Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 86
Capítulo 86: POV Elena Leger


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa música ouvindo "Somebody" da Natalie La Rose com o Jeremih.



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Mia estava certa. Eu devia vir mais vezes para o castelo! Definitivamente o desvalorizava demais. Costumava pensar que nenhuma das festas ali seria tão boa quanto as da faculdade. Claro que a quantidade de álcool era menor e a de luz bem maior, o que não contribuía para deixar a festa seguir seu caminho até a falta de controle que eu tanto amava. Mas as bebidas ainda eram melhores ali, me deixando bêbada na medida, sem me forçar a passar mal. E não tinha nada mais legal do que ver todo aquele pessoal do castelo vestido em biquinis e bermudas, dançando do meu lado como se nem se lembrassem dos seus nomes. Não conseguia identificar quase ninguém, ainda tinha a mania de não reconhecer até as princesas, mas eu sabia bem qual era o tipo de atitude que todos eles deviam ter em dias normais. E aquela festa realmente estava deixando todas as regras para trás.
Senti a mão de Davi contornando minha cintura e me fazendo jogar a cabeça para trás até apoiá-la em seu ombro. Fechei os olhos por alguns segundos, sem parar de me mexer, deixando-o me acompanhar com seus braços em volta de mim. Eu nem conhecia aquela música, mas ela tinha um ritmo ótimo e não foi difícil de me deixar levar. Davi parecia saber exatamente o que fazer, quase como se tivéssemos ensaiado para nos apresentar. Não tinha uma única vez em que eu jogava meus ombros ou quadris para os lados sem que ele conseguisse me acompanhar. Além de ter muito jeito para a dança, ele devia conhecer todas as músicas, pois sempre cantava como se estivesse em um vídeo. Me dava ainda mais vontade de continuar na pista com ele, para ver se saberia a próxima, se tinha alguma que ele não conseguiria dançar.
Abri meus olhos bem na hora em que o senti encostar os lábios na base da minha nuca. Já era algo tão comum, que só continuei olhando em volta da festa, me perguntando o que cada um fazia no castelo, qual era seu uniforme normalmente e como deviam estar adorando essa temporada de festas da Princesa Lola (pelo menos, eu estava). Até que meus olhos encontraram o de um cara.
Não pensei nada demais. Ele estava longe e eu nem o mirei por tempo o suficiente para reconhecê-lo, só desviei o olhar até me virar pra Davi. Coloquei meus braços em volta do seu pescoço e o mirei. Nós nem precisávamos falar nada, já tínhamos nos apropriado da batida da música e não a perdíamos por nada. Ele me olhou fundo, logo antes de se inclinar mais uma vez na minha direção. Sabia que queria me beijar, mas desviei o rosto só o suficiente para ele voltar a se concentrar em meu pescoço.
Assim que deixei meus olhos correrem pela festa, encontrei o mesmo cara me observando. Dessa vez, fiz questão de segurar o seu olhar para ver se não estava ficando louca. Ele estava mesmo me encarando daquele jeito? Enquanto Davi beijava meu pescoço com toda a intenção de acabar aquela noite só entre nós?
Eu o empurrei. "Preciso beber alguma coisa," falei. "Me espere aqui," pedi, me inclinando para um beijo rápido.
Davi ficou parado e eu me afastei, esperando que fosse me obedecer. Depois de um segundo só o olhando, me virei e comecei o meu caminho até o bar, aonde o cara estava.
Ele já tinha se virado completamente de costas para mim, sem chances de estar me olhando. Me apoiei logo do seu lado, fingindo estar ali por qualquer outra razão e nem o perceber. Mas, mesmo com o canto do olho, eu sabia que ele era um dos selecionados. Não só porque ele usava uma bermuda vinho e tinha competido do meu lado durante todos os jogos aquáticos. Mas porque eu já o tinha visto por ali várias vezes.
