Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 85
Capítulo 85: POV Thor Boursheid


Notas iniciais do capítulo

Escrevi no começo ouvindo a playlist "Jogos Aquáticos do Outro Lado do Oceano" do Spotify (que eu fiz para essa festa!), depois "Kiss You" do One Direction quando uns personagens aí começam a cantar e, por último, "Let's Get Lost" do G-Eazy.



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O tempo pareceu se mover em câmera lenta ao sairmos correndo e pularmos na piscina. Até me deixei mergulhar, segurando os joelhos com as mãos, e, enquanto eu não senti que tinha chegado ao fundo, não me mexi. Quando meus pés o tocaram, soltei dos joelhos e dei um impulso para subir rápido para a superfície.
Alicia estava me esperando, claramente tendo superado o salto antes de mim, e, assim que coloquei a cabela para fora, levei um pouco mais de água na cara. Tentei me recuperar, devolver, mas ela não parava e era tão rápida que eu nem conseguia abrir o olho para ver exatamente aonde ela estava.
Então mergulhei de novo, mirando suas pernas, que eu peguei e puxei para baixo o máximo que podia. Minha força não era grande, mas foi o suficiente para afundá-la durante o tempo que eu demorei para fugir dela e sair da água. Corri em volta da piscina, enquanto os outros convidados ali nos olhavam estranho. Alicia tomou aquilo como um desafio, saindo do outro lado e me mirando com cara de quem tinha uma única missão: me derrubar de volta na água.
Mas a piscina era grande. E toda vez que ela escolhia um lado para correr, eu ia na mesma direção, mantendo a distância entre nós. E a gente ficou assim, eu fugindo dela, ela ficando frustrada, até que ela desistiu e pulou na piscina, nadando até mim. Eu pulei logo atrás, quase caindo nela mesma. Já tinha escapado o suficiente, queria poder ajudá-la um pouco também.
Ela veio rápido até mim quando percebeu que eu tinha mergulhado, tentando me empurrar para baixo. Mas eu era mais forte que ela, e ela teve que se contentar em só conseguir ganhar de mim quando estava jogando água na minha cara. Dessa vez, eu fui mais rápido. Joguei de volta, sem nem ver direito aonde estava indo, mas com mais força, mais rápido, determinado a não me dar por vencido.
"Alicia!" Uma voz masculina praticamente gritou, em tom de bronca, enquanto eu a sentia cessar os ataques aquáticos.
Abri meus olhos com cuidado e os esfreguei para ver um guarda a olhando estranho.
"Será que vocês podem fazer outra coisa agora?" O cara perguntou, enquanto uma menina esperava para voltar a conversar com ele.
Alicia concordou, mas só depois de bufar alto. Eu a segui para sair da piscina, passando perto do guarda e percebendo que a menina que estava com ele era a criada pessoal da Princesa Lola. Ela poderia facilmente repassar para a princesa que eu tinha me portado mal perto dela.
E, por um minuto, eu até me preocupei com aquilo. Mas, depois de alguns passos desanimados, Alicia deu alguns pulinhos e se virou para mim.
"Olha quem é!" Ela disse, esperando que eu a alcançasse a apontando para Dylan, que entrou na tenda bravo, quase a derrubando. "Será que ele foi descoberto?" Ela perguntou, arregalando os olhos.
"Não seja louca," eu falei, passando minhas mãos pelo cabelo, tentando tirar o máximo de água possível. Eu cheguei até ela e nós andamos juntos até a festa. "Se ele tivesse sido descoberto, nem estaria mais aqui. E a princesa nos garantiu que o que quer que tenha acontecido durante a primeira festa não importava."
"Eu gosto de vocês aqui," ela falou, tão rápido que eu quase entendi errado. "Antes da Seleção, nós tínhamos pouquíssimas festas. Agora é uma por semana! E eu nem preciso trabalhar, posso simplesmente a-pro-vei-tar," ela falou a última palavra dando girando pela festa e esbarrando em todos que passavam por nós.
Só pediu desculpas mesmo com caretas na direção de todos que foram incomodados.
Olhei em volta. O mal humor de Dylan parecia ter afetado algumas pessoas, mas a maioria dançava toda feliz com seus trajes de banho. Aquela realmente não parecia uma festa de um castelo, ainda mais para uma princesa como Lola. Ao invés de champanhe, as pessoas bebiam drinks coloridos ou chupavam picolés. E ao invés de músicas mais melancólicas, todas que tocavam davam vontade de se mexer.
"Olha só, até Carolyne está dançando!" Alicia disse, sem nem apontar para eu saber de quem ela estava falando.
