Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 70
Capítulo 70: POV Keon Illéa


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Police Station" e "Look Around" do Red Hot Chili Peppers.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/542825/chapter/70


Eu estava do lado de fora da sala de espera dos selecionados, mas não poderia ficar ali por mais muito tempo. Já eram quase duas e meia da tarde e, pelo que tinham avisado Marlee, praticamente todos os convidados já tinham chegado.
Mas eu não tinha escolha. Minha dupla ainda não tinha chegado.
Eu não era de ficar muito nervoso. Não poderia me lembrar da última vez que tinha sentido frio na barriga. Talvez quando tive que apresentar minha tese sobre como países de primeiro mundo forçam os de terceiro a nunca crescerem. Mas era só porque eu tinha vários grandes empresários assistindo e eles que me dariam nota. Além do mais, o nervosismo passou assim que me coloquei na frente deles. A raiva que eu tinha da falta de consideração deles pelas outras pessoas era o suficiente para eu deixar de me importar tanto com suas opiniões.
Mas eu estava nervoso ali, no corredor, esperando que Marc aparecesse. Porque, se ele demorasse e nós atrasássemos, a culpa seria minha. Eu que o tinha escolhido. Marlee tinha nos explicado as provas e eu pensei que seria uma boa ter outro cara que escalava bem comigo. Mas se esse cara forçasse a princesa a começar fora do horário, com todo o povo inglês assistindo do outro lado do oceano por televisões, ela provavelmente me dispensaria. Ou pelo menos não me deixaria conquistar sua opinião. Ela nem ouviria o que eu tinha para lhe dizer, o que tinha me trazido até ali. E eu já estava arriscando muita coisa só para conseguir esse tempo com ela. Não poderia queimar a largada só por causa de uma festa.
"Vai, não precisa me esconder nada," uma voz feminina interrompeu meus pensamentos, chegando do final do corredor, a alguns metros de mim. Ela não parecia gritar, mas falava bem alto. "Eu sei bem o que você quer, só preciso que me diga em voz alta."
Não pude ouvir a resposta, mas sim quando ela riu, alto e quase malévico.
"Eu sei bem o que você está planejando," suas palavras colocaram minhas orelhas em pé. Antes mesmo que soubesse o que estava fazendo, eu dava passos discretos para chegar até ela sem que me percebesse.
"Qual seu problema? Estou aqui, te falando que eu sei bem o que você quer, que não vou te denunciar, por que você simplesmente não admite? Eu quero te ajudar! Só preciso ter certeza de que não estou sendo louca!"
Me estiquei para ver quem era, voltando a me esconder um milésimo de segundo depois.
Alexander era o cara com quem ela falava, mas eu não lembrava de tê-la visto antes.
"Está bem," ele disse, baixinho, e eu só ouvi porque continuei ali. "Eu falo, mas você precisa entender que isso é praticamente suicídio. Para mim."
Meu nervosismo só aumentava. E se eu não fosse o único que tivesse vindo ali com o intuito de falar com a princesa? E se eu não fosse o único na Seleção que tinha aquela opinião? Eu estava ignorando possíveis aliados?
"Como é suicídio? Achei que não se importasse!" A menina continuou falando alto, mas ele pediu que fizesse silêncio.
"Você está certa," ele disse, me fazendo praticamente segurar a respiração para ouvir que ele acreditava na mesma coisa que eu. "Eu gosto dela," ele completou, me deixando voltar a respirar. Era só da princesa que eles falavam. E eu tinha entrado em pânico por nada."E se eu tivesse alguma chance, se eu pudesse simplesmente sair dessa Seleção e a continuar vendo, eu sairia," espera, isso não fazia sentido. "Mas seria praticamente a deixar."
"Já falei que vou ajudar," a menina insistiu, voltando a falar alto.
Já não precisava ouvir mais nada, não me interessava saber do que eles falavam. Não era o que eu tinha estado pensando e era o suficiente para eu deixá-los em paz.
Eu me virei de volta para a porta da sala de espera dos selecionados, só para encontrar Marc me observando.
"Ouvir a conversa dos outros é uma coisa muito feia," ele disse, balançando a cabeça. Mas eu sabia que ele estava brincando, porque não tinha conseguido terminar de falar sem rir.
"Aonde você estava?" Eu perguntei, olhando no relógio.
"Vestindo isso," ele puxou o calção vinho pelos bolsos para me indicar, o mesmo que eu usava. "Tem certeza que me quer como sua dupla?"
