Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 35
Capítulo 35: POV Amelia Woodwork


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "All Things Go" da Nicki Minaj.

Para explicar uma coisa. Eu coloco o nome da Mia como Amelia no capítulo, porque esse é o nome dela de verdade. Ela se apresentou assim pro Alex, ele mesmo só pensa nela com esse nome. Mas se você perguntasse pra ela, ela prefere Mia. Sempre. Tipo, em todos os momentos da vida dela. Haha, por isso os amigos a chamam de Mia - e a capa tá assim.
Só explicando. Não que vá aparecer no capítulo.



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"Eu não acredito em você!" Elena disse, rindo.
"É verdade," o barman insistiu.
"Então por que você não foi ajudar a menina?"
"Tinha gente o suficiente ajudando," ele respondeu. "Eu não ia sair correndo daqui por causa de um tornozelo torcido!"
Elena o mirou, como se duvidasse dele. "Isso não prova nada," disse.
"Mas eu estou falando a verdade," ele tentava não rir, mas os dois praticamente já tinham decidido que iam ficar se provocando, então era difícil continuar sério.
Ela sim ria, mas sem admitir que só queria tentar irritá-lo.
"Não adianta," ela falou. "Eu ainda não acredito!"
"Eu juro!"
"Do que adianta?"
"É verdade!"
"Sei não!"
"É verdade!" Fui eu que gritei, fazendo os dois me olharem como se fosse a primeira vez que percebiam que eu estava ali. "É verdade," repeti bem mais baixo. "Ele é médico mesmo, Elena. E faz tempo que ele trabalha aqui. Se você viesse mais pro castelo, teria percebido."
Ela fez um bico rápido com os lábios, depois torceu o nariz. "Tá bom," disse, se virando para ele. "Não porque eu confio em você, mas porque eu confio nela."
Seu dedo apontou para mim, e eu revirei os olhos e bufei tão forte, que fiz uma mecha do meu cabelo balançar.
Eles não pareceram se importar com a minha reação. Eu estava invisível novamente e podia me concentrar em tentar não ouvi-los no que Elena super consideraria um jogo de flerte, enquanto para mim era conquista barata. Se aquilo funcionava para ela - e para ele - bom para eles. Mas eu não tinha mais para onde ir. E provavelmente acabaria pulando do terceiro andar se tivesse que ouvir tudo que eles estavam falando.
Apoiando de volta na minha mão e no meu cotovelo, eu dei outra olhada na festa. Já estava bem mais vazio, o que ajudava bem no barman poder falar com Elena. Até o bar não estava muito cheio.
Corri os olhos por todo o salão, mas não estava interessada o suficiente para me importar com o que estava acontecendo. A batida da música era fácil e calma o suficiente para não me incomodar. Combinava perfeitamente com o clima, principalmente com o meu humor: fim de festa. Eu estava praticamente arrastando meus pés até admitir que a noite já tinha acabado para mim há muito tempo. E então eu iria para o meu quarto e constataria na minha cabeça mais uma vez que a promessa de uma festa sempre era melhor do que a própria festa. Nunca acontecia nada demais. E eu sempre ficava esperando o grande momento, a grande noite, em que minha vida mudaria.
Álcool me causava essas coisas. Sempre tirava a terra de cima dos meus mais secretos sentimentos, coisas que eu queria, mas que tinha enterrado tão fundo, que nem me deixava mais lembrar que existiam. Como alguma coisa incrível acontecendo comigo. Alguma coisa que me fizesse finalmente me sentir como eu sempre quis. Como alguém finalmente me vendo como eu queria ser vista. Álcool tinha a mania de me fazer admitir pra mim mesma que eu queria ser percebida.
Mas ali, apoiada no bar, eu já podia imaginar como eu voltaria para o meu quarto, desanimada por essa noite não ter sido a minha chance de me sentir importante. Mas no dia seguinte eu teria superado.
Como automático, meus olhos pousaram em um casal conversando a alguns metros de mim no bar. Foi só quando ele olhou de volta para mim que eu percebi que o cara era Alex.
Desviei meu olhar na hora. Não, não iria nem pensar nele. Eu merecia mais do que um cara que estava no castelo por outra menina. Uma princesa. Não tinha nem chances, eu não me deixaria nem pensar na possibilidade de tentar competir com ela. Eu merecia mais. Eu merecia alguém que fosse louco por mim. Que lutasse por mim. Não que sentasse e esperasse que eu fizesse o mesmo por ele.
