Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 20
Capítulo 20: POV Alaric Harrison




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"Você não acha melhor ir com mais calma?" Ian perguntou para Keon, que virava seu segundo copo de uísque.
Ele não respondeu. Mas porque estava mais preocupado em tentar sobreviver ao álcool, que ele claramente odiava. Na minha opinião, era besteira ele estar bebendo daquele jeito. Mas era a vida dele. Ele podia fazer o que quisesse.
Me encostei de costas no bar, querendo dar mais uma olhada pela festa. Se alguém aparecesse ali, eu queria saber. Queria conseguir reconhecer a princesa assim que ela passasse na minha frente. Não seriam os espelhos e a pouca luz que me confundiriam.
Mas não precisava ser tão ansioso. Tomei um gole do meu uísque, olhando por cima do copo. As luzes diminuíram ainda mais e a música mudou. Todos sabíamos que alguma coisa estava prestes a acontecer e todos se viraram para olhar para as escadas de onde o rei e a rainha tinham vindo.
Demorou um pouco para elas aparecerem, mas quando apareceram, todos sabiam que a princesa estava no meio delas. De duas em duas elas vinham em nossa direção, todas vestidas iguais. Mesma máscara, todas bem parecidas com a princesa que eu tinha visto por fotos. Não era possível que ela quisesse se esconder assim!
"Vamos mais perto!" Eu falei para Ian e Keon, mas não os esperei para começar a andar em direção às escadas.
As duas primeiras meninas passaram por mim assim que cheguei lá. Tentei buscar alguma coisa nelas que me provasse que uma era a princesa. A da esquerda andava com tanta confiança que, por um segundo, eu pensei que fosse ela. Mas faltava alguma coisa. Eu sabia que faltava alguma coisa.
E elas continuaram, me deixando mais nervoso a cada dupla. Eu esperava conseguir perceber algum detalhe, alguma coisa que só eu visse. Mas nenhuma delas parecia a princesa. Faltava alguma coisa. Faltava alguma coisa em todas elas, o que me fez pensar que eu não sabia com o que estava lidando. Aquilo seria bem mais difícil do que eu tinha pensado. Talvez eu não fosse páreo para aquele desafio.
E então a última dupla passou por nós. E, nela, a única de cabelos loiros.
Loucos por mais detalhes errados, meus olhos percorreram seu vestido. Ele era diferente! Eu tinha certeza de que era diferente! E era preto e vermelho, já tinha passado uma menina com um vestido preto e vermelho! Ela estava errada. Não era para estar ali! A princesa não estava com elas, ela a tinha substituído!
Eu não estava errado! Eu era páreo sim para esse desafio! Ela achava que ia me enganar! Eu sabia que não ia!
Olhei em volta e Ian e Keon não pareciam se importar muito. Keon estava mais ocupado com seu copo e Ian olhava para todos os lados.
Só eu que tinha percebido! Aquilo estava ficando ainda melhor!
Voltei para o bar, só para ver se os outros selecionados exibiam algum sinal de que também tinham notado que a princesa não tinha entrado. Mas nada. Eles eram todos tapados ou não tinham ainda percebido que aquilo era um jogo e só ia ter um ganhador. Só um. Com a coroa.
Não que eu me importasse com a coroa.
"Ei," me virei para Keon e Ian, que tinham vindo logo atrás de mim. "Alguém aí quer dar uma andada, pra ver a festa?"
"A festa ou a princesa?" Ian perguntou.
"Tá, a princesa," confessei.
Os olhos de Keon passaram para alguma coisa atrás de mim e eu me virei, achando que ele a tinha visto. Mas eu só vi o rei e a rainha, olhando na nossa direção.
Quando voltei a olhar para ele, Keon tinha começado seu caminho de volta para o bar.
"Ele falou o que o fez ficar desse jeito?" Ian me perguntou, também olhando para ele.
"Não," respondi, ansioso demais para emprestar meu cérebro para outra tarefa por dois segundos que fossem. "Eu vou dar uma andada, você vem comigo?"
Ian deu de ombros, mas entendi como se estivesse confirmando. E então, nós começamos a andar.
"Você acha que ela era qual?" Ele perguntou.
"Não sei," menti. "Quero vê-las mais de perto."
"Por mim, tá valendo."
Nós passamos de novo por Dylan, que estava ocupado conversando com um grupo de meninas. Ian as olhou curioso, mas eu balancei minha cabeça e ele aceitou que eu estava certo. A princesa nunca faria aquilo.
Will estava por perto. Ele lançou um olhar esquisito na direção de Ian, mas depois voltou a se ocupar de duas meninas com quem conversava.
Já Thor, o mais novo, que tinha estado com os dois, esse tinha desaparecido. Por um segundo eu pensei que ele poderia estar na mesma busca que nós. Mas não existia possibilidade de ele ganhar de nós. Ou melhor, de mim.
