Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 29
Capítulo 29: POV Alaric Harrison


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Dirty Laundry" da Kelly Rowland.



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Aquela festa estava saindo melhor do que o esperado. Lola não ria, mas não poderia negar que estava se divertindo. Estava até fácil demais, eu realmente esperava que ela fosse me oferecer um pouco mais de desafio. Mas os pequenos que ela me exigia eram o suficiente para eu ir conquistando a sua confiança de pouco em pouco.
Eu já tinha entrado no banheiro feminino, roubado o xale de uma mulher qualquer, admitido para todos ali que era um selecionado e que a achava a princesa mais linda do mundo. Ela só queria mesmo me testar, tentar ver até onde eu iria. E por mais que eu quisesse continuar com os desafios até o final, sabia bem o que me pararia. E tinha certeza de que, o que quer que fosse, não me eliminaria. Ela queria ver meus limites para conhecê-los, não para criar uma desculpa para me tirar.
E isso eu podia ver no rosto dela toda vez que eu voltava com mais uma missão cumprida.
Os poucos sorrisos que eu ganhava dela eram motivação suficiente para me fazer ir atrás do próximo desafio - mesmo quando isso implicava em ter que inventar uma desculpa para a organizadora da festa não me achar pervertido.
Eu saí do banheiro feminino rindo, com as duas mãos na barriga, sem conseguir me controlar. Ela tinha praticamente me enxotado de lá, como se eu fosse maluco e tivesse mesmo visto alguma coisa absurda ou inédita. E até então eu estava tentando me manter tão sério quanto Lola, para ela não achar que estava me dobrando mais do que eu conseguia fazer o mesmo a ela. Mas era demais. E eu sentia todo meu interior doer com a vontade de rir. De desespero mesmo.
"A que ponto nós chegamos?!" Ouvi a voz da organizadora dentro do banheiro, me causando mais uma onda de risadas que tão pouco consegui segurar.
"Eu acho que a traumatizei para sempre," falei, chegando perto de Lola, que me esperava apoiada em uma das janelas do corredor.
"Se alguém te perguntar, você não me conhece," ela disse, levantando as sobrancelhas rapidamente e voltando a ficar de pé. O mínimo dos sorrisos tomava conta do seu rosto.
Ela começou a andar e eu fui atrás dela, só os vestígios da risada ainda me doendo a barriga. Eu me endireitei e pigarrei.
"Que foi?" Ela perguntou, andando na minha frente, mas sem olhar para trás.
"Acho que está na hora de mais um desafio seu."
"Acho que está na hora de nós conseguirmos nos entreter de outra maneira," ela respondeu, parando de andar e se virando com um giro até estar de frente para mim.
"Gosto do jeito que você pensa," eu disse, levantando uma sobrancelha.
Ela tirou seus olhos de mim para mirá-los no teto e, depois de uma respirada funda, voltou a me olhar.
"Quem sabe esteja na hora de eu me entreter com outra pessoa," falou, apertando seus olhos para mim.
Ela realmente achava que aquilo iria me derrotar? Ela só podia estar brincando.
"Vá em frente," eu disse, colocando as mãos nos bolsos e estufando o peito em sua direção.
Ela recuou um pouco a cabeça, mas manteve seu queixo levantado e a mandíbula bem travada.
Não foi tão fácil me manter sério. Ela me olhava toda mandona, como se só seus olhos conseguissem me fazer ajoelhar na sua frente. Mas a verdade é que eu não conseguia encará-la sem perceber o quanto ela era linda. E como toda vez que ela levantava seu queixo me dava vontade de trazê-lo para mim.
"Está bem," ela disse, depois de provavelmente pensar em mil outras coisas, mil coisas que ela provavelmente queria me perguntar.
Mas como eu, ela nunca admitiria algo tão fraco quanto curiosidade. Não quando ela sabia que uma pergunta feita não era garantia nenhuma de que eu responderia.
"Mas antes," eu falei, assim que ela se virou para continuar seu caminho, "você me deve seu último desafio."
"Eu não lhe devo nada," ela disse.
Eu andei até ela e dei a volta para a olhar de frente, mas sem deixar mais do que poucos centímetros entre nós.
"Na verdade, você deve sim," falei. "Sabe, o primeiro desafio foi meu. E o último também. Para que fique justo, você precisa me ceder mais um."
Ela revirou os olhos, voltando a me olhar assim que tinha terminado. Não parecia se importar nem um pouco com a minha proximidade. Pelo contrário, ela só levantou o rosto ainda mais para me alcançar em altura e ao mesmo tempo me fazer ter que me segurar para não lhe roubar um beijo.
"O que você quer, Manchester?"
"Não disse que seria agora," falei, me virando de costas para ela, tanto para ter uma saída dramática, quanto para não sucumbir ali, na linha de chegada.
"Bom, enquanto você não decide o que quer, eu vou beber alguma coisa," ela disse, passando por mim e entrando no salão.
Eu a segui, mesmo de longe. Ela pegou uma taça de um garçon que passava e começou a andar pela festa entre os convidados. Ela sabia que estava sendo observada, porque de tempos em tempos, procurava por cima do ombro por mim.