Eu fugia do castelo o suficiente, mas seria impossível nunca ter passado por Keon. Ele fazia parte daquele grupo de pessoas que eu não conhecia, mas que tão pouco eram estranhas. A irmã de Gabrielle, os irmãos de Nina, o resto da família delas, ele e todos aqueles outros que apareciam de vez em quando, normalmente quando eu não estava por ali. Já os tinha visto em diferentes idades, mas nunca nem tinha trocado uma palavra, principalmente com Keon, que sempre parecia o menos interessado nos eventos sociais do castelo. Claro, depois de mim.
Mas eu tinha certeza de que era ele. Não se falava sobre mais nada no país além da Seleção e todas as nossas amigas da faculdade só queriam ouvir o que Mia e eu sabíamos sobre os selecionados. Além de que eu tinha tido o azar de uma delas encarnar que Keon era perfeito e ficar repetindo isso constantemente para quem quisesse ou não quisesse ouvir.
"Bloody Mary," pedi ao barman, só porque sabia que demoraria para ele fazer.
Keon ficou girando seu copo, que parecia ter só refrigerante, pelo que eu podia ver com o canto do olho. Ele se fazia de muito concentrado, como se precisasse de toda a atenção do mundo bem ali. Eu também não tinha me virado para olhar para ele, mas estava fingindo desinteresse, enquanto ele só parecia completamente desconfortável. Qual era o problema dele? Ele tinha ouvido alguma coisa sobre mim? Ou simplesmente me reconhecia também? Era a segunda vez em um dia que ele tinha me encarado. Ou eu estava ficando louca e imaginando coisas.
Não estava. Ele tinha se virado só um pouco para me olhar, mas desviou quando eu o percebi, voltando a focar em seu copo. Dessa vez eu o olhei de verdade, mesmo que estivesse perto demais dele para depois negar. Tinha ido até ali para ver se ele começaria algum assunto, depois de me olhar tanto. Mas definitivamente não parecia que aconteceria, não partindo dele. E, quanto mais esquisito, quanto mais desconfortável ele ficava, mais eu queria saber qual era seu problema.
"Tem alguma coisa que você quer me dizer?" Perguntei, esperando que ele fosse levantar os olhos para mim, depois de ficar encarando-o de perto por tanto tempo.
Mas ele deu de ombros, pegando seu copo e tomando um gole, evitando ter que me olhar.
"Por que teria?" Perguntou assim que engoliu.
Eu bufei uma risada. "Sei lá, você anda me achando extremamente interessante ultimamente," falei, dessa vez conseguindo fazê-lo me encarar de volta.
"Não se iluda," ele disse, voltando a desviar os olhos para o bar.
Mas aquilo me deu vontade de rir. Ele nem era tão tonto quanto eu imaginava, até que tinha uma certa atitude dentro dele. E eu tinha que fazê-la aparecer mais uma vez.
"Pode deixar," respondi, sem conseguir esconder meu sorriso. "Se você me disser o que tanto está te incomodando em mim."
Me deixei observá-lo, enquanto ele respirava fundo e pensava. Quando virou para me mirar, apertou os olhos para mim.
"Nem todo tipo de atenção é boa," ele disse.
Bufei outra risada. "Não disse que era," continuei mirando-o para provar que não me faria desistir.
Ele pareceu querer revirar os olhos, mas se segurou. Depois os aperto para mim, levantando levemente o queixo. Lá estava a atitude que ele guardava. E eu estava louca para saber o que viria com ela.
"Você deveria se preocupar mais com quem pode ouvir suas conversas," ele falou, me fazendo franzir a testa, pensando no que aquilo poderia significar. Provavelmente percebeu que eu não tinha entendido, pois continuou logo em seguida. "Ainda mais quando discute um dos selecionados com alguém que não é a princesa," ele fez questão de pegar seu copo e finalizar sua fala com alguns goles.
Era de Alex então que ele estava falando. Devia ter ouvido o que tínhamos falado antes dos jogos.
Me apoiei no bar com o cotovelo e esperei que ele tivesse abaixado seu escudo para respondê-lo.
"Qual o problema, exatamente?" Perguntei, fazendo-o me olhar estranho.
