Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 75
Capítulo 75: POV Alaric Harrison


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Out of the Woods" da Taylor Swift.



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O alarme agudo e alegre de que alguém tinha ganhado a prova soou e minha reação foi empurrar a mesa para mais longe que eu podia. Mas minha raiva não diminuiu, aumentou. Não consegui mover a mesa um centímetro, estava pregada no chão. Chutei com toda a força que tinha, agora sabendo que não iria fazer nada. Por sorte, eu estava muito mais irritado por dentro do que poderia parecer por fora. Apoiei com as duas mãos na mesa para me ajudar a respirar, enquanto Marlee explicava que Keon tinha ganhado.
Keon. De todas as pessoas. O cara que menos parecia querer estar ali. E eu, quem mais queria, não conseguia ganhar uma.
Olhei para a princesa. Ela batia palmas, mas não parecia realmente feliz. Pelo contrário, parecia contrariada. Respirei fundo, pensando no que aquilo poderia significar. Ela podia querer que outra pessoa ganhasse. Poderia existir a possibilidade de que quisesse que eu estivesse no lugar de Keon, que eu fosse o cara que a levaria para o seu encontro.
Só percebi que esperavam que eu fosse para o palco quando praticamente todos os outros estavam já lá. Sebastian foi o único que ficou para me acompanhar. A gente não conversava muito, não éramos amigos. Achava que talvez chamá-lo para participar da competição fosse um jeito de conseguir trazê-lo para o meu lado, fazê-lo torcer por mim, talvez falar bem de mim para a Lola. Mas faltava assunto entre nós e no máximo falávamos sobre como ganharíamos a próxima prova. E no final nunca funcionava.
Assim que me sentei, Marlee falou o placar. Nós não sabíamos quanto cada prova valia, mas podíamos ver no telão que Ian tinha 30 pontos, o que me irritava, Dylan tinha 10 e ele parecia bem satisfeito. E, para a surpresa de ninguém, Keon tinha 60.
Quando ela falou a palavra sessenta, todo mundo ficou quieto. E logo depois voltaram a conversar. Marlee fez suspense, mas logo nos deu a notícia que me fez querer levantar e ir embora de vez.
A próxima prova só valeria cinquenta pontos. O único que ainda tinha chances de ganhar a competição toda era Ian. No máximo, Dylan conseguiria empatar, mas ele não parecia disposto a se esforçar para isso.
Era isso. Eu tinha perdido. Depois de tudo, depois de me matar para conseguir fazer todas as provas, eu não tinha chegado a lugar nenhum. Porque Sebastian não sabia escalar nada, e nem gostava de comidas muito frias. Eu tinha escolhido a pior dupla. E achando que era a melhor. E eu mesmo não tinha ajudado muito.
Apoiei nos joelhos com os cotovelos, esfregando minha cara. Estava suando demais, o sol já começava a baixar, mas o calor ainda estava lá. Eram seis e meia da tarde. E eu já estava pronto para voltar para o meu quarto e planejar um encontro com a Lola que seria mil vezes melhor do que aquele na praia que ela ia ter com Keon ou Ian.
Nós fizemos uma pausa enorme, quase quarenta e cinco minutos. Não só precisavam preparar a piscina, como também queriam esperar escurecer para a próxima prova. Todo mundo me deixou ali, na cadeira, me dando a impressão de que nem me veriam e acabariam apagando as luzes. As arquibancadas se esvaziaram e todo mundo se juntou perto do bar, que agora tomava quase todo o campo da guerra de bexigas do começo. Sebastian me convidou, mas eu disse que queria ficar sozinho.
A única outra pessoa que também tinha ficado em seu lugar era Lola. Nossos olhos se encontraram de longe e ela se levantou na mesma hora que eu. Mas nenhum de nós paramos. Não até nos encontrarmos nas escadas que levavam ao palco de tronos, do lado contrário ao bar. Ela vestia um vestido branco comprido, mas que revelava suas pernas até as coxas quando ela andava. Pelo seu pescoço, sabia que ela também usava um biquíni e queria muito vê-la só com ele.
Quando chegou até mim, eu já tinha quase me esquecido completamente do porque eu tinha estado tão irritado.
"Competitivo você," ela disse, seu tom inofensivo, para minha surpresa.
