Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 78
Capítulo 78: POV Madison Hunter


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Niggas In Paris" do Jay-Z com o Kanye West.



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"Uma margarita, por favor," pedi para o barman, que eu não conhecia.
Não fazia tanto tempo assim que eu estava no castelo e eu raramente tinha participado de alguma festa, mas estava tentando memorizar todos os funcionários. O ateliê ficava longe demais do dormitório de criados e, por mais que eu comesse com eles na sala comunal, eu ainda dormia em um quarto bem distante. Não era exatamente como eles, mas também não fazia parte da família real. Tinha ouvido dizer já que alguns me achavam arrogante, mas aquilo não podia estar mais longe da verdade! Então tinha tomado como questão de honra memorizar todos os nomes possíveis e provar para eles que eu só queria fazer amigos.
O barman me entregou a margarita e eu lhe sorri, esperando puxar conversa. Mas outra pessoa o chamou e eu nem pude falar uma palavra.
Dei de ombros, me virando de costas para ver a festa. Alicia dançava com o seu selecionado. Se eu não estava enganada, a outra criada dele se chamava...Valerie. Ou era a Liberty?
Não, Liberty era de Danio. Eu podia vê-los conversando dali, escondidos atrás de uma planta qualquer. Não entendia porque eles não queriam ser vistos, mas não me importei. Certeza que ela era a criada dele. Tinha feito a maior questão de ser quando descobriu que ele vinha para a Seleção. E ainda vinha me encher o saco no ateliê para ter certeza de que os ternos dele estavam bons o suficientes.
Na pista de dança, também estava Elena Leger e sua amiga. Nos últimos dias, ela andava passando bastante tempo na sala comunal dos criados. Devia ser porque ela estava com aquele médico, o novo. Droga, qual era o nome dele? Davi! Isso. Ele que tinha sido a dupla do Danio. Também era um dos funcionários excluídos, como eu. Todos que trabalhavam na ala hospitalar eram. Ou melhor, todos os médicos. Como Maggie, as enfermeiras tinham conseguido quebrar aquela barreira entre as duas áreas e nem sabiam que aquilo existia.
Falando em Maggie, ela dançava animada com outras criadas. Tentei lembrar-me dos nomes delas, mas era impossível. Precisaria perguntar para ela mais tarde. Pelo menos ela parecia adorar o vestido que eu a tinha ajudado a fazer para a festa. Vermelho, da cor do selecionado para quem ela estava torcendo, segundo ela. Enquanto a minha bermuda era preta.
E linda, aliás. Justa, mas não indecente. E valorizava todas ali. Até mesmo Carol, que não parava de ajustá-la, insegura com o que podia estar à mostra.
"Margarita? É a bebida dos perdedores?" Assim que ouvi a voz de Marc, joguei a cabeça para trás, respirando fundo.
"Se eu quisesse saber, perguntaria para você," disse, me virando para olhar para ele.
Keon, do seu lado, riu. Os dois se sentaram em bancos e eu aproveitei a oportunidade para ir para o outro lado do bar, o mais perto da piscina - e longe deles - possível.
Foi só quando eu cheguei perto da entrada da tenda que eu percebi que muitas pessoas tinham escolhido a própria piscina para curtirem. Antes, eu pensava que a festa se concentraria ali, mas estava errada. Os criados deviam ter preparado o jardim, pois estava iluminado e muitas pessoas preferiam beber e conversar com os pés na água. Qualquer rastro de bexiga neon tinha desaparecido completamente.
Mas eu mesma estava mais preocupada em me secar completamente do que me molhar outra vez.
Me voltei para o bar, sentando em um dos bancos. Dali, era mais fácil observar o resto da festa sentada. Curti um pouco minha margarita. Estava tão bem sozinha. Mas, para estragar, percebi Dylan vindo na minha direção.
Comecei a balançar minha cabeça de longe, mas ele não desanimou. Enquanto pegava alguns potinhos de jelly shot de uma garçonete, eu procurava para ver se a princesa estaria por perto. Ou qualquer pessoa que poderia ouvir besteira.
Mas tinha muita gente, muita gente mesmo por ali. A maioria eu não conhecia, mas eu não controlava Dylan. Nem as loucuras que ele que brotavam na cabeça dele.
"O que você está fazendo, Dylan?" Perguntei, assim que sabia que ele podia me ouvir.