"Tenho," eu disse, indo até ele e o puxando para dentro da sala. "Você é a única pessoa que eu conheço nesse castelo além da família real."
"Nossa, valeu. Me sinto bem especial agora."
"Não é para se sentir especial," falei, indo sentar no primeiro lugar que vi.
Ele foi comigo. "Sorte sua que eu adoro uma competição," disse. "Normalmente só para tirar sarro de quem se importa de verdade, mas mesmo assim."
"Mesmo assim," falei, sem querer contar que não me importava ganhar.
Um encontro com a princesa na praia seria ótimo para tirar todos aqueles que poderiam nos ouvir de perto. Mas eu não queria discutir algo como aquilo na areia. E sem nenhum dos meus papéis.
Naquela hora, Blake entrou com uma menina que parecia bem mais animada do que ele. E logo depois entrou Danio e um cara que eu nunca tinha visto na vida. Já na sala estava Dane e um guarda, e eles pareciam bem amigos, Thor e uma menina que ele apresentou como sua criada quando chegou (mesmo sem eu ter perguntado) e Ian e um cara mais velho, que Marc me disse que era médico. Ele também falou que o do Danio trabalhava na ala hospitalar, mas era mais como um fantasma no castelo.
Faltava um minuto para duas e vinte e cinco, quando Will entrou com uma das garotas que haviam sido designadas como minhas criadas, Carolyne. Pela cara dela, ela realmente não queria estar ali. Mas sorriu para Marc e para todo mundo que olhou na sua direção. E quando seus olhos encontraram os meus, ela congelou. Foi só depois de eu sorrir de volta que ela se lembrou de respirar. Devia estar com medo de que eu reprovasse.
Os últimos a chegarem foram Alex e a menina que falava alto. Não era das pessoas mais curiosas do mundo, mas quando eles entraram, não pude evitar de a acompanhar com os olhos até que estivesse sentada. Ela me percebeu, me olhando de volta como se me perguntasse qual era meu problema de ficar a encarando.
Fiz questão de fazer um aceno com a cabeça antes de desviar o olhar. Ela não era quem eu estava pensando, não tinha as mesmas ideias que eu, nem Alex. Eu precisava ter um pouco mais de cuidado. Se tive que chegar até aquele ponto para conseguir fazer Lola me ouvir, não poderia arriscar tudo simplesmente contando para a primeira pessoa que eu achasse que me entenderia.
Lá fora, era bem mais fácil. Eu conhecia outros que lutavam pelo mesmo ideal. Mesmo que a grande maioria não concordasse, pelo menos tinha com quem discutir o assunto. E agora eu estava para conseguir meu encontro com a princesa e nem me lembrava de por onde começar.
"Preciso confirmar as duplas," Marlee disse, olhando para nós. "Alaric e Príncipe Sebastian?"
Eu nem tinha me dado falta dele até que ela os chamou. Alaric tinha dito mesmo que precisava ir atrás dele. Talvez agora nós nos atrasássemos por causa de outra pessoa.
Foi eu pensar isso, que ele passou pela porta, Príncipe Sebastian atrás dele. O jeito que nos olhou já provava que ele tinha muito orgulho de ter conseguido alguém da realeza para participar. Mas, pelo que eu conhecia de Sebastian, ele teria aceitado nem que não tivessem duplas.
Marlee os olhou como se estivesse brava, mas ela tinha um rosto amigável e mesmo assim conseguia ainda parecer amável, quase como uma mãe.
"Alexander e Elena Leger," ela continuou, olhando para a menina que tinha gritado nos corredores. Aí sim ela parecia uma mãe, sorrindo toda familiar para ela e recebendo o sorriso de volta. "Blake e Valentine DeChamps," era a irmã da princesa que parecia querer estar mais animada que Blake. "Dane e Loric. Danio e Davi. Dylan e Madison?"
Nós olhamos em volta, os procurando.
"Estamos aqui," uma menina apareceu na porta, levantando a mão para Marlee. Ela também não parecia feliz de estar ali. Puxava Dylan pelo pulso e foi se sentar no seu lugar bem contrariada.
Marlee pigarreou, como um jeito de condenar os atrasos deles. E eu tinha me preocupado tanto comigo.
"Ian e Lucca?" Ela continuou chamando. "Keon e Marc," eu levantei a mão e Marc fez o mesmo, claramente sem gostar de ter que se sentir em uma escola. "Thor e Alicia," eles sim eram os mais animados. Levantaram as duas mãos, enquanto as pernas balançavam loucamente, quase como se eles se segurassem para não sair correndo a qualquer instante. "E William e Carolyne?" Só Will levantou a mão, mas Marlee estava satisfeita.