"Eu sou," admiti, baixando os olhos e indo me sentar no degrau mais alto da escada. "Muito."
"Eu te entendo," ela disse, se sentando do meu lado, o que eu não esperava.
Eu mal tinha conseguido falar com ela desde nosso encontro no Sábado, mas era bom saber que ela não tinha começado a me ver como um estranho, como ela tanto achava que devia. Mesmo que fosse só para me igualar ao mesmo nível que os outros selecionados, ainda sentia como se aquilo fosse significar que me excluiria. Era boa a impressão que eu tinha, de que ela ainda não estava tendo muito sucesso naquele plano.
"Eu não queria te decepcionar," admiti, por mais que aquilo me desse uma certa vergonha. "Não na frente da televisão, não quando todos estavam vendo. Não queria perder."
"Eu percebi."
"Não, eu digo por você," me virei o máximo possível para ela, ainda sentado. "Eu não queria perder por você. Porque eu queria que você me visse ganhar. Não pelos outros, eu não me importo com os outros. Pelo contrário, considero Ian e Keon meus amigos aqui. Eu só não queria que todo mundo ficasse achando que eu não estou à sua altura."
Ela pareceu pensar, mirando o chão.
"Mas isso não importa," ela soltou, depois de ficarmos alguns segundos em silêncio.
"O quê?"
"Isso," ela abriu os braços. "A competição. É uma quebra de rotina e isso é ótimo. Mesmo quando nós nem criamos rotina ainda. É um jeito de descontrair todo mundo e fazer vocês se sentirem mais à vontade no castelo. Mas não importa de verdade. Não vou eliminar ninguém baseado nessas provas. Eu não faria isso, principalmente com alguém que eu ache que tenha chances de verdade. E esse encontro é para ser especial porque é fora do castelo. Mais nada," ela olhou para mim, e eu tive a impressão de que ela estava sendo atraída para mim, mas lutando firmemente contra isso. No final das contas ela só se esticou para segurar minha mão. "Você não está perdendo nada," completou.
Mirei sua mão na minha por alguns segundos. Ela a segurava quase sem jeito, mas não soltava.
"Deixa eu ver se entendi," falei, com ânimo renovado e um tom um pouco incrédulo. "Você está mesmo me consolando?"
Aí sim, ela soltou de mim. "Não mais," disse, se levantando. "Se te incomoda, eu vou embora," ameaçou.
Eu me levantei bem a tempo de impedi-la de ir para o seu trono, segurando-a pela cintura e a virando de volta para mim.
"Não me incomoda," falei, quase como se cochichasse. "Pelo contrário, era exatamente do que eu precisava."
Ainda a segurava pela cintura, mas deslizei minha mão pelas suas costas, a trazendo para mais perto de mim. Senti seus dedos roçando o meu braço, subindo até meu ombro. E era impossível negar que tinha alguma coisa entre nós.
"Eu ainda estou aqui por você, Lola," falei, mantendo meu tom o mais baixo possível. "E cada segundo que eu ficar aqui será por você. Tudo que eu fizer, por você."
O sol se punha, deixando tudo mais escuro do que deveria. E as luzes à nossa volta eram amarelas e quentes. A atração ali era palpável e a única coisa que mantinha a pequena distância que ainda tinha entre nós era nosso orgulho. Eu não tinha a menor vontade de adiar o que eu queria fazer desde a festa. Eu não precisava de mais nada, já não tinha nada a perder.
Mas ela ficou parada, me observando e eu simplesmente travei. Podia jurar que era orgulhosa demais para admitir que nós estávamos mesmo em outro nível completamente diferente dela com os outros. E aquele era um passo que eu sabia que ela não tinha tomado com nenhum outro. Eu queria que ela quisesse aquilo como eu, que admitisse que não era rápido demais, era certo. Era lógico, natural. Queria que, uma vez na vida, ela se deixasse levar, pois sabia que aquilo viria naturalmente.
Suas mãos foram escorregando pelos meus braços, delicadamente ameaçando a desfazer a tensão entre nós. Eu entrei um pouco em pânico, a puxando para mais perto de mim.
"Alaric, tem câmeras por aqui," ela disse, se deixando levar pelo meu nome.
