Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 14
Capítulo 14: POV Ian Campbell


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem a demora! É que agora eu estou dividindo meu tempo entre a fic e minha história original! Se alguém souber ler em inglês, procura no Wattpad. Chama 'Diary of a Hidden Princess'.

Escrevi ouvindo "Show me a good time" do Drake.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/542825/chapter/14

"Ian!" Eu ouvi a voz da minha assistente Isabella me chamando, mas ignorei.
Agora ela dá um passo à frente e a câmera gira em torno dela, pensei.
Eu estava sentado a vários metros de distância, mas tanto a atriz, quanto o câmera sabiam o que fazer. Nós já tínhamos ensaiado e eu já tinha mudado aquela sequência várias vezes. Eles já sabiam de cor.
"Ian!" Minha assistente chamou de novo.
Só mais um pouquinho, eu pensei comigo mesmo, assistindo pela pequena tela quando o câmera focou no homem na frente da atriz por cima do ombro dela.
Vi a sua expressão mudar e o câmera ajeitar para que o foco fosse dela até o rosto dele. E então estava satisfeito.
"Corta!" Falei, me levantando da minha cadeira e abrindo os braços. "E terminamos, pessoal!"
Toda a equipe se juntou a mim quando eu comecei a bater palmas. Nós só tínhamos gravado por uma semana, era só um curta. Mas mesmo assim era esquisito. Era sempre esquisito quando terminávamos. Cada um entendia que ia tomar o seu caminho, talvez não nos víssemos até a premiere. Talvez nem na premiere. Era um adeus tão repentino. E nós devíamos entender como só trabalho, mas sempre ficava uma certa sensação de deixar amigos para trás.
Claro que todos nós superávamos essa sensação em poucos minutos, mas mesmo assim. Era emocionante enquanto durava.
"Ian!" A voz de Isabella finalmente chegou a meu ouvido, alta e clara, mesmo através de meus fones.
"Pois não?" Perguntei, como se já não soubesse o porquê dela ali.
Eu sabia. Ela já tinha me mandado várias mensagens no celular. E eu tinha ignorado todas.
"Você já está atrasado!" Ela disse.
Eu me virei para olhá-la e uma mulher estava de pé atrás dela, como se esperasse que falasse por ela.
"Esta é Danielle," Isabelle me apresentou. "Ela o acompanhará até o castelo."
"Ah, verdade. Eu tinha me esquecido!" Menti.
"An-hãm!" Isabella fez, colocando as mãos na cintura. "Eu te avisei hoje cedo! Já era para você estar pronto."
"Você queria que eu deixasse o filme sem a última cena só para poder me arrumar par o castelo?" Eu perguntei, começando a andar até a minha sala.
Ouvi os saltos de Isabella me seguindo e presumi que a minha acompanhante viria atrás.
"Danielle já deixou sua roupa na sua sala," Isabella disse casualmente, me fazendo parar e me virar pra ela.
"Que roupa?"
"A roupa que você terá que usar," ela disse, voltando a andar. "Um terno feito sob medida. E a sua flor e sua gravata."
"Minha flor e a minha gravata?" Eu comecei a segui-la, com Danielle logo do meu lado. Resolvi me virar pra ela mesma. "Porque eu tenho uma flor?"
"Para o seu bolso, senhor," ela respondeu, quase encabulada pela minha pergunta.
Assim que eu entrei na minha sala, avistei o terno. E a gravata laranja pendurada em seu ombro.
"Por que laranja?" Eu perguntei, enquanto Isabella o tirava do cabide.
"O senhor representará Belfast," Danielle respondeu, indo ajudá-la.
Eu olhei de relance no relógio. Tinha cinco minutos para chegar na praça na frente da prefeitura. Não devia ter feito a última cena rodar aquela última vez. Tinha me custado muito tempo.
"Belfast?" Perguntei, começando a tirar a camisa que usava. "Por que Belfast?"
"A Princesa que decidiu, senhor," Danielle me explicou. Eu tinha acabado de tirar a camisa, e ela segurou a nova para que eu deslizasse meus braços pelas mangas. "Será um jeito de diferenciá-los."
"E eu peguei logo a capital da Irlanda do Norte? O que eu tenho de irlandês?"
"Seus modos," Isabella respondeu, vindo me entregar minhas calças.
Eu mal tinha terminado de abotoar minha camisa até o final. Mas olhei de novo de relance para o meu relógio e um minuto já tinha passado.
Como podia um minuto passar tão depressa?!
Assim que eu tirei minhas calças, as duas se viraram de costas. Eu não me importava, estava mais preocupado com o relógio. Mas não questionei. Só fiz questão de vestir as novas o mais rápido possível.
