Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 25
Capítulo 25: POV Elena Leger


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Daddy's Home (Hey Daddy)" do Usher. Haha, a música é boa, eu juro!



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Me mirei no espelho, apertando os olhos. Baguncei mais uma vez o cabelo, levantei um pouco o ombro. Pose atrás de pose, eu tentava imitar como ficaria quando estivesse dançando para ter uma ideia se estava bonita ou não.
Mas a peruca já estava me incomodando. A máscara era desconfortável o suficiente, mas valia a pena só pelo mistério. Já o cabelo falso não me ajudava em nada.
Juntei todas as mechas e as segurei como em um rabo de cabelo. Por que a princesa precisava ter o cabelo tão comprido? Eu gostava mais quando meus ombros apareciam, nem que fosse só o pouco que meu cabelo médio permitia.
O barulho de uma menina saindo de uma cabine do banheiro me fez olhar para ela. Estava vestida como eu, era até estranho vê-la pelo espelho.
"Essa peruca é pesada, né?" Me perguntou, vendo que eu a segurava.
Soltei na hora. "Demais," disse, bufando logo depois. "Será que alguém vai perceber se eu a tirar?"
"Eu estava pensando a mesma coisa!" Ela riu. "Mas eu acho que para mim perceberiam. Não é como se meu cabelo fosse da mesma cor!"
"O meu é, só é mais curto," voltei a me mirar no espelho, tirando o cabelo da minha nuca. "Você é loira?"
"Ruiva," ela respondeu enquanto lavava as mãos.
Eu bufei de novo, soltando o cabelo. "Qual o pior que podem fazer? Me obrigar a colocar de novo?"
"Vai saber," ela fechou a torneira e se apoiou na pia com o quadril, se virando para mim. "Vai saber como a princesa vai reagir."
Honestamente? Não me importava. Toda vez que eu soltava a peruca, sentia o cabelo roçando na minha nuca e o calor daquilo me incomodava muito! Se não era para tirar, pelo menos eles tinham que ter feito um penteado que fosse um pouco menos insuportável.
"Tenho uma ideia," a menina disse, indo até mim.
Ela tirou um elástico que tinha no pulso e, sem me pedir nem nada, como se já fôssemos amigas há anos, ela juntou todo o cabelo da peruca e o colocou em um coque perfeito. Tão perfeito, que era difícil imaginar como ela tinha conseguido fazê-lo com nada além de um elástico.
"Se perguntarem, fale que você é a princesa do Reino Unido e não está acostumada com o calor de Angeles," a menina disse, colocando as mãos nos meus ombros. "E se reclamarem, diga que a Princesa Gabrielle a deixou."
"Mas você não é a Gabrielle," eu me virei para ela. Se o reflexo estava ajudando a sua máscara a me enganar, ver de perto seria o suficiente para eu ter certeza de que não estava enganada e não tinha reconhecido logo uma das princesas.
"Não," ela me respondeu. "Sou a irmã dela," ela levantou sua máscara só um pouco. "Valentine, prazer."
Pelo menos eu não estava ficando louca.
"Elena," eu disse sem pensar. "Nossa."
"Quê?"
"A última vez que eu te vi, você era bem mais nova," dei um passo atrás, para tentar vê-la melhor através do vestido e da máscara que usava.
"A culpa é sua," ela passou por mim e foi ajustar de novo sua máscara no espelho. "Você que nunca vem para o castelo e fica arrumando desculpas para viajar pelo mundo."
"É isso que falam de mim, é?" Eu também voltei a me olhar no espelho e tentei ajeitar minha franja para combinar com o coque dela.
Não tinha um fio fora do lugar. Eu ainda estava tentando entender o que ela tinha feito para que a peruca parasse tão bem. Será que era meu cabelo que não conseguia ficar em um coque perfeito? Que eu teria sempre que ir atrás de perucas para conseguir esse efeito bailarina?
"É essa a reputação que você adquiriu," ela me respondeu. "A de Amelia pelo menos é um pouco melhor."
"Ai meu deus, a Mia!" Eu soltei.
Já a imaginava deitava no bar, com as bebidas quentes.
"Eu preciso ir encontrá-la," disse, já saindo do banheiro. Antes de desaparecer completamente, me virei de novo para Valentine. "Obrigada pela ajuda! A gente se vê por aí!"
"Disponha."
