Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 53
Capítulo 53: POV Alaric Harrison




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"Acho que deixar nosso encontro para amanhã foi uma boa ideia," falei, entrando na Sala de Cinema.
"Como é?" Ela jogou a cabeça para trás e nossos olhos se encontraram.
Eu sorri. "Assim eu tenho tempo de arranjar uma armadura," completei. Ela revirou os olhos e se voltou para o que fazia na pia da pequena cozinha ali. "O que aconteceu com ele?" Perguntei, entrando e fechando a porta.
A Sala de Cinema parecia conseguir abrigar confortavelmente umas sessenta pessoas, mas a cozinha escondida no canto perto da porta era bem menor. E mesmo assim, a figura delicada de Lola parecia bastante inofensiva ali. De longe, me dei ao direito de poder observá-la de cima abaixo. Não queria pensar que ela tinha escolhido aquele vestido justo e curto para Ian, mas aceitava poder vê-la assim.
Quando cheguei mais perto, vi que ela esfregava uma panela com bastante raiva.
"Sabe que existem criadas para isso, não é?" Perguntei.
Ela não respondeu de novo, só continuou descontando na pobre panela.
"Lola," eu chamei, mas ela me ignorou. Então a toquei no braço. "Princesa."
Como se levasse um susto, ela puxou o braço para longe de mim, dando um passo para longe da pia e soltando da panela. Mas a esponja continuava na sua mão.
"Você precisa sair daqui," ela disse, respirando rápido. "Tem câmeras por aí, eles podem te pegar aqui."
"Eu sou um dos selecionados, aonde mais eu deveria estar?"
Ela bufou uma risada irritada. "Qualquer lugar que não fosse tentando atrapalhar o meu encontro com outro!"
Esperei alguns segundos só olhando para ela, tentando deixá-la se acalmar.
"Eu só vim ver o que tinha acontecido, se precisava da minha ajuda," falei, meu tom completamente inofensivo.
Ela revirou os olhos. "Você realmente quer que eu acredite nisso? Eu te vi no jardim, nos seguindo!"
Respirei fundo e enquanto eu pensava na minha resposta, ela voltou à pia, abrindo a torneira em cima da panela.
"Eu sei, não devia ter seguido vocês," admiti, para a sua surpresa. Ela olhou por cima do ombro para mim, franzindo sua sobrancelha. Ela ainda estava brava, mas eu esperava que aquilo não durasse. "Eu vi vocês pela janela e pensei que poderia ter uma desculpa para estar perto. Mas agora vejo que deveria ter ficado longe. Me perdoe."
Ela desligou a torneira. "Por que deveria ter ficado longe?"
"Como?"
"Você disse que agora vê que deveria ter ficado longe," ela repetiu. "Quero suas razões. Me convença de que está falando a verdade."
Ela soltou a esponja e cruzou os braços, se virando para me mirar completamente de frente. Fez questão de levantar o rosto, ainda ignorante a como aquilo me fazia querer chegar mais perto dela.
Não me deixei desviar o olhar do dela por um segundo. "Eu andei pensando," comecei, "primeiro durante o café da manhã, mas principalmente depois que você veio para dentro com ele. Eu preciso te dar seu espaço. Eu vim mesmo aqui por você. E depois de ontem, eu só tenho mais certeza absoluta de que você é perfeita," sem pensar no que fazia, dei um passo em sua direção, chegando relativamente perto dela. "Ainda tenho muito o que conhecer de você, mas tenho certeza de que você é perfeita. Senão em tudo, então para mim. Mas não quero ganhar por W.O. Não quero ser a única opção. Agora eu vejo que o certo é te deixar conhecer cada um desses infelizes que você trouxe para cá. Porque eu sei que você vai acabar me escolhendo mesmo assim."
Ela balançou a cabeça de leve, mas seus lábios escondiam o menor dos sorrisos. "Como você pode ser tão confiante assim?" Perguntou, quase retoricamente.
Dei de ombros e olhei para o lado por um milésimo de segundo. Quando nossos olhos se encontraram de novo, a mirei mais fundo, dando um mínimo passo para a frente.
"Eu preciso acreditar nisso com todas as minhas forças," falei. "Só assim para eu saber que vale a pena. Mesmo que não seja verdade, mesmo que eu esteja longe de conseguir fazer você olhar para mim como eu olho para você, eu prefiro acreditar. Prefiro uma confiança idiota a uma dúvida que só vai me assombrar."
Ela soltou um dos braços e esfregou a testa com sua mão. "Essa pressão para eu te escolher-"
"Não," por reflexo, me aproximei dela, pegando sua mão e a segurando com as minhas duas. "É isso que eu não quero. Não quero que se preocupe comigo, eu cuido de mim. A única coisa que você precisa fazer é me dar a mesma chance que está dando para os outros. E eu te deixarei em paz enquanto estiver com eles. Não que eu vá gostar," acrescentei, dando de ombros. "Mas eu me viro. Você já tem pressão demais."
Ela me mirava, como se ainda estivesse esperando que eu fosse dar sinais de estar mentindo.
"Você está certa, eu também me deixei levar ontem," continuei. "Mas você só estava me vendo e tinha passado a festa inteira comigo. Eu já costumo ser chamado de convencido, aí você vem e me dá uma noite inteira de provas de que eu estava fazendo tudo certo. Como você queria que eu não ficasse me achando? E depois o banho de água fria na entrevista."
"Eu não devia ter te tratado daquele jeito," me cortou, para a minha felicidade. "Mas eu estava tentando equilibrar."