Não consegui evitar de sorrir, provavelmente deixando parecer que era pelo fato das câmeras. Ela olhou por cima do ombro, enquanto eu me deixava observar a curva que seu pescoço fazia quando ela tinha se virá-lo daquele tanto. E como seu cabelo estava alinhado, mas ainda deixava cair uma única mecha castanho escuro, contrastando com a sua pele, que parecia brilhar mesmo em pouca luz.
Quando ela voltou a me olhar, eu já não sorria, e ela franzia a testa para minha expressão. Nem tinha percebido que tinha chegado o rosto tão mais perto do dela até que me inclinei na sua direção e deixei que nossos lábios se encontrassem.
Minha vontade de abraçá-la só aumentou. Podia senti-la tensa embaixo das minhas mãos, ainda preocupada com as câmeras. Mas queria protegê-la, fazê-la esquecer dos outros. Eles só estragavam tudo, só complicavam tudo. E eu só precisava mesmo dela. Queria enrolar meus braços em volta dela e a apertá-la o mais forte possível e deixá-la só pensar em mim.
Ela relaxou os ombros e me beijou de volta, me dando alguns segundos de vitória. Mas logo subiu suas mãos até meu rosto, arranhando de leve minha mandíbula e me afastando com cuidado dela. Não muito, só o suficiente para que pudesse me olhar. Mas eu não conseguia vê-la na minha frente e tão perto sem tentar beijá-la outra vez.
Ela não me deixou, segurou meu rosto com cuidado, com tanta delicadeza que eu nem conseguiria ter imaginado dela antes. E ela me observou, dos olhos à minha boca, passando seu dedo de leve pela minha pele. Ela tinha esquecido dos outros. Ela só via a mim. E eu finalmente poderia me concentrar só nela, ao invés de ter que ficar me perguntando se ela estava pelo castelo, encontrando coisas para me substituir em sua mente. Era só eu e ela e o céu escurecendo à nossa volta.
Até que alguém começou a subir o palco dos tronos do outro lado e o barulho se estendeu até nós. Lola se soltou de mim em um segundo e olhou por cima do ombro para quem vinha. Mas quem quer que fosse foi embora logo e nem nos viu. Infelizmente, o momento já estava arruinado. Ela já estava longe e eu já não a tocava. Ela subiu os degraus da escada e eu podia jurar que nem ia me falar nada. Mas assim que terminou de subir o último, ela parou e se virou para a mim.
"Te vejo mais tarde?" Perguntou, parecendo bem mais inofensiva do que eu já a tinha visto.
Só concordei com a cabeça, e ela voltou a andar na direção contrária a mim. Até o jeito que ela andava estava diferente. Ela olhava para baixo, andava leve, como uma garotinha. E por mais que eu adorasse seu jeito durona, vê-la tão frágil foi ainda mais difícil de resistir.

Quando a próxima prova estava para começar, o céu já estava completamente escuro. As luzes em cima de Lola eram fortes, mas no resto do jardim eram poucas. Tudo para não atrapalhar as bexigas neon que estavam espalhadas pela piscina, dentro e fora d'água, cada uma em um nível diferente. Eu não estava animado para participar, mas definitivamente não estava como antes. Pelo contrário, estava calmo, o que era raro para mim. Não conseguia parar de olhar para Lola e imaginar quanto mais eu teria que esperar para conseguir encontrá-la sozinha e continuar aquele beijo.
Estava tão entretido em olhar para ela que quase não percebi o que Marlee falou.
"Além dessa competição valer cinquenta pontos," ela dizia, "o prêmio para aquele que encontrar o pequeno coração dourado dentro de uma das bexigas será um encontro à sós com a princesa em uma jacuzzi durante sete minutos."
Aquilo me fez até sentar um pouco mais reto. Eu e todos ali, que fizeram questão de comentar aquilo com quem estivesse perto. Olhei direto para a Lola, que deu um empurrão no príncipe que estava sentado à sua esquerda. E quando ela voltou a olhar para Marlee, balançava a cabeça para si mesma, como se não acreditasse naquilo. Será que ela não sabia? Ou só estava fazendo pose? Poderia ter sido isso que ela queria dizer quando disse que me veria mais tarde. Ela podia estar me dando a dica de que eu tinha que ganhar, que era o jeito de nós ficarmos sozinhos.