"Como assim, qual o problema?"
"Qual o problema do que nós falamos?" Insisti. "Qual o problema de um dos selecionados ter se apaixonado por outra pessoa?" Ainda mais alguém como a Mia, completei na minha cabeça.
Esperava qualquer outra reação, uma risada bufada, uma risada normal ou até mesmo ele revirando os olhos. Só não esperava que Keon fosse continuar me encarando com uma expressão em branco.
"Nenhum," ele disse, claramente mentindo só pelo jeito que engoliu o resto do seu refrigerante como uísque e se levantou. "Que seja."
Ele se virou pro lado contrário a mim, já planejando uma fuga. Mas eu dei a volta até estar na sua frente antes que conseguisse se afastar.
"Então você está dizendo que é completamente fiel à princesa?" Perguntei, e ele só apertou os olhos para me ver melhor. Nós estávamos a uma certa distância, apesar de eu conseguir bloquear todo seu caminho. Fiz questão de chegar mais perto antes de continuar. "Que você veio para o castelo só com a intenção de se apaixonar pela princesa?" O mínimo que ele levantou de uma sobrancelha me deu vontade de chegar mais perto. "Que ela é a única garota que você vê?" Continuei perguntando, passando meus dedos de leve pela pele de seu abdômen até apoiar minha mão em seu peito. Pude ver em seus ombros quando ele ficou rígido de constrangimento. Ele até jogava a cabeça um pouco para trás, mordendo sua mandíbula, mas isso só me fez chegar meu rosto ainda mais perto do dele, nos deixando afastados por alguns poucos centímetros. "Você realmente está dizendo que não tem nenhuma garota em todo esse castelo, absolutamente nenhuma para quem você já olhou, pensando em algo mais?"
Eu me mantive o encarando o máximo possível, mas me distraí quando ele engoliu a seco e baixou os olhos para a minha boca. Não pude evitar meu sorriso, convencido e divertido, que ele não conseguiria nunca imitar, não no estado em que estava. Suspirei de leve e demorado, e ele acompanhou minha respiração como eu tinha esperado que faria. Poderia apostar que ele nem sabia mais o que eu tinha perguntado, mas aquela era a resposta que eu precisava. Mesmo que ele realmente nunca tivesse me olhado - ou a qualquer outra garota ali - com interesse, ele também não estava na posição de julgar Alex, não quando podia ser distraído tão facilmente.
Me afastei dele, voltando a mirar seus olhos. Ele ainda demorou para encontrar os meus, mesmo eu já voltando a aumentar a distância entre nós.
"Exatamente," eu falei, quando ele finalmente me encarou de volta.
Me inclinei por cima dele uma última vez, agora rápida e sem o menor cuidado, só para conseguir pegar meu Bloody Mary que me esperava no bar. Mas ainda fez questão de segurar em seu braço como quem só precisava de apoio. Quando me afastei, pensei em piscar com um olho só, mas me contentei em só sorrir de lado.
Andei dele até a pista de dança sentindo seus olhos nas minhas costas. Quando cheguei perto de Davi, ele me esperava com suas sobrancelhas arqueadas.
"O que foi aquilo?" Ele perguntou, sem demonstrar o mínimo de ciúmes em seu tom que aquelas palavras deveriam exigir.
"Garantia," eu disse, rindo, mas, no fundo, esperando que funcionasse. Davi fechou a cara como ele provavelmente pensava que devia fazer. Não parecia natural esse incômodo dele, mas nós mal nos conhecíamos, e eu preferia que ele não se importasse de verdade. "Não se preocupe," continuei, só para agradá-lo, "era brincadeira."
"Você gosta de brincar com os selecionados, é?" Quis saber, me fazendo sorrir ainda mais largo.
"Como poderia evitar?" Perguntei, colocando meus braços em volta de seu pescoço, equilibrando minha bebida atrás dele. "É fácil demais," falei, me perguntando se Keon ainda estaria me olhando. "E incrivelmente divertido!"


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