Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 56
Capítulo 56: POV Danio Vicenza


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Jimmy Iovine" do Macklemore.



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Podia praticamente apostar na hora exata em que eu tinha decidido como seria meu primeiro encontro com a Princesa Lola. Saberia também falar do segundo, do terceiro, de vários. Todos programados, antes mesmo do inevitável acontecer e ela me escolher. No momento em que eu decidi que participaria e ganharia essa seleção, eu sabia como a conquistaria.
Os outros selecionados seriam simples. Eles a levariam para assistir um filme ou conversariam em cima de qualquer comida comum. Eles achavam que Lola era só uma mulher que eles precisavam cortejar. Eu sabia quem ela era. Eu sabia que tipo de mulher ela era. E do que ela realmente precisaria para ser convencida a me escolher como o seu rei.
Impressioná-la, era isso que eu queria fazer. Encontros no nível dela. E no meu.
Comecei com um que eu já tinha treinado antes, para não fazer feio.
"Como você conseguiu isso?" Ela quis saber, quando nós entrávamos no Grande Salão. Seu rosto estava difícil de decifrar, mas ela parecia ou surpresa e feliz, ou um pouco assustada.
Não seria um problema se ela estava com medo, era para tirá-la da zona de conforto, era para ela não ter encontros parecidos. Eu ainda estava seguindo o caminho que tinha decidido traçar.
"Eu os livrei de um processo uma vez," falei.
"Suborno de juiz?" Ela me perguntou, se virando para mim. Andava na minha frente e não parou, dando alguns passos de costas em direção ao picadeiro falso montado no meio do salão.
"Não, eu os paguei," expliquei, antes que ela pudesse achar que eu era corrupto ou qualquer coisa parecida. "Mas foi como eu os conheci."
Os malabaristas nos esperavam para serem nossos professores pelo dia. Lola usava o vestido leve que eu a tinha instruído a escolher, e, conforme ela andou entre eles para se apresentar, a sua saia levantou levemente, mostrando sua coxa. Ela estava de costas para mim e não me viu a observando.
Uma batida veio à porta e uma das criadas ali foi abrir. Só quando as câmeras já estavam do meu lado, que eu me lembrei que tinha pedido para aparecerem.
Lola olhou delas para mim e eu pude perceber quando ela endireitou suas costas, desconfortável. Eu andei até ela, me esticando para alcançar seu ouvido enquanto minhas mãos a seguravam pelos ombros.
"Finja que eles não estão aqui e logo você não os perceberá mais," falei baixinho.
Assim que me afastei para a olhar nos olhos, ela deu um passo para trás, se livrando das minhas mãos.
"Vamos começar?" Sugeriu, se virando para os malabaristas. "Você já fez isso antes?" Me perguntou.
"Não," menti, e um deles se virou para me olhar esquisito. Eu o ignorei, esperando que ele não se atrevesse a me contestar. "Achei que podíamos tentar pela primeira vez juntos."
"Com qual vocês preferem começar?" O malabarista mais velho perguntou, seu nome John. "Bolas ou pinos?"
"Qual o mais fácil?" Lola quis saber.
"Bolas."
"Quero os pinos," ela respondeu, sem hesitar.
Não pude evitar de sorrir pelo seu jeito, apesar de que ela se manteve bastante séria.
John deu de ombros levemente, depois pegou dois pinos e entregou para ela, explicando o movimento de deixá-los escorregarem pela mão antes de jogá-los ao ar. Depois nos falou que o mais fácil de se fazer é não olhar para nenhum, mas concentrar seu olhar mais no horizonte, reconhecendo o movimento de cada pino e cada bola com o canto dos olhos e por pura dedução. Ele continuou a aula, deu exemplos, nos viu fazer, corrigiu movimentos.
