Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 42
Capítulo 42: POV Clarissa Simpson


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Push" acústica da Avril Lavigne.
O capítulo está pequeno, mas era só para explicar algumas coisinhas!



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"Clarissa!" A ficha de que eu tinha entrado no quarto de Lola só caiu quando sua voz chegou aos meus ouvidos.
Minhas mãos suavam na maçaneta. Eu tinha entrado e batido a porta tão rápido, que nem tinha tido a chance de olhar para dentro.
Respirei fundo e soltei, me virando para Lola. Ela estava de pé na frente na porta do closet e tinha as duas mãos na cintura. Me olhava como se eu fosse louca. E talvez fosse assim mesmo que eu parecesse.
"Aconteceu alguma coisa?" Me perguntou.
"Nada," menti rápido. Começando a andar até ela. "Eu só estava com medo de você já ter descido."
E eu ter perdido o melhor dos escudos do mundo, completei na minha cabeça.
Foi só quando eu estava bem na sua frente que eu prestei atenção no que ela estava vestindo.
"É assim que você vai?" Perguntei, apesar de já saber a resposta.
Ela seguiu meu dedo e olhou para seu conjunto de calça social e camisa branca. Depois voltou a me mirar.
"Algum problema?" Ela inclinou o rosto, tentando não rir.
Eu dei de ombros. Ela insistia sempre em ir de ternos para eventos oficiais do castelo no Reino Unido, seu jeito de não ser tratava como só uma menininha na corte, segundo ela. Mas ela não estava indo para uma reunião de negócios, eu esperava que soubesse.
"Acho que você podia começar de um jeito menos intimidante," disse.
Ela pareceu pensar por alguns segundos, torcendo o nariz. Depois voltou a me mirar. "Não, intimidante é bem o que eu preciso," disse.
Eu bufei uma risada. Depois do que eu tinha visto dela na noite anterior, era bom saber que a Lola de sempre estava de volta. Apesar de que um pouco de diversão não lhe faria mal.
Ela foi se sentar na frente de sua penteadeira, onde uma criada começou a arrumar seu cabelo e juntá-lo em um rabo. Ela sorriu para mim pelo espelho quando encontrou meus olhos.
"Ainda não tivemos a chance de falar sobre a festa," falou, fazendo meu estômago dar uma reviravolta. "Como foi o resto da noite para você?"
Dei de ombros de novo, dessa vez bem mais desconfortável. "Normal," respondi. "E para você?"
"Não importa," disse, se desvencilhando das mãos da criada e virando para me encarar. "Quer dizer, eu vou te contar tudo certinho. Mas para todos efeitos, o que tiver acontecido ontem não importa. Ontem os selecionados não me pertenciam. E eu definitivamente não tinha começado minha seleção. Vou começá-la hoje. Do zero. Estou precisando."
"Estou vendo. Mas por que mesmo? O que foi que aconteceu que você precisa enterrar?"
Ela voltou a se virar para o espelho e deu de ombros. A criada foi se certificando de que seu cabelo estava impecável.
"Eu me deixei levar, foi isso que aconteceu," respondeu. "Sabe, eu só tinha aceitado a ideia do mistério e tal porque achava que não me afetaria. Mas se eu soubesse que eu mesma me esqueceria do porque estava ali, não teria aceitado. Por isso mesmo que a Seleção começa hoje. É um jeito de eu poder tomar controle de novo, fazer as coisas direito."
"Essa seleção é para você encontrar seu marido, Lola," eu disse. "É para você se apaixonar. Sinto muito, mas não tem controle nenhum envolvido nisso."
Ela revirou os olhos
E então alguém bateu na porta.
Eu tinha me sentado na cama dela atrás da penteadeira, mas a batida foi o suficiente para me fazer levantar com um salto. Lola olhou da porta para mim, confusa. Eu mesma estava em pânico.
"Eu preciso ir ao banheiro," disse, correndo para lá, logo que a criada dela ia para porta. Estava para me trancar no banheiro quando me ocorreu uma coisa. Abri de volta a porta. "Se for o Kyle, diz que não me viu."
"Quê?" Lola perguntou.
"Só diz que não me viu!" Sem perceber meu pânico, a criada já abria a porta. Eu tranquei a do banheiro e me agachei ali mesmo, com o ouvido grudado nela pra ouvir o que falavam.
