Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 48
Capítulo 48: POV Amelia Woodwork


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Naked" da Avril Lavigne



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Eu já tomava o meu café da manhã, quando minha mãe entrou com os selecionados. Ela os indicou a mesa que eles ocupariam para o resto da estadia deles e cada um escolheu seu lugar. Foi quando ele se sentou bem na minha direção, que Alex me viu ali.
Sorri para ele do outro lado do salão, mas o selecionado do seu lado chamou sua atenção e ele não me devolveu o cumprimento. Me sentiria idiota, mas nem tive muito tempo. Elena exigia minha atenção do meu lado.
"E aí ele ficou insistindo para que eu fosse com ele para o quarto dele, mas eu me lembrei bem da promessa que fiz a você! E não fui, claro. Ele queria muito," ela parou de falar para todar um pouco do seu suco de laranja. "Mas eu acho que a sua teoria é boa. Quanto mais eu falava não, mais ele me implorava!"
Do outro lado do salão, Alex se servia sem conversar com ninguém. Vi quando ele recusou o café e prefiriu o chá. E seus olhos pousaram em mim.
"E você vai atrás dele hoje?" Eu perguntei para Elena, virando o rosto todo para olhá-la.
Eu nem ouvi a resposta. Só conseguia imaginá-lo me olhando. Fiz uma nota mental de me sentar do outro lado da mesa no dia seguinte, de costas para ele.
Quando Elena se levantou para alcançar bolinhos que estavam longe de nós, eu arrisquei olhar de novo para o meu prato. Aquela era uma boa distração, comida. Eu amava comer frutas de manhã, me despertava. Era fresco e saudável. E me ajudava a manter a forma, que eu tinha demorado tanto tempo para conseguir.
"Não é assim que você fala?" Elena me perguntou, voltando a se sentar. "Eles que precisam correr atrás."
"Não tem nada de errado em uma mulher ir atrás de um cara, Elena," eu disse. "O problema é você."
"Eu?"
"Sim! Você é muito fácil de ser conquistada!" Ela abriu a boca, indignada. "Nem vem, você sabe que é. Fica querendo um namorado, mas aceita ser tratada como qualquer uma."
Na nossa frente, Madison levantou o rosto de uma vez, para nos olhar. Foi tão inesperado, que eu não pude evitar de olhar de volta pra ela. Só que antes que eu pudesse questioná-la, meus olhos encontraram Alex, que comia todo satisfeito e quieto.
Com uma distância segura entre nós, eu me deixei observá-lo só por alguns segundos. Seria bem fácil desviar os olhos. Ainda mais quando ele parecia não ver nada além de seu prato, e Elena ainda falava do meu lado.
Ele era alto e isso dava para ver até pelos seus ombros, com ele sentado. Mas perto dos outros, ele parecia bem mais baixo, só pelo jeito dele. Não se encolhia, nem se estufava. Parecia que se contentava com quem era e não sentia necessidade de se provar no meio dos outros.
O mesmo podia ser dito sobre seu rosto. Talvez ele só não soubesse como era bonito. Ele não agia como se soubesse. Era modesto até nisso. Seu cabelo tinha um corte normal e sua barba era rala, mas certinha. E, ainda assim, ele era o mais bonito ali. Seria difícil conseguir encontrar um defeito nele. Talvez nem tivesse ideia do quanto tinha dado sorte com sua aparência. Devia ter crescido se achando normal, senão não seria tão modesto. Se ele se visse de verdade, não pareceria tão acostumado a ser invisível.
Ele parecia mais deslocado no terno do que arrumado. Talvez até mais deslocado do que com o smoking de ontem. A única coisa que parecia destacar eram seus olhos. Azuis e claros de um jeito que eu podia ver até daquela distância, eles-
Opa. Eles estavam virados para mim.
Peguei minha xícara de café com leite e bebi o máximo que podia e o mais devagar também, tentando me esconder atrás dela. Quando finalmente a baixei, todos ali estavam olhando para um cara que entrava. Era um dos selecionados, por que ele estava chegando atrasado?
Qualquer que fosse a razão, ele sorria de lado e seu queixo não poderia estar mais levantado quando ele se sentou à mesa.
E então uma sombra apareceu em cima de mim.
"Amelia," era a voz da minha mãe, me fazendo virar para olhá-la. "Eu preciso que você vá buscar a princesa."
