Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 5
Capítulo 5: POV Kyle O'Malley


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Melodie" do Cro.



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Só percebi que tinha apagado quando senti minhas pernas sendo jogadas para fora do sofá.
"Acorda, Kyle," era a voz de meu irmão, mas eu ainda não estava entendendo o que estava acontecendo.
Forcei meus olhos a abrirem, mas eles estavam pesados e eu mal conseguia mantê-los cerrados por mais de um segundo. Onde eu estava mesmo?
Sala do lado do jardim. Descobri pela luz do sol que batia quase direto na minha cara.
Verdade. Eu tinha decidido dormir ali porque achava que a luz não fosse me deixar apagar completamente e que conseguiria levantar quando fosse hora da reunião. Aparentemente, eu tinha estado enganado.
Até sentia um pouco de culpa, mas estava mais era querendo voltar a dormir.
"Vamos," ouvi a voz de Jack de novo, que me balançou pelos ombros.
Eu estava todo torto. Ele tinha jogado minhas pernas para fora do sofá para me forçar a sentar, mas o resto do meu corpo não tinha cooperado. E a insistência de meu irmão estava me deixando um pouco com raiva dele.
"Me deixa," eu o empurrei como dava e finalmente abri os olhos.
"Não posso, você precisa fazer as suas malas," ele tinha se sentado onde meus pés tinham estado um minuto antes.
"Eu não vou para a Nova Ásia," eu me sentei como dava do lado dele, mas meu corpo escorregou com a minha preguiça. "Papai já falou que não é de bom tom o filho do rei da Irlanda ficar 'curtindo' por lá," mesmo no meu estado, achei forças para fazer as aspas com os dedos.
"Não se preocupe, ninguém nem considera a opção de você voltar para lá," Jack disse, depois me deu um tapa no ombro. "Você vai para Illéa."
Eu tinha voltado a fechar meus olhos, mas abri um e virei um pouco meu rosto para olhar para ele. "Finalmente foi perdoado?"
"Quê?" Ele franziu as sobrancelhas para mim, mas logo entendeu do que eu falava. Como se eu pudesse ter falado sobre qualquer outra coisa. "Não, não sou eu quem vai, é você."
"Tá bom, irmão," eu lhe devolvi o tapa no joelho, já fechando meus olhos de novo. Era incrível como eu conseguia fazer aquela posição tão desconfortável parecer tão aconchegante. "Eu vou lá, eu vou lá e explico para eles porque é bobagem eles não te deixarem voltar para o país. Faz cinco anos que você roubou a menina do príncipe deles. Era só uma selecionada. Quem se importa?"
Alguém pigarreou em cima de mim e eu abri os olhos para encontrar Arya me olhando. Ela acenou para mim.
"Ela se importa," Jack completou.
"Desculpa aí," eu falei, me endireitando no sofá de novo. Mais alguns segundos e eu escorregaria completamente.
Arya deu a volta e se sentou na nossa frente. "E aí, ele aceitou?"
"Ele não tem que aceitar," Jack disse. "Já foi decidido."
"Mas seria bom saber o que ele pensa disso, pelo menos," ela deu de ombros.
"Tenho certeza de que ele vai nos contar-"
"Ei, vocês sabem que eu estou aqui, não é?" Apontei para mim mesmo e olhei de Arya para meu irmão. "Será que dá pra alguém falar diretamente comigo?"
"Agora você quer que a gente fale diretamente, mas na hora de comparecer para uma simples reunião, cadê você?" Meu irmão não parecia nada contente.
"Ei, me dá um desconto. Eu fui dormir tarde demais ontem," me defendi.
"Eu te darei um desconto quando você for dormir tarde, porque estava trabalhando e não porque estava bebendo!"
"Será que dá pra gente ir direto ao assunto aqui?" Arya nos interrompeu, fazendo nós dois olharmos para ela, que balançava suas duas pernas freneticamente. "Eu estou me segurando para não contar tudo, Jack. Não sei mais quanto tempo vou aguentar."
Olhei para ele, que parecia hipnotizado por ela, sorrindo como se a visse pela primeira vez. Só revirei meus olhos.
"Então eu vou para Illéa," falei, me apoiando de novo no encosto do sofá duro e ornamental. "Vai ter alguma festa importante lá? Mais alguém se casando?"
