Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 31
Capítulo 31: POV Jazmyn Hope


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "My Love Is Like A Star" da Demi Lovato.



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Não foi nem o barulho da menina caindo que me chamou a atenção. Foi minha irmã a aplaudindo, logo antes. E como se eu já soubesse o que ia acontecer, me virei a tempo de ver a menina girando e o cara esbarrando nela. Antes que a palma de suas mãos estivessem no chão, amortecendo sua queda, eu estava de pé, correndo para ela.
Ela se virou para sentar e mirou seu pé como se ele estivesse em chamas. Estava a um passo dela quando tentou tocá-lo e estremeceu de dor.
"Não tenta mexer agora," eu pedi, me ajoelhando do lado dela.
Ao mesmo tempo, vi com o canto do olho um cara se aproximando.
"Eu posso ajudar," ele declarou, suas mãos aparecendo em meu campo de visão.
"Não," eu falei alto, considerando aquele o ponto final e já me direcionando de novo à menina. "Isso pode doer," disse. "Mas eu preciso saber o que foi que aconteceu aqui."
Eu fiz menção de pegar em seu pé, mas ela o puxou para trás, suas lágrimas já livres para correrem pelas suas bochechas sem parar.
"Eu posso mesmo ajudar!" O cara insistiu, também tentando pegar no pé dela.
Ela olhou de mim para ele, sem saber com quem ir.
"Eu sou mestre em pés torcidos," ele garantiu, achando que isso iria animá-la. Ao invés, ela só franziu as sobrancelhas para ele como se sentisse mais uma onda de choro prestes a transbordar.
"Eu sou médica desse castelo," eu declarei um pouco mais alta, na hora fazendo-o afastar suas mãos.
Não queria que meus superiores me ouvissem já me exibindo assim, quando tinha acabado de começar a trabalhar ali. Mas era um jeito fácil de conseguir que o amador parasse de interferir.
Quando a menina olhou para mim, ela parecia menos insegura, mesmo que fosse bem pouco.
"Como você se chama?" Eu perguntei, pegando em seu pé de leve. Ela reagiu ao meu toque mais por instinto do que de dor, tinha certeza.
"Valentine," ela disse, sua voz trêmula.
"É a minha irmã," a Princesa Gabrielle me fez levantar o rosto para olhar para ela. Até então, eu tinha me esquecido de que tinha outras pessoas ali. A única que me importava era que tinha caído.
Meus olhos voltaram para ela. "Valentine, você já virou o pé alguma vez na vida?"
Ela tentou rir, mas não saiu natural.
"Milhares de vezes," a princesa respondeu por ela.
"Então você sabe que eu vou tentar esticar só um pouco seu pé?" Ela concordou com a cabeça, fechando os olhos e forçando mais lágrimas a saírem.
A princesa a abraçou, enquanto ela segurava forte em sua mão. Melody estava de pé ali, observando cada movimento meu, do lado do cara que queria ajudar e se achava melhor do que eu.
E então eu vi o resto todo da festa fazendo um círculo em volta de nós, todos loucos para não perderem nem um segundo do que estava acontecendo.
Quando voltei a olhar para Valentine, estava me questionando se teria algum jeito de pegá-la no colo e levá-la para outro lugar onde eu pudesse examiná-la sozinha. Mas ainda não era hora aquilo poderia piorar tudo para ela antes de eu saber o que ela tinha machucado.
Então eu afastei qualquer pensando indevido e me concentrei nela.
"Você dança?" Perguntei, enquanto tentava arretar seu calcanhar.
"Danço," ela respondeu, travndo seus dentes de dor. Ainda que fechasse os olhos, voltava a abri-los logo depois toda vez, sem querer parar de ver o que eu fazia.
Dava para ver que dançava só no jeito que seu pé era todo maltratado. Senti os ossos do seu calcanhar com cuidado, sem conseguir evitar que doesse. Parecia que pelo menos uma vez na vida ela já tinha quebrado o pé, mas nada que tivesse piorado ali.
Sua pele já inchava e eu sabia bem aonde. Não era nada sério, mas ficar mais tempo ali não estava ajudando.
"Eu vou te levar agora para a ala hospitalar," eu disse, fazendo-a me mirar como se tivesse declarado que ela nunca andaria na vida. "Não é nada sério," eu corri para informá-la. "Mas lá eu tenho como te ajudar a não ter nenhuma consequência."
