Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 61
Capítulo 61: POV Margaret Degrasse


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Masquerade" da Nicki Minaj.



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"E com esse, são mais dois vestidos prontos," Paola me falou, sem tirar os olhos do tecido que ela costurava na máquina à sua frente.
"Ótimo," falei, indo anotar no mural que ela tinha terminado mais um. "Aí só vai faltar um e nós podemos voltar aos ternos."
Fiquei esperando que ela fosse falar mais alguma coisa, mas ela só murmurou que sim. Olhei na tabela qual seria o primeiro terno para nos adiantar. Seria o do selecionado Alaric. Manchester.
Assim que tinha anotado o número do terno, saí da sala de costura para o ateliê. Dois passos lá dentro e eu percebi que Madison já tinha voltado. E não estava sozinha.
Só o som do meu sapato no chão foi o suficiente para ela pensar em outra tarefa para eu fazer. Enquanto ela ia até a arara do lado da sua mesa e eu andava até ela, arrisquei um olhar na direção do cara que estava ali com ela.
Ele era enorme. Essa foi a primeira coisa que eu percebi. Quase ocupava o espaço inteiro da porta. Naquele exato momento eu rezei para o que quer que fosse que a Madison queria que eu fizesse, que eu não tivesse que passar por ele.
Ela voltou andando até me encontrar na frente do ateliê. "Maggie, eu preciso que você entregue esse blazer para o Dane Lewis," ela disse, soltando o cabide em cima de mim quase me fazendo deixá-lo cair.
"Eu?" Perguntei. Não que eu fosse tonta para não entender um pedido simples, eu só queria saber porque logo eu teria que ir atrás dele de novo.
Madison voltou para a mesa dela e eu arrisquei outro olhar para o selecionado. Eu me lembrava dele, tinha sido o maior ajuste que nós tínhamos feito de todos eles. Aparentemente ele era bem mais forte do que nós esperávamos.
E bem mais bonito pessoalmente. Se a foto dele me conseguia me fazer corar, a última coisa que eu queria era que-
Opa. Que ele me visse o observando.
Voltei meus olhos para Madison, apesar de sentir minhas bochechas já começando a pegar fogo.
Droga. Será que ele ainda estava me olhando?
"Sim, você," Madison disse, de costas para mim.
Em poucos segundos, ela veio até mim, colocando suas mãos nos meus ombros e me empurrando no caminho da porta - e do selecionado! Ele estava apoiado na parede, mas só de saber que eu teria que passar por alguns centímetros dele já me fazia querer sair correndo.
Mas eu sobrevivi.
"Agora, vai," Madison disse, me dando um último empurrão e fechando a porta atrás de mim, sem me dar tempo para entrar em pânico.
Ali, sozinha no corredor, eu respirei fundo. Precisava começar a ter um pouco menos de vergonha dos selecionados. Eu estava ali para costurar para eles. Teria que encontrá-los uma boa parte do meu tempo. E tocá-los também.
Só o pensamento já me fazia sentir meu rosto corando. Encostei as costas da minha mão para ver se estava mesmo quente. Não estava. Ainda não tinha acontecido o pior. Uma andada até o quarto do selecionado ajudaria a me acalmar.
A voz de Madison dentro do ateliê foi o que me fez começar a andar. Parecia estar bem perto da porta e a última coisa da qual eu precisava era dela me encontrando ali, enrolando para fazer o que ela tinha pedido.
Meus primeiros passos foram mais uma corrida. Mas quando tinha virado o corredor, diminui minha velocidade. Suar não ajudaria o meu rosto a ficar menos vermelho. E também não queria que Dane Lewis pensasse que eu estava daquele jeito por ele.
Ai, deus. Será que eu teria que encontrá-lo? Era o final da tarde, ele poderia estar se arrumando para o jantar. E eu entraria no quarto dele bem nessa hora.
Ele poderia estar saindo do banho.
Não, Maggie, pelo amor de deus. Não pense besteira. Assim você não vai conseguir voltar à sua cor normal antes de chegar lá.
O plano teria que ser simplesmente deixar o casaco com uma das suas criadas. Isso. Elas já estavam acostumadas a vê-lo saindo do banho.
Droga. Eu precisava tirar essa imagem da minha cabeça.
Estava chegando perto da escadaria principal, quando avistei um banheiro feminino. Entrei sem pensar duas vezes. Deixei o cabide pendurado em uma das cabines e me mirei no espelho.
Meu deus! Como eu podia não estar quente, eu estava vermelha até a minha testa!
Abri a torneira e comecei a jogar o máximo de água que conseguia na minha cara, mas não era a coisa mais fácil do mundo. No final, as mangas compridas do meu vestido estavam mais molhadas do que meu rosto. E quando voltei a me esticar e olhei no espelho, percebi que a água só tinha parcialmente ajudado a me refrescar - mas tinha estragado completamente meu delineador. As pequenas pontas que eu tinha feito para lembrar um pouco o estilo dos anos sessenta do século vinte tinham desaparecido. Eu parecia estar sem maquiagem.
Minha sorte.