"Trazendo gelatina para a minha linda dupla," ele disse, se sentando do meu lado e me oferecendo dois copinhos.
"Isso daqui não é uma gelatina normal, é feita com vodca," empurrei de volta para ele.
"Desculpa se eu prefiro minha dupla bêbada."
Dessa vez, eu empurrei foi ele. "O que você tá fazendo aqui, Dylan?"
Ele virou um dos copinhos, tentando parecer cool, mas acabou tendo certas dificuldades em tirar a gelatina e engolir.
"Você me prometeu que não viria mais atrás de mim se eu participasse dessa competição," eu falei, baixando a voz. "Sei que você não é das pessoas mais confiáveis do mundo, mas espero que no mínimo você cumpra essa promessa."
"Sem chances," ele disse, para minha surpresa.
"Como assim? Você prometeu-"
"Eu sei," ele me cortou. "Mas era só para te convencer. Não estava prometendo de verdade," ele virou o próximo copinho, como se estivéssemos falando sobre o clima.
Eu olhei para cima, quase como se procurasse uma saída pelo teto. Ou pelo menos calma para não afogá-lo na piscina.
"Idiota," foi tudo que eu falei, pensando alto.
"Como é?"
"Idiota. Você é um idiota," repeti, dessa vez aumentando a voz.
"Tá, para falar a verdade, eu até estava pensando em cumprir minha promessa," ele virou o banco um pouco na minha direção. "Mas você realmente acha que eu conseguiria depois de te ver hoje?"
Eu balancei minha cabeça para ele, inconformada. "Hoje?! O que aconteceu hoje?"
"Muita coisa aconteceu hoje," ele respondeu, com um sorriso malicioso.
Eu ainda balançava minha cabeça furiosamente. "Nada aconteceu hoje!"
"Se é assim que você pensa," ele se inclinou para chegar mais perto do meu ouvido, "a gente pode fazer alguma coisa acontecer agora."
Em um primeiro segundo, eu só o olhei com cara de quem não entendia do que ele estava falando. Até que eu senti seu dedo percorrendo minhas costas, tão leve que era impossível não arrepiar.
Me levantei na hora. "Além de idiota, você é louco," falei, me virando e começando a andar em direção ao castelo.
Passei pelas portas e virei o primeiro corredor que vi. Foi só então que o ouvi vindo atrás de mim.
"Madison," ele me chamou, calmo e cantarolando, provavelmente achando que me conquistaria só pelo seu tom de voz.
"Qual seu problema, hein?" Eu me virei de vez para encará-lo. Sabia que estava falando um pouco alto demais, mas eu tinha esperanças de que ele cumpriria sua promessa. E eu poderia seguir minha vida. E não teria que ficar me questionando se seria forte o suficiente para me segurar da próxima vez que ele chegasse perto de mim.
"Meu problema?" Ele perguntou, se fazendo de desentendido.
"Sim, seu problema," repeti. "Por que ainda vem atrás de mim? O que exatamente você quer de mim?"
"Você quer mesmo saber o que eu quero de você?" Ele levantou uma única sobrancelha, me forçando a respirar fundo várias vezes para simplesmente não lhe empurrar contra uma janela.
"Por que você vem atrás de mim?" Baixei minha voz, olhando em volta. "Se você só quer alguém, o castelo está cheio de menina. Aliás, tem uma aqui especialmente para sair com você, por que não vai atrás dela?"
Ele balançou a cabeça para si mesmo, dispensando mentalmente tudo que eu estava falando.
"Dylan," cheguei mais perto dele, para forçá-lo a me olhar e levar aquilo a sério. Eu não tinha ideia de como aquilo me incomodava até ter tido a chance de falar alto. "Por que você continua vindo atrás de mim, mesmo depois de eu te pedir para parar? É porque eu pedi para parar? É pelo risco de ser descoberto? Ou você simplesmente não consegue a princesa?"
Na hora em que eu falei isso, ele se virou para me encarar, franzindo as sobrancelhas. "Você acha que eu não consigo ficar com a princesa?!"
"É o que parece," falei, abrindo os braços, ainda inconformada. "Tem medo de ela não gostar de você, é?"
"Depois eu que sou louco," ele soltou, olhando para o corredor inteiro, menos para mim.