Ela concordou com a cabeça e eu olhei em volta por um jeito de tentar levantá-la.
"Quer ajuda?" O cara que antes tinha oferecido perguntou, todo convencido de que eu precisava dele.
"Eu que tenho que ajudar," outro disse antes que eu pudesse falar alguma coisa, passando na sua frente. "É tudo culpa minha."
Valentine olhou para ele como se ouvisse pela primeira vez que alguém tinha feito aquilo com ela.
"Você então," eu apontei para o grande culpado.
Ia indicar para ele me ajudar a carregá-la, mas em dois segundos, ela estava em seus braços e ele estava começando a andar em direção à porta.
Eu passei pelo cara que tinha competido comigo para ajudá-la e sorri para ele, satisfeita em deixá-lo para trás.
Mas a alguns passos depois, lá estava ele, me seguindo.
"Você não fez nada que eu não saberia fazer," me informou quando nós saímos do salão, o culpado e a vítima a vários metros na nossa frente.
Eu não falei nada, me contentei em sorrir para mim mesma.
"Eu poderia muito bem tê-la ajudado," ele continuou.
"Eu entendi," falei.
"Então por que não me deixou?" Ele parou de andar, mas eu continuei.
"Porque eu confio muito mais em mim mesma," disse.
Logo podia ouvir seus passos apressados em me alcançar.
"E o que você ainda está fazendo aqui?" Perguntei.
Quando não ouvi uma resposta, olhei por cima do ombro para ele, que só deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos.
Voltei a olhar para a frente e revirei os olhos. E então nós viramos o corredor, para encontrar o cara que segurava Valentine parado.
"Que houve?" Perguntei, correndo para eles.
"Não sei chegar na ala hospitalar," ele me informou, olhando para mim de um jeito esquisito.
Eu nem tinha pensado naquilo. Mas nós tínhamos saído do salão pelo lado certo. E até então, ele não tinha feito uma curva errada. Nem tinha me deixado espaço para questionar.
"É ali," eu apontei para as portas duplas brancas no meio do corredor, meu tom levemente sarcástico.
Ele sorriu para mim, não muito surpreso, e continuou seu caminho,
Eu, hein.
Assim que eu cheguei à porta, me virei para impedir o outro cara de entrar.
"Daqui pra frente," eu disse, "você só pode me atrapalhar."
Ele me olhou como se eu fosse louca.
"Você vai ficar no meu caminho!" Eu insisti. "Por favor, volte para a festa."
"Você não é ninguém para mandar em mim," ele bufou.
Eu o mirei, séria.
"Está bem," ele acabou dizendo. "Não precisa ficar me amaldiçoando na sua cabeça."
"Quem disse que eu estou te amaldiçoando?"
"Ian," ele disse logo depois.
"Quê?"
"Ian," repetiu. "É meu nome. Para quando você quiser me procurar e pedir desculpas, admitindo que realmente precisava de mim, mas que seu orgulho falou mais alto."
A cada palavra eu sentia como se ele estivesse me estapeando. E ele ficou super satisfeito, se virando e voltando pelo caminho que tínhamos feito.
Desnecessário, eu pensei comigo mesma, entrando de vez na ala hospitalar.
Passei pelas enfermeiras que me falaram que a menina estava no quarto principal. Não entendia direito porque ela precisava do melhor quarto ali para um pé machucado, mas ser a irmã da princesa devia contar bastante para isso.
Valentine estava deitada na cama enorme e confortável, enquanto o cara esperava praticamente do outro lado do quarto. Para quem a tinha carregado, ele estava tentando ao máximo não estar ali ao mesmo tempo que cumpria sua obrigação.
"Eu sinto muito," ele disse, quando eu ajeitei o pé dela em cima de um travesseiro e ela se encolheu de dor.
Ela levantou uma mão para ele, sem falar nada.
"Eu devia ter visto por onde eu andava," ele insistiu, quase como se pensasse em voz alta. "Mas eu vi que você tinha parado de dançar. E eu achei que podia passar-"
"Não foi nada grave," eu intervim, vendo que ela não queria ouvi-lo, só queria se concentrar em seu pé.
Uma enfermeira chegou com duas bolsas de gelo e eu fui até um armário perto da porta.