Depois de ter limpado meu rosto com as toalhas mil vezes e ter me contentado com o look que eu teria que usar até poder pegar minha bolsinha de maquiagem novamente, eu saí do banheiro.
Quanto mais rápido eu chegasse lá, mais rápido eu deixaria esse casaco com as criadas dele e poderia voltar para o ateliê.
Espero que o outro selecionado já tenha saído de lá quando eu voltar.
O segundo andar parecia vazio de onde eu tinha podia ver. Contei desde o primeiro quarto do selecionado que eu sabia que era o Manchester até achar o que devia ser o do Dane. Só para ter certeza, eu perguntei para o guarda que estava mais perto e ele me confirmou que era aquele mesmo.
A porta estava entreaberta, então tive que dar uma certa distância para conseguir respirar fundo e me preparar para o que iria acontecer. Eu bateria na porta, falaria com a primeira criada que encontrasse e não iria, de jeito nenhum, olhar para ele se ele estivesse com uma toalha enrolada na cintura.
Senti as minhas maçãs do rosto começarem a formigar e bati na porta. Talvez conseguisse desaparecer dali antes de corar mais uma vez.
A porta abriu com a minha batida e eu puder olhar rapidamente para o seu quarto. Mas não vi ninguém.
Elas deviam estar com ele no banheiro. Droga, eu não precisava dessa imagem na minha cabeça!
Olhei como podia o quarto. Respirei fundo mais uma vez e entrei só o suficiente para apoiar o casaco na cama dele. Mas tive que dar vários passos até chegar nela. Precisava ser tão longe da porta?
Do pé da cama, eu podia ver o banheiro. A porta estava aberta. E parecia vazio.
Eu não iria me arriscar de ir checar, não é?
Mas realmente parecia vazio. Eu podia ver o espelho e se tivesse alguém ali dentro, eu saberia, não?
Dei mais alguns passos, me inclinando para conseguir ver um pouco mais do banheiro. Até que cheguei na porta e a empurrei.
Estava certa. Não tinha ninguém ali.
Me voltei para o quarto. De repente, ele parecia bem menos assustador. E até consegui observar algumas coisas. Como uma bola de basquete ameaçando encardir o tapete.
Podia ver sua mala embaixo da cama e alguns livros no criado-mudo. De fisioterapia. Era isso que ele fazia? Ele era fisioterapeuta?
O quarto em si parecia vazio, mas, do outro lado cama, um mural enorme ocupava o que dava da parede até a primeira porta da varanda.
Não consegui controlar minha ansiedade. Antes que eu pudesse me convencer de que era uma má ideia, dei a volta na cama e só parei quando estava de frente para as fotos.
A maioria delas eram de grupos inteiros. Quase todos homens, vestidos de farda e olhando para o fotógrafo sem poder mexer um centímetro. Minha segunda suposição era que ele era fisioterapeuta do exército. Nós passávamos muito tempo analisando as medidas físicas dos selecionados, ninguém quis nos contar o que eles faziam. E nem nos davam tempo de assistir qualquer um dos programas de fofoca que falavam dele.
Mas tinha uma foto dele na frente de um avião. Várias, aliás. E tinha uma tirada pelo próprio piloto. Ele usava um capacete que me impossibilitava de ver quem era. Mas eu queria acreditar que era Dane. Pilotos de avião são muito legais. E ele tinha cara de piloto!
Continuei pelas suas fotos. Ele tinha várias com uma mulher mais velha que eu presumi ser sua mãe. Ela o abraçava e o apertava tanto, parente dele eu tinha certeza de que ela era! Mas apostaria que ele era seu filho pela maior foto, dele com ela e um homem que era a cara dele! Aquela era uma típica foto de família. E como ele estava com sua farda - que eu imaginava ser especial para pilotos, - aquele deveria ser o dia em que ele tinha se formado.
Pilotos se formam?
Bom, continuei pelas fotos. Algumas de natal, outra dele sentado em uma mesa de tatuagem e fazendo uma careta enquanto um cara trabalhava na sua perna. Uau. Eu bem que gostaria de saber qual era o desenho da sua coxa. Parecia grande. E escondido.
Mesmo que eu quisesse muito continuar olhando para aquela foto, me forcei a baixar os olhos. Haviam várias dele com um cachorro. Na primeira, não podia ter certeza, mas vendo as outras eu podia jurar que o cachorro não tinha uma perna! Ele tinha um cachorrinho tripé!
Ri sozinha. Que bonitinho, um cachorrinho tripé. E ele cuidava dele. Onde será que o cachorrinho estaria agora?
Tinha bastante foto de viagem também. Várias no que eu imaginava ser a Nova Ásia. Muitas em um deserto qualquer. Ele sem camisa. Ele era bem bonito sem camisa. Mas não fiquei olhando muito também não.
Tinha uma menina que aparecia bastante nas fotos dele que me parecia familiar. Mas eu não conseguia me lembrar de onde.
Estava para me abaixar para ver as fotos mais embaixo do mural, quando uma coisa me chamou a atenção. Só tinha visto pelo canto do olho, mas, ao me virar, vi que era um papel saindo do livro de fisioterapia. Puxei só um pouco mais para fora, só para ver o que era. E o máximo que eu consegui ver foi a data, escrita à mão.
E então uma voz me chamou, escondendo um sorriso no meu nome. "Margaret?"


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