Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 76
Capítulo 76: POV Lola Farrow


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Now or Never" do Kendrick Lamar com a Mary J Blige.



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"Vou deixar uma coisa bem clara," eu disse, assim que desviei minha mão de deixar Alaric pegá-la. "A ideia desse prêmio não foi minha. Eu nunca na minha vida criaria algo tão vulgar para dar de presente a qualquer um e transmitir pela televisão."
"Está me chamando de qualquer um?" Ele perguntou, levantando as duas sobrancelhas para mim, enquanto eu tentava andar o mais elegante possível estando tão irritada.
"Estou falando que a ideia não foi minha," insisti. "E se eu soubesse que era esse o prêmio, teria me negado a participar. Aliás, preferia cancelar toda a competição."
Nós chegamos à uma porta e a criada se virou para pedir a chave para Alaric. Ele a entregou feliz e passou correndo por ela para entrar. Eu fiz menos questão de ser ansiosa.
"Seus sete minutos começam agora," ela disse, fechando a porta atrás de mim.
Sete minutos. Kyle ainda tinha decidido que era algo que tinha que durar sete minutos. O lado bom era que ninguém esperava que grandes coisas aconteceriam durante sete minutos. Eu poderia muito bem voltar para a festa com minha dignidade praticamente intacta.
O lado ruim era que Alaric estava ansioso. Ele se virou para mim logo depois que a criada falou que só tínhamos sete minutos e seus olhos deixavam claro que ele estava determinado a fazer bom uso de cada segundo.
Ele se esticou na minha direção, me dando vontade de me encolher. Mas só suas mãos chegaram até mim, até minha cabeça. Ele tirou minha pequena tiara e a apoiou em uma mesinha que não tinha mais nada além de três velas.
O quarto inteiro era iluminado apenas por velas. Eles chamavam de varanda porque duas das quatro paredes eram abertas e davam para o jardim. Por sorte, era o de frente do castelo e tudo que poderíamos ver eram carros estacionados e valets em pausas para cigarro.
Mas era ruim. Eu não estava confortável ali, era forçado. E quase sujo isso de me trancarem com Alaric e esperarem que nós aproveitássemos do jeito mais carnal que conseguíssemos em tão pouco tempo.
Ele sorria para mim, mas ao perceber que eu só olhava em volta, seu sorriso foi desaparecendo. Quando nossos olhos se encontraram, ele já parecia desapontado.
"Você quer entrar na banheira?" Perguntei, tendo que me controlar para não gritar de tão absurda que aquela ideia era! Eu teria que me vingar de Kyle o mais rápido possível!
"Claro," Alaric disse, sem hesitar. Ele só estava de calção e entrou rápido.
Ele era bonito demais para tanta amargura da minha parte. E ficava ainda melhor à luz de velas.
Será que eu estava tensa demais? Sendo metódica demais, como Clare dizia? A ideia era mesmo ridícula, ou era só meu jeito controlador obsessivo que me deixava assim?
Alaric se afundou na água e eu tirei meus sapatos, sentindo o chão bem mais gelado do que o clima dali. Entrava uma pequena brisa pelas paredes de varanda, mas nada que realmente refrescasse. O dia estava quente e aquela banheira parecia refrescante. Eu tinha passado a tarde inteira assistindo todos nadando e não tinha tido uma única chance de poder me juntar a eles.
Soltei meu cinto dourado e o vestido foi bem mais fácil de tirar. Eu sentia que aquele era um passo enorme, apesar de tentar não demonstrar pela minha cara. Mesmo quando decidimos fazer a festa, eu ainda tinha planos de não aparecer na frente de ninguém só de biquíni. Estava bem apreensiva, mas dei aquele passo consciente de como eu o odiava.
Outro passo foi deixar que Alaric me olhasse de cima abaixo. Mas não durou muito, pois eu logo entrei na banheira, me cobrindo com água e me encolhendo no lado contrário a ele.