"Buscar a princesa? Onde ela está?" Eu perguntei, pegando de novo meu pão, pronta para dar outra mordida.
"Grande Salão," ela disse, tirando-o da minha mão e o deixando no meu prato. "Precisa ser agora, vamos."
"Eu não sou sua ajudante!" Soltei, fazendo Elena me olhar como se eu tivesse acabado de soltar o maior dos palavrões.
"Estou te pedindo por favor!"
"Eu não ouvi você falando por favor!"
"Estou falando agora," minha mãe se abaixou até a minha altura, me mirando com seus olhos grandes e brilhantes, que me convenciam a aceitar qualquer coisa dela. "Por favor."
Revirei os meus. "Tá," falei, me levantando. Mas antes de começar a sair de lá dei uma última mordida em meu pão.
De pé e mastigando, eu era como um poste de luz no escuro. Todo mundo me olhava. E durante o meu caminho inteiro até a porta, eu senti os olhos de Alex nas minhas costas.
Azuis. Daqueles que só alguns poucos sortudos podiam ter.
Assim que saí, encontrei os príncipes e as princesas ali. Eles pareciam no meio de uma conversa importante, então me apressei para lhes dar privacidade. Cheguei ao Grande Salão e nada da Princesa Lola.
A mesa das entrevistas ainda estava lá, e eu não pude evitar de me perguntar como tinha ido. Talvez eu pudesse perguntar para a minha mãe depois o que a Lola tinha achado deles. E, principalmente, se eles pareciam gostar dela.
Não, era besteira. As fofocas chegariam aos meus ouvidos alguma hora. Não tinha pressa.
E, também, seria muito mais fácil conseguir alguma informação com a Princesa Gabrielle.
O barulho da porta se abrindo me fez lembrar na hora do que eu estava fazendo ali. Algumas criadas entraram, todas me cumprimentando, e eu entendi que precisava sair dali. Perguntei para elas se elas sabiam onde estava a princesa, mas nenhuma tinha uma informação para me dar.
No corredor na frente do Grande Salão, eu procurei indícios de onde ela estaria. Não sabia o que eu estava esperando, se eram pegadas, ou rastros. Talvez tivesse passado tempo demais mesmo em viagens a campo, procurando rochas.
Abri algumas portas ali na frente mesmo, imaginando que talvez ela tivesse procurado algum lugar onde tomar um ar. Mas só dei de cara com cômodos vazios. E, a cada um, meu pânico aumentava.
Tudo bem que aquele não era meu trabalho, estava longe de ser mesmo uma responsabilidade minha. Mas minha mãe tinha pedido para eu ir encontrá-la. E eu nem conseguia! E se alguma coisa acontecesse com ela? Todos passariam o resto da vida falando, "Era para Mia ir buscá-la, mas nada!".
Ainda estava pensando nisso, quando virei o corredor, andando freneticamente atrás da próxima porta para abrir. E se não fosse pelo seu rabo de cavalo, talvez não tivesse reconhecido tão rápido o colar que ela usava.
"Princesa! Aí está você!" Eu disse, andando até ela com energia renovada.
Ela demorou para se virar para mim, o que me fez temer que estava cometendo um erro enorme. Meus olhos caíram em sua roupa, um conjunto de calça social e camiseta que me fez diminuir bem o meu passo. E se aquela não fosse ela? Além de perdê-la, eu nem conseguia reconhecê-la?
Mas ela se virou para mim, e eu continuei andando até chegar perto dela, escondendo o meu alívio.
"Estava começando a pensar que alguma coisa tinha lhe acontecido!" Soltei, olhando dela para o cara à sua frente. Era Marc, da cozinha. Por que eles estavam conversando? Será que ela estava perdida? "Estamos te esperando na Sala de Jantar," eu me voltei para ela.
"Ah, perdão. Precisava de um pouco de ar," ela esfregou a barriga e eu só a observei.
Marc olhou por cima do ombro para a janela, e eu não pude ver bem a sua expressão. Ela podia estar tentando organizar outra tarde de cupcakes no quarto dela. Será que eu tinha que avisar minha mãe?
"Bom, vamos?" Perguntei, virando um pouco o corpo como se já estivesse louca para andar.
Ela olhou por cima do ombro até Marc. "Você vem?" Perguntou.
