Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 18
Capítulo 18: POV Clarissa Simpson




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A verdade era que eu estava mais preocupada em como Lola estaria sozinha, andando pelo castelo, do que comigo mesma. Todas as ideias que eu poderia ter para animá-la já estavam se acabando. Não tinha mais o que eu podia fazer. E, mesmo assim, eu ainda não tinha certeza de que estavam funcionando.
Me pareceu estranho que ela quisesse entrar sozinha. Não quis contestar, porque não queria criar mais um problema e fazer com que ela decidisse cancelar tudo depois que já tinha começado.
Mas eu estava preocupada. Estava bem preocupada. Ela poderia estar correndo para o mais longe possível do salão. Ela poderia estar mudando de ideia sozinha, e eu nem estaria lá para conseguir convencê-la do contrário.
Mas assim que eu me posicionei e dei uma olhada rápida pela festa, me esqueci dela. E comecei a ficar bastante nervosa.
Eu faria uma grande entrada. Mesmo que não fosse sozinha, vários olhos ainda estariam em mim. E eu era a primeira do meu lado. Todos me assistiriam entrando, tropeçando, como eu tinha certeza de que faria. Por que eu tinha pensado naquela entrada mesmo? Eu achava que Lola estaria aqui.
Até tentei me virar e perguntar para Marlee se ela não queria trocar de lugar comigo, mas ela me deu um empurrãozinho que me fez cambalear para a frente.
E então eu senti a luz me iluminando. Era fraca, mas quente e brilhava no clima da festa. Já com todos me olhando, eu dei mais um passo. E então outro.
E, quando vi, eu já estava andando. Tentei me focar no chão na minha frente, nem pensar em todas as pessoas que estavam bem ali do meu lado, parando suas conversas para nos assistir.
Mas era impossível. A iluminação baixa dava espaço para pequenas luzinhas que refletiam no dourado da decoração, se multiplicando nos reflexos dos espelhos.
Hipnotizante. O salão brilhava como mágico e o seu encanto foi me dominando. De pouco em pouco, eu já não andava porque tinha que andar. Eu caminhava pelo corredor, sentindo que cada passo meu me deixava mais perto de chegar a algum sonho. Era estranho como o clima da festa me contagiava, mas eu não quis lutar contra isso.
Quando comecei a descer as escadas, as luzes que iluminavam cada degrau formaram quase um borrão na minha vista. Mas eu não me importava. Estava dominada por um sorriso fácil e incontrolável. E eu sabia que não tropeçaria. Sabia que fazia o que devia fazer, o que meu coração queria que eu fizesse.
Quando me encontrei com Madison no patamar, coloquei meu braço em volta dela, querendo compartilhar o quanto eu estava encantada por toda aquela festa. E então meus olhos se viraram para a festa de verdade.
Eu senti como se estivesse mergulhando em um lago mágico novamente. Aquele pouco que tinha respingado em mim não era nada comparado ao meu mergulho então. Todos olhavam para mim, mas eu não conseguia distinguir ninguém. E aquela era a minha parte preferida. Sorri para todos com se guardasse um segredo delicioso que estivessem loucos para descobrir. E o jeito que me olhavam, que mexiam suas cabeças, era indescritível. Quase como se todos fossem personagens encantados, talvez até maléficos. E estavam ali para descobrir as segundas intenções que cada um guardava, a mágica de qual cada um era capaz.
E no meio de todos, alguma menina sonhadora, buscando aquele que conquistaria seu coração. Passando por todos que querem enganar os outros, pronta para cair no buraco do coelho e se deixar apaixonar.
Já estávamos chegando ao chão, quando eu vi Kyle. Ele saiu de trás de uma cortina e eu tive certeza de que era ele. No seu jeito de andar, como levava o copo para o boca, o jeito que olhava para mim. Era ele. Queria que sua máscara o tivesse tirado de meus pensamentos por mais alguns minutos abençoados. Mas não. Lá estava ele, me atraindo como ímã.