"Alguém me ajuda com a gravata?" Eu pedi, como um jeito de falar que já tinha terminado com as calças.
Isabella cuidou da gravata, enquanto eu passava o cinto e Danielle ajustava minha gola. Em mais um minuto, eu me arrumei olhando em um pequeno espelho do lado da minha mesa e Danielle se concentrou em arrumar a rosa laranja no meu bolso. Quando dei um passo atrás e vi a flor pelo espelho, eu tive certeza de que estava ridículo. Mas se era aquilo que a princesa queria, era aquilo que teria. Seria um pequeno sacrifício para o alcancei que eu teria quando a conhecesse.
"Sua mala?" Danielle perguntou quando eu vesti meus sapatos.
"Já peguei!" Isabella cantou e nós três saímos correndo pela porta.
Em poucos segundos nós estávamos do lado de fora, sentindo o vento gelado quebrar o sol da primavera. Uma limousine preta estava parada na frente da porta dos estúdios, só me esperando.
"Aqui," Isabella disse e eu me virei pra ela, que jogou minha única mala no meu colo. "Eu ainda tenho várias coisas para cuidar aqui."
"Você me manda o filme para eu editar?" Eu perguntei.
"Não poderá trabalhar de dentro do castelo, senhor," ouvi a voz de Danielle atrás de mim logo antes de ouvir alguém abrindo a porta do carro.
Eu revirei os olhos para a Danielle.
"Então manda para Jonas. É o único em quem eu confio!" Falei, me virando para entrar no carro.
"E eu?" Isabella perguntou. O motorista fechou a porta atrás de mim e eu tive que abrir a janela para vê-la de novo. "Você não confia em mim?"
Eu ri. "Só com a minha vida!"
Dentro do carro, Danielle se esticou até mim para ficar me ajeitando. Ela alisava meu blazer, minha gravata, mas evitava de me tocar no rosto. Meu cabelo estava bagunçado, eu sabia. Mas talvez fosse bom chegar lá como eu mesmo.
Quando senti o carro parando, eu respirei fundo.
"Onde está a sua família?" Danielle perguntou, olhando pela janela.
E foi a primeira vez que eu fiz o mesmo. Já podia ouvir o barulho de algumas conversas, mas eu não tinha ideia de quantas até olhar para fora do carro.
Era tanta gente, tanta gente que parecia que tinham juntado três premieres de blockbusters em um só lugar. Era mais do que a festa de premiação do cinema. Bem mais. E aquilo só em Lakedon.
"Por que essas pessoas estão aqui?" Eu perguntei por reflexo.
"Vieram te ver," Danielle parecia animada, mesmo quando eu não via seu rosto.
Ela era pequena, petite, e se encolhia no banco como um jeito de se diminuir até estar o mais próximo do invisível possível. Mas agora seu rosto estava completamente virado pra janela, a única parte do corpo que ela deixava livre pra se encantar com o momento.
"Era assim com as selecionadas?"
Ela se virou na hora pra mim. E depois de me olhar triste por alguns segundos, ela deu de ombros. "Não sei," confessou. "Eu não estava aqui durante a última seleção."
"Entendi."
Nós ficamos em silêncio de novo, até ela arregalar seus olhos.
"Não que eu não saiba o que estou fazendo! Não é isso!" Ela me prometeu.
"Não se preocupe!" Eu me estiquei e toquei em seu ombro. "Se essa é a sua primeira vez, é a minha também. Nós vamos descobrir juntos."
Ela ficou vermelha na hora e eu não sabia se era pela minha piada de mal gosto ou meu toque. Mas resolvi desistir dos dois e voltei a me sentar olhando para a frente.
Depois de mais vários segundos em silêncio, eu resolvi falar de novo.
"O que nós estamos esperando?" Perguntei.
"Nada."
A praça estava ainda mais cheia do que eu conseguia ver do carro. Quando eu desci e subi as poucas escadas que levavam à entrada da prefeitura de Lakedon, eu pude ver mais longe. E mal conseguia distinguir onde as últimas pessoas estavam.
Eu realmente estava esperando que menos pessoas se importassem com essa Seleção, que fosse menos circo do que as outras.
Mas era ingênuo da minha parte. Era uma Seleção masculina. A primeira da história. As pessoas eram primeiro levadas pela curiosidade. Depois por verdadeiro interesse.
O prefeito sorriu para mim, um sorriso falso que escondia o quanto ele me odiava. E só porque eu tinha feito um documentário sobre a sujeito dos nossos grandes lagos.
