Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 15
Capítulo 15: POV Marlee Woodwork




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Fazia dois minutos que eu estava ali, mas já estava começando a achar que alguma coisa estava errada. Eles já tinham chegado. O que podia os estar atrasando? Era só sair do carro e vir até o Salão dos Homens.
Eu dei mais uma olhada em volta. Tinha realmente ficado lindo. Nós tínhamos feito um trabalho incrível. Mal podia esperar para que eles vissem! Iriam ficar loucos! Principalmente depois de tirarmos todas as araras e os espelhos.
Ouvi a porta se abrindo e virei meu rosto para frente, o maior sorriso do mundo no rosto.
Mas era uma criada.
"Aconteceu alguma coisa?" Eu perguntei, já imaginando que tinha, sim, acontecido. Só de começar a imaginar o que poderia ter sido, já fiquei com medo.
"Não exatamente," era Alicia, que fechou a porta com cuidado e andou até mim.
"Onde eles estão?"
Ela franziu as sobrancelhas, logo entendendo. "Não tenho a menor ideia," disse, sorrindo. "Eu vim do quarto da Princesa Lola. Eu só tenho notícias dela."
"Ah," eu respirei aliviada. Mas a expressão dela não era das mais reconfortantes. "Espera, aconteceu alguma coisa com a Princesa?"
"Não! Mas eu tenho uma mensagem dela. Um pedido. Uma ordem, não sei."
"Alicia!" Eu ouvi conversas do corredor que me apressaram. Dei um passo à frente e a segurei pelos ombros. "Me fala logo o que quer que seja."
Ela pareceu um pouco assustada com a minha reação, mas eu vi quando ela ouviu os selecionados chegando. Então voltou a me olhar.
"A princesa disse que quer um baile de máscaras hoje à noite," ela disse, correndo. "Todos os selecionados vestidos iguais, pra ela não poder diferenciar. Todos bem mascarados. Antes da entrevista de amanhã."
Eu mal tinha conseguido entender o que ela tinha falado. Mas ela fugiu das minhas mãos e saiu correndo pela porta antes que eu pudesse perguntar. E então a conversa dos selecionados foi ficando mais alta.
Eu voltei a colocar o meu maior sorriso no rosto. E em poucos segundos, eles estavam entrando.
Como é que a princesa queria que eu organizasse um baile todo para aquela noite? Eu teria um pouco mais de cinco horas. E era um baile inteiro!
Os selecionados terminaram de se enfileirar na minha frente e eu lembrei do que tinha que fazer.
"Bom dia!" Falei, com toda a animação que eu conseguia juntar. "Meu nome é Marlee Woodwork e eu vou ser a coordenadora de vocês! Nós estamos exatamente agora no Salão dos Homens. Só por hoje mulheres poderão entrar aqui." E se eu fizesse todas as mulheres se vestirem igual também? "Para o resto da sua estadia, esse salão é de vocês. Será como um salão de jogos. Vocês podem ver que temos uma mesa de sinuca, uma para jogos de baralho, entre outras coisas."
Meus olhos percorreram de novo o salão e todos os selecionados fizeram o mesmo. Quando voltei a olhar para eles, foi quando eu realmente os enxerguei. Estava tão preocupada em fazer o que devia, que tinha me esquecido de olhar direito para eles.
Não tinha um ali que eu poderia dizer que não era bonito, mas alguns pareciam bem mais à vontade do que outros. Alguns pareciam prontos para começar, enquanto outros ainda estavam um pouco assustados. E então tinha o ruivo que parecia tentar absorver cada centímetro do salão.
"E no meio dessas coisas," eu continuei, "nós temos o que chamamos de estações," eu apontei para uma com minha mão "Elas só vão ficar por aí hoje, durante as suas transformações."
A porta se abriu e eu vi a equipe de filmagem entrando. Só era para eles terem chegado quando eu terminasse meus avisos. Mas brigar com eles ali não seria muito educado.