Esse seria o significado do esquilo, eu acabei decidindo, quando o vi ali, sentado do lado do meu copo. Ele me lembraria que eu merecia alguém que viesse atrás de mim. Não iria me deixar vencer por ninguém que não me merecia. Eu precisava de alguém que valesse a pena.
Aquele seria o seu significado. Agora ele só precisava de um nome.
Assim que a música que estava tocando terminou, eu esperava ouvir outra começar. Mas antes, um sinal tocou, como se nós estivéssemos em uma escola que preferisse sinais mais clássicos. Eu não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, mas todos estavam no mesmo barco. E conforme olhávamos à nossa volta por uma resposta, nós fomos começando a entender.
Era meia noite, como alguém percebeu, contou para outra pessoa, espalhou para o resto. Nós podíamos tirar nossas máscaras.
Minha vontade de tirar a minha era zero. Mas seria o primeiro passo até aceitar que a festa tinha acabado. E talvez me ajudasse a convencer a Elena a não ficar mais tanto tempo ali.
Olhei por cima do meu ombro para ela, que tirou a peruca, mas fez questão de deixar a máscara. O barman - Davi, não? - também deixou a sua. Para eles, a festa parecia longe de acabar.
Respirei fundo, olhando para o esquilo. Aquela peruca era pesada, então foi bem fácil me convencer a tirá-la. E uma vez que ela estava apoiada no banco do meu lado, a máscara logo se juntou a ela.
Eu não esperava me sentir tão livre, mas foi uma surpresa boa. Metade das coisas que já me incomodavam naquela festa parecia ter saído de cima dos meus ombros. Talvez não tivesse sido tão ruim assim. Nem mesmo aquele final.
Uma risada alta me atingiu o ouvido e eu me virei para ver a menina que estava falando com Alex. Era uma criada que eu tinha visto algumas vezes por aí. Se tivesse que apostar, diria que se chamava Laney. Ela era nova e parecia bem entusiasmada de estar ali. Ele mesmo não conseguia acompanhar a felicidade dela.
E então seus olhos caíram em mim. O mínimo sorriso que ele tinha se perdeu. Eu o fiquei observando, não sabia bem porque. Talvez só quisesse ver o que ele faria, porque me olhava daquele jeito. Sem tirar os olhos de mim, ele levou uma mão à sua máscara e a deixou deslizar pelo cabelo até que não tivesse nada entre nós.
Eu não era a Lola. E agora ele tinha certeza. Eu não me parecia nem um pouco com ela. Não tinha os olhos enormes dela, nem o cabelo castanho. Não era alta como ela, nem poderia fingir o porte que ela tinha. Eu não era ela. E ele podia ver isso. Talvez fosse por isso que me olhava daquele jeito. Talvez fosse por isso que tinha perdido seu sorriso.
Eu inclinei minha cabeça pra frente, como se o cumprimentasse. E aí ele saiu daquela expressão séria dele, sorrindo de lado para mim. Estranhamente, aquilo me deu um nó na garganta. Não que eu quisesse ser como a Princesa Lola. Eu entendia que era até bom ele poder me conhecer de verdade. Quem sabe aí ele percebesse que era ela que ele queria, não eu. Mesmo assim, pensar por um segundo que ele ficou desapontado por eu não ser ela me incomodava mais do que eu queria admitir.
Eu lhe retribui o sorriso, apesar de ser a última coisa que eu queria fazer. E então me virei para Elena, pronta para falar que eu iria para o meu quarto.
Mas ela estava completamente debruçada no bar, falando alguma coisa no ouvido do barman. Então eu só peguei meu esquilo - que ainda precisava de um nome - e me deixei deslizar do banco.
Esperava que ela fosse me ver, perguntar aonde eu estava indo ou qualquer coisa parecida, mas nada. Meu caminho até a porta para o corredor foi fácil e rápido, sem interrupções.
Quando finalmente cheguei no meu quarto, coloquei o esquilo na minha mesa de cabeceira e peguei o primeiro livro que vi. Queria tentar deixar minha cabeça ocupada com qualquer outra coisa antes de dormir. Mas era inútil. Eu não conseguia absorver uma só palavra.
E quando eu finalmente desisti e me deixei dormir, eu sabia que sonharia com ele. E que lembraria de tudo no dia seguinte. Era inevitável. E eu não estava muito preparada para aquilo.


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