Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 68
Capítulo 68: POV Clarissa Simpson


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Little Miss Obsessive" da Ashlee Simpson. Amo muito essa música.
O último capítulo foi editado. Se você só leu aquela minha nota falando sobre o futuro da fanfic, volte e leia o capítulo que eu coloquei no lugar!



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Bati duas vezes na porta, bem de leve. Queria que Lola me ouvisse e me deixasse entrar, mas definitivamente não queria que outras pessoas soubessem aonde eu estava.
Não houve resposta. Ela poderia já estar dormindo. Já tinha passado das dez e Dane tinha dito que o encontro deles acabou antes das nove. Porque ela não tinha ido me procurar - ou mandado alguém no seu lugar, - eu não sabia. Mas não importava. Eu só precisava sair do corredor.
Bati outra vez, mas dessa vez saiu mais alto do que eu esperava. Então entrei correndo, antes que alguém pudesse me ouvir.
Aquilo era loucura. Quando é que eu conseguiria voltar a viver sem ter um frio constante na barriga? Estava ficando bem difícil de comer e ainda mais de apoiar a minha amiga.
Olhei para os lados. Onde estava Lola? Sua cama estava intacta. Mais do que intacta, estava preparada para ela dormir, mas intocada. Seu robe estava no sofá ao pé da cama e todo o resto estava arrumado. Será que ela tinha outro encontro e não tinha me avisado?
Fui até a varanda, na pequena esperança de encontrá-la lá, e depois tive que ir ao banheiro, sem sucesso em nenhum dos dois. Aquilo era estranho. Mas ela devia mesmo simplesmente estar em outro encontro. Algum selecionado devia tê-la chamado quando eu não estava por perto e ela não teve a chance de me contar.
Voltei para dentro do quarto, me jogando na sua cama. A vida era tão mais simples quando eu não tinha colocado meu pescoço em risco. Era tão mais fácil simplesmente ser invisível. Por que eu tive que mentir para Kyle? Porque tive que me deixar levar?
E agora eu estava ali, sem poder relaxar um segundo. Eu tinha certeza absoluta de que ele saberia que era eu assim que me visse. Meu jeito de sorrir, de rir, minha voz. Se ele já não tinha reconhecido, não demoraria muito. Não era possível enganá-lo. Mas quanto mais tempo entre aquela noite e eu finalmente encontrá-lo, melhor. Menores a chances de ele se lembrar de algo muito bem.
Me levantei na hora. Uma ideia tinha me ocorrido.
Eu precisava de um álibi. Era isso. E aí, mesmo que ele me reconhecesse, eu poderia me fazer de desentendida. Falaria que ele estava louco e que eu tinha passado a noite inteira em tal lugar. Poderia até encontrar alguém para me ajudar na história. Até mesmo a Lola. Eu só precisava pensar em um álibi bom, daqueles impossíveis de contrariar.
Me levantei com toda a intenção do mundo de ir para o meu quarto, mas arrastei meus pés até chegar na porta que ligava o de Lola até lá. Foi só quando eu cheguei perto que me animei. Lá embaixo, no pequeno espaço entre a porta e o chão, estava um pedacinho de papel. Me agachei e o puxei para fora.
Era a letra da Lola, com meu nome escrito. Voltei para a cama dela para ler. Não tinha ideia do que poderia ser, mas eu estava animada para. Imaginava coisas incríveis, como ela explicando que estava em um encontro sob a luz das estrelas com um cara perfeito. Mas não era exatamente isso que ela tinha escrito.
"Querida Clare,
Antes de mais nada, preciso que você se sente. E que me prometa que não vai enlouquecer e gritar comigo na próxima vez que tiver uma chance.
Isso se tiver próxima vez.
Estou te assustando, mas minha intenção é bem o contrário. Quero te avisar que estou saindo do castelo. Sim, você leu direito. Mas não se preocupe, vou voltar. Não estou deixando a Seleção, não há necessidade de entrar em pânico. Mas precisava de um pouco de ar. E, não, não conseguiria simplesmente respirar aí dentro do castelo. Nem no telhado, se é nisso que você está pensando.
Eu nem deveria estar te contando. Espero que só encontre essa carta quando for tarde demais para me impedir. De qualquer jeito, às dez já será impossível de me resgatar.
