Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 33
Capítulo 33: POV Kyle O'Malley


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Love More" do Chris Brown. Infelizmente, tem várias músicas dele que eu amo.
Para quem não se lembra, tanto o Kyle, quanto a Clarissa estão fingindo ser outra pessoa nessa festa. Então a Karen é a Clarissa. E o Josh é o Kyle.



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"Então você é da Inglaterra?" Karen me perguntou, assim que nós pisamos fora do salão.
Todo o tumulto da festa tinha sido o suficiente para finalmente convencê-la a sair de lá comigo. Ela andava na minha frente, já que conhecia os corredores.
"Irlanda," a corrigi.
Ela parou de andar e se virou para mim, as mãos na cintura.
"Mas como você é guarda da princesa, se não é da Inglaterra?"
Uh-oh. Tinha me esquecido.
"Eu nasci na Irlanda," expliquei. "Mas como passei a vida inteira na Inglaterra, não fez diferença."
Ela me olhou como se duvidasse daquilo, mas acabou dando de ombros e voltando a andar.
"E você?"
"Eu sou daqui," me respondeu, tão rápido, que achei que não tivesse entendido a pergunta.
"Daqui?"
"Illéa," ela disse, de costas para mim. Eu andava logo atrás. Nós não seguíamos rumo nenhum, só vagávamos por aí.
"Imaginei, né. Mas de onde de Illéa?"
Ela parou na hora, mas continuou olhando pra frente. Logo eu cheguei do seu lado.
"Angeles," disse, finalmente. "Nasci aqui. Morei a vida inteira. Sabe como é," ela deu de ombros e seus olhos caíram em mim, que a observava diretamente do seu lado. Assim que ela percebeu que eu estava ali, voltou a andar.
Por alguns segundos, nós continuamos em silêncio. Até que ela parou de novo do nada e se virou para mim.
"Josh," começou. "Eu preciso te falar uma coisa."
Eu também parei de andar. Ela me olhava séria, por trás da máscara. E eu tive a certeza de que ela sabia quem eu era. E estava para me falar.
Eu odiava admitir certas coisas. Uma vez mentido, mentia para sempre. Não ia me dar por vencido. Podia inventar que era irmão gêmeo do príncipe da Irlanda. Falaria que nós tínhamos sido separados no nascimento e que a rainha nunca me quis.
Só de pensar na possibilidade, podia imaginar a cara da minha mãe se ela tivesse ouvido meus pensamentos.
Tá, não ia culpá-la. Mas eu poderia falar que estava ali para provar para a princesa que eu era mesmo igual ao Príncipe Kyle da Irlanda! E estaria disposto a lutar pelo trono! Eu era o gêmeo malvado e iria atacá-la!
Mas e se Karen pedisse para me ver do lado do meu gêmeo bom? Que nem existia? Por que era eu?
Eu teria mesmo que admitir pra ela que tinha me feito de idiota e mentido? Por que todas as vezes que uma menina falava que precisava conversar tinha que ser por alguma coisa tão ruim?
Karen ficou parada na minha frente, enquanto eu tentava bloquear qualquer pensamento que me fizesse querer desistir de tudo e simplesmente admitir a verdade. Eu preferia tentar inventar que era um gêmeo malvado. Ou que eu tinha perdido minha memória! Perfeito. O treco da memória, era com ele que eu iria.
"Você está bem?" Foram as palavras que saíram da sua boca.
"Mais ou menos," eu disse, esfregando a testa por cima da máscara. "Estou com uma dor de cabeça."
Pronto. Já podia ser a minha base para a desculpa de que eu tinha perdido a memória. Eu poderia fingir ter um treco, ir pra ala hospitalar. Eu sempre quis conseguir convencer meu irmão de que eu não sabia quem ele era. Será que dessa vez daria certo?
Karen continuou me olhando, cada vez mais esquisito. Ela quase parecia estar com medo, o que me fez sorrir para ela. Não queria assustá-la. Só o suficiente para não me perguntar nada que eu não quisesse responder.
