Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 80
Capítulo 80: POV Valentine DeChamps


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "I Will Never Let You Down" da Rita Ora, que é uma das músicas na playlist Jogos Aquáticos do Outro Lado do Oceano no spotify (que eu criei para essa festa! haha). Link: http://open.spotify.com/user/slimdevil/playlist/25ftKBbpsmAd7V1IbMll4A



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"O que você pensa que está fazendo?" A voz da minha irmã me fez dar um salto, soltando da caneta e a derrubando.
"Olha o que você fez," apontei para o pequeno cartão no qual eu tinha estado escrevendo, a palavra 'secreta' terminando em um risco enorme que acompanhou a caneta caindo. "Agora eu vou precisar procurar outro."
"Valentine Marie DeChamps," Gabbie falou, colocando as mãos na cintura e fazendo todos que estavam mais ou menos perto do correio elegante se virarem para a gente. "Para quem você vai mandar esse cartão?" Ela estava parecendo demais a nossa mãe, salvo pelo fato de que mamãe fazia questão de dar broncas em francês, só para ficar mais difícil de se defender.
Peguei meu cartão estragado e o amassei, a ignorando.
"Tu veux que je parle en français, ce ça?" Ela praticamente leu minha mente.
"Não, eu definitivamente não quero que você fale em francês," disse, me virando de vez agora para ela, que claramente sabia o papel que fazia ali. "O que exatamente você quer saber?"
"Para quem é seu cartão," ela abaixou a voz. "Tem certeza que não prefere o francês, para que ninguém nos entenda?"
"Porque eu iria querer isso?" Me fiz de desentendida, olhando na caixa de cartões em branco se tinha mais algum da mesma cor que o amassado. "Eu não tenho nada para esconder."
"Porque eu tenho a leve impressão de que o cara para quem você está escrevendo não deveria recebê-lo." Eu estava de costas para ela, mas ainda assim não consegui evitar como aquilo me paralisava.
Me virei devagar. "Não seja louca," minha tentativa de enganá-la foi fraca, fazendo-a apertar os olhos para me ver melhor.
"Você que está sendo louca," ela insistiu, quase levantando a voz, mas se controlando. "Ele é um-" ela olhou em volta de nós para ter certeza de que ninguém ouviria e completou em um cochicho, "selecionado."
Eu ri, falso e alto. "Não sei do que você está falando," me virei de volta para a mesa, escolhendo o primeiro cartão que vi na frente e me preparando para escrever.
"Valentine!" A voz de Gabbie chegou em um agudo que teria quebrado vidros se estivéssemos na mesa de comidas. "Você faltou em seu ensaio ontem. E mesmo assim aceitou participar dessa competição hoje. Seu pé não melhorou miraculosamente, mas você fez questão de participar mesmo assim!"
"Para sua informação, meu pé está, sim, cem por cento melhor, olha," falei, apontando para ele e o girando em vários círculos. "E eu só queria ajudar. Se não fosse por mim, ele nem teria percebido que precisava de uma dupla!"
"Você se convidou?" Ela parecia não conseguir acreditar.
"Só porque eu sabia que ele não conhecia ninguém!" Me defendi. "Não usei essa competição para ficar mais perto dele!"
Mentira, pensei, mas bloqueei o pensamento na hora. Gabbie o veria na minha cara e eu realmente não precisava de mais aquilo contra mim.
"Você nunca faltou em um ensaio na sua vida! Mesmo quando mamãe e papai insistiam que era besteira, que você nunca trabalharia com isso!"
"Para você ver, o mundo dá voltas," tentei me concentrar no cartão, só para dispensá-la, mas não conseguia escrever nada ali, com ela olhando por cima do meu ombro.
"Por que você faltou?" Gabbie insistiu em perguntar, suas duas mãos ainda posicionadas na cintura do vestido roxo de praia dela.
"Meu pé estava doendo um pouco, mas já melhorou."
"An-ham, por que estava doendo?" Ela levantou as sobrancelhas, percebendo meu silêncio logo em seguida.
Uma única olhada para a mesa à minha esquerda me deu uma ideia. "Tropecei no último degrau da escada. Nada importante."
Ela balançou a cabeça, me desacreditando. "Sabe, nós costumávamos contar tudo uma para a outra. Nunca mentíamos!"
"Eu não estou mentindo," claro que estava. "Qual seu problema? O que você quer de mim?"
"Eu quero que me diga que não está sendo louca e criando esperanças em cima de um cara que nunca poderia nem olhar para você!" Ela falou tudo de uma vez, me deixando perdida sobre qual parte daquilo eu deveria contestar primeiro.
"Eu não sou louca," disse, ainda um pouco confusa.
"Mas está criando esperanças em cima de um cara que nunca poderia olhar para você!" Ela falava baixo, mas num agudo que parecia mais como se estivesse gritando.
Ela me encarou, tentando me fazer admitir. E eu tinha toda a intenção do mundo de mentir outra vez, de inventar outras coisas, olhar em volta e escolher um guarda qualquer e dizer que era para ele que eu estava escrevendo.
Mas Gabbie estava certa, a gente costumava contar tudo uma para a outra. E por pior que fosse tê-la ali, me chamando de louca, eu tinha certeza absoluta de que, quando eu explicasse para ela, ela ficaria do meu lado. Ou pelo menos esperança de que fosse assim.
"Ela não pode ficar com todos!" Foi o jeito idiota que eu resolvi começar a argumentar. Gabbie levantou as mãos no ar, as voltando para meus ombros e os segurando forte logo depois.