O fato é que eu não sei para onde estou indo. E só estou escrevendo caso alguma coisa aconteça. Então, se acontecer, se eu não voltar até a manhã seguinte, a culpa é de Marc Hynes.
Mas, se tudo der certo, peço que esqueça tudo que eu falei. Esqueça que eu saí do castelo e nem o confronte. Seria imprudente sair com um desconhecido sem avisar ninguém. Mas tente não se preocupar antes que realmente alguma coisa aconteça.
Te vejo amanhã, espero.
E enquanto passa uma noite sozinha, faça o favor de se convencer a contar a verdade para Kyle. Mesmo que ele não mereça mesmo saber, você não merece ficar sofrendo por antecipação assim.
Com amor, da sua amiga,
L."
Amassei o papel na hora, tensa com o que tinha acabado de ler. Mas o abri logo depois, para reler e ter certeza de que não tinha entendido errado.
Marc era aquele cara da cozinha, se eu não estava enganada. Eu tinha certeza de que qualquer lugar para onde ele fosse não deveria ser apropriado. Não só por ela estar em uma Seleção, mas por ser da realeza! Por que ela sairia com ele do castelo? Por que ela se arriscaria assim?
Quis rir. E me deixei rir. Aquilo era loucura. A Lola realmente estava enloquecendo. Eu tinha estado tentando evitar pensar no assunto, mas agora era impossível. Ela tinha perdido a cabeça! Ela podia ser reconhecida, eu já conseguia imaginar as manchetes no dia seguinte, todos falando de como a princesa tinha fugido do castelo com um desconhecido. Um desconhecido que nem de longe participava da Seleção.
Ela realmente tinha ficado maluca.
Com o canto dos olhos, eu percebi o relógio na parede. Eram dez e quinze. Talvez quinze minutos não fossem tanto. Talvez ainda a pudesse encontrar. E a impedir de fazer a maior besteira desde que tinha chegado àquele país.
Sai do quarto o mais rápido possível, correndo escadas abaixo. Ela não devia ter pensado direito naquilo. Ela não podia simplesmente ter aceitado aquela ideia, sem nem considerar o quanto era perigosa! Se ele a levasse muito longe, poderia ser impossível para nós a resgatarmos! E se alguém a sequestrasse? E se acontecesse alguma coisa com ela?
A cada pensamento, eu corria mais rápido. Pulava cada vez mais degraus de uma vez, quase caindo quando exagerava. Mas aquele castelo era enorme e eu precisava chegar o mais rápido possível até Marc. Ou a outra criada que cuidava dela no castelo. Ou até mesmo o portão.
Finalmente cheguei ao hall de entrada, mas eu não sabia se devia ir reto ou até o dormitório dos criados. Eles podiam estar saindo de fininho. Quais eram as chances de sairem pela porta da frente? Eles deviam estar pegando alguma moto ou algum caminhão escondidos.
Só por isso, virei à direita e corri o mais rápido que podia até a primeira entrada que eu vi dos criados. Não era longe, mas não ficava perto do dormitório. Era só um corredor deles, pelo qual eu ouvi meus passos ecoando.
Quando finalmente avistei os primeiros quartos, percebi a besteira que eu tinha feito. Mesmo se eles saíssem com uma moto, eles teriam que passar pelos portões. Não havia outro jeito de entrar no castelo. Ou pelo menos, não de carro.
Parei de correr na hora. Fiz menção de voltar, mas não dei nem o primeiro passo. Para onde eu iria? O que eu faria? Como eu conseguiria descobrir por onde eles tinham ido? Por que eu não podia ter encontrado aquele bilhete antes?
"Clare?" A voz de Kyle contraiu todos meus músculos, e eu não pude me mexer.
Estava de costas para os quartos, que era de onde ele vinha. Fechei meus olhos, rezando para que ele não me visse. Depois de anos sonhando com o dia em que eu não seria mais invisível para ele, eu estava ali, torcendo para que ele não me percebesse ou fingisse que não tinha me percebido.
"É você?" Ele perguntou, só para tentar aumentar a velocidade na qual meu coração já batia.
Qual era a dúvida dele? Se era eu ali ou se era eu quem tinha fingido ser a Karen? Porque aquelas palavras pareciam conseguir significar qualquer um dos dois para mim.
Eu poderia ter me virado. Poderia ter respondido. Mas não conseguia me mexer. Ele deu a volta em mim e eu só voltei a respirar quando nossos olhos se encontraram.
