Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 54
Capítulo 54: POV William Owens


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Promises" do Wiz Khalifa.



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O almoço dos selecionados foi só isso mesmo. Almoço de selecionados. Nem a família real, nem a Princesa Lola estavam lá. Até a mesa de convidados do castelo estava vazia. E tudo que nós falávamos ecoava pela Sala de Jantar. Marlee Woodwork nos explicou que poderíamos almoçar nos nossos quartos quando quiséssemos, que era difícil almoçarmos todos juntos, pois a família real normalmente tinha compromissos que não permitiam que se encontrassem na mesma hora. Nós raramente veríamos outra pessoa ali para almoçar com a gente.
Mas ninguém pareceu se importar. Todos conversavam naturalmente e eu fiquei feliz só de saber que Ian não estava conosco. Mesmo depois da noite anterior, Dylan ainda achava que nós éramos amigos e fez questão de se sentar do meu lado, me contando de sua vida, tentando exibir cada centímetro. Eu fingia que achava tão incrível as noitadas de adolescente dele indo e vindo da casa dos pais, mas era mais porque não queria causar outros problemas. Se a princesa começasse a achar que eu era briguento, poderia me tirar logo dali. E eu ainda precisava de mais algumas semanas de reclusão.
A comida do castelo era boa, mas eu já sentia falta da comida da minha tia. Tinha certeza absoluta de que em três dias eu já estaria sofrendo de saudades. Ter que almoçar qualquer coisa ao invés da macaronada da minha tia no domingo seria tortura. Até já podia me ver sentindo falta de toda a gritaria da família, todo mundo batendo porta e boca, rindo alto, crianças para todo lado, e minha avó reclamando que a comida da minha tia não era temperada direito.
Mas aquelas lembranças me faziam pensar em Jem. E eu podia imaginar que seu casamento seria igual. A diferença seria ele, de terno. E Tessa vestida de branco.
Eu estava tão preocupado com meus pensamentos, que nem percebi quando o almoço tinha acabado. Olhei à minha volta para descobrir que estava sozinho. Todos já tinham ido embora e metade do meu prato ainda estava cheio. De longe, uma criada me esperava, de pé, perto da parede do outro lado da sala.
"Me perdoe," eu pedi, me levantando e empurrando a cadeira.
"Algum problema, senhor?" Ela correu o melhor que podia até mim sem perder a pose.
"Não, pelo contrário. Eu não deveria ter demorado tanto."
Ela sorriu, mas mirou o chão. "Posso esperar o tempo que for, senhor."
O tempo que for? Então se eu resolver demorar horas, ela terá que passar o tempo todo de pé, me esperando?
"Já terminei," falei, sem saber bem o que fazer. Minha vontade era pegar o prato e levar até a cozinha. Mas acabei deixando-o ali, para que ela se ocupasse dele. Tentei ignorar minha culpa até sair da Sala de Jantar, não sabia muito bem ter criados. Tinha passado a vida inteira ajudando a minha família. Entendia o rei e a rainha ter alguém para ajudar. Mas o que eu tinha para fazer ali? Além de esperar a princesa ver que eu não me interessava por ela? Podia muito bem cuidar das minhas sujeiras.
Andei até o Salão dos Homens sem pensar muito. Quando cheguei lá, Dane e Ian jogavam uma pequena bola em uma cesta no canto do salão, Keon dormia perto deles em uma poltrona, enquanto Danio e Thor jogavam xadrez. Dylan tomava conta do video game com Alaric. E os outros liam. Considerei muito bem a opção de entrar. Podia me juntar a Dylan, apesar de já poder imaginá-lo como um péssimo perdedor. Poderia escolher um livro também, mas não estava muito afim de parar e me sentar. E nem de longe queria chegar perto de Ian.
Mal tinha colocado a cabeça dentro do salão e eu já saía. Minha primeira ideia era ir para o meu quarto e ficar por lá, talvez estudar um pouco sobre a Escócia e Edinburgh. Mas tinha que passar pelo quarto de Keon no caminho. E a porta estava entreaberta, só o suficiente para eu ver que suas criadas arrumavam suas coisas.