Eu fiz cara de quem estava prestando atenção, apesar de já ter ouvido tudo aquilo várias vezes. Lola também o ouvia, mas de verdade. Depois de tentar algumas vezes e errar, ela foi melhorando. Eu fingi meu próprio desenvolvimento. E logo os malabaristas estavam longe de nós, nos deixando conversar e treinar juntos.
As câmeras estavam também afastadas demais para o meu gosto, mas sabia que, se chegassem mais perto, Lola ficaria esquisita de novo. Então não me importei.
"Eu pessoalmente acho que o trabalho que seu pai fez foi incrível," eu falava a certa altura, me concentrando mais no assunto do que em jogar os pinos de plástico no ar. "Ele me fez mudar de ideia."
"Como?" Ela me perguntou, sem tirar os olhos dos dela, que dominava cada vez mais.
"Eu mesmo sempre pensei que fosse melhor iniciar um plano de privatização das escolas e do sistema de saúde. Andei lendo sobre o Reino Unido e vocês gastam muito com isso, o que deixa faltar para várias áreas que eu considerava negligenciadas."
"Considerava?" Ela pegou seus três pinos e parou para me observar.
"Depois do discurso do seu pai, eu entendi porque vocês devem continuar com o plano de agora. E até iniciar um ainda mais abrangente," mentira, pensei para mim mesmo.
Era burrice do Reino Unido achar que tinha a competência da Escandinávia para manter o sistema de saúde e escolar públicos, especialmente com tantos países pobres e afastados ainda sob seu governo. Mas não seria assim que eu a convenceria.
"E a dívida?" Ela me perguntou, voltando a jogar seus pinos no ar.
"Qual dívida?" Eu fingi não saber exatamente do que ela falava.
Aquele era um assunto que eu estava reservando para outra hora.
"A que nós perdoamos," ela continuou. "Se você pensa que nos falta dinheiro para projetos importantes, que nós estamos negligenciando áreas do nosso reino, quero saber o que pensa da dívida que nós perdoamos a outros países. Acha que deveríamos tê-la cobrado e usado o dinheiro para isso?"
Dei de ombros, ganhando tempo para pensar em algo que não fosse completamente mentira.
"Aí é mais complicado," foi o que eu falei.
"Complicado como?" Ela insistiu, apesar de continuar com os pinos, sem olhar para mim.
Olhei à nossa volta, procurando na minha cabeça algo para dizer. Meus olhos caíram nas câmeras, me fazendo voltar a olhar para a Lola e sorrir convincente para todos do mundo que estariam nos assistindo.
"Não questiono a decisão que seu pai tomou-"
"Eu que a tomei," me cortou.
"Perdão?"
Ela parou com seus pinos, segurando dois e deixando o terceiro cair no chão. "Fui eu quem decidi perdoar a dívida. Eu que decidi que uma boa relação com os países era mais valioso do que um dinheiro do qual nós não precisávamos."
"Como não precisam?" Não consegui me segurar de perguntar. "Para um reino velho e tradicional, vocês tem pouco exército. Não conseguiriam se defender em uma guerra nem por dois dias."
"Nós não estamos em guerra," ela respondeu, calma.
"Mas poderiam entrar," a contestei. "E a qualquer minuto. Contra a Irlanda, a França, a Holanda. A própria Escandinávia estava querendo aumentar seu reino."
Ela bufou uma risada, sem humor mas com deboche o suficiente para me fazer travar minha mandíbula.
Ela não te conhece, Danio, eu repeti na minha cabeça. Ela não sabe o que é começar uma discussão com você.
Ela se abaixou para pegar o terceiro pino e eu aproveitei para respirar fundo. Quando voltou a me mirar, eu já sorria para ela.
"A Escandinávia nunca entraria em guerra conosco," ela me garantiu. "E se é exército que você quer, Hampshire," ela deu um passo na minha direção chegando perto o suficiente para as câmeras acharem que estávamos dividindo um momento romântico, "Illéa me irá garantir exércitos. Você deve saber que é por isso que eu escolhi essa aliança."
Sem que eu a respondesse, ela deu um passo atrás e se virou para os malabaristas. "Vamos tentar acrobacias agora?"


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