"Nossa, aonde você estava?" Ele perguntou, como se estivesse bravo. Ou, se eu estivesse sendo bastante otimista, preocupado. "Para onde você foi? A Lola disse que estava querendo conhecer a cidade mas eu nunca mais te vi!"
"Conhecendo a cidade," falei para mim mesma, só para tentar entender. Lola tinha me dado um álibi pelo menos para o tempo em que eu tinha me escondido.
"Nem para me chamar, hein," ele continuou, balançando a cabeça para mim.
"Te chamar?"
"Para conhecer a cidade," ele continuou. "Mas eu estava te procurando. Você não recebeu nenhum dos meus recados?"
"Não," menti, sem pensar.
"Há," ele esfregou a nuca, deixando os olhos caírem no chão, mas logo os voltou para mim. "Bom, eu precisava falar com você. Tem um segundo?"
Um segundo?
Olhei no relógio por instinto.
Não, claro que eu não tinha um segundo. Eu já estava atrasada, já devia estar correndo pelos jardins atrás da Lola.
Mas Kyle franziu suas sombrancelhas para mim, como ele fazia para me convencer das coisas. Eu sabia que era deliberado. Mas ainda assim, só de saber que ele queria tanto, já deixava que funcionasse.
E, honestamente, eu já devia ter pedido a chance de parar Lola há mais de vinte minutos atrás.
"Tenho," acabei respondendo.
"Você já comeu?" Ele fez menção de começar a andar e o segui, sentindo sua mão nas minhas costas.
"Se eu já jantei?" Perguntei, apressando o passo só o suficiente para não que ele não conseguisse me tocar.
"É."
"São dez da noite, como eu poderia não ter jantado?"
Nós passamos pelas portas da sala comunal dos criados, comigo esperando ir direto para a cozinha. Mas um canto da mesa já estava preparado, com várias vasilhas com comidas diferentes. E só tinha um prato. Aparentemente, tudo esperava por ele.
"Isso é sua janta?" Perguntei, indo até lá.
"É," ele respondeu. "Por quê?"
"Porque está tarde. Porque a maioria das pessoas come até às nove da noite. E por que você está jantando na sala dos criados?" Quis saber, apesar de colocar meus pés para dentro do banco e me sentando.
Era ruim o suficiente ser obrigada a falar com Kyle. Mas era pior ainda falar de pé, quando minhas pernas amoleciam a cada segundo mais.
"Não está com fome?" Ele perguntou, se sentando do outro lado.
Apesar de ele estar me encarando, pelo menos eu tinha a mesa entre nós. E podia esconder minhas mãos embaixo dela.
"Não, eu comi como todo mundo," respondi.
"Engraçado, não te vi na Sala de Jantar com todo mundo," ele parou para me olhar estranho, ficando alguns segundos em silêncio.
Para cada vez que eu engoli a seco, eu implorei para ele não desenvolver aquela suspeita dele.
"Bom," ele continuou, dando de ombros e me liberando para respirar. "Se você quiser, pode só me assistir comer."
Ele sorriu, como se aquela ideia fosse absurda e eu nunca conseguisse resistir a tudo aquilo que estava na minha frente. Mas eu nem via comida nenhuma direito. E o frio na barriga me perfurava como faca, tirando toda a vontade que eu poderia ter de comer. Eu aproveitei para amassar uma mão na outra embaixo da mesa, mas não ajudava como eu queria. Elas só suavam e eu tinha que limpá-las na minha saia a cada cinco segundos.
"Então," Kyle falou, respirando fundo. "Tinha uma coisa que eu precisava falar com você."
"É?" Nem saberia dizer como tinha conseguido fazer o mínimo de voz sair da minha garganta.
Sentia como se as batidas do meu coração refletissem no ar. Quase podia vê-las fazendo tudo à nossa volta tremer a cada meio segundo. Então era isso? Minha vida inteira tinha se resumido ao que estava prestes a acontecer. Eu estava preparada? Eu conseguiria negar? Ou admitir? Será que conseguiria ao menos falar?
"É," Kyle disse, me dando a impressão de que talvez pudesse congelar o tempo. Pudesse parar tudo e simplesmente sair correndo. Como se estivesse ao meu controle. "Eu já perguntei a todo mundo que podia, mas talvez ela fosse alguém que tivesse vindo com vocês."