Então resolvi ignorar. Principalmente porque, se eu pensasse nas coisas que não estavam saindo conforme o planejado, eu ia começar a entrar em pânico novamente, achando que eu não conseguia fazer aquele trabalho.
Mas eu conseguia. Eu tinha que conseguir.
"Todas as vezes que as câmeras estiverem pelo castelo, vocês serão avisados," na hora em que eu falei isso, lembrei da noite em que uma câmera tinha mudado o meu destino. Mas abri outro sorriso, esperando que ele fosse espantar a memória. "Hoje é um desses momentos," continuei. "A equipe filmará suas transformações, por menores que sejam, e depois farão algumas perguntas para vocês sobre toda a competição."
De novo, eu lembrei do meu primeiro dia no castelo. Será que eu conseguiria passar por toda aquela Seleção sem lembrar de quando tinha acontecido comigo?
Olhei para os selecionados de novo, um a um. Dava vontade de abraçá-los e tentar explicar o quanto aquilo era incrível! Se pelo menos eles soubessem que a vida deles nunca mais seria a mesma! Se eles soubessem o quanto sentiriam falta daquele momento daqui alguns anos!
Respirei fundo e tentei lembrar da próxima coisa que precisava falar. As câmeras ainda estavam desligadas e a equipe organizava os microfones.
"Eu preciso compartilhar algumas regras com vocês," eu devia falar da festa na frente da equipe de filmagem? "É estritamente proibido atacar outro candidato física ou verbalmente. Se quebrar essa regra, será da decisão da princesa eliminá-los. E, acreditem, ela os eliminaria."
Eu ri dentro da minha cabeça. Podia apostar o castelo inteiro que ela os eliminaria. Até gostaria de ver a cara que ela faria se soubesse de alguma briga deles.
"Segunda regra. Até sexta-feira da semana que vem, vocês convidam a princesa para sair, e não o contrário." Essa tinha sido uma ideia da criada pessoal dela. A princesa não pareceu muito animada, mas se deu por vencida. Eu mesma estava louca para ver como seria. "E ela não poderá negar. Se precisam pedir permissão ou tem alguma dúvida sobre algum tipo de encontro, é só perguntar para mim. Na segunda semana da Seleção, será o contrário. Ela os convidará e vocês não podem negar. Assim vai até o final."
Eu já estava animada! Toda a responsabilidade me dava medo às vezes, mas era emocionante!
"Cada um de vocês foi separado por uma cidade do Reino Unido em ordem alfabética," não que eu já tivesse decorado quem era qual. "Alaric," eu apontei para ele, que sorriu para mim. E a primeira coisa que veio na minha cabeça foi, charmoso. Será que quebraria a princesa? "Como o primeiro, tem o nome da segunda maior cidade do reino. E assim vai, da Inglaterra, para a Irlanda do Norte, o País de Gales e a Escócia, pulando somente Londres, a cidade que a princesa reserva para ela. É só um jeito dela de separá-los," não que eu entendesse porque ela estava fazendo isso. "O quarto de vocês está decorado de acordo com a sua cidade e a sua cor. Este é um jeito das pessoas de casa poderem acompanhar a seleção mais cuidadosamente. Mas a princesa fará uso dessa separação pela Seleção."
Eu ainda não sabia como, mas esse problema não era meu. A não ser que ela fizesse ser.
Com o canto do olho, eu vi a equipe de filmagem terminando de se preparar. Se eu não os quisesse na festa, eu teria que falar antes que eles pudessem filmar.