Depois de alguns minutos fingindo estar mais interessada na festa do que em mim, a vi bufando e soltando a sua taça vazia em uma bandeja qualquer. Como quem não queria nada, passei por ela e fui até a varanda que levava ao jardim. Não muito tempo depois, ela estava do meu lado.
"Odeio o clima daqui," ela disse, seu olhar perdido no horizonte.
O jardim não estava muito iluminado, mas a noite estava clara. Não estava quente, nem frio. Estava ótimo.
"Só uma londrina para falar isso."
Não vi a reação dela, pois eu mesmo continuei olhando para a frente.
"E então, o que você veio fazer aqui?" Ela perguntou depois de vários minutos em silêncio.
Com o canto do olho, a vi se virando para mim e fiz o mesmo para ela.
"O que quer dizer?"
"Por que você está nessa competição, Manchester?"
Eu sorri, voltando a ficar sério logo depois. "Alaric," corrigi.
"Continuarei a te chamar de Manchester," ela insistiu.
"É seu jeito de conseguir se distanciar de nós até a sua escolha?"
Minha pergunta a afetou como um tapa, do qual ela se recuperou rapidamente. "Sim," respondeu, me surpreendendo.
Quase desconcertado, eu mesmo resolvi não insistir.
"Eu vim para essa competição para me casar com você," foi o que eu falei logo em seguida.
Ela não pareceu nem um pouco reagir àquilo. Pelo contrário, era como se ela já estivesse esperando minha resposta e já não acreditava nela.
"Então você é só mais um?" Me perguntou.
Eu bufei uma risada sem humor. "Sabe o que é, Londres," falei, fazendo-a levantar uma sobrancelha para como a tinha chamado, "eu tenho tudo de que eu preciso na minha vida. Eu tenho minha família, minha carreira, sou quem eu quero ser. Eu não preciso de nada. Além de você."
"Eu não venho sozinha," disse sem esperar um milésimo de segundo.
"Como assim?"
Ela respirou fundo, sem deixar que seus ombros amolecessem ou que sua pose se perdesse.
"Eu venho com uma coroa. Eu venho com um país inteiro."
"Essa parte eu ainda não dominei," admiti. "Mas por enquanto eu não tenho o mínimo interesse em virar rei." Ela franziu as sobrancelhas, assustada. "Não me entenda mal, não é como se eu fosse negar caso você me escolhesse. O que eu quero dizer é que esse cargo é seu. Quero aprender com você e como der. Mas eu não quero almejar algo que eu mal compreendo no momento."
Ela só me escutou, sua expressão assustada desaparecendo a cada palavra minha. Pensou sozinha, voltou a olhar para o jardim, tudo enquanto eu esperava não tê-la decepcionado com minha resposta.
"Acho que está na hora do seu último desafio," eu disse do nada, fazendo-a se virar para me olhar.
"O que você quer?"
"Quero que me responda uma pergunta com toda a sinceridade do mundo," pedi. "Prometo não ser muito aproveitador."
Ela só assentiu, provavelmente ainda abalada pelo que eu tinha dito.
Eu respirei fundo. "O que você quer dessa competição, princesa?"
Sua boca abriu sem que ela a controlasse e ela arregalou os olhos, perdendo-os atrás de mim. Chegou até a levar uma mão à testa e voltar a mirar o jardim.
"Sinceramente?" Perguntou, quando finalmente decidiu sua resposta. Eu fiz que sim com a cabeça. "Quero uma escolha fácil. Rápida. Que resolva tudo de uma vez sem eu ter que lutar muito."
Não pude evitar de sorrir, que ela me imitou, de um jeito bem mais triste que eu. Seus olhos caíram dos meus para minha boca e, quando eu achava que era para lá que eles ficariam olhando, eles desceram até meu colarinho.
"Você usa um colar?" Perguntou, se aproximando de mim.
"Sim," disse, pegando-o pela corrente e tentando puxá-lo para fora. Não era fácil, o pingente era pesado e tinha passado a noite inteira me batendo o peito.
Isso porque não era um pingente comum.
"Você carrega uma bússola no pescoço?" Lola me perguntou assim que eu consegui tirá-la de dentro da minha camisa.
"Sim," respondi, eu mesmo a mirando. "Eu ganhei de meu pai quando era pequeno, da primeira vez que eu disse que queria viajar o mundo."
"E ele te deu a bússola para você sempre encontrar o caminho para casa?" Ela perguntou, quase como uma piada. Mas quando não ouviu minha resposta, tirou seus olhos do meu colar e olhou nos meus.
"Algo assim," respondi, me esforçando para que ela não parasse de me encarar.
E quase funcionou. Mas ela deve ter percebido que estava funcionando, pois voltou a olhar para a bússola até pegá-la com a mão. Eu a deixei, apesar de ver ali uma oportunidade fácil de tocá-la.
"Você já viajou o mundo?" Perguntou.
"Perto disso," respondi.
"Manchester?"
"Já," admiti. "Brevemente."
"Londres?"
"Algumas vezes."
"E o que pensa do Reino Unido?" Ela soltou a bússola e se distanciou um pouco de mim.
"Eu acho que eles tem muita sorte de ter uma herdeira como você," disse, me inclinando discretamente para ela.
Um canto de sua boca ameaçou a se curvar, mas ela logo reprimiu o sorriso.
"Então nós concordamos em alguma coisa," ela disse, levantando seu queixo de novo na minha direção.
Se ela pelo menos soubesse o aquilo me causava.


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