"Se tudo der certo," Arya disse, mordendo o lábio de antecipação.
"Não, mas o casamento não seria lá," Jack a corrigiu.
Vi um segundo de desânimo passar por seus ombros, mas logo ela já sorria de novo. "Melhor, que aí nós podemos ir! Se for em Londres, é claro."
"Se for o que em Londres? Do que vocês dois loucos estão falando?" Não sabia se era meu cérebro que ainda estava um pouco adormecido ou os dois estavam fazendo de propósito para me confundir.
"A Princesa Lola tomou uma decisão," Jack falou, depois de respirar fundo e se virar o melhor que dava para mim. "Ela resolveu que vai-"
"ELA VAI FAZER UMA SELEÇÃO MASCULINA!" Arya gritou com todo seu pulmão, nos fazendo dar pulos de susto.
Pronto. Eu estava completamente acordado.
"Desculpa," ela disse para Jack, que a olhava como se fosse louca. "Eu falei que não aguentaria mais nem um segundo. Você devia ter contado! Não é culpa minha se você espera que eu guarde um segredo como esse!"
"O que é uma seleção masculina?" Eu perguntei.
Ela revirou os olhos. "Não é óbvio? Ela vai selecionar homens do país todo para competirem pelo seu coração," Arya mesma parecia tentar segurar seu coração por cima do vestido. "Imagina que perfeito seria? Só os melhores homens do país ali, batalhando por ela!"
Seus olhos brilhavam tanto que ela quase parecia estar chorando.
"Bom saber que você gostou tanto da ideia," meu irmão disse e voltou a olhar para mim quando ela deu de ombros, não afetada pelo seu comentário. "Lola vai fazer essa tal de seleção masculina para encontrar seu marido."
"E o que Illéa tem a ver com isso?" Questionei.
"Ela vai fazer isso lá. Com homens de lá," ele viu como eu estava confuso e suspirou. "É o jeito dela de firmar a aliança. O pai diz que é pelo dinheiro, eu acho que é pelo exército. Arya acredita que é porque o país tem os homens mais bonitos do mundo."

"E tem," ela concordou, prontamente.
"Qualquer que seja a razão, ela está indo para lá amanhã. E você vai junto."
"Tá bom," aceitei e ele me mirou como se não tivesse entendido.
"Achei que você fosse pelo menos perguntar porquê," disse.
Eu sorri, satisfeito. "Não me interessa porquê. Quem, em sã consciência, perderia a chance de ver homens tentando conquistar Lola?" Soltei uma risada, que meu irmão imitou em um sorriso um pouco torto. "Vai ser a melhor coisa do mundo! Já posso ver, todos se fazendo de românticos e ela respondendo para cada um porque as ideias deles são ridículas! Sério, eu não perderia isso por nada nesse mundo!" Me levantei de uma vez. "Vejo vocês depois de fazer as minhas malas?"
"Não tão rápido," meu irmão levantou comigo. "Você não vai só como telespectador."
"Se você está sugerindo que eu vou ter que voltar com um selecionado, eu vou ter que te parar bem aí..."
Ele me mirou como não visse a menor graça na minha piada. Ele que era sem graça.
"Tá, vai," eu voltei a me sentar e ele fez o mesmo. "O que eu tenho que fazer? Descobrir segredos de estado? Matar o rei? Encontrar uma mulher para mim?"
"Nem fale em matar o rei!" Arya praticamente chorou do meu lado.
"Quase isso," Jack responde. "Não a parte de matar o rei, mas de encontrar uma mulher para você."
Revirei os olhos. Aquilo estava fora de cogitação. Eu não me casaria tão cedo. TÃO. Cedo. Mas se eu tinha que fingir que estaria procurando uma mulher para ver o fiasco que uma seleção masculina seria com a Lola, que fosse.
"Ele não tem que encontrar ninguém," Arya disse. "Ele já a conhece!"
"Verdade," meu irmão concordou.
"Do que vocês estão falando?"
Jack respirou fundo e me mirou mais fundo ainda, como se quisesse me hipnotizar para aceitar o que ele estava prestes a me falar.
"Você vai com Lola não para assistir, mas para tentar conquistá-la," ele disse.
