Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 50
Capítulo 50: POV Blake Arely


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Beg For It" da Iggy Azalea.



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Saí da Sala de Jantar e andei na direção contrária da princesa. Caminhava tão devagar, que consegui ouvi-la falando com Ian e Danio.
Eu já tinha ficado ansioso mil vezes com aquele trabalho, especialmente com aquela missão. Será que algum dia eu me acostumaria?
Depois de alguns segundos sem ouvir nenhum barulho, eu virei o corredor e aproveitei para olhar para a princesa. Ela e Danio se afastavam um do outro, ele voltando à Sala de Jantar. Eu precisava subir pelas escadas laterais e aproveitar que todos os selecionados estavam ainda tomando o café da manhã. Começaria pelo quarto Ian, já que tinha certeza absoluta de que ele teria um compromisso. E até então, ficaria de espreita no meu quarto.
Estava chegando perto das escadas laterais, quando duas criadas passaram conversando. Eu as cumprimentei com um aceno de cabeça e comecei a subir.
Até que eu ouvi do que elas falavam.
"Não, é verdade! Me contaram que ele largou ela no meio do corredor!" A voz aguda de uma perfurou meus ouvidos e eu soube que falavam de mim.
"Mas que isso! Quem faria isso, quando foi ele mesmo que a derrubou?" A outra perguntou. Eu tinha parado de subir no meio da escada e senti uma pontada de culpa.
Podia imaginar Valentine indo até o quarto, mancando. Tinha estado tão preocupado com tudo da missão, que me esqueci dela.
"Não sei, viu," a primeira respondeu, sua voz ecooando pelo corredor. "Não sei!"
Droga. Aquilo não ajudava. Além da culpa, agora eu precisava conseguir fazer todos pararem falar de mim antes que fosse tarde demais.
Subi o resto da escada de dois em dois degraus, mas já não ia em direção ao meu quarto. Parei na primeira porta ali. Respirei fundo. E bati.
Uma criada abriu e sorriu para mim.
"Aqui é o quarto da Valentine DeChamps?" Perguntei.
"Quem ousa interromper minha manhã tediosa?" Era a voz dela, vindo de dentro do quarto.
A criada deu um passo para o lado, abrindo mais a porta, me deixando olhá-la.
Ela estava deitada na cama, com mil revistas abertas em cima dela e a televisão ligada à sua frente. Seu pé estava enfaixado, mas eu mal conseguia vê-lo no meio de suas cobertas.
"Ah," foi o que ela soltou quando me viu. "Você."
Outch, foi o que eu pensei. Ela realmente estava brava. Devia ser ela mesma que tinha espalhado todos os comentários pelo castelo.
Deus. Como eu descobriria todos os comentários sobre mim que poderiam estar rondando o castelo?
"Eu," falei, entrando.
A criada olhou de mim para Valentine, que a dispensou com um aceno de cabeça. Depois revirou os olhos quando estávamos sozinhos.
"Eu vim me desculpar," comecei.
"Era o mínimo que devia fazer, né," ela retrucou na hora. "Você insistiu para me trazer e me largou no meio do caminho! Se você queria tanto se livrar de mim, podia ter avisado na ala hospitalar e alguém teria feito esse trabalho tão insuportável no seu lugar. Mas não. Eu demorei a vida para conseguir chegar aqui. Tanto, que nem sentia meu pé quando finalmente deitei na minha cama!"
"Tão ruim assim?" Perguntei, indo me sentar perto dela.
"Sim!" Ela estava quase gritando, fazendo o maior drama. Mas era difícil levar a sério, era quase cômico. "Se eu não conseguir me mexer nas sessões de fisioterapia hoje, a culpa é sua!"
Tentei evitar o máximo rir, mas ela fazia gestos enormes e cada frase dela era falada como seu último pedido de clemência. Não era fácil continuar sério.
Ela percebeu, me mirando brava. "Acha que eu estou brincando?"
"Não!" Cortei, mas abrir a boca foi só o primeiro passo para eu sorrir. "Juro, não acho. Pode me mandar a conta da fisioterapia, se não der certo."
"Não é para existir a possibilidade de não dar certo!" Ela insistiu. "Meu pé é a minha vida!"