Ela olhou no relógio. E depois foi até a porta, nos intruindo a segui-la.
Eu não tinha ideia de como o jardim estava. Tinha visto uma ou outra coisa sendo arrumada da minha varanda, mas depois nós tivemos que ir a mais uma aula de etiqueta com ela e ao almoço, só nos livrando a tempo de nos trocarmos.
Tudo parecia bem maior do que eu tinha visto pelo segundo andar. Com todas as arquibancadas cheias e câmeras para todos os lados, aquilo realmente parecia oficial. Os convidados se vestiam como se fossem à praia, mas ainda nos encaravam e julgavam como se estivessem de gala. O caminho todo até o lugar indicado para nós foi bem humilhante. Éramos quase gado sendo encaminhado. E as câmeras passavam por nós, focando na nossa cara.
Marc não parecia estar se divertindo muito também, mas o lado das duplas tinha menos atenção e ele não teve que sorrir para nenhuma luzinha vermelha.
Nós nos sentamos em cima do palco montado no final da piscina, cinco duplas para cada lado e um microfone no meio. Mal tínhamos encostado na cadeira e Lola desceu de seu trono. Todos assistimos em silêncio até ela estar entre nós e começar a explicar para todos os convidados como seria a competição. Nada que nós já não sabíamos, e nada que não seria repetido antes de cada modalidade. Mas tudo praxe.
Eu foquei na piscina. Metade coberta, mas nós já sabíamos o que tinha ali. Também tínhamos tido uma aula para explicar cada atividade e ter certeza de que nenhum de nós teria dúvida ou criaria problemas. Outra câmera passou por nós, fazendo Dylan e Alaric acenarem. Enquanto isso, Marc estava praticamente jogado na cadeira do meu lado.
Cada um vestia uma camiseta branca e um calção da cor do selecionado. A não ser as meninas, que além do biquini na cor, usavam um shorts. Nós teríamos que passar por quase todas as provas sem camisa, e eu não estava muito animado para aquilo. Não que me incomodasse. Mas não era o maior fã da ideia de ficar assim na frente de câmeras transmitindo para o mundo inteiro.
Lola foi se sentar. E Marlee foi ao microfone. Ela explicou a primeira prova com tantos detalhes, que estava claro que estava quase na hora.
Uma música animada começou a tocar, enquanto eu começava a me arrepender de passar por aquilo. Se fosse qualquer outro tipo de pessoa, tinha inventado uma doença. Mas era quase pior do que pensar que eu tinha me colocado naquela situação.
A primeira prova era uma guerra de bexigas. E, ouvindo a música feliz e sentindo o sol na minha nuca, eu segui todas as outras duplas até o campo aonde aconteceria. Fui com o Marc até o balde aonde estavam as bexigas que tinham água vinho. Ficaríamos de camiseta para podermos marcar aonde seríamos atingidos.
"Então a gente simplesmente tem que evitar ser acertado e acertar os outros?" Ele me perguntou.
Nós tínhamos dois minutos para estratégias, já que nossas duplas não tinham tido as mesmas aulas que a gente.
"Temos que tentar evitar sermos atingidos na cabeça e no torso," expliquei. "E, sim, acertar os outros o máximo possível."
"Na cabeça e no torso?" Ele perguntou, fazendo uma careta. Eu só concordei, sem estar no mesmo humor que ele nem de longe. "Fácil," disse, me fazendo bufar uma risada.
As duplas foram separadas nos dois lados da linha central, cada um de um lado. Eu estava de frente para Valentine, a irmã da princesa, que eu tinha conhecido quando ela tinha 15 anos. Eu não era amigo dela nem nada, mas podia apostar que ela nunca tinha feito nada de mal na sua vida inteira. Como é que eles esperavam que eu a acertasse com balões de água? Sem a menor hesitação?
O juiz chegou à lateral do campo. Eu senti com a minha mão os balões que eu tinha na minha cintura. Cinco. E se precisasse de mais, teria que ir buscar no nosso balde, que ficava bem mais perto de Marc. E sem ser acertado.
Eu sempre odiei queimada. Mas estava ali e tinha absolutamente a mesma chance que qualquer outro de ganhar. Eu já estava na competição. Só faltava participar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Do Outro Lado do Oceano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.