"Conquistá-la pra quê? Tem algum projeto que a gente precisa do voto dela-" finalmente caiu a minha ficha. "Não, espera. Você não pode estar falando sério! Eu devo estar enlouquecendo!"
Me levantei na hora e andei até a janela que dava para o jardim. A verdade era que eu realmente não estava acreditando. E mesmo que eles falassem sério, era tão ridícula a ideia, que eu nem precisava me preocupar muito.
"É o nosso único jeito de conseguir juntar a Irlanda com o Reino Unido," Jack disse, vindo até mim. "É o nosso jeito de começar. Sem um guerra, eu quero dizer."
"Se você queria tanto juntar os dois países, por que não esperou para se casar com ela?" Perguntei.
"Ei!"
"Sem querer ofender, Arya," falei para ela, já voltando a me concentrar em meu irmão. "Mesmo que eu aceitasse essa loucura sua, em que mundo Lola iria querer se casar comigo? Honestamente, em que mundo ALGUÉM iria querer se casar com ela?"
"Nesse daqui!" Arya se levantou e foi até nós. "Eles só mandaram as cartas faz dois dias e já tem vários inscritos!"
"Só quem não a conhece," eu retruquei.
"Pensei que essa seleção era uma coisa engraçada," Jack cruzou os braços na frente dele.
"Só quando eu não faço parte dela!"
"Você não vai fazer parte dela. Você nem pode falar para ela que é por isso que está indo. Para todos de fora, você só vai para acompanhar a sua amiga de infância nessa jornada da vida dela."
"Jack, eu nem sei porque você está tentando me convencer," disse, o segurando pelos ombros. "Não. É. Uma. Opção."
"Exato," ele disse. "Não é uma opção. É uma ordem. E você precisa cumpri-la." Eu revirei os olhos e ele não pareceu nem um pouco feliz com aquilo. "Ou você se casa com ela, ou nós vamos ter que procurar uma princesa solteira na França."
"Não!" Respondi na hora. "Tudo menos a Amélie."
Ele sorriu, orgulhoso de si mesmo. "Sabia que você entenderia."
Sem me dar chance de contestar mais uma vez, ele pegou Arya pelo braço e os dois saíram andando.
Por que será que para mim o assunto não parecia finalizado? Será que ele não percebia que não existia universo onde Lola e eu seríamos um casal? Quem é que gostaria de ter que passar a vida inteira com alguém como ela, que nunca relaxa, só pensa em trabalho? Deus me livre.
Olhei para o jardim, onde começava a chover. Já estava cansado de tanta chuva e a primavera mal tinha começado a aparecer. Se pelo menos o verão chegasse mais rápido.
Hm. Verão em Illéa não seria uma má ideia. Pelo que eu tinha visto da Seleção do Príncipe Charles, as meninas de lá que eram espetaculares. Ficar em Dublin durante o verão inteiro quando eu poderia simplesmente curtir em Angeles seria muita burrice.
Mas me casar com Lola? A ideia nem conseguia se encaixar na minha cabeça! Quem era o louco que tinha pensado naquilo? Eu tinha quase certeza de que ela me mataria na primeira noite.
Bom, pelo menos a primeira noite valeria alguma coisa.
Ri sozinho da ideia, mas logo minha cabeça começou a funcionar a todo vapor.
Eu não precisaria me casar com ela. Só fingir que era essa a minha ideia. Eu faria minhas malas e a acompanharia até lá. Poderia até dar um pouco em cima dela quando alguém estivesse por perto para criar um certo rumor. Só rumor, nada que alarmasse o país inteiro. Só o suficiente para ninguém da Irlanda duvidar de mim completamente.
Depois eu voltaria falando que não tinha nada que eu pudesse fazer, que tinha feito meu melhor. Ela simplesmente não tinha se apaixonado por mim.
Seria perfeito. Por que eu estava tão preocupado? Não era como se alguém fosse comigo para se certificar de que eu estava cumprindo o acordo. Eu estaria sozinho para fazer o que quisesse.
Hm. Mas virar rei do Reino Unido não seria nada mal. Na verdade, seria ótimo! Eu poderia chegar ao trono bem antes do meu irmão, de um país maior, mais importante. E se a ideia era juntar os dois países, eu que ficaria com os dois. Eu. No trono. Dos dois.
Até que me casar com Lola não era das piores ideias.


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