"Senhoras e senhores, queiram se juntar a mim para dar boa sorte para Ian Campbell, o nosso filho de Illéa favorito!"
As pessoas começaram a bater palmas e eu busquei na multidão minha mãe e minha tia. Elas tinham combinado de me encontrar ali e eu não queria ir embora sem falar tchau para elas.
Mas meus olhos caíram em outra mulher. Danielle.
Tive que apertar os olhos para entender o que ela falava. E corri para abotoar meu blazer quando finalmente vi que era isso que ela estava fazendo no ar.
"Ele representará não só Lakedon," a voz do prefeito voltou a encher meus ouvidos, gritada demais para alguém que falava em um microfone, "mas Belfast, a capital da Irlanda do Norte."
Todos voltaram a bater palmas e eu fiquei me questionando se eles sabiam o que isso significava. Porque nem eu sabia direito.
Eles tocaram o hino nacional e eu me foquei em arrumar a flor no meu bolso e continuar buscando pela minha família. Assim que acabou, eles resolveram tocar uma parte de outro hino. Eu presumi que fosse do Reino Unido.
Eu precisaria começar a estudar um pouco a cultura desse reino se eu queria ser o seu rei.
Quando eu estava para entrar de volta na limousine, eu vi minha mãe e minha tia correndo pela multidão para chegar perto de mim. Eu fiz minha parte, pedindo para que as deixassem passar.
Minha mãe mal tinha se livrado de todas as pessoas quando colocou seus braços em volta de mim. Ela era bem mais baixa e mais fraca, mas se esforçava para me abraçar tão forte que não parecia que me largaria.
"O que eu vou fazer sem você?" Ela me perguntou, sua voz fraquejando e denunciando suas lágrimas.
"Mary vai cuidar de você," eu respondi, me afastando dela para abraçar minha tia. "Não vai Mary?"
Ela concordou com a cabeça antes de tomar o lugar da minha mãe em meus braços.
Nossa despedida demorou menos e ela estava menos emocionada.
"Vai ficar tudo bem," prometi para a minha mãe. "E o dinheiro que eu receber vai ajudar bem."
"Já ajudou," minha tia falou.
"É dinheiro de vocês. Nem um centavo dele vai para algum filme independente meu, prometo!"
Minha mãe sorriu. "Tem certeza?"
"Absoluta," eu respondi, andando um passo à minha frente e lhe dando um beijo no rosto.
Poderia ter ficado ali tentando confortá-las por mais algumas horas. Mas Danielle me apressou a voltar a entrar no carro, me falando que eu tinha um avião para pegar.
Só tinha eu e ela no pequeno jato e eu pude aproveitar do serviço de bordo.
Mas não como eu queria. A viagem foi até um pouco longa, mas Danielle começou a controlar quanto eu bebia. Eu esperava que ela fosse um pouco mais submissa, mas entendi seu limite. Se trouxesse riscos ao seu trabalho bem feito, ela se impunha.
Assim que chegamos em Angeles, ela me levou a uma sala particular com mais serviço de café da manhã e uma televisão que ficava passando notícias.
Eu tinha visto câmeras na praça, mas só me preocupei com elas quando vi as imagens na tela. Eu, do lado do prefeito, completamente inadequado, ocupado com a minha flor, quando eu devia ter fingido que estava pelo menos ouvindo o hino. Qualquer um dos hinos.
Quando chegamos à sala, ela estava vazia. Mas poucos minutos depois, outros caras foram chegando com suas acompanhantes. Alguns eu reconheci, mas nenhum exatamente. Nenhum com nome ou qualquer tipo de informação.
Eu estava indo pegar um café para mim, quando outro cara estava na mesa. Era o único que tinha o cabelo um pouco mais comprido.
"Ian Campbell, não é?" Ele me perguntou, enquanto enchia a sua xícara e eu esperava.
"Sim," respondi apreensivo. "Nós nos conhecemos?"
"Não! Mas eu sei quem você é. Você é bem conhecido, já vi vários filmes seus, sou u grande fã," ele levou uma mão à barriga. "Eu sou Keon."
"Ian," eu respondi, me sentindo idiota na mesma hora. "Quer dizer, você sabe."
Ele riu de leve, não me ajudando a me sentir menos idiota.
"Desculpa, é esquisito pensar que alguém aqui me conhece," confessei. "Normalmente eu fico atrás das câmeras por uma razão."
"Eu entendo," ele me passou a garrafa de café, mas foi difícil pegar sem queimar minha mão.
Tinha outro cara na outra ponta da mesa, que nos olhava esquisito. Foi só quando eu dei a volta para pegar alguns muffins do outro lado de Keon que percebi que seus olhares estavam mirados em minha direção.