"Eu entendi," garanti. "Mas não vou dizer que não feriu um pouco meu orgulho."
"Um pouco?" Ela fingiu estar ofendida.
"Tá, muito," admiti, e ela sorriu. "Desculpe pela minha explosão."
"Não tem problema," ela disse. "Sorte que não havia nenhuma câmera na entrevista."
"Elas vão te seguir sempre agora?"
Ela respirou fundo. "Não sei, na verdade. Woodwork me avisou dos horários, mas eu não me lembro."
"Bom, elas já foram embora agora," falei. "Eu vi um cara saindo daqui com uma, ele encontrou os outros e saíram do castelo. Ou então estão na entrada, esperando que um selecionado faça um escândalo, ameace ir embora e vá de verdade."
Só quando eu tinha terminado que ela percebeu que eu estava brincando e que a referência era a mim mesmo. Ela pareceu tentar sorrir, mas sua mão esfregava a nuca.
Eu olhei à nossa volta, à panela cheia de água que ela tinha estado limpando.
"O que aconteceu aqui que o Ian teve que sair correndo?" Perguntei. Ela inclinou a cabeça, me mirando esquisito. "Não se preocupe," eu disse. "Não estou procurando razões para achar que o encontro deu errado e que eu estou ganhando."
"O encontro deu errado," ela falou. "Bom, na verdade, não. Foi bom. Só o final que teve que ser adiantado," ela se virou de volta para a pia e despejou toda a água da panela.
"Por que você que está lavando a louça?"
"Porque," ela começou, bufando rapidamente, "se não fosse por mim, nada teria acontecido. Belfast não teria queimado a mão e o caramelo não teria grudado."
Eu olhei para as coisas que estavam em cima da pia. Além da panela, estava um pote inteiro de pipocas. E só então eu vi que elas se espalhavam pela cozinha.
"O que você fez que desencadeou essa quantidade de tragédias?" Perguntei.
"Reclamei que não tinha caramelo," ela respondeu, voltando a esfregar a panela.
Eu segurei seu pulso para que parasse. Ela me mirou, confusa.
"Você vai estragar sua mão fazendo um trabalho que uma criada poderia levar dois minutos para terminar," falei.
"Mas a culpa é minha!" Ela insistiu. "Eu não vou pedir para ninguém estragar a mão deles quando eu que causei tudo! Aliás, Belfast já estragou a mão dele!"
"Por que você insiste em chamá-lo de Belfast? Ian é muito mais rápido!"
"Porque é o único jeito de eu conseguir me lembrar que estou fazendo isso pelo meu país!" Ela soltou, tão alto que eu larguei de seu pulso. Ela respirou fundo, depois me mirou. "Essa tradição é de vocês. Os candidatos são daqui. Eu sou a hóspede. Esse é meu único jeito de conseguir transformar isso tudo em uma coisa para o Reino Unido. E, sim, cada dia que passa eu sinto que estou me perdendo. Ou perdendo o meu reino. Então se eu tiver que chamá-lo pela capital da Irlanda do Norte, eu o chamarei pela capital da Irlanda do Norte!"
Nós ficamos em silêncio alguns segundos, já que nem eu nem ela estávamos esperando aquele desabafo.
"Belfast é a capital da Irlanda do Norte?" Foi meu jeito de tentar amenizar o clima.
Mas só a fez me mirar como se tivesse levado um tapa na cara.
"Eu vou precisar testar vocês em conhecimentos gerais sobre o Reino Unido!" Soltou, ainda inconformada.
"Eu estava brincando-"
"Se vocês chegarem lá, soltando coisas como essa, vai ser complicado!" Continuou, sem me deixar falar.
Eu deixei que ela respirasse de novo antes que eu falasse outra coisa.
"Eu estava brincando," repeti, dessa vez conseguindo que me ouvisse. "E pode deixar. Quando você me escolher, eu já saberei de cor todas as cidades e habitantes do Reino Unido."
Ela revirou os olhos para mim, mas sorria. Aquele era o jeito que eu a conquistaria. Um pouco de humor em cima dos meus defeitos e ela não se incomodaria mais com eles.
"Vem," falei, a puxando pelo braço e a fazendo olhar esquisito de novo para mim. "Vamos chamar uma criada para colocar essa panela em uma lava louças. Você precisa ir se arrumar para o seu próximo encontro. Que deveria ser comigo, né. Mas-"
"É com o Hampshire," ela disse, puxando discretamente suas mãos para longe de mim, mas ainda assim me seguindo para fora da Sala de Cinema. "Mas é só de tarde," completou quando já estávamos no corredor.
"Ah, é?" Perguntei, entrando na sua frente para forçá-la a parar de andar. "Eu sei como nós podemos ocupar as horas até lá," disse, piscando com um olho só.
Claro que ela não poderia se abalar com aquela tentativa barata de conquistá-la. Ela levantou o rosto para mim, me desafiando a continuar sério.
Mas eu não consegui. Estava a menos de um metro dela e seria impossível nem sorrir para aquilo. Ela se limitou a me observar.
"Está bem, eu te deixarei em paz," declarei, levantando minhas mãos no ar e tirando meus olhos dela por só um segundo. Depois dei o mínimo passo que tinha entre nós. "Mas eu te vejo amanhã cedo então," falei, meu rosto a um palmo do dela.
O máximo de reação que tive foi ela abrindo a boca só um centímetro. Eu sorri de lado, dei meia volta e continuei meu caminho pela direção contrária a que eu sabia que levaria ao seu quarto. E, na minha cabeça, eu já planejava como eu me esconderia no meu, deixando que ela sentisse minha falta no jantar.


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