Na hora, pensei que poderia ser uma indireta, então rapidamente me coloquei na sua frente.
"Alicia, você gostaria de dançar comigo?" Perguntei, oferecendo minha mão.
Ela fez que estava pensando, até levando um dedo à boca e olhando para cima. Depois me mirou fundo, tentando esconder um sorriso malicioso.
"Eu tenho uma ideia bem melhor!" Disse, me pegando pela mão e me puxando para dentro da multidão que ainda dançava.
Eu achava que ela estava me levando para algum lugar aonde tinha comida, mas ela passou direto pelo buffet, só parando quando nós estávamos do lado do palco.
"Oi," ela disse para o cara que estava lá de segurança. "Tem alguém na fila ou a gente pode cantar?" Ela perguntou.
O cara não parecia nem um pouco animado para responder, mas acabou falando que estava livre.
Mas quando Alicia me puxou pela mão, eu finquei meus pés no chão e não me mexi nem um milímetro.
"Nem morto," falei, quando ela se virou para me olhar, toda confusa.
"Por que não?!" Ela perguntou, praticamente batendo o pé.
"Por que não ir até lá em cima e cantar na frente de todo mundo?" Perguntei, e ela só concordou com a cabeça. "Eu realmente preciso responder?"
"O quê? Você tem medo, é?" Alicia chegou mais perto de mim, franzindo suas sobrancelhas só para tirar sarro mesmo. "Do quê? Que a princesa veja que você está se divertindo demais sem ela?"
Revirei os olhos. "Eu canto mal."
"Eu sei," ela disse rapidamente, quase como se fincasse uma faca fundo na minha barriga.
"Valeu."
"Mas isso não importa," ela continuou. "Cantar é a melhor coisa do universo. Você não trabalha com isso, sua única obrigação ao cantar é se divertir. E isso eu garanto que vai acontecer!" Ela pegou de novo na minha mão, e dessa vez eu a deixei me puxar, apesar de sentir tudo dentro de mim protestando contra aquilo.
Ela se posicionou na frente de um microfone e me entregou outro, enquanto várias pessoas já paravam para nos olhar. Depois ela foi falar com o DJ, que também não parecia feliz de ser interrompido. Eu fiquei imóvel, tentando ignorar, mas seguindo cada um dos pares de olhos que me miravam. E, a cada segundo, eu tinha mais certeza de que aquela era definitivamente uma péssima ideia.
A música começou, e Alicia rapidamente começou a cantar. Era tão animada quanto as outras, mas a voz dela era linda! Mesmo sem ter que fazer nada de extraordinário, já dava para ver que ela cantava extremamente bem!
Eu conhecia a música, apesar de não querer admitir. E quando chegou no refrão, já estava pronto para fazer minha contribuição. Não só porque a voz dela tinha me distraído, mas também porque Alicia fazia vários gestos na minha direção para eu acompanhá-la.
"Tell me, girl, if every time we to-ou-ouch, you get this kind of ru-uh-ush. Baby, say yeah, yeah, yeah," minha voz do lado da dela era arranhada como se um gato morasse na minha garganta, mas, por sorte, a dela ganhava em altura.
E ela sorriu tão largo quando viu que eu estava participando, que só me deu mais vontade de continuar.
"If you don't want to take it slow," nós continuamos juntos, "and you just want to take me home," ela piscou com um olho só para mim, me fazendo engasgar uma risada na cantoria já amadora. "Baby, say yeah, yeah, yeah...and let me kiss you."
Como um idiota, eu estava escutando demais aquela letra e já estava achando aquilo meio envergonhoso. Mas decidi ignorar.
No próximo verso, Alicia cantou a primeira parte, dançando de qualquer jeito, provavelmente achando que conseguiria ficar feia assim, mas só conseguindo ser engraçada.
E eu fiz questão de cantar a segunda parte. Ela abaixou o microfone assim que percebeu que eu não estava mais me escondendo atrás do meu, e eu fiz questão também de tentar dançar desengonçado, o que era bem fácil para mim.
Quando chegamos de novo no refrão, dançávamos igual. Duas jogadas de ombro para lá, duas para cá, rindo no meio da música quando um errava. E depois começando outro passo, chutando o ar, jogando braço para cima, o que viesse à cabeça.
Aí teve uma hora com vários 'na, na, nas', em que nos viramos um para o outro, sem parar de dançar. Eu estava ficando cansado, minha voz piorando em níveis que eu nem sabia que eram possíveis, mas não parei.
