Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 43
Capítulo 43: POV William Owens


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Tuscan Leather" do Drake. É um capítulo bem pequeno, mas ele é mais de transição mesmo! Espero que gostem!



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Apertava minha gravata azul escuro, repassando na minha cabeça pela milésima vez o que tinha acontecido na noite anterior. As criadas à minha volta continuavam a me ajeitar, alisando meu terno e meu cabelo, mas eu focava em meus olhos no espelho.
Eu devia ter ido atrás de Carolyne antes. Se não tivesse ficado lá, me perguntando o que fazer, talvez a tivesse alcançado. Eu poderia ter me desculpado, explicado que não queria tê-la assustado. Mas ela tinha saído pelo castelo achando que eu tinha tentado atacá-la. E aquilo poderia facilmente garantir a minha expulsão da Seleção.
Não poderia voltar para casa logo agora. Eu precisava de mais algumas semanas para não ter que ver o casamento de Jem com Tessa. Eu precisava conseguir passar aquele tempo no castelo. Carolyne poderia destruir minhas chances de continuar ali. Bom, eu que teria destruído, me deixando levar a pensar na possibilidade de beijá-la. Só que agora eu precisava era encontrá-la. Me desculpar. Explicar que tinha sido um erro, que eu não queria nada com ela. E, principalmente, me certificar de que não chegaria aos ouvidos da princesa.
Olhei no relógio do meu pulso. Dez para as oito.
"Autumn, Ciara," me virei para minhas criadas, pegando uma mão de cada uma e lhes dando um beijo, "muito obrigado. Eu preciso ir agora," elas abriram caminho para mim e eu andei até a porta. Estava para sair, quando algo me ocorreu. "Só uma coisa," comecei, fazendo-as pararem antes de começar a arrumar minha cama e me olharem. "Eu precisava encontrar uma criada do castelo. Carolyne. Não sei o sobrenome, sabem aonde ela estaria?"
Elas trocaram olhares constrangidos, provavelmente se perguntando porque eu precisava encontrá-la. Eu abri um sorriso torto, querendo convencê-las a simplesmente me responderem.
Funcionou. Logo Ciara se concentrou em mim. "Pelo que eu saiba, ela é uma das criadas do Senhor Keon," ela disse.
"Keon?"
"Illéa, senhor," completou. "O de cabelo um pouco comprido."
Na hora, me lembrei dele no dia anterior. Ele era o cara que andava com o cineasta. Meu humor caiu na hora.
"Obrigado, Ciara," disse, piscando com um olho só, o que a fez corar. E então saí do meu quarto.
Na frente da escadaria principal, Marlee Woodwork esperava que nós nos reuníssemos. Na frente dela só estavam dois selecionados, nenhum deles Keon. Ou Ian, o cineasta. Só o que parecia ser o mais velho e o que claramente era o mais novo. Nós trocamos acenos de cabeça e eu esperei com eles.
Logo antes de começarmos a descer as escadas Keon apareceu quase sendo empurrado pelo cineasta. Ele parecia ser o pior de nós, no máximo da ressaca. Usava óculos escuros e andava cabisbaixo. Enquanto que Ian o tentava animar. Aquela realmente não seria a hora de eu ir falar com ele sobre sua criada. Não enquanto o urubu estava por perto.
Mais três caras chegaram antes de Marlee decidir que tinha esperado o suficiente. Nós fizemos nosso caminho até o Grande Salão quase completamente em silêncio. Assim que ela fechou a porta atrás de nós, outro cara apareceu por lá. Ele olhou para todos nós, mas ninguém falou nada. Quando seus olhos chegaram até mim, eu fiz um aceno com a cabeça. Aquele era o máximo que o dia depois da festa pedia.
Não sabia como o Grande Salão costumava ser, mas naquela hora, ele estava quase inteiro vazio. E bem no meio, uma mesa grande com várias cadeiras em volta. E um pouco afastadas, algumas outras. Marlee nos indicou para cada um tomar uma cadeira à mesa e eu fui rápido até lá. Na frente de cada lugar, um copo de água.
Me acomodei sem problemas, olhando em volta e percebendo que a princesa provavelmente falaria com todos de uma vez. Ou talvez fosse ali que nós esperaríamos ser chamados.
Alguém puxou a cadeira do meu lado e se sentou. Não fiz muito caso daquilo, até ver quem era.
Ian.
"Será que você poderia se sentar em outro lugar?" Perguntei, ao mesmo tempo me sentindo idiota de mostrar que me importava e deixando minha raiva falar mais alto.
Ele se virou para me mirar. "Por que exatamente eu faria isso?"
"Porque eu não quero que se sente aqui," eu disse, me endireitando na cadeira.
Ele fingiu pensar por dois segundos, fingiu mal. Depois voltou a ficar sério. "Não, não me importo," disse, se virando para olhar para Keon do seu outro lado.
Eu bufei alto, empurrando a minha própria cadeira para trás e me levantando. Dei a volta na mesa inteira, até me sentar de novo onde eu não teria que olhar para ele, mas tão pouco precisaria ficar do seu lado.
"Posso perguntar qual o seu problema comigo?" Ele pediu, assim que Marlee nos deixou sozinhos ali. Todos os outros selecionados nos assistiam como platéia.
Eu respirei fundo, apesar de sentir a minha mandíbula travar de raiva. "Três anos atrás," disse. "A Verdade Por Trás de Henry Owens." Vi em seus olhos quando ele entendeu do que eu falava, mas depois ele voltou a me olhar confuso. "Eu sou William Owens. E você não tinha o menor direito de fazer um filme sobre a minha família!"
O selecionado mais novo do meu lado arregalou os olhos.
Ian só deu de ombros. "Eu não falei nada além da verdade," disse.
Aquilo me fez levantar em um pulo. "Existe uma grande diferença entre a verdade nua e crua e aquela merda que você resolveu filmar!" Eu praticamente gritava, sentindo vir à tona toda a raiva que eu tinha guardado durante tanto tempo. Todas as vezes que eu tinha tido que lidar com pessoas que tinham preconceito contra mim e a história da minha família simplesmente por terem visto o filme. E todas as vezes que eu tinha tentado falar com ele e sua secretária me dizia que ele não tinha tempo para fãs. Fãs. "Você distorceu tudo! Não apresentou uma prova sequer que não poderia ser contestada! E ainda teve a coragem de chamar aquela droga de documentário!"
"Ei, eu tentei mil vezes entrar em contato com você," ele se defendeu, apesar de continuar sentado. "Você nunca quis comentar nada!"
"Porque eu sabia que você iria distorcer as minhas palavras também!" Foi eu gritar isso para ele, que a porta se abriu.
E todos se viraram comigo para encontrar a princesa olhando para nós.


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