sei se Madison aceitará."
"O que é?" Gabbie perguntou, toda curiosa.
Marlee olhou à nossa volta e se aproximou de nós. "Vocês sabem costurar?"