Chegamos ao último refrão, cantando ainda com mais vontade. Ou Alicia sabia o quanto era incrível e aquele era um jeito de mostrar, ou alguém precisava contar para ela o talento que ela tinha. Ela não perdeu uma nota, nem quando teve que subir bem a sua voz. E ela era bem melhor até do que a banda de quem era aquela música. Muito melhor. Eu até me distraí da nossa dancinha e da letra, querendo mais assisti-la cantando aquele final do que qualquer outra coisa.
Mas ela fez mais alguns gestos, insistindo para eu continuar e não a decepcionei. Depois do último refrão e da dança mais exagerada nossa, a música acabava com um simples, "Let me kiss you."
E então um silêncio reinou por no máximo dois milésimos de segundos, sendo quebrado logo que todo mundo começou a bater palmas! Palmas! Para a gente, para aquilo que a gente tinha feito! Eu tinha até esquecido que tinha alguém nos assistindo, ainda mais que poderiam estar gostando!
Alicia pegou na minha mão para fazer uma reverência, que eu obedeci, mas depois fiz um gesto para apresentá-la e me juntei às outras pessoas, que até aumentaram a quantidade e o volume das palmas. Alicia fez outra reverência, enquanto seu rosto ficava vermelho até na testa.
Ela deu tchau para todo mundo, mas se apressou a sair dali até antes de mim. Quando finalmente eu desci os poucos degraus e a alcancei no chão, ela jogou seus braços em volta do meu pescoço.
"Obrigada," ela disse baixinho no meu ouvido, em um tom mais sério e mais feliz do que eu jamais tinha ouvido dela.
"Foi um prazer," eu falei, sentindo que era uma coisa idiota de se dizer, querendo tanto ter tido uma super sacada e pensado em uma resposta melhor.
Mas quando ela se afastou de mim, parecia tão satisfeita, que nem me incomodei mais.
"Agora eu preciso ir me esconder!" Ela falou, virando a cara contra a pista de dança.
"Ah, agora você está com vergonha!" Eu ri sozinho, sem querer, tendo uma ideia. "Vem, falei, começando a andar. "Sei de onde podemos nos esconder."
Ela se escondeu até sairmos da festa, mas enquanto andávamos nos corredores do castelo, ela corria animada, quase pulando de um lado para o outro.
Só que o caminho nem era longo. Ela ainda parecia bem disposta a continuar só pulando por aí, quando eu abri a porta de onde queria ir.
Ela brecou na hora. "Eu não posso ir aí," ela disse, colocando as mãos na cintura.
"Quem disse?" Perguntei, acendendo as luzes e indo direto até a televisão.
"É um salão dos HOMENS," ela disse, indo até a porta, mas parando sem entrar. "E, caso você não tenha percebido, eu não sou homem."
"Acredite, eu percebi," falei, antes de pensar melhor. Por sorte, estava ocupado demais soltando os fios dos controles do video game e não tive que encará-la.
Ela pareceu não pensar nada demais. "E se alguém me descobrir aqui?" Perguntou, olhando para os dois lados do corredor e depois finalmente entrando e fechando a porta.
"Aí você fala que estava limpando," eu disse, garantindo uma almofadada na cara que ela nem demorou para me dar.
Eu só ri, principalmente já que ela tinha se dado por vencida e sentado do meu lado.
"Não, nem morta!" Disse, apontando para o jogo que eu tinha colocado. "Se é para fazer algo errado, precisa valer a pena. Não existe jogo no universo mais chato do que esse!"
"É um jogo de guerra!" Protestei.
"Exatamente, ninguém gosta de guerra! Coloca o Mortal Kombat!"
"Luta pode?" Perguntei, enquanto ela mesma se levantava e ia até o video game, trocar o jogo. "Guerra é ruim, mas luta é legal?"
"Eles sobrevivem às lutas," ela disse, se sentando de volta do meu lado, enquanto o jogo começava. "Sobrevivência devia ser um ideal para todos nós," completou, e eu não fiquei sem ter a menor ideia do que ela estava falando.
Nós escolhemos nossos personagens, ela, o maior que tinha, eu, o que estava mais acostumado e sabia todos os movimentos de cor. Quando começamos, eu já podia ouvir que ela apertava todos os botões, sem ter a menor ideia do que estava fazendo. O carinha dela pulava, andava, voltava, dava vários socos no ar, enquanto o meu praticamente assistia.
Até que eu entrei para a luta e comecei a revidar. Em poucos segundos, a vida dela desceu bem e ela entrou em pânico.
"Droga, achei que você seria ruim!" Ela disse, tentando não rir, mas não conseguindo evitar.