"Oi?" Ele falava de Karen, era mesmo verdade. Mas ele não parecia saber que era eu.
Kyle olhou para baixo e ficou um segundo sem falar nada. Depois deu de ombros.
"Para te falar a verdade, eu sinto como se já a conhecesse. Tenho vergonha de admitir que ela possa ser alguma das criadas de vocês e eu ter me esquecido dela."
Vergonha era o que eu sentia. A cada palavra dele, eu me encolhia mais, na inútil tentativa de desaparecer.
"Deve ser isso, não é? Ela andou visitando a cidade com você?" Ele perguntou, sua curiosidade clara em como ele arregalava os olhos para mim. "Você sabe aonde ela está?"
Minha garganta estava intalada. Mas eu consegui soltar uma única palavra. "Ela?"
Kyle se afastou um pouco, como se a distança fosse fazê-lo me enxergar de verdade. "É," ele disse. "A Karen, a garota de quem eu falei nos meus recados," e então ele mesmo suspirou. "Verdade. Você não os recebeu."
"Não," falei, tão baixo que talvez ele nem tenha ouvido.
"Bom, é o seguinte," ele pigarreou. "Eu conheci uma menina na festa à fantasia. E ela me disse que era cozinheira. Eu imaginei que fosse daqui do castelo, acho que ela me falou que era daqui. Mas se nem eu falei meu nome verdadeiro, ela pode ter inventado também alguns detalhes."
"Sim," uma palavra por vez, era o que eu conseguia juntar forças para falar.
"Mas ninguém aqui parece conhecê-la," ele continuou. "Então pensei que ela deveria ser do Reino Unido. E por isso que eu a reconheci!"
"A reconheceu?" Senti o chão fugindo dos meus pés e me agarrei instintivamente ao banco com as duas mãos.
"Não, não reconheci, reconheci," ele se corrigiu. "Mas eu sabia que tinha alguma coisa familiar com ela. Sabe?" Ele realmente parou para ver minha reação. Eu só consegui concordar com a cabeça, nervosa. "Então, ela é de lá? Eu estou certo, né?"
"Sim," falei, antes que pudesse pensar nas consequências.
Kyle abriu o maior dos sorrisos, me deixando dividida entre a vontade dele ser para mim e a raiva de saber que era para alguém que nem existia.
"Então você conhece a Karen!" Não era uma pergunta. Ele riu rápido. "Ah, Clare. Sabia que você salvaria a minha vida. Tem como você me apresentar de verdade para ela? Sei lá, convencê-la a me encontrar? Aonde ela tá agora?"
Essa era a hora. Era a hora de eu me declarar. De pegar tudo aquilo que eu tinha guardado dentro do meu coração e da minha cabeça por anos e espalhar pela mesa. Era a hora de eu explicar para ele o quanto ele era incrível. Era o momento que eu sempre tinha esperado e afastado por medo. Eu estava de frente para ele. Eu poderia lhe contar que, mesmo nos seus piores dias, mesmo nas suas piores atitudes, ainda tinha alguém que o amava. Ainda tinha alguém que daria tudo, absolutamente tudo para vê-lo sorrir.
Era a hora. E tudo que eu precisava falar era a verdade. Só precisava admitir que ela não só era uma criada, como era a garota que estava sentada à sua frente.
Engoli a seco, sem querer me mover um centímetro mais do que o necessário. "Deve estar em seu quarto," minha boca falou, indo completamente contra o que eu queria dizer.
"E aonde fica o quarto dela?" Ele olhou para a porta que levava ao dormitório dos criados. "Ela está dormindo aqui com eles?" Perguntou, apontando com a cabeça para lá.
"Sabe que que é, Kyle," falei, me ajeitando no banco e ganhando tempo para pensar. "Eu acho que você não deveria simplesmente ir falar com ela."
"Não?"
"Não," respirei fundo, pausando. "Você é um príncipe. Ela é só uma criada. Acho que você deveria dar um certo espaço para ela."
"E a conquistar devagar?" Ele completou, me fazendo entrar em pânico por dentro.
"Bem devagar," falei. "À distância. Tente uma carta. Eu entrego. Agora eu preciso falar de outra coisa com você. Eu estava precisan-"
"Não, espera, " ele fez um gesto no ar com as duas mãos, me obrigando a parar de falar. "Você acha que eu devo escrever uma carta para ela? E você a entrega?"