"Uma última coisa," falei correndo. "Essa não é uma regra. Na verdade, é um comunicado. Amanhã cedo vocês terão uma entrevista coletiva com a princesa. Mas a vão conhecer antes. Hoje à noite. Em um baile de máscaras." Vários levantaram a sua sobrancelha e até o ruivo parou de olhar para o lustre para me mirar. "É a única noite em que vocês não se vestirão de acordo com a sua cor e a sua cidade." Né? Foi isso que Alicia falou, certo? "É a sua chance de lhe causar uma impressão antes que ela saiba quem vocês são," eu sorri pensando nas mil coisas que poderiam acontecer na festa. "Tem gente que gosta desse tipo de coisa," dei de ombros. Já podia imaginar quantos casos de amor aconteceriam sem se saber quem eram. E depois a princesa procurando pelo beijo secreto que ela tinha tido com um mascarado. "Sabe," voltei a mirar os selecionados. "Anonimato, numa festa, no escuro, com máscaras," a festa perfeita, pensei. "Ela gosta. A princesa gosta!"
Alguns selecionados trocaram sorrisos, enquanto o ruivo parecia estar com medo e o mais alto deles não parecia tão interessado.
"É só isso," eu disse. "Eu vou buscar a equipe de transformações de vocês," que, se tudo tiver dado certo, deve estar do lado de fora da porta. "Quando tiver terminado, os levarei aos seus quartos, onde conhecerão as suas criadas. E que a Seleção comece!"
Fiquei esperando algum tipo de reação, talvez confetes, balões caindo do teto. Mas nada. Então só sorri mais uma vez por eles e fui até a porta.
A equipe estava realmente lá. Uma preocupação a menos.
Eu os deixei entrar e fui cuidar do baile. Primeiro, fui até o salão de festas para ver se tudo estava bem lá, se tinha como o usarmos naquela noite. Depois corri para o escritório de Maxon para perguntar se era algo possível. Mas, aparentemente, a Princesa Lola já tinha falado com eles.
Então America e eu fomos até o ateliê de costuras e pedimos pra Madison, a estilista do castelo, fazer dez vestidos e dez máscaras iguais. Ideia da America. Segundo ela, se a princesa não saberia quem eram os selecionados, eles não deviam saber quem era ela.
Madison disse que era impossível, que não tinha tecido o suficiente. Eu entrei em pânico, dei mil voltas pelo ateliê me perguntando o que faria. Aí ela deu a ideia de ser o mesmo vestido, mas de cores diferentes. As criadas teriam que trabalhar sem parar a tarde toda, mas conseguiriam.
Então America foi falar com os decoradores. A ideia era ser quase um baile de máscaras veneziano, mas nada muito assustador. Márcaras parecendo de renda para as damas reais (sim, decidimos chamá-las assim) e simples para os homens. A decoração era para parecer que estavam dentro de um navio antigo com cortinas pesadas de veludo e pouca luz. Tudo para favorecer o anonimato.
Eu estava tão animada pra festa! Sabia que só estaria vendo de fora, se isso. Mas tudo parecia tão encantador e misterioso! Era impossível não sonhar pelo menos um pouquinho!
Já era quase quatro da tarde quando eu fui até a cozinha para checar se tudo estava indo conforme o planejado. As decorações estavam sendo colocadas e alguns vestidos já estavam prontos. Mas, com a minha sorte, alguma coisa daria errado. E eu estava começando a pensar que seriam as comidas.
O cheiro familiar da cozinha me envolveu como um abraço. Passei por Edward olhando por cima de seu ombro. E depois continuei pelos outros cozinheiros.
Estava chegando à última bancada, quando Marc passou por mim.
"Marc? Tem como você levar isso daqui para mim?" Uma voz feminina com bastante sotaque pediu.
Eu me virei, achando que veria a princesa. Mas era a criada dela. Ela passou tudo que carregava para ele, e eu vi um saco de farinha no meio de todo o resto que não conseguia identificar.
Assim que ele começou a andar, eu o segui, mas só o acompanhei quando já estava na porta, que eu segurei aberta para ele passar.
"Onde você vai com tudo isso?" Eu perguntei.
"Para o quarto da princesa," ele respondeu. "Estamos montando uma cozinha lá."
Ele andava depressa, mas eu conseguia acompanhar.
"Como assim, uma cozinha?"