Parei na frente, olhando para dentro, só para ter certeza de que Carol era uma delas. Mas eu procurava pelos cabelos castanhos, lisos e compridos. Percebi que até esperava que ela ainda estivesse de vestido. Mas só vi uma criada passando bem rápido do banheiro até a cama.
Empurrei um pouco mais a porta. Ela estava de costas para mim, ajeitando alguma coisa na cama. Seu cabelo parecia mais escuro do que na festa. E bem mais enrolado. Mesmo preso, ainda conseguia ver cada um dos cachos rebeldes e loucos para serem livres. Era quase como se fosse completamente novo.
Podia jurar que era ela, nem que fosse só pelos seus modos, seu jeito de mexer que me era familiar. Me deixei observá-la dobrando tecidos e murmurando para si mesma uma melodia simples e calma. Até me apoiei no batente da porta, esperando ter pelo menos mais alguns minutos a assistindo.
Mas a outra criada saiu do banheiro e deu um grito de susto ao me ver.
"Perdão," pedi, me virando para ela, depois olhei para Carol, que me mirava como se tivesse levado um tapa.
Foi nossos olhos se encontrarem para ela olhar para baixo, quase como se quisesse esconder seu rosto todo de mim.
Mas eu queria vê-lo. Queria ver como ela era sem a máscara. Era engraçado, pois pensava que o disfarce deveria realçar a aparência de alguém, que o vestido deveria tê-la deixado mais bonita. Mas seu uniforme e talvez a falta de maquiagem e enfeites era o que provava que ela era linda de verdade. Ali, desarrumada e usando a mais simples das roupas, ela ainda era estonteante. Tanto, que eu demorei para prestar atenção no que a outra criada do seu lado me perguntava.
"Perdão?" Pedi, me virando relutantemente para ela.
"O senhor precisa de alguma coisa?" Assim que eu a ouvi, me lembrei da que tinha me esperado na Sala de Jantar. Será que aquela era a frase padrão delas? E se fossem elas que precisassem de ajuda?
"Eu preciso conversar com Carolyne sozinho," pedi, fazendo-a arregalar os olhos.
Ela olhou para Carol, que assentiu com a cabeça. E depois de olhar para ela, não fiz questão de ver a outra criada saindo pela porta e a fechando atrás dela.
Nós ficamos sozinhos. E eu estava ocupado demais observando os poucos cachos que conseguiam fugir de serem amarrados e que emolduravam seu rosto. Sua pele era branca como porcelana, o que só realçava o castanho escuro do seu cabelo. E seus olhos eram azuis, familiares e ainda mais tímidos do que os que eu tinha visto na noite anterior, agora sem o escudo da máscara.
"Senhor," foi só quando ela falou que eu me lembrei do porque eu precisava vê-la.
Pigarreei. "Carolyne, eu gostaria de me explicar por ontem," comecei.
"Não há o que explicar," ela insistiu e vi quando segurou uma mão com a outra um pouco mais forte à sua frente, descarregando ali todas as palavras que ela queria evitar que trocássemos.
Ela ainda não me mirava, então dei alguns passos em sua direção. "Não quero que ache que minha intenção era fazer algo inapropriado," falei, engolindo a seco. "Eu me deixei levar no momento, mas lhe agradeço profundamente por ter pensado melhor do que eu."
Ela levantou os olhos para mim, como se tivesse acabado de me perceber ali.
"Acho que você sabe que meu coração é de outra," continuei, tentando conseguir explicar sem lembrar exatamente de Tessa. "E não quero que pense que eu estava tentando me aproveitar de você. Eu tinha bebido e você foi tão gentil comigo-"
"Não se explique," ela pediu, dando um passo para trás, quase se sentando na cama. "Eu entendo. E prefiro esquecer."
Aquilo deveria ser uma coisa boa, mas me pareceu um pouco ofensivo na hora. Por sorte, ela mesma resolveu continuar falando.
"E eu sei que seu coração é de outra," ela disse. "Apesar de que você ainda não me contou como isso aconteceu."
Ela se virou de volta para a cama e continuou arrumando o que pareciam cobertas.
"O que você quer saber?"


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