Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 22
Capítulo 22: POV Amelia Woodwork


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Riot!" da Cher Lloyd. Mas se eu tivesse que escolher músicas para tocarem durante a festa, seriam essas:
Show Me a Good Time - Drake
Sophomore - Ciara
Just Askin' - Iggy Azalea
Only - Nicki Minaj
Love More - Chris Brown feat. Nicki Minaj
23 - Wiz Khalifa, Miley Cyrus, Juicy J
All Hands on Deck - Tinashe
2 On - Tinashe
Entre outras nesse estilo.



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"Isso daqui não é uma festa de faculdade," Elena disse, sem parar de se mexer no ritmo da música que nos envolvia na pista de dança.
"O que foi que entregou? A falta de copos vermelhos?" Perguntei, a acompanhando.
Era um R&B contagiante, não tinha muito o que nos faria parar de dançar. Mesmo se não quiséssemos, nossos corpos se moviam no ritmo involuntariamente.
"Sim," Elena concordou com a cabeça, marcando a batida. "Eu nunca vi taças em Standford."
"Só taças de futebol," a corrigi e ela sorriu para mim.
"Há, já fazem anos que o nosso time não vê a cor de uma taça, querida," ela deu de ombros, como se os desprezasse, me fazendo rir.
"Coitados! Eles tentam!"
"Bom," ela girou devagar em volta de si mesma, mexendo os ombros para o lado, "esse é o mínimo que eles podem fazer."
Deixando seus quadris acompanharem a letra da música, ela rebolou um pouco e eu tive que tentar imitá-la. Não queria ser a quadrada, mas era difícil competir com ela. Ela desceu alguns poucos centímetros, seus joelhos a suportando com facilidade. Eu tentei fazer o mesmo e assim que me abaixei um pouco, os meus se recusaram a deixar meu quadril se mexer.
Era muito estranho! Elena os movia como em círculo, de um jeito quase hipnotizante. Eu via exatamente o que eu precisava fazer. Em teoria, eu apresentaria teses e teses. Mas era como se o meu corpo não tivesse sido feito para aquilo. E não importava o quanto eu tentava - e o quanto ela tentava me ensinar, - eu seria sempre a menina que dava dois passos para um lado, dois para o outro.
"Sabe qual é o seu problema?" Elena perguntou, apontando para mim. "Seus ombros. São eles que dão o ritmo, eles que mostram o gingado. Você precisa mostrar gingado!"
"Eu mostraria, se eu tivesse!" Exclamei, o mais alto que podia. A música estava a mil níveis acima e eu não me importei com alguém me ouvindo. "Eu preciso é de outra coisa."
"Do quê?"
"Álcool," disse, e ela abriu um sorriso.
"É disso que eu estou falando!" Ela também praticamente gritou, rindo logo depois. "Vamos trazer um pouco das festas de faculdade para o castelo!"
Ela segurou na minha mão e eu me virei de costas para ela, a puxando até o bar. Mas nenhum de nossos passos foi dado sem que nós continuássemos dançando. Ela, do jeito profissional dela, eu do meu jeito deslocado.
"Eu vou dar uma passadinha no banheiro," Elena me disse logo que chegávamos ao bar.
Eu só concordei com a cabeça, apesar de ela já ter começado a se afastar e nem ter esperado a minha resposta.
Dei algumas batucadas no bar enquanto esperava o barman olhar para mim. Quando ele finalmente olhou, fiz sinal para ele, que ignorou. Com a mão no ar e perto da minha cabeça, disfarcei passando-a pelo cabelo, como quem não queria nada.
"Não se preocupe, eu já fiz isso umas vinte vezes hoje," uma voz do meu lado me falou. Me virei para encontrar um cara se apoiando com o cotovelo no bar e sorrindo para mim. Bom, para quem ele achava que estava embaixo da minha máscara. "Eu sou Alex," ele disse, me oferecendo sua mão para apertar.
Eu olhei dela para ele e de volta para ela. Nós não deveríamos estar mantendo o segredo da nossa identidade? Será que ele não sabia que era para ajudar a confundir a princesa e os selecionados?
"Algum problema?" Me perguntou.
"O que você faz, Alex?" Não era só porque eu tinha que manter minha identidade secreta, que eu conseguiria controlar minha curiosidade.
Ele olhou para a sua mão, a escondendo atrás das costas logo em seguida.
"Eu sou professor," me informou. "E a senhorita?"
Eu bufei uma risada. Logo nas minhas férias, o primeiro cara com quem eu cruzava caminho era um professor!
"Desculpa, eu fiz alguma coisa errada?" Ele perguntou, levando a mão ao peito.
"Absolutamente nada," eu disse.
"Por que não me diz seu nome?"
Olhei por cima do ombro, esperando que Elena já estivesse voltando. Não queria incentivá-lo, nem por mais nem um segundo. Não havia nada de errado nele, sem contar com o fato de que era um homem e que parecia muito inclinado a criar conversa entre nós. E eu realmente não tinha nem tempo, nem paciência para levar aquele jogo em frente.
Meus olhos passaram pelo bar e voltaram a mirá-lo.
"Vamos fazer assim," eu disse, "você me consegue a atenção do barman e eu te digo meu nome."
"Seu nome e o que você faz nessa festa," ele aumentou a aposta.
Eu parei por um segundo para olhar para ele, que sorria de lado, sem parecer conseguir me olhar nos olhos por mais do que um segundo sequer. Acabei dando de ombros. E então ele se concentrou no barman.