Quando nos posicionamos em volta da piscina, eu só conseguia pensar nela. Tentei ver em qual das bexigas estava o coração, mas não dava para ver nada. Elas brilhavam demais, eu mal conseguia entender onde a borda da piscina começava e onde acabava. Tudo bem que a ideia era nos cegar até começarmos a estourar cada um e acabar enxergando melhor, mas aquilo realmente incomodava.
O alarme soou e todos nos jogamos na piscina. Eu estava bem mais calmo, mesmo agora, que queria ganhar de novo. Não queria dar a chance de ficar sozinho com Lola para ninguém, ninguém mesmo. Mas algo me dizia que, mesmo se eu não ganhasse, eu ainda teria o prêmio.
Não gostava muito de bexigas de ar, mas fiz como todos, segurando-as com força até que estourassem, começando pelas que estavam fora da água. Não tinha tanta pressa, mas também não fiquei para trás. Quando estavam acabando as do ar, eu comecei a mergulhar. E estourá-las embaixo d'água era ainda mais fácil.
Mas uma depois da outra, e nenhum com o tal coração dourado. Pensei que talvez alguém já tivesse derrubado e não tinha percebido. Era bom de conseguir enxergar na água, então aproveitei para olhar bem. Mas estava escuro e eu dependia da luz das bexigas, que ia diminuindo cada vez mais. Nem estourava nada, tinha a impressão de que o coração era pequeno demais e que alguém não veria mesmo quando o achasse. Não se já não estivesse embaixo d'água.
Fui nadando entre todos como podia. Dava alguns passos, mergulhava de novo. Estourava uma bexiga aqui, outra ali, sempre mantendo a estratégia de deixar os olhos bem abertos.
Até que em um dos meus mergulhos, eu vi o cara que era dupla do Keon estourar uma bexiga e um brilho dourado cair devagar até chegar no fundo da piscina. Ele hesitou. Não sabia se ele entendia o que era aquilo, se estava confuso, mas ele hesitou. Ele parou, o olhou estranho e não o pegou de primeira. O coração podia não significar nada para ele, mas eu simplesmente não conseguia vê-lo afundar desprotegido sem tentar pegar para mim.
Logo que o senti na minha mão, o cara foi tentar agarrá-lo também. Ele me olhou esquisito e nós dois nos levantamos na superfície logo depois. Segurei o coração o mais forte que podia, pronto para brigar com ele pela sua posse. Mas ao invés de reclamar, ele só fez um aceno com a cabeça e começou a sair da piscina. Quando passou por Marlee, ele avisou que eu tinha encontrado o prêmio, e ela anunciou para o resto dos participantes.
Eu estava ainda um pouco desconsertado por ter conseguido tão fácil, por ele nem ter falado nada. Mas assim que saí da piscina e Marlee veio falar comigo, não pude deixar de me animar de novo.
Ela me entregou uma chave e disse que uma criada nos levaria para a nossa varanda, assim que ela chamasse. Mas antes todos saíram da água, se enxugaram e foram de volta para os seus lugares no palco. E, sentados de lá, nós tivemos que assistir Lola coroar mais uma vez Keon e sua dupla na frente dos tronos, como os ganhadores oficiais.
Eu e Sebastian tínhamos cinquenta pontos dessa última prova, além do meu prêmio, que eu ainda segurava bem fechado na minha mão. Ian só tinha os seus trinta do cabo de guerra, Dylan os dez da primeira prova. Mas Keon tinha ganhado sessenta e isso o colocava acima de mim. Sim, era terrível pensar que eu tinha perdido de tão pouco. Mas meu prêmio era bem melhor do que o dele, mesmo que durasse menos.
Marlee declarou que a festa agora tinha começado oficialmente, exatamente às sete e meia da noite, e que não tinha hora para acabar. Também fez questão de deixar claro que não seria transmita para país nenhum, incluindo Illéa. Todo mundo comemorou, talvez a festa, talvez o fato de todas as luzinhas vermelhas nas câmeras terem se apagado, e se direcionaram à tenda estendida atrás das arquibancadas. Keon e sua dupla tinham que dar entrevistas. E eu não sabia para onde ir.
Até que uma criada apareceu na minha frente. Me levantei na hora, agradecendo Sebastian e não perdendo mais nem um segundo ali. Lola só me encontrou nas portas duplas que levavam para dentro do castelo. E parecia bem contrariada, principalmente quando eu tentei pegar na sua mão.


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