Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 130
Capítulo 130: POV Charles Regen


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Invisible" da Ashlee Simpson.



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Assim que senti os nós dos meus dedos baterem na madeira, percebi que devia ter pensado no que dizer primeiro. Devia ter ensaiado, pelo menos um pouco, senão pedido uma opinião para minha mãe. Mas Lola já me chamava para entrar e não a deixei esperando.
Ela estava sentada na sua cama, fones de ouvido deixados de lado, um caderno e uma caneta esperando que eu fosse embora para ela continuar escrevendo. Não sabia o que esperar dela até vê-la. Parecia cansada, como quem tinha passado uma noite difícil, mas não estava tão devastada quanto eu esperava.
Me sentei na sua frente, apesar de ainda manter minha distância.
"Está tudo bem, Charles?" Ela perguntou, não adivinhando o porquê de eu estar ali.
"É bem isso que eu vim aqui descobrir," respondi, e ela desviou os olhos dos meus para a cama.
"Eu quase espero que você esteja falando do conselheiro de seu pai," ela tentou rir depois, mas desistiu no meio.
"Eu ouvi falar disso," admiti. "Mas não é por isso que vim. Achei que fosse precisar da opinião de alguém que já passou por uma Seleção."
Ela levantou os olhos de volta para mim, mas balançava a cabeça. "Você não entende," disse.
"É claro que eu entendo."
"Não é a mesma coisa, Charles."
"Eu entendo melhor que ninguém, Lola," insisti. "Mesmo que você não acredite. Eu sei o que é ver a Seleção como um trem que partiu antes de você entrar nele. E, quando você acha que já está lá dentro, quando acha que pode se acomodar na sua poltrona e olhar à sua volta, percebe que ainda está na plataforma." Pela primeira vez, ela respirou fundo, e eu tive a impressão de que estava começando a aceitar que outra pessoa já tinha passado pelo mesmo. "Eu sei o que é estar no meio de uma Seleção e sentir que, se você saísse, talvez ninguém nem percebesse."
Ela apertou os olhos para mim, franzindo a sobrancelha. "Sabe?" Sua voz estava baixa, e eu concordei com a cabeça.
"Mas eu estava falando com meu pai e nós chegamos à conclusão de que é melhor assim," continuei. "Depois da minha Seleção, depois que várias selecionadas encontraram futuros maridos, eu fui falar com ele para saber aonde exatamente eu tinha errado."
"Mas você não errou," ela praticamente me interrompeu. "Você encontrou a Gabrielle."
Eu sorri. "É verdade. Mas ainda sentia como se tudo estivesse constantemente prestes a desabar." Ela engoliu a seco e concordou com a cabeça. "Mas é melhor assim, acredite. Segundo meu pai, na vez dele, todas as selecionadas eram controladas. Todas educadas e a que foi vista o traindo foi punida. E, mesmo assim, ele sempre quis a única que não conseguia controlar. E, durante a minha, nunca sabia se acordaria no dia seguinte com Gabrielle pronta para se casar comigo ou tendo ido embora no meio da noite sem me falar."
Para quem não tinha pensado antes de entrar para aquela conversa, tudo parecia se alinhar na minha cabeça.
"Imagino que, na posição que você está, deva querer muito conseguir controlar tudo," continuei. "Acho que é por isso mesmo que preferiu fazer uma Seleção com somente dez homens. Mas não dá para controlar, Lola. Não é possível. E, mesmo que fosse, mesmo que você quisesse impor as regras e as punições que já existiram uma vez, não valeria a pena.
"E não precisa se preocupar," quando falei isso, ela bufou uma risada sem o menor humor. "É sério," insisti, me sentando mais perto dela, enquanto ela se distraia com suas mãos. "Mesmo com trinta e cinco selecionados, sempre vai ter o preferido. Como, para você, acho que é o Alaric Harrison, certo?" Ela não respondeu, mas eu continuei. "Eu odiava sentir que estavam todos roubando minhas selecionadas, especialmente meu irmão. Mas saber que a minha preferida ainda estava lá, aquela que, no fundo, era a única que eu queria, era o suficiente. Aquela certeza que eu teria levado escondida só pelo bem da Seleção era o suficiente.
"Então, mesmo quando me incomodava, mesmo quando sentia que não conseguiria nunca ter o mínimo de controle sobre algo que deveria ser meu e acontecer como eu queria, sempre soube que valeria a pena. A confusão mostra que você está envolvida emocionalmente e isso é o máximo que você pode fazer para que essa Seleção tenha o final que deve ter."
"Está bem," ela disse logo depois. "Você realmente entende."
Aquilo me fez sorrir, mas, assim que ela levantou os olhos para devolver o sorriso, tive a impressão de que ainda estava guardando alguma coisa.
Talvez Lola e eu já tivéssemos sido grandes amigos alguma vez, antes mesmo da minha própria Seleção. Mas agora tínhamos nos afastados, e eu não sabia mais o que acontecia com ela. Não sabia se ela me responderia se eu perguntasse o que estava acontecendo, se ela estava mesmo escondendo alguma coisa ou simplesmente quisesse que eu fosse embora o mais rápido possível.
"Você sabe que pode vir falar comigo quando quiser, não é?" Perguntei. "Eu estou aqui. Não só como alguém para consultar porque eu já passei por uma Seleção, mas como seu amigo Lola. Você pode vir falar comigo quando precisar."
E, naquela hora, eu prometi para mim mesmo que me aproximaria de novo dela.
Lola manteve seus olhos nos meus quando concordou com a cabeça. "É muito bom ouvir isso, Charles," disse e, por um segundo, achei que iria chorar.
Mas só respirou fundo, perdendo-se em pensamentos.
Eu não sabia mais o que falar, então me levantei. Para a minha surpresa, ela fez o mesmo, o que me deu a chance de abraçá-la.
Ela agradeceu por eu ter passado lá e eu insisti que ela poderia vir atrás de mim se precisasse. E então me levou até a porta.
Eu entendia que ela queria ficar sozinha, mas estranhei quando vi Clarissa me esperando do lado de fora.
Ela não demorou para correr para o meu lado. "Como ela está?" Perguntou.
Se eu quisesse saber e não quisesse ir falar diretamente com a Lola, seria bem atrás da Clarissa que eu iria.
"Você pode entrar lá, se quiser," falei, fazendo menção de voltar para bater na porta do quarto de Lola.
"Não, não, não," Clarissa correu para me evitar. "Eu tenho outras coisas para fazer. Só queria saber se ela está bem."
Eu olhei bem para ela, seus olhos implorando por uma resposta. Pelas suas olheiras, ela não devia ter dormido muito durante a noite, e, pelo seu rosto vermelho, ela parecia estar sofrendo mais que Lola.
"Ela está bem," respondi. "Mas acho que ainda gostaria da sua companhia. Você não falou com ela ontem, quando aconteceu?"
Clarissa deixou seus olhos se perderem na porta do quarto da Lola e apenas balançou a cabeça para a minha pergunta.
"Clare, aconteceu alguma coisa com vocês?" Perguntei, fazendo-a me olhar de volta.
"Não," ela mentiu, enquanto tudo nela gritava que sim! "Eu preciso ir," disse e, sem me dar chance de responder, saiu andando pelo corredor o mais rápido que podia.
Então era aquilo que Lola estava guardando. Devia ser por isso que ela não conseguia ver a luz no final do túnel.
Eu voltei a bater na porta do quarto dela e, quando ela chamou, coloquei a cabeça para dentro. "Só para avisar," disse, "Clarissa estava aqui fora perguntando por você."


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