"Eu-" ela começou, mas se cortou, olhando para baixo, onde suas mãos se encontravam esfregando uma na outra.
Talvez aquilo tudo não fosse tanto por minha causa quanto eu estava imaginando.
"Karen?" Chamei, mas ela me ignorou. Dei alguns passos à frente, chegando perto dela. "Karen, o que você precisa me falar?"
Ela levantou os olhos para mim e, assim que encontrou os meus, seus ombros pareceram relaxar. E então ela sorriu.
"Eu menti para você," disse, ficando séria por um segundo. Mas aí seus olhos desviaram dos meus para algo atrás de mim. E então ela deu de ombros. "Eu não sou uma criada da Princesa Gabrielle. Eu queria ser, ainda mais para poder usar meu francês que eu preciso tanto praticar-"
"Eu não me importo," a cortei, trazendo seus olhos de novo para mim.
Sério, que diferença faria pra mim se ela era uma criada da princesa ou não? Que tipo de prestígio eu deveria ver naquele cargo?
A não ser que o dela fosse bem pior.
"Não?" Me perguntou, confusa.
"Claro que não," dei mais um passo para a frente, e ela pareceu se encolher minimamente. "O que você faz de verdade?"
Ela me mirou por mais alguns segundos. A verdade deveria ser bem feia pra ela precisar de tanto tempo para se convencer a me contar. Mas ela era bonita, pelo que eu podia ver. E não era como se eu tivesse mais muita coisa para fazer. Nem muita moral na qual me apoiar. Qualquer que fosse a mentira dela, eu relevaria. Se por nada mais, pelo menos pela minha própria.
"Eu sou cozinheira," disse, baixando os olhos.
Eu respirei aliviado. Discretamente, não queria que ela percebesse que eu tinha estado rezando para que não fosse nada pior do que criada.
"Eu adoro comida!" Falei, para animá-la. "Sério, não existe nada melhor no mundo!"
Ela inclinou a cabeça e me mirou como se me analizasse. "Tá falando sério?"
"Mas é claro," eu abri os braços. "Quem consegue viver sem comida?" Ela riu levemente da minha pergunta. "Eu mesmo sou péssimo pra cozinhar. Mas não existe nenhuma prova de amor maior do que uma bela refeição."
Seus olhos castanhos se iluminaram por trás da sua máscara e eu percebi que estava prestes a acabar com todo aquele problema. Ela não precisaria mais se preocupar. E eu poderia passar para o próximo passo.
"Nunca podia imaginar que você pensava assim," ela disse.
Eu dei mais um passo à frente, que ela não evitou, e coloquei meu braço em volta do seu ombro. Ela seguiu meu movimento com os olhos, como se precisasse se assegurar de que aquilo estava mesmo acontecendo. Seu cheiro era familiar, apesar de eu não saber direito de onde o conhecia. Não fiz questão de descobrir, gostava do seu perfume, independente da razão.
"Você não precisa me esconder nada," falei, fazendo-a voltar a mirar seus olhos nos meus. "O que você precisar me contar, eu vou entender. Eu gostei de você. Do jeito que você é. Não precisa se preocupar, Karen."
Seus ombros murcharam embaixo do meu braço, e eu presumi que fosse de alívio. Mas ela baixou os olhos e demorou para voltar a me olhar e sorrir. Eu imitei o sorriso e fiz menção de chegar meu rosto mais perto do dela, mas ela rapidamente se desvencilhou do meu abraço e saiu andando pelo corredor.
"Vem," ela disse. "Se você gosta tanto de comida, talvez eu deva lhe ensinar a se virar um pouco."
A menina tinha passado a noite inteira me olhando, sem parar de sorrir e rir para tudo que eu falava. Mas todas as vezes que eu tentava me aproximar mais, ela achava alguma desculpa.
Difícil. Ela era difícil. Mas eu não me importava. Se fosse fácil, eu não teria corrido atrás dela enquanto ela me guiava até a cozinha.


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