Ia perguntar qual era o problema dele, mas uma mulher entrou na sala e pediu para que a seguíssemos até o carro que nos levaria ao castelo.
Eu saí de lá com o copo de café na minha mão e um muffin enrolado em um guardanapo. E não fui o único a não deixar sua comida para trás.
Éramos só dez. E cabíamos todos na mesma limousine. Não tivemos nem um segundo de silêncio. Um cara vestido com uma gravata amarela falava com todos. Perguntou a nossa cidade e se tínhamos a ver com alguma coisa de lá. Nós tentamos chegar a alguma conclusão de como a princesa nos tinha separado, mas não tínhamos ideia.
E então começamos a falar de esportes. Ninguém ali torcia pelo mesmo time de nada. Parecia que tinham nos escolhido para descordar. Quando finalmente o cara de Manchester e o de Glasgow começaram a animar por odiar os mesmos times, avistamos o portão do castelo.
E então o silêncio se reinou. Era como se a ficha estivesse finalmente caindo para nós. Era uma competição. Nós não estávamos ali para fazer amigos. Estávamos indo atrás da mesma coisa.
Keon, do meu lado, não parecia nervoso.
Do carro, nós fomos encaminhados a um salão enorme revestido de madeira.
Uma mulher loira nos esperava com um sorriso enorme. Ela só nos observou até que todos estavam enfileirados na sua frente.
"Bom dia!" Ela falou, animada. "Meu nome é Marlee Woodwork e eu vou ser a coordenadora de vocês! Nós estamos exatamente agora no Salão dos Homens. Só por hoje mulheres poderão entrar aqui. Para o resto da sua estadia, esse salão é de vocês. Será como um salão de jogos. Vocês podem ver que temos uma mesa de sinuca, uma para jogos de baralho, entre outras coisas.
"E no meio dessas coisas, nós temos o que chamamos de estações. Elas só vão ficar por aí hoje, durante as suas transformações."
Nós ouvimos a porta se abrindo e todos nos viramos para ver quem era.
Câmeras. Quatro câmeras entrando, nos filmando já desde o começo.
A ficha de que tudo seria filmado ainda não tinha caído por completo.
"Todas as vezes que as câmeras estiverem pelo castelo, vocês serão avisados," Marlee continuou. "Hoje é um desses momentos. A equipe filmará suas transformações, por menores que sejam, e depois farão algumas perguntas para vocês sobre toda a competição.
"Eu preciso compartilhar algumas regras com vocês," ela perdeu seu sorriso e nos olhou séria. "É estritamente proibido atacar outro candidato física ou verbalmente. Se quebrar essa regra, será da decisão da princesa eliminá-los. E, acreditem, ela os eliminaria.
"Segunda regra. Até a sexta-feira da semana que vem, vocês convidam a princesa para sair, e não o contrário. E ela não poderá negar. Se precisam pedir permissão ou tem alguma dúvida sobre algum tipo de encontro, é só perguntar para mim. Na segunda semana da Seleção, será o contrário. Ela os convidará e vocês não podem negar. Assim vai até o final.
"Cada um de vocês foi separado por uma cidade do Reino Unido em ordem alfabética. Alaric, como o primeiro, tem o nome da segunda maior cidade do reino. E assim vai, da Inglaterra, para a Irlanda do Norte, o País de Gales e a Escócia, pulando somente Londres, a cidade que a princesa reserva para ela. É só um jeito dela separá-los. O quarto de vocês está decorado de acordo com a sua cidade e a sua cor. Este é um jeito das pessoas de casa poderem acompanhar a seleção mais cuidadosamente. Mas a princesa fará uso dessa separação pela Seleção.
"Uma última coisa. Essa não é uma regra. Na verdade, é um comunicado. Amanhã cedo vocês terão uma entrevista coletiva com a princesa. Mas a vão conhecer antes. Hoje à noite. Em um baile de máscaras. É a única noite em que vocês não se vestirão de acordo com a sua cor e a sua cidade. É a sua chance de lhe causar uma impressão antes que ela saiba quem vocês são," o sorriso tinha voltado ao rosto de Marlee com toda força. "Tem gente que gosta desse tipo de coisa," ela deu de ombros, como se não se importasse. Mas tudo que eu vi era que ela estava falando de si. "Sabe, anonimato, numa festa, no escuro, com máscaras. Ela gosta. A princesa gosta!"
"É só isso," ela completou. "Eu vou buscar a equipe de transformações de vocês. Quando tiver terminado, os levarei aos seus quartos, onde conhecerão as suas criadas. E que a Seleção comece!"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Do Outro Lado do Oceano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.