Tirou as duas mãos do bolso e se inclinou em cima do bar, dedicado a ganhar a aposta. Eu só queria conseguir minha bebida a tempo de Elena chegar para eu poder sair dali e me misturar de novo na festa, deixando-o para trás.
Ele tentou acenar para o barman, chamou-o pelo nome, me mandou um sorriso de desculpas sem desistir, continuou insistindo, demorando cada vez mais. E nada da Elena. Eu estava prestes a dizer que não precisava mais, mas já estava planejando deixá-lo para trás, o mínimo que eu podia fazer era lhe dar algum tipo de prêmio, nem que fosse só por tentar.
"Amelia," eu disse, fazendo-o virar para mim. "Meu nome é Amelia. E meus pais moram no castelo, por isso estou aqui."
"Mas eu nem consegui sua bebida," ele protestou, meio desconfortável. Até esfregou sua nuca, seus olhos perdidos em qualquer lugar, menos nos meus. Quase chegava perto, me fazendo pensar que finalmente ia me mirar, mas evitava todas as vezes.
"Não tem problema," eu disse, já pensando em como queria sair daquela situação. Ele estava desconfortável e me deixava com uma certa pena.
Mas eu não queria sentir pena. Porque se eu sentisse pena, eu ficaria ali conversando com ele. E deus sabe o que poderia sair disso.
"Na verdade, eu preciso ir procurar a minha amiga," eu disse, dando alguns passos para o lado. "Te vejo por aí?"
"Não, espera," para a minha surpresa, ela segurou em meu braço. Assim que ele percebeu o que tinha feito, me soltou, como se levasse um choque. "Eu ainda preciso te dar alguma coisa."
"Como é?"
"Você me disse seu nome," explicou. "Eu preciso te dar alguma coisa."
Não consegui evitar de olhar à nossa volta, como se procurasse uma saída. Ou alguém para me dizer se aquilo estava mesmo acontecendo.
Ele não podia simplesmente me deixar sair daquela interação esquisita? Eu sabia que ele queria tanto quanto eu que aquela conversa não tivesse acontecido.
"Não, sério. Não precisa, eu não-"
"Aqui," ele enfiou a mão no bolso dentro de seu blazer e tirou de lá um objeto estranho. "Eu nem sei se você gosta de esquilos, mas é o que eu tenho comigo."
"Oi?" Perguntei, apesar de meus dedos já estarem sendo atraídos pelo que ele me entregava.
Foi só quando ele estava na minha mão que eu consegui analisar direito o que era aquilo.
Era mesmo um esquilo. Pequeno, não tinha mais do que dez centímetros. Entalhado na madeira com detalhes tão precisos que me deixou curiosa para saber como tinha sido feito.
"Por que você está me dando isso?" Perguntei, sem olhar para ele.
Pude ver com o canto dos olhos quando ele deu de ombros. "Eu precisava te pagar de algum jeito, não é?"
"Mas eu não posso aceitar!" Estiquei minha mão para que ele pegasse de mim.
Eu não queria entregá-lo, na verdade. Mas me recusei a pensar por um segundo que aquilo era meu. Não queria nem acostumar com a ideia e nem planejar aonde eu o colocaria. Mesmo que meu cérebro já estivesse se inclinando a tais pensamentos.
"Não se preocupe, eu tenho vários," ele disse, levantando uma mão no ar para recusá-lo.
"É você quem faz?" Perguntei, voltando o esquilo para perto do meu rosto.
"Sim," ele disse, voltando suas mãos para os bolsos. "Na verdade, eu-"
"Aí está você!" Assim que ouvi a voz de Elena, senti suas mãos nos meus ombros. "Cadê as bebidas? Vai dizer que já secou e está precisando de mais uma?"
Eu me virei para ela na hora em que ela praticamente subia no bar. Ela conseguiu a atenção do barman antes que a pedisse.
"Eu-" Me virei de volta para Alex, mas tudo que encontrei foi suas costas, se afastando de mim.
"Quem era aquele?" Elena perguntou assim que eu voltei a me virar para ela.
"Ninguém," eu disse, me apoiando no bar do lado dela. "Só um professor."
"Uuh, professor," ela colocou o braço em volta do meu pescoço. "Estava se dando bem com um professor, é? Desculpa atrapalhar."
"Ninguém estava se dando bem com ninguém," eu disse, segurando o esquilo na minha mão esquerda do lado do meu corpo. Não sabia bem o que fazer com ele, mas tampouco queria soltá-lo.
"Que pena," ela disse, se virando para o barman, que colocava as bebidas à nossa frente. "Ele é bonito."
"É?" Foi tudo que eu conseguir dizer.
"Ah, vai dizer que não percebeu?" Ela piscou para o barman que lhe devolveu um sorriso.
Então era assim que ela tinha conseguido a atenção dele.
"Bom, eu percebi," disse logo depois de seu primeiro gole. Eu ainda nem tinha pegado minha taça. "Me apresenta."
"Como é?"
"Me apresenta," ela repetiu. "Você sempre diz que eu preciso ir atrás de caras bons e parar de me meter com aqueles sem futuro. O que melhor do que um professor?"
Eu pensei um pouco naquilo. Realmente, qualquer cara que tivesse uma profissão melhor do que simplesmente roubar motos e sair dirigindo pelo campus era um passo acima para Elena. Mas sei lá, quem poderia dizer que Alex gostaria dela?
"Vai, o que que custa?" Ela me deu um empurrão com o ombro. "A não ser que você o queira pra você."
"Não quero," falei antes que pudesse deixar parecer qualquer tipo de hesitação. "Te apresento, vai. Não temos o que perder, não é?"
Dei um gole profundo no champanhe enquanto Elena me abraçava pelo pescoço. Na minha mão esquerda, o esquilo até suava de tão forte que eu segurava.


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