Por alguns segundos, ele ainda parecia hipnotizado por estar ali. Depois baixou os olhos, pensando. Eu mesma queria inventar alguma coisa para falarmos e conseguirmos passar os sete minutos longe um do outro. Se eu estivesse em qualquer outro lugar, se a porta não estivesse trancada ou se todos na festa não soubessem aonde estávamos, seria diferente. Seria melhor. Eu entendia Alaric, apesar de Clare achá-lo intenso demais. Eu era intensa. Sabia que não era uma coisa ruim, sua intensidade era o que me puxava mais para perto dele.
Mas não conseguia esquecer que todo mundo devia estar pensando no que faríamos dentro daquele quarto. Não só as pessoas da festa, mas todo mundo. Quem tivesse uma televisão e tivesse decidido assistir à competição sabia o que estava acontecendo. A imaginação deles poderia ser bem pior do que a realidade, mas não era algo que eu poderia mudar.
Kyle realmente ia ver! Eu planejaria a pior vingança da vida dele! Louco.
"Não vou mentir, Lola," a voz de Alaric me fez voltar os olhos para ele, enquanto abraçava meus joelhos. "Eu estou bem feliz de estar aqui, de ter ganhado logo esse prêmio. Não é nem de longe só de consolação. Prefiro passar sete minutos com você aqui do que uma tarde na praia. Mas sei que você não está feliz-"
"Não é isso," eu o cortei.
"Que não quer estar aqui, então," ele tentou.
"Não é por você," admiti, suspirando. "É só que isso tudo é estranho demais para mim. Pensar que todos sabem da gente aqui e devem estar comentando-"
"Esquece os outros," ele disse, se aproximando de mim e segurando minhas duas mãos que ainda prendiam meus joelhos. "Esquece todo mundo que não está aqui. Pensa só em mim, olha só para mim," ele chegou seu rosto mais perto do meu, mas só para que eu não conseguisse olhar para mais nada. "Esquece o mundo inteiro lá fora, nem que seja só por sete minutos. Não estamos em um castelo, eu não estou participando de uma seleção. E você," ele balançou a cabeça para si mesmo, pausando para me olhar ainda mais fundo. "Você não é uma princesa, não tem um reino todo nas suas costas. Você é só uma garota. E eu sou só um cara. A gente tem sete minutos para existir sozinhos no mundo. E eu queria muito que você se desse a chance de se levar pelo momento e de deixar para trás qualquer preocupação com a opinião dos outros. Me dê a honra de só existir aqui comigo, Lola."
Eu não precisava ouvir mais nada. Enquanto ele falava, fui entendendo. Era verdade, ninguém mais importava. Eu não controlava o que os outros pensavam e estava na hora de parar de tentar também controlar o que eu queria. Eu queria estar com ele. Se era ali, ou em qualquer outro lugar, se eu pararia de querer mais tarde ou até começaria a me interessar por outro, isso não importava. Não ali. Não naquele momento.
E antes que eu pudesse me deixar convencer do contrário, já me inclinava na direção dele. Alaric esperou pacientemente até que eu pousasse meus lábios nos seus. E, por um segundo, ele não fez nada. Mas logo me retribuiu o beijo, colocando seus braços em volta de mim, me puxando para ele. Eu era uma idiota. Já não tínhamos mais sete minutos, tínhamos muito menos que isso. Eu tinha me deixado perder tempo por convicções desnecessárias. Eu podia sentir na pele o quanto ele me queria, a urgência do beijo e o quanto ele estava feliz. Era estranho, mas aquilo passava para mim quase como mágica. A cada segundo, eu me entregava mais a ele, a ponto de colocar minhas pernas em volta dele e sentar em seu colo, enquanto enrolava meus braços em volta de seu pescoço.
Sentia sua mão na minhas costas, me dando arrepios perceptíveis até embaixo d'água. Mas Alaric foi respeitoso, o que me fez gostar ainda mais dele, ficar menos apreensiva de estar trancada ali com ele e querer muito que os sete minutos se prolongassem.
Por que eu lutava tanto? Por que tinha que criar regras e tentar planejar como tudo aconteceria? Não existia nada, absolutamente nada naquele momento que estava errado. Por mais bizarra que fosse a ideia, mesmo que tivesse sido criada completamente contra tudo que eu acreditava, eu sabia que era bem daquilo que eu precisava. Deixar a seleção tomar seu rumo, fazer o que me viesse à cabeça, aproveitar e não me segurar.
Era essa a estratégia que Marc tinha me falado para seguir, não?


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