"Você é muito boa," o cara continuou falando. "Dançando. Você é realmente muito boa."
Quando eu voltei do armário com uma pomada, Valentine tentava sorrir, mas não parecia conseguir.
"Como você se chama?" Eu me virei para o cara.
Ele hesitou para me responder, talvez pensando que aquela festa o impedia de ser sincero.
"Blake," acabou falando.
Eu esperei um sobrenome, mas o primeiro era tudo que receberia.
"Blake, você já ajudou como pôde," eu disse. "Agora eu acho que seria melhor se nos deixasse sozinhas," pedi.
Ele pareceu ainda mais culpado, por estar atrapalhando quando tudo que queria era se desculpar. Olhou de mim para ela, depois de volta para mim. E então ele tinha aceitado, concordou com a cabeça e saiu pela porta.
"Essa pomada é para a sua pele," eu a informei, me sentando na sua frente. "Se você quer voltar a dançar o mais rápido possível, eu lhe aconselho a ficar com gelo pelo máximo de tempo possível. E isso vai queimar um pouco a sua pele. É para isso que estou te dando essa pomada."
Eu passei um pouco no pé dela antes mesmo de colocar a bolsa de gelo, e ela só me observou.
"Hoje à noite, só gelo," continuei. "Mas a partir de amanhã, é bom que você troque. Fique quinze minutos com uma de gelo e quinze com uma de água quente. Duas vezes cada, duas vezes por dia."
"Logo em seguida?"
"Logo em seguida. Vai doer, principalmente quando estiver trocando, mas vale a pena. Vai melhor bem mais rápido."
"Qualquer coisa," ela disse, várias novas lágrimas a inundando e fazendo com que mal conseguisse terminar aquelas duas palavras.
"Ei," eu falei, me esticando para alcançar sua mão, que ela ofereceu rapidamente para eu segurar. "Não foi seu calcanhar, nem seu tornozelo. O nervo do peito do seu pé que esticou fora de normal," eu soltei de sua mão e da pomada para mostrar. "Aqui," disse, pegando levemente em seu pé. "Deve ter sido por aqui, por isso parece que foi seu tornozelo," indiquei bem perto de onde começava seu pé, onde estava bem inchado. "E por isso esticar pode ser um problema."
Ela engoliu fundo a seco, me ouvindo.
"Forçar só vai piorar e pode fazer começar a doer embaixo do pé," continuei. "E adiar bem até ele desinchar."
"O que você falar para eu fazer, eu faço," me prometeu.
"Se você quiser, posso pedir para te levarem para o seu quarto," ofereci.
Ela concordou com a cabeça.
Então me levantei e fui até a porta, só para colocar a cabeça para fora e chamar uma enfermeira.
"Ela tá bem?" Blake me perguntou do nada, me dando um susto.
"Deus!" Soltei, segurando minha barriga para ter certeza de que ainda respirava. "Não sabia que ainda estava aí."
"Você disse que eu estava atrapalhando," ele se levantou da cadeira no corredor onde tinha estado sentado e deu dois passos até mim. "Tem alguma coisa que eu possa fazer?"
Eu olhei em volta, mas todas as enfermeiras que estavam ali pareciam ter desaparecido. Imaginava que a maioria ainda estava na festa e nem lembrava seus nomes.
"Eu preciso chamar alguém para levá-la para o quarto dela e ajudá-la com uma compressão de gelo," eu disse, passando por ele e indo até a estação de enfermagem.
Mas ele correu para se colocar na minha frente.
"Eu posso fazer isso," ofereceu.
"Não, eu preciso de alguém especializado," falei, tentando passar por ele, que de novo bloqueou meu caminho.
"Eu tenho curso de primeiros socorros," me informou.
"Sério?" Não queria duvidar muito dele, mas minha pergunta pareceu mais uma piada.
"Sim, sério," ele colocou os braços atrás das costas, como se estivessem sendo alistado.
"Mas você é um estranho."
"Mas eu devo isso a ela," insistiu.
Eu pensei um pouco, sem parar de olhar por cima do ombro dele para ver se alguma enfermeira me ajudaria e se voluntariaria.
"Está bem," acabei dizendo, quando vi que todas fingiam que nada estava acontecendo. "Mas só se ela não se importar."


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