"Seu pé é a sua vida?" Aquilo era demais, eu bufei uma risada.
"Eu sou bailarina," ela disse.
E a risada morreu na minha boca.
"Você é bailarina de profissão?" Perguntei. Ela cruzou os braços e concordou com a cabeça, fechando os olhos. "Sério?"
Na minha cabeça, eu estava revisando rapidamente a ficha dela, enquanto ela me esperava falar outra coisa. Eu podia jurar que ela era bailarina por hobby. Achei que estivesse na faculdade. Tentei pensar na história de vida dela, mas toda vez que achava que estava lembrando de algo importante, eu misturava com a história da Princesa Gabrielle.
Sério mesmo que ela era bailarina de verdade?
"Uau," soltei, sem conseguir visualizar na minha cabeça onde dizia na sua ficha a profissão que seguia. "Eu realmente estraguei tudo, não é?" Perguntei, olhando para seu pé enfaixado.
"Na verdade, não," ela disse. Eu a mirei, franzindo a sobrancelha. "Já tive minha primeira sessão de fisioterapia hoje e não parece que inchou muito. Quase nada, para ser honesta. Não deve demorar para eu conseguir pelo menos voltar a treinar."
"Então por que você tá fazendo todo esse drama?" Perguntei, me levantando.
Ela deu de ombros. "Para ver se consigo te fazer se sentir culpado?" Não era uma pergunta.
Nós nos miramos, eu inconformado, ela sorrindo satisfeita.
"Da próxima vez, vou tentar esbarrar em alguém menos louca da cabeça," foi o que eu falei, fazendo-a abrir a boca.
Agora ela que estava inconformada.
"Louca, é?"
"Desvairada," minha vez de cruzar os braços, a imitando.
Ela segurou meu olhar por alguns segundos. Depois levantou as mãos no ar.
"Está bem," ela disse. "Se você acha que eu sou louca, talvez eu devesse ir falar para a Princesa Lola todas as coisas que eu penso de cada um dos selecionados dela! Ou talvez só daquele que tentou me aleijar!"
"Pode falar," soltei sem pensar. "Não me importo com o que ela pensa de mim."
Aquilo quebrou sua expressão do mesmo jeito que me quebrou por dentro. Ela me olhou esquisito, enquanto eu me sentia esquisito. Eu devia mesmo ser o pior espião do universo, soltando tudo que podia, aparecendo quando devia me mover pelas sombras. Já podia imaginar o tamanho da medalha que me esperaria na agência quando a missão terminasse.
Se eles pelo menos me deixassem entrar lá de novo.
"Você não se importa com o que ela pensa de você?" Valentine repetiu, para ter certeza de que tinha ouvido certo.
Eu engoli a seco. "Me importo, claro que me importo. Só não acho que ela vá te escutar."
Ela me observou por alguns segundos em silêncio, inclinando sua cabeça para o lado. Ela não acreditava em mim. Eu já tinha feito a besteira. Parabéns, Blake.
"Bom," falei, batendo uma palma, que a atordoou. "Já que seu pé está bem e eu já me desculpei, vou ver se consigo um encontro com a princesa ainda hoje."
Ela ainda franzia sua sobrancelha, duvidando das minhas intenções. Será que dessa vez ela conseguiria guardar as opiniões dela para ela mesma? E não sair contando para ninguém?
"Ah," falei, quando cheguei à porta. "Eu ouvi algumas criadas falando de mim. Queria te pedir para não comentar nada sobre mim, não quero que atrapalhe minhas chances com a princesa," ou a missão, completei na minha cabeça.
Ela deu de ombros. "Não falei nada para criada nenhuma," me garantiu. "Mas guardar segredo entre a família real é impossível. E a família real normalmente tem um relacionamento bem próximo com um guarda linguarudo."
"Como é?"
Ela fez um gesto para que eu não pensasse naquilo. "Deixa para lá. Não se preocupe. Vou me certificar de que não falem nada sobre você que possa diminuir as suas enormes chances com a princesa do Reino Unido. Eu não iria querer que você saísse desse castelo tão cedo!"
Eu a mirei, uma mão na maçaneta. "Não sei se você está sendo sarcástica ou não."
"Eu estou."


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