Os outros selecionados eu não conseguia reconhecer. Não naquela iluminação, não com tantos reflexos me deixando tonto. Mas a minha missão era encontrar a princesa. E só ela.
Passamos por algumas das meninas que tinham participado da entrada e eu parei do lado delas para que Ian se certificasse de que a princesa não estava no meio delas. Mas eu mesmo preferia não conversar com elas. Não queria perder meu tempo.
E foi quando eu a vi. Foi como se todos os meus nervos tivessem percebido antes de mim. Eu já estava nervoso o suficiente, mais por estar animado do que intimidado. Mas ali, olhando para ela, sabendo no fundo que tinha acertado, aí era outra história.
Ela usava o mesmo vestido que as outras. Mas com detalhes em dourado. Eu apostaria a minha vida que não tinha visto nenhuma delas de dourado! E até no jeito que ela andava entre os convidados, observando a todos, eu sabia que era ela! Nem a Rainha America tinha aquele porte. Era como se ela estivesse ainda do lado de fora, talvez até em cima. Nos olhava como se observasse cada comportamento, mas se mantendo longe por segurança. Ela não parecia ter com quem falar, mas não se importava. Estava bem sozinha. Como se ninguém ali conseguisse entendê-la. Dentro da sua bolha impenetrável, ela era impecável.
Eu só precisava pensar em algum jeito de me juntar a ela.
Sem saber direito o que estava fazendo, eu segurei meu copo mais firme e me aproximei dela. Me coloquei do seu lado, olhando para o que ela olhava. Ela não era muito mais baixa que eu. Numa olhada rápida, eu vi seus olhos vasculhando o salão.
"Você vai falar alguma coisa?" Ela me perguntou, sem o sotaque que eu esperava dela.
Aquilo me desconcertou.
"Como?" Perguntei, mais por instinto.
"Você está aqui faz um minuto sem falar nada," ela se virou para mim. "Então?"
E naquele então, ela deixou escapar o mínimo de sotaque que trazia de sua terra.
Eu sorri, mais pela vitória que estava clara para mim. Mas ela só esperava minha resposta.
"Eu ainda estava pensando no que dizer," confessei.
Eu vi quando a dúvida passou pelos seus olhos e ela se perguntou se eu tinha descoberto sua identidade.
Poderia muito bem ter admitido ali. Mas achei que seria mais divertido se eu simplesmente não entregasse tudo de uma vez.
Me virando de novo pra frente, eu olhei para os outros convidados.
"Eu perguntaria seu nome, mas acho que esse não é o tipo de coisa que eu deveria fazer," falei.
"Hm."
"Eu perguntaria o que te traz aqui, mas não sei se isso também se encaixa nas coisas que eu não deveria dizer."
"Acho que se encaixa, sim," ela me sorriu.
"Assim fica difícil."
"Um pouco," ela colocou as mãos na cintura, mas não de impaciência. Ela parecia estar gostando do meu esforço.
"Posso te perguntar pelo menos se você está gostando da festa?" Levantei as sobrancelhas, tentando convencê-la a me responder.
Ela olhou para os convidados e depois deu de ombros. "Preferiria conseguir enxergar um pouco mais tudo por aqui."
Eu ri. Talvez um pouco demais para o que ela tinha dito. Mas a minha risada a conquistou, mesmo que ela não perdesse a sua pose.
"Eu acho que é essa mesma a ideia," eu disse. "Um pouco de segredo. Liberdade para fazer o quiser que ninguém vai conseguir ver mesmo."
A gravidade do que eu tinha falado me afetou e meu sorriso desapareceu. Não consegui evitar um olhar fundo para ela, que me devolveu na mesma intensidade.
"Talvez," ela disse, seu sotaque de nascença brincando com a palavra.
Ela segurou meu olhar por alguns segundos sem nem piscar. Eu fiz questão de abaixar os olhos antes, deixando-a por cima. Sabia que entregar o poder assim de bandeja a traria para o meu lado mais fácil. Se ela soubesse que estava ganhando, eu a manteria interessada.
"Você está aqui pela princesa?" Ela me perguntou, fingindo não falar de si mesma.
Eu voltei a olhá-la. "Por que quer saber?"
Ela não respondeu. Só continuou me olhando, como se estivesse me assustando a falar. Ela não devia estar acostumada a não ter suas perguntas respondidas.
"Está?" Perguntou de novo, até um pouco mandona.
Mas eu gostava daquilo. Era o que eu esperava dela, era para uma princesa assim que tinha me preparado.
Com confiança renovada, dei um único passo em sua direção, só o suficiente para me fazer chegar perto de seu ouvido. E dizer:
"Eu estou aqui por você."


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