"É isso, não é?" Perguntei, sentindo que tinha finalmente acertado em cheio. "Você tem medo de ela não gostar de você. E eu, bom, você já sabe que me consegue. Então é mais fácil vir atrás de algo seguro do que arriscar um não dela? Você pelo menos já a convidou para algum encontro?"
"O que isso tem a ver?" Ele se virou de novo para me olhar, parecendo bem ofendido. Eu podia ver que aquilo o incomodava profundamente, mas estava ficando tão animada por estar conseguindo entendê-lo, que não pude dar para trás.
"Tem a ver com você ser inseguro!" Falei, quase rindo.
"Inseguro, eu?! O que eu tenho para ser inseguro? Ou melhor, o que eu não tenho?" Ele realmente estava ofendido, apontava para ele mesmo quase como se quisesse perfurar seu peito escultural com o dedo.
Eu balancei a cabeça de leve. "Não sei, me diga você," pedi. "O que você acha que a princesa não vai gostar em você?"
Ele deu vários passos na minha direção, chegando a menos de um metro de mim. Mas eu não me mexi, o encarei. Só fiquei mais preocupada quando ele colocou as mãos na minha cintura.
"A única pessoa aqui que está pensando nela é você," ele disse, olhando nos meus olhos. "É tão difícil acreditar que eu quero você sem precisar me preocupar com ela?"
Me livrei das mãos dele e dei alguns passos atrás, indo pro outro lado do corredor.
"O que foi que aconteceu com você, Dylan?" Perguntei, o olhando de longe e me apoiando na parede. Tentava não sorrir, mas era difícil, quando tudo estava começando a ficar tão claro para mim. "Alguém quebrou seu coração, é? É por isso que você tem medo de ir atrás de algo sério?"
"Eu vou atrás do que eu quero," ele me garantiu.
"Mas você só quer o que você sabe que não vai te machucar."
"Para quê esse papo de psicologia agora?" Na hora em que falou isso, um grupo de meninas passou rindo no final do corredor.
Nós dois as olhamos e, quando eu me virei de volta para ele, ele tinha aberto a porta de uma das salas de estar ali do nosso lado. Olhou dentro dela e então me chamou para entrar.
Eu respirei fundo. Era uma má ideia. Não queria admitir para mim mesma, mas eu sabia o que ia acabar acontecendo. Mas eu estava tão animada de finalmente o estar entendendo, que preferir entrar e tentar tirar mais informações dele do que simplesmente parar por ali e não arriscar mais nada.
"Você não precisa me analisar," ele disse, bloqueando meu caminho para que eu não conseguisse entrar muito na sala. Ele fechou a porta, mas me encurralou na parede logo do lado. "Não precisa tentar criar razões loucas para nada. Eu quero você, simples assim. Por quê?" Ele estava perto demais para eu continuar com aquela atitude de antes. Na minha cabeça, sabia que devia insistir no assunto. Se ele só me queria porque eu era fácil para ele, aquilo era deprimente. Mas com a boca dele a poucos centímetros de mim, o máximo de reação que eu podia ter era encará-la e observar o formato que ela tomava a cada palavra que ele falava. "Eu quero você porque eu me lembro disso," na hora em que ele falou, senti seus dedos tocando minha coxa de leve e subindo para minha barriga. Quando chegaram na minha cintura, ele me segurou mais firme para perto dele. "E disso," completou, afastando meu cabelo para trás das minhas costas e pousando os lábios na base do meu pescoço.
Sim, eu também me lembrava daquilo. Muito bem, por sinal. Era exatamente a razão pela qual eu precisava dele o mais longe possível de mim.
Senti sua mão descendo às minhas costas, me puxando para ainda mais perto dele e decidi parar de pensar. Com as duas mãos, segurei em seu rosto e o alinhei com o meu, não deixando passar mais nem um segundo até que seus lábios estivessem nos meus. Ele gostou da minha reação, me segurava mais forte ainda para ele, ao mesmo tempo que me empurrava contra a parede. E a vontade dele passava para mim pelo suor ou pelo beijo, e quanto mais eu tinha ele logo ali, na minha frente, com minha perna em volta dele, mais eu o queria, menos eu estava satisfeita.
Eu tinha me esquecido completamente que aquilo era errado. Ele estava certo. Certos toques eram mais importantes do que as questões por trás deles.
Até que uma terceira voz apareceu entre nós. "Com licença?"


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