Ele tinha acabado de se virar de novo para a gente, mas recuou a cabeça com a pergunta dela. "Não," respondeu, pelo óbvio daquilo.
Eu sorri para ele. Eu entendia. Mas a princesa parecia que não, pois se virou para me olhar e perguntou, "Houve outro café da manhã?"
Eu olhei dela para Marc, depois de volta para ela. Ainda não tinha certeza se ela estava perguntando sério.
"Houve o dos criados," acabei explicando, ainda insegura se estava fazendo o certo.
Minha mãe realmente deveria me treinar mais para aquele trabalho. Ou simplesmente me deixar em paz e parar de me pedir minha ajuda!
"Você é guarda aqui?" Lola se virou para Marc, que sorria.
"Com esse físico?" Foi o jeito dele de responder.
Eu revirei os olhos, mas deixei que ela o observasse por um segundo.
"Não," a respondi. "Marc trabalha na cozinha. Muito do que Vossa Majestade irá comer agora terá passado pelas mãos dele."
Por dentro, eu odiava ser tão formal. Nem sabia se era para tentar tanto, minha mãe claramente não tinha me dado informação nenhuma. Mas Lola não se abalou.
"Princesa?" Eu chamei. "Vamos?"
Ela pareceu esperar que Marc tomasse seu caminho até se virar de novo para mim. Assim que comecei a andar, ela me seguiu, seus saltos ecooando pelo corredor.
"Desculpe lhe perguntar," eu comecei, quando nós estávamos passando pelo Grande Salão, "mas a senhorita teve uma boa entrevista?"
Ela me olhou de lado, andando pela minha esquerda. Apertou os olhos e franziu a sua sobrancelha, fazendo meu coração praticamente desabar dentro de mim. Ela já sabia o que eu queria. Alex tinha contado. E ela estava prestes a me colocar no meu lugar, prestes a me dar vários tapas e explicar que eu não deveria nem dar corda para os selecionados dela. Eles eram delas. E quem era eu? Ninguém! Eu não poderia me esquecer disso!
"Quantos anos você tem?" Foi o que ela perguntou, me surpreendendo completamente.
Parei de andar na hora, tentando entender do que ela estava falando.
"Vinte e três," respondi, apesar de mal saber o que eu estava falando.
"Eu tenho vinte e dois. Você não precisa me chamar de senhorita, fica esquisito," ela se virou de novo para a frente e voltou a andar, me forçando a acompanhá-la.
"Ah, me desculpe."
"Pode me chamar de Lola. Ou princesa," sugeriu. "E a entrevista foi boa. Bem mais curta do que eu esperava, mas o suficiente. Deu para ver um pouco pelo quê cada um se move."
"Ah, é?" Foi o máximo que eu consegui dizer.
Eu vi a porta da Sala de Jantar e senti uma urgência de conseguir fazer o assunto se direcionar para o que eu queria. Os príncipes e as princesas já tinham entrado. Não dava nem para eu trazê-los para a conversa e tentar enrolar para a Lola entrar.
"Algum preferido?" Foi meu jeito de tentar fazê-la dar alguns nomes a pelo menos alguns bois.
Ela suspirou. "Fisicamente, talvez," foi o que respondeu. "Mas os conhecerei propriamente a cada encontro."
Nós chegamos na porta e eu me coloquei na sua frente, segurando a maçaneta. Parei para olhá-la só por um segundo.
Ela parecia já estar cansada, como se a velocidade de seus pensamentos fosse tão grande que ela mal conseguia focar muito o olhar em algum lugar. Até demorou para perceber que eu estava só enrolando ali.
Quando levantou os olhos para mim, eu sorri. Ela me devolveu o sorriso na hora, mesmo sem parecer entender o que eu estava fazendo. E foi como se eu visse ali toda a esperança que ela tinha daquilo dar certo. E todo o medo também de não dar.
"Sei que pode não valer nada, vindo de mim," eu comecei, "mas eu realmente espero que você encontre o amor da sua vida nessa seleção. Mesmo que agora isso tudo só pareça um jeito de remediar um problema, eu torço muito para ser uma grande vitória para você, princesa."
O sorriso dela morreu em seus lábios, mas pareceu tomar seu lugar nos seus olhos grandes e azuis. "Vale muito."


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