"Você não sabe se ela não vai escolher logo ele!" Ela disse, entrando demais em pânico para algo que eu tinha em total controle. "Você não pode ficar esperando na lateral para a hora em que ela não o quiser mais!"
"Eu não estou esperando em lateral nenhuma-"
"Pior ainda! Você está cobiçando antes mesmo de ela o dispensar! Isso é loucura pura, Valentine! Pura!" Ela não se controlou e aumentou a voz.
Eu revirei os olhos. "Você não entende."
"Não? Eu não entendo? Eu participei de uma Seleção! Eu entendo completamente!"
"Não, você se apaixonou pelo príncipe. Você não via mais ninguém, você não entende. A Nina, sim," na hora em que falei isso, percebi a besteira que tinha feito.
E Gabbie reagiu bem como eu esperava, levando as mãos à boca aberta, ofendida.
"A Nina sabe?" Ela perguntou. "Você resolveu contar para a Nina e não para mim?"
"Você não me dá uma chance de explicar e queria que eu fosse direto para você?" Balancei a cabeça para mim mesma. "Eu te conheço bem demais, Gabbie. E simplesmente não queria ver essa sua reação exagerada aí."
"Você quer uma chance de se explicar?" Ela perguntou, trazendo as mãos de volta para meus ombros e me puxando para o canto mais deserto de onde estávamos. "Explique."
Senti como se uma luz de interrogatório estivesse na minha cara e eu tivesse só um minuto para provar minha inocência.
"Vamos, me explique o que tem de tão certo nessa sua ideia que vai me fazer concordar," ela insistiu, cruzando os braços.
Eu respirei fundo, tentando não ser pressionada demais e só falar o que eu pensava mesmo.
"Bom, em primeiro lugar, casais incríveis se conhecem de jeitos improváveis," comecei, até um pouco nervosa demais quando só estava falando com a minha irmã. "E em segundo, eu meio que o odeio."
"Você o odeia? E isso é bom?"
"Não o odeio, odeio. Mas ele me irrita constantemente. Me irrita tanto que a única coisa que eu quero fazer quando estou perto dele é beijá-lo. Ah, depois de lhe dar um tapa."
"Não está me convencendo nem um pouco," ela fez questão de apontar, com uma cara de impaciente.
"E ele é inteligente!" Eu continuei. "Eu o encontrei na biblioteca um dia desses e ele ficou me falando sobre umas técnicas que usavam para descobrir infiltrados na Segunda Guerra Mundial, eu fiquei realmente impressionada!"
"Não precisa me convencer de que ele é bom, só bom para você," ela disse. "E, claro, não para a Lola."
"Ele é sério. Meio perdido, talvez um pouco racional demais," continuei. "E eu sei que você não acha que isso é bom, mas é. Porque me dá vontade de aprender coisas com ele. E também, eu acho que ele precisa relaxar e realmente saberia como ajudar."
"Valentine!"
"Tá, a verdade é que eu não consigo simplesmente deixar ele para a-" olhei em volta, "a outra menina lá. Ele olha para tudo e todos, menos para mim. E se tornou uma questão de honra conseguir que ele perceba que eu estou interessada nele."
"Questão de honra? Isso daqui não é uma brincadeira! Ele está aqui pela prin- Pela outra menina lá. E ele pode sair daqui casado com ela," não consegui evitar de torcer o nariz quando ela falou isso.
Mas eu ainda não tinha usado o último dos meus argumentos.
"Ele nunca sairia daqui casado com ela," falei, dando de ombros, como se não fosse nada.
"Você não sabe disso."
"Sei sim," voltei meus olhos para os de Gabbie, a encarando firme. "Ele me disse que não está nem aí para ela. E ele precisaria estar, se quisesse se casar com ela."
"Ele não falou isso!" Ela disse, debochando.
"Primeiro, você reclama que eu minto. Depois, quando eu falo a verdade, você não acredita!"
Ela parou para me olhar, tentando enxergar algum sinal de que eu estava escondendo alguma coisa. "É verdade que ele falou isso?"
"Sim," confirmei com toda a certeza do mundo. "Com essas palavras."
Ou algumas parecidas, mas isso não importava.
Ela pensou um pouco em silêncio, enquanto eu não conseguia ficar parada por nem um segundo.
"O que você vai escrever no cartão?" Ela acabou perguntando, me fazendo quase dar um pulo de felicidade.
"Eu ia escrever que a princesa não era a única que gostaria de tê-lo competindo pelo seu coração," falei, fazendo várias caretas a cada palavra.
Era brega. Eu sabia que era brega. Mas não conseguiria escrever nenhum bilhete na minha vida em que tivesse que assinar 'admiradora secreta' sem que ele fosse brega.
"Você promete que vai tomar cuidado?" Gabbie perguntou, e eu concordei com a cabeça. "E que não vai fazer nada até que ele não esteja mais participando da seleção?"
"Prometo," apesar de que realmente não poderia me certificar disso.
"Então seu segredo estará guardado comigo," ela completou. "Pode escrever que eu mando alguém entregar e as suspeitas sobre você diminuirão."
Não consegui evitar de abrir um sorriso e abraçá-la. "Merci, chérie," falei, a soltando logo em seguida e piscando com um outro só.
Fui até a mesa do correio elegante para escrever no próximo o mais rápido possível, antes que ela mudasse de ideia. Depois lhe entreguei com um sorriso.
Ela o pegou da minha mão um pouco relutante e então olhou pela festa. "Agora, aonde ele está?"


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