Fiz o caminho contrário a ele, levando Madison comigo como uma armadura. Só percebi que estávamos indo na direção do bar quando chegamos até ele. Tinha estado quase ansiosa por passar no meio dos convidados, depois de vê-los como vinha. Mas Kyle tinha estragado aquilo para mim. E enquanto eu pedia a minha taça de champanhe, eu só conseguia pensar nele. Se ele tinha me visto. O que tinha pensado de mim? Se tinha percebido que era eu. O que pensaria se soubesse que era eu? Ele estava me olhando? Ele falaria comigo?
Me virei de volta para a festa, meus olhos indo em direção a ele sem que eu pensasse nisso. Ele estava sozinho, bebendo sozinho. Imaginaria que já estaria indo atrás de alguma menina, mas ele parecia até mas deslocado.
Ele resolveu andar. E bem na nossa direção. Quando passava por uma coluna coberta por uma das cortinas de veludo, eu o perdi de vista. E meu coração acelerou, loucamente tentando sair pela minha boca.
E se ele estivesse vindo na minha direção? E se ele aparecesse do meu lado? Como eu agiria? Deveria fingir que não era eu? Mudar meu sotaque, como Lola? Ou seria melhor simplesmente admitir de uma vez a minha identidade?
"Você fez um ótimo trabalho," ouvi Madison dizer e me virei de volta para o bar.
Por sorte, o barman tinha acabado de colocar nossas taças de champanhe ali. Três. Olhei para o lado para encontrar Marlee conosco.
"Eu fiz mesmo, né?" Ela perguntou, depois de tomar um gole da sua.
Nós três voltamos a olhar para a festa, como se analisássemos o trabalho dela. Eu mesma procurava Kyle sem parar. Mas ele ainda estava desaparecido. E poderia estar bem ali, do meu lado.
Meu coração não diminuía seus batimentos, mas eu bebi um, dois, três goles de champanhe, um atrás do outro, esperando que isso me ajudasse a acalmar.
Mas não funcionou. Eu olhei para o lado e um cara se aproximou do bar. Ao invés de acalmar, meu coração tomou outro gás para me deixar nervosa. Mas assim que o cara falou com o barman, eu vi que não era ele.
Não sabia se ficava aliviada ou mais em pânico ainda pela dúvida ainda estar em mim.
"Não acha, Clarissa?" A menção do meu nome me fez procurar quem falava comigo. Era Marlee, que me olhava de lado. "Não acha que esse clima é romântico?"
"Esse clima?"
"É, de não saber quem é quem," ela voltou seus olhos para a festa, fazendo um tour e eu a acompanhei.
Mas eu não queria apreciar nada, só queria mais uma chance de olhar para os convidados e tentar adivinhar onde Kyle estava.
"Você pode ser quem você quiser," Marlee completou. E com essas palavras, ela conseguiu me fazer parar de procurá-lo para olhar para ela.
"Como assim?" Perguntei.
Ela deu de ombros, mas assim que percebeu que eu estava bem interessada, se virou para mim.
"Você já quis ser outra pessoa? Só por uma noite?" Ela nem me esperou pensar na resposta. "Eu acho que pode ser romântico. Você criar uma certa ilusão, pode encontrar uma pessoa que nem sabe direito quem é. Não tem inibições, pode ser o que quiser, quem quiser. Um pouco de mistério, de segredos. Não sei, como uma lembrança tão mágica, que no dia seguinte você nem tem certeza se viveu aquilo mesmo, sabe?"
Ela olhava para cima, quase como se imaginasse o que dizia. Depois de alguns segundos em silêncio voltou a nos olhar.
"Que seja," Madison respondeu. "Eu vou dar uma andada por aí."
Marlee e eu só a assistimos andar para longe. "Você não acha?" Ela me perguntou quando estávamos só nós duas. "Não acha que seria romântico?"
Eu mal podia respirar. Estava sem ar. E meus olhos estavam ocupados demais procurando Kyle. Como se vê-lo fosse me dar a resposta que me afligia: eu conseguiria ser uma pessoa que o cativasse, nem que só naquela noite?


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