Lola tinha conseguido me distrair com todo o papo da Seleção. Por alguns minutos, eu podia jurar que Kyle tinha esquecido de me procurar. Mas tinha sido só por alguns minutos mesmo, pois eu podia ouvir a sua voz claramente do outro lado.
"E você não sabe onde ela pode estar?" Ele perguntava.
Podia imaginar a cara de Lola, tentando mentir. Ela sempre preferia ter horas antes para uma mentira, era péssima em improvisar.
"Não," era a voz dela. Realmente, dava para ver na sua intonação que ela estava mentindo. "Por que mesmo você a está procurando?"
Abracei meus joelhos, como se precisasse me preparar para o que ouviria.
"Ah, é que eu precisava dos conhecimentos dela," Kyle respondeu. "Ela já deve conhecer as pessoas que trabalham na cozinha desse castelo, não?"
"Acho que sim," Lola comentou.
"Então, eu precisava encontrar uma menina," ele continuou.
Senti meu estômago pesar de nervosismo. Ele não sabia que era eu. Ele ainda procurava a Karen. Aquilo poderia ser uma coisa boa.
Ou péssima. Realmente péssima. Ele nem tinha percebido que era eu. Tinha passado a noite pensando na Karen. E só queria me ver porque queria usar meus conhecimentos? Eu tinha fugido dele como diabo da cruz porque achava que ele pediria satisfações. Na minha cabeça, já tinha imaginado as mil vezes em que ele jogaria na minha cara que eu era louca e que tinha me aproveitado dele. E ele nem tinha pensado uma só vez naquilo. O máximo que ele queria era minha ajuda para encontrar a Karen.
Karen. Por que eu fui me chamar de Karen? Por que eu fui começar tudo isso?
Ouvi a porta do quarto se fechando e me levantei para sair. Mas antes, passei mais alguns segundos com o ouvido grudado nela caso Kyle ainda estivesse ali.
Quando finalmente saí do banheiro, Lola me esperava sentada na cama, de braços cruzados. Eu andei até ela com as mãos nas costas. Ela nem precisava me falar nada, eu sabia o que ela queria. Tinha até dispensado a criada, éramos só nós duas ali. Não tinha mais como evitar, eu precisava contar tudo para ela.
Tive que resgatar forças de lugares que eu desconhecia para conseguir formar a frase que mudaria para sempre como ela me via. Tão simples, tão poucas palavras, tão pesada.
"Eu gosto do Kyle," foi o que eu falei, escondendo meu rosto nas minhas mãos. Nem pude ver a expressão de Lola. Minhas mãos não eram minhas, elas tinham vida própria. E sabiam que seu lugar era na frente do meu rosto, para não deixá-la me ver, nem vê-la. Eu as apertava forte contra mim, quase perfurando meus olhos. Quem sabe se eu me escondesse o suficiente eu fosse ficar invisível.
"Eu sei," foi o que ela disse.
Abri só o espaço de alguns dedos para olhar para ela, sentada na minha frente na cama.
"Como é?"
"Eu sei," ela repetiu. "Sempre soube. Você não é muito boa de esconder, Clare. Realmente."
"Como assim, sempre soube?" Minhas mãos já estavam em meu colo.
Mas ela continuava com os braços cruzados. "Não é a coisa mais díficil de se descobrir, você passa o dia inteiro olhando para ele. E está constantemente disposta a largar tudo por ele. Realmente, Clare. Eu esperava mais de você."
"Esperava mais do que gostar dele?" Minha voz fraquejou, enquanto eu a mirava como cachorro sem dono.
Ela revirou os olhos. "Não, do que demorar a vida inteira pra me contar!" Falou alto, se levantando. "Sabe, ter que me fazer de idiota era terrível. Ainda mais quando eu dei a entender que poderia me casar com ele! Você não falou nada! Não sei porque não me contou de uma vez!"
"Eu achei que você não entenderia," dei de ombros.
"E eu não entendo," ela sorriu para mim, sarcástica. "Mas, né. O problema é seu. Você que gosta dele. Não sou eu."
Eu ainda estava tentando ligar uma peça na outra, quando ela voltou a sentar na minha frente.
"Mas por que você está fugindo dele agora? Ele descobriu?"
Olhei por cima do ombro para a porta, como se esperasse vê-lo ali. "Não exatamente," disse.


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