E as gargalhadas dela eram tão naturais, tão descontroladas, que eu não pude evitar de rir junto, até meus braços ficarem fracos e deixar meu carinha levar alguns golpes.
"Aê!" Ela disse, animando e batendo nele loucamente.
Eu me deixei rir mais um pouco, mas logo voltei à luta e revidei. Ela estava sentada logo do meu lado e fez questão de tentar me dar umas cotoveladas para me atrapalhar.
"Ei, não vale!" Reclamei, sem querer demonstrar como eu tinha cosquinhas. "Desestabilizar o oponente é golpe baixo!"
"Isso daqui é guerra, querido!" Ela disse, alto, rindo logo em seguida como se tivesse planos malévicos guardados dentro de si.
Mas eu dei mais alguns golpes e o video game pediu para o meu carinha dar o último golpe.
"Achei que ninguém gostava de guerras," falei, enquanto ela se posicionava de novo, achando que estar sentada melhor e mais inclinada para a frente fosse ajudá-la a ganhar a próxima luta.
"Fazer o quê, acontece," disse, seus olhos vidrados na tela.
Nós começamos de novo, seu carinha agora mais calmo ao se aproximar do meu. Fui dar um soco nele, mas ela o fez desviar. E quando eu ainda estava me recompondo, ela começou a atacar meu carinha com tanta vontade que eu não conseguia nem revidar, nem fazê-lo se defender.
Então usei do mesmo truque dela, tentei lhe dar cotoveladas para a desestabilizar. Mas ela não tinha cosquinhas como eu e mal se incomodou. Tive que pensar em outra coisa e apelar. Eu me joguei em cima dela, a empurrando para o resto do sofá e tentando ficar na frente dela, enquanto ainda apertava meus botões sem parar.
Isso funcionou! Ela começou a rir loucamente.
"Assim também já é demais," ela disse, tentando fazer sua voz sair quando tudo que ela parecia conseguir fazer era gargalhar.
"Se é guerra, é guerra," falei, me concentrando na tela, enquanto a amassava no sofá. "Vale tudo, não?"
Tirei os olhos da tela com a intenção de só olhá-la por um segundo, mas sem conseguir desviar depois. Ela já tinha desistido da luta e meu carinha acabou com o dela sem nenhum de nós estarmos assistindo. Ela me mirava de volta, a única prova do quanto tinha rido há pouco tempo era um sorriso que ela parecia querer esconder.
Mas eu já não estava sorrindo. De repente, fiquei muito consciente de cada detalhe em seu rosto que estava a poucos centímetros do meu. Suas bochechas ainda estavam vermelhas, seu cabelo molhando as almofadas do sofá, enquanto seus grandes olhos azuis me estudavam de volta e seu sorriso desaparecia por completo. O único barulho era do video game, que esperava que nós selecionássemos nossos próximos personagens.
Senti um impulso de chegar mais perto ainda. Era uma vontade que crescia com as batidas do meu coração, subindo até minha garganta como uma força que me atraía para mais perto dela. Eu nem estava pensando no que estava fazendo, simplesmente fazia. E me aproximei só um pequeno centímetro, que pareceu muito pela distância que sobrou. Ela só continuou me mirando, arqueando suas sobrancelhas e respirando tão fundo que eu podia senti-la inspirando e expirando embaixo de mim.
Engoli a seco, a observando baixar seus olhos para a minha boca.
E se ela também estivesse sentindo a mesma coisa? O mesmo impulso de acabar com aquela mínima distância entre nós? E se eu simplesmente fechasse os olhos e me deixasse levar? E se-
Ouvimos alguém rindo do outro lado da porta, o que funcionou como um alarme para mim. Me levantei e me afastei de Alicia na hora, voltando a me sentar na outra ponta do sofá, ajeitando minha bermuda, que também estava molhando o estofado.
Ela se endireitou também, dessa vez se sentando um pouco mais afastada e fazendo questão de ajeitar seu biquini e o shorts mil vezes. Não que eu estivesse vendo. Pelo contrário, preferia olhar para qualquer outro lugar e foquei na tela da televisão.
Antes que eu só soasse idiota, pigarrei e falei. "Desculpa," rápido e indolor, para que ela não ficasse também mais encabulada do que já estávamos.
Ela deu de ombros, escolhendo sua próxima personagem, uma garota, e fazendo um gesto para eu fazer o mesmo.
"Relaxa," ela disse, como se não fosse nada. E então, começando a bater no meu carinha com todos os botões que seus dedos alcançavam, ela completou. "Você é como um irmão para mim mesmo."


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