"Sim. Acho que ir falar com ela a assustaria. Sabe, por você ser quem você é."
"Ela sabe quem eu sou," ele disse, bufando uma risada. "Ela falou meu nome."
"Como é?"
"Quer dizer, eu acho que ela falou meu nome. Mas posso estar errado," ele deu de ombros. "Ou ela simplesmente me reconheceu do castelo em Londres."
"Sim, deve ser isso," olhei para a mesa de comidas, louca para me esconder atrás de qualquer uma das vasilhas. "De qualquer jeito, ainda acho que você deveria começar com uma carta. Eu posso entregar para ela. E te entregar a resposta."
Eu deveria estar odiando aquela ideia. Era uma péssima ideia. E eu sabia que só estava me enterrando mais. Mesmo enquanto falava com ele, conseguia me imaginar tirando terra à minha volta e a jogando em cima das minhas próprias costas.
Mas eu precisava saber o que ele falaria. E aquele era o único jeito que eu teria qualquer tipo de chance com ele. Só em um mundo inventado, só com pura fantasia que eu poderia ouvi-lo falando tudo que eu sempre quis ouvir. Como poderia simplesmente não incentivá-lo a escrever aquela carta?
"Por que você simplesmente não me mostra o quarto dela?" Ele perguntou, levantando uma sobrancelha.
"Kyle, faz dias que você a está procurando. Ela claramente não quer que você a encontre," não, absolutamente não, eu completei na minha cabeça. "Se você quer conquistá-la, precisa ir com mais calma."
"Tá, você tem certa razão," ele disse, desapontado.
"Tenho," falei, apesar de que o jeito que ele olhava para o seu prato me fazia querer despejar toda a verdade ali em cima dele.
"Você queria falar sobre outra coisa?" Ele perguntou, voltando a me olhar e me salvando da declaração.
Me endireitei na cadeira. "Sim, sobre a Lola," na verdade, a única razão para estar falando com ele sobre isso era porque eu queria desesperadamente mudar de assunto. "Ela está cada dia mais tensa com esse negócio de Seleção. Tenho medo de ela fazer a escolha errada. Ou simplesmente desistir de tudo."
"Sério?" Ele quase parecia feliz com aquela informação.
"Preciso de outra ideia para animá-la!" Continuei. "Alguma coisa que a deixe descontraída!"
Ele parou para pensar, se deixando comer um pouco e eu só o observei.
"Já pensou em outra festa?"
Suspirei. "Já. Mas nenhuma ideia que eu tenho parece boa o suficiente," reclamei. "Não sei se forçar todos a dançarem vai ajudar muito."
"Não precisa ser festa de dançar," ele disse, quase ofendido pelo jeito que eu tinha tratado sua ideia. "A gente pode fazer uma festa na piscina."
"Festa na piscina?!" Eu ri, alto e claro, descontando na risada toda a tensão que ainda habitava meu corpo. "Ah, a Lola numa festa da piscina! Isso sim seria descontraído!"
"Estou falando sério," ele disse, ainda parecendo ofendido, mas dessa vez sorrindo junto comigo. "E não precisa só ser festa. Os selecionados podiam competir em jogos na piscina. E aí o melhor ganharia algum tipo de encontro importante."
"Uma competição?" A ideia ficava cada vez mais absurda e mais difícil de imaginar Lola aceitando.
"Sim, uma competição," ele se sentou um pouco mais perto da mesa, claramente animado. "Antigamente, homens do país participavam de competições para ganhar o coração da princesa. Ela ficava sentada em um trono, assistindo e aplaudindo. A gente podia fazer assim!"
"Essa ideia nem é tão terrível," falei, já fazendo-o sorrir. "Mas você realmente acha que a Lola aceitaria uma festa na piscina?"
Kyle pensou por um milésimo de segundo, durante o qual seus olhos se desviaram dos meus. Mas quando ele voltou a me encarar, estava com a energia e o sorriso renovados.
"Claro que aceitaria," ele disse, "se você a avisar que os selecionados estarão sem camisa," ele levantou as sobrancelhas juntas, duas vezes seguidas.
"Você realmente não a conhece bem," falei, revirando os olhos.
Ele deu de ombros e voltou ao seu prato. "Só estou falando," disse. "Uma festa na piscina não seria má ideia."
Eu só balancei a cabeça.


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