"Alguma coisa que consiga fazê-la pensar que acabar com a Seleção hoje não é uma boa ideia," ele respondeu. "Que ela precisa esperar mais um dia."
"Um dia?"
"Para eu poder ganhar a quantia de dois mil dólares illéanos," ele sorriu de lado, mas eu não vi graça naquilo.
Me coloquei na frente, forçando-o a parar de andar.
"A aposta chegou a dois mil dólares?" Perguntei e ele concordou com a cabeça, animado.
"E será minha se eu conseguir fazer com que ela desista amanhã de noite," ele sorriu, orgulhoso.
"Muito bonito da parte de vocês, ficar apostando que a única chance dessa menina de ter o trono do seu país vai dar errado!"
"Não estamos apostando que vai dar errado," ele se defendeu. "Quer dizer, eu estou. Os outros só estão apostando em quanto tempo ela vai demorar pra dar certo. Ou alguma coisa desse tipo."
"Muito bonito da sua parte, então," me corrigi.
"Obrigado," ele agradeceu. "Agora será que eu posso continuar meu caminho? A própria criada da princesa que pediu para que eu levasse um pedaço da cozinha para o quarto dela."
Suspirei, tentando encaixar aquilo nos meus planos. A festa começaria em três horas. Nós precisaríamos de mais ou menos isso para arrumar a todas.
Mas não era como se nós tivéssemos todas as roupas prontas.
"Está bem," eu disse, dando espaço para ele passar.
"Muito obrigado," ele voltou a andar.
"Espera," eu corri atrás dele. "Tem como isso só durar uns quarenta minutos?"
Ele pareceu pensar por alguns segundos. "Tem. Elas querem fazer cupcakes. Isso demora vinte minutos no forno."
"Perfeito!" Eu exclamei. "Aí dá tempo de arrumar todo mundo para o baile."
"Ainda bem! Imagina se não desse!" Ele falou, sarcástico.
Eu revirei os olhos para o jeito dele. Se ele pelo menos soubesse o quanto esse baile vai ser magnífico!
"Aliás," eu o segurei pelo ombro bem quando nós estávamos chegando à escada. "Você vai, não é?"
"Por que eu iria?"
Eu revirei os olhos de novo. "Porque! Porque é uma festa só para pessoas do castelo. Todos os criados que não estiverem trabalhando tem que ir! E vestidos iguais! Para que ela não saiba quem é criado e quem é selecionado!"
Ele me olhou como se eu fosse louca e estivesse tentando decidir se me internava ou fingia que concordava.
"É sério!" Eu insisti. "Se vocês não forem, vai ser um salão vazio com vinte pessoas. E se vocês se vestirem diferente, vai ser fácil para a princesa ver quem são os selecionados dela!"
"Tô achando meio bizarro isso daí," ele disse. "Por que ela não quer saber quem são os selecionados? Ela escolheu um por um, não?"
Dei de ombros. "Tem gente que gosta de mistério, tá? Tem gente que acha romântico!"
"Bizarro."
"Romântico!" Eu o corrigi com mais insistência. "Muito romântico. Se apaixonar pelo momento!"
"Se você diz," ele deu a volta em mim e começou a subir as escadas.
"Avisa os outros que eu vou encontrá-los na sala comum de vocês às seis em ponto!" Eu gritei para ele, que parecia só apressar seu passo. "Marc?"
"Tá!" Ele respondeu, sem olhar para trás.
Às cinco eu iria atrás da princesa para ela começar a se arrumar. Todas as meninas no Salão de Mulheres. Os selecionados vestiriam ternos pretos comuns, os mesmos que daríamos para os criados homens às seis. As criadas mulheres poderiam se vestir como fosse, sempre com uma máscara. Aí o mistério estaria vivo.
Ah, claro, se eu conseguisse que a princesa imitasse o nosso sotaque. Que, aliás, ela parecia pouco inclinada a tentar fazer.
Mas, espera. Quem seriam as nove outras meninas que se vestiriam como ela?


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