Assim que saí do banheiro, reconheci Mia. Ela não estava deitada no bar. Não parecia entediada. Pelo contrário. Eu só podia ver suas costas, mas via o cara na sua frente. E o jeito que ele parecia encabulado, colocando suas mãos nos bolsos. Senti um impulso de entrar na conversa e saber do que eles falavam. E não resisti.
"Aí está você!" Disse, quase pulando em seus ombros. "Cadê as bebidas? Vai dizer que já secou e está precisando de mais uma?"
Me virei para o bar, como quem nem tinha percebido o cara ali. Na minha cabeça, torcia para que eles terminassem a conversa deles e me deixassem ouvir. Mas não falaram nada.
O barman me percebeu subindo no bar e veio logo falar comigo.
"Duas taças de champanhe," pedi, sorrindo sugestivamente.
Ele era bem bonito, mesmo atrás da máscara. Por um segundo, me perguntei se ele poderia ser um selecionado, já que eu não o reconhecia.
Mas Valentine estava certa. Fazia muito tempo que eu não vinha para o castelo. Eu era uma estranha por aqui.
Sem ouvir mais nada de Mia, me virei para olhar para ela. O cara tinha desaparecido. E sem falar nada? Ou eu que não tinha ouvido nada?
"Quem era aquele?" Perguntei, quando ela se virou para se juntar a mim no bar.
"Ninguém," me respondeu. Eu podia ver que estava incomodada. Ele devia mesmo tê-la deixado falando sozinha. "Só um professor."
"Uuh, professor," coloquei o braço em volta do pescoço dela. Se ela estava se sentindo um pouco abandonada, eu precisava animá-la. Não queria deixar minha companheira assim. "Estava se dando bem com um professor, é? Desculpa atrapalhar."
"Ninguém estava se dando bem com ninguém," ela disse, até desanimada demais.
"Que pena," ouvi o barman colocando nossas bebidas no bar, mas mantive um olho nela para a sua reação. "Ele é bonito."
"É?"
Ela achava que me enganava muito.
"Ah, vai dizer que não percebeu?" Pisquei para o barman, que me devolveu um sorriso um pouco envergonhado.
Eu precisaria descobrir o nome dele depois, pensei, enquanto tomava meu primeiro gole.
"Bom, eu percebi," disse, esperando que Mia ficasse incomodada. Mas ela resistia bem.
Talvez eu estivesse exagerando, imaginando coisas. Ela nunca demonstrava interesse nenhum, será que ela era tão desacreditada assim? Se fosse, pelo menos isso explicava porque ela sempre encontrava problemas nos caras de quem eu gostava.
"Me apresenta," eu disse.
Seus olhos se levantaram na hora para me olhar. Há, eu não estava imaginando coisas!
"Como é?" Me perguntou e eu pude ver quando engoliu a seco.
"Me apresenta," eu repeti, só para provocar mesmo. "Você sempre diz que eu preciso ir atrás de caras bons e parar de me meter com aqueles sem futuro. O que melhor do que um professor?"
Ela deixou seus olhos caírem na sua taça, que mal segurava. Era tão difícil assim ela simplesmente admitir que tinha o mínimo dos interesses nele? Só o suficiente para me barrar?
"Vai, o que custa?" Dei um empurrão nela com o ombro. "A não ser que você o queira pra você," completei, levantando uma sobrancelha.
"Não quero," ela falou em menos de um segundo. Se não quisesse mesmo, não precisaria me provar assim. "Te apresento, vai. Não temos o que perder, não é?"
Ela tomou um gole do champanhe, e eu não parei de observá-la com meu braço em volta do seu pescoço.
Por que ela tinha que fazer tudo ser tão difícil? Se ela só me falasse que não achava que era boa ideia, ou pelo menos admitisse por um segundo que seria esquisito, eu desistiria de provocá-la.
Ela acreditava que não tinha mais um coração. Insistia que homens eram perda de tempo, que não tinha paciência para namorar e que ninguém que merecia sua atenção já tinha aparecido. Ela repetia isso toda vez que eu tentava virar o assunto para cima dela. Toda vez que vinha me explicar porque o cara com quem eu estava não era bom o suficiente para mim. Eu retrucava que ela era solitária demais e não tinha muita moral para falar. E aí ela começava o discurso de porque ela era contra relacionamentos.
A verdade era que ela tinha medo de ser rejeitada. Ela não entendia as partes boas e divertidas do jogo, só o preço que teria que pagar por ele. Se tivesse que pagar alguma coisa.
A minha missão era quebrá-la. Provocá-la até que ela admitisse que não era tão insensível assim. E era isso mesmo que eu faria.


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