Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 129
Capítulo 129: POV Lola Farrow


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Life Got Cold" das Girls Aloud.



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As gravações da Seleção começaram em Abril, logo depois do meu aniversário, um mês antes de eu ver os selecionados pela primeira vez. A empresa de televisão quis fazer cenas minhas no meu castelo e, principalmente, depoimentos. Ainda me lembrava de ter reclamado na época que eles só estavam fazendo aquilo para encher horas inúteis de programa, enquando Clarissa insistia que era para que eu assistisse depois e me visse antes de encontrar o amor da minha vida. Aliás, ela disse que um dia iria até rir de como eu parecia cética no começo. Ela ainda estava certa de que eu acabaria me apaixonando.
No momento em que vi Will, o grande preferido de quase todos, abraçar e beijar uma criada como se não houvesse nada de errado naquilo, a única coisa na qual consegui pensar foi na primeira pergunta que me fizeram.
Nunca tive problema com câmeras, mas era a primeira vez em que me filmavam falando da Seleção e podia me lembrar de que só a menção da pergunta me deixou enjoada. Eu sorri para a pequena luz vermelha mesmo assim e tentei pensar em uma resposta para o que eles tanto queriam saber.
O que você espera que aconteça durante a Seleção?
Não sabia se esperar nessa questão era por expectativa ou esperança. Minha esperança era de que todo aquele espetáculo se tornasse a solução simples e perfeita para um problema que eu jamais quis enfrentar. Nesse sentido, esperava que fosse só um desvio rápido que logo me levaria de volta à minha vida.
Minha expectativa, no entanto, por mais que eu nunca falasse para a câmera, era que sobreviveria. Não, não me apaixonaria por ninguém, sabia que as chances de isso acontecer seriam mínimas. Mas realmente esperava encontrar alguém nem tão insuportável que pudesse ser um amigo e por quem eu tivesse atração o suficiente para dividir uma cama pelo resto da minha vida.
Minha resposta não foi nada disso. Não quis me vender como romântica, já sabia que o programa me mostraria assim de qualquer jeito e não os incentivaria, mas tampouco deixei que vissem meu lado cético como Clarissa via.
Falei que estava ansiosa, quase nervosa. Sabia que os selecionados seriam incríveis, que não me decepcionaria. E disse também que esperava chegar ao final me sentindo como se respirasse fundo depois de horas embaixo d'água.
Exatamente agora, eu sentia como se estivesse me afogando.
Talvez fosse a presença de câmeras outra vez. Ou quem sabe todos os selecionados achando bem mais interessante assistir a minha reação do que a demonstração de falta de respeito de Will. Ou talvez fosse porque eu já tinha passado quase um dia inteiro remoendo outras coisas dentro da minha cabeça.
Mais do que completamente mergulhada em um oceano negro e infinito, eu sentia como se tivesse acabado de perceber que meus pulmões estavam cheios d'água. Tinha acabado de perceber que todo e qualquer controle daquela Seleção já fugia por entre meus dedos. Não me lembrava de ter pulado, não me lembrava de nenhum momento exato em que tinha começado a me perder, mas, pela primeira vez, já não conseguia fingir que não tinha nada de errado.
De todas as coisas que tinham passado pela minha cabeça lá em Abril para responder ou esconder completamente das câmeras, nem tinha considerado a possibilidade de que presenciaria uma cena como essa. Até mesmo depois de Dylan, minhas expectativas em relação aos selecionados ainda eram boas demais. E, de todos os que ainda estavam na minha frente, de todos que ainda mantinham aquela façada, Will era o último que eu pensei que faltaria com tanta consideração.
Enquanto seus braços ainda estavam envoltos na criada e seus lábios ainda estava grudados nos dela, eu me levantei. Sentia os olhos de todos em mim, principalmente de toda a população do Reino Unido, senão do mundo. Todos os britânicos segurando a respiração, agarrando suas poltronas, grudados na televião, só esperando o momento em que eu coroaria a minha humilhação com um grito ou algo parecido.
O que eu queria de verdade era fingir que nada estava acontecendo. Dar de ombros e ignorar o pânico que começava a correr pelas minhas veias. Eu mesma tinha estado pensando em outro cara até aquele momento, contando na minha cabeça a probabilidade de vê-lo outra vez, enquanto reprimia qualquer vontade de falar com ele. Já tinha problemas o suficiente, a última coisa da qual precisava era ter que lidar com aquilo.
E na frente de todo mundo.
Respirei fundo, agora de pé e sem parecer perto de ver aquela cena se desfazer sozinha. Assim que pensei em andar, sentir minhas pernas pedirem para correr de lá e deixar todo mundo atrás. Mas seria tão ruim quanto gritar. Por mais que sentisse todo o controle daquela situação escorrendo pelos meus braços, pelo menos aquele instante e a minha reação, eu poderia controlar.
Antes de mais nada, eu me perguntei, o que minha mãe faria?
Levantei meu queixo no ar, somente o necessário para que ninguém se atrevesse a pensar que tudo aquilo me envergonhava. Mesmo que fosse a maior humilhação da minha vida. Mesmo que nunca tivesse passado por nada tão profundamente ofensivo.
Tentei respirar fundo, mas mal conseguia. Queria ir até Will e lhe dar um tapa, empurrar a câmera e mandar todo mundo para casa. Mas, sentindo que minha mãe me observava, comecei a andar na direção deles, mantendo meu rosto o menos expressivo possível, meus ombros perfeitamente alinhados e meus olhos na portas.
Logo antes da distância entre nós chegar a um metro, Will se afastou da criada e se virou para mim pela primeira vez. Não me deixei ver seus olhos, não me deixei tentar entendê-lo. Ele não tinha esse direito.
Continuei meu caminho, desviando só o absolutamente imprescindível para que não acabasse colidindo com eles e mirando sem hesitação até as portas.
Sabia que alguém me seguia. Mais do que alguém, várias pessoas e algumas até com câmeras, loucas para filmar qualquer reação mais emotiva da minha parte. Mas, assim que meus pés estavam fora do salão, fechei a porta e me virei para os dois guardas mais próximos.
"Não deixe que ninguém saia daqui," falei e um deles concordou com a cabeça. E então completei para o outro. "Chame Marlee Woodwork."
Sem olhar para trás, comecei a andar pelos corredores. A cada passo, fui aumentando a velocidade, tentando com todas as minhas forças não repassar o que tinha acabado de acontecer na minha cabeça. Mas, quanto mais rápido ia, menos conseguia domar meus pensamentos, mais sentia o pânico começar a me dominar.
Pensei em parar, tentar recuperar meu fôlego, mas minhas pernas ganharam vida própria, transformando meus passos em corrida. Cada vez mais alto, o barulho dos meus sapatos ecoava pelos corredores, gritos para meus ouvidos.
Ninguém tinha me dito para esperar que essa Seleção virasse tamanha piada! Ninguém tinha me avisado que os selecionados me desprezariam a ponto de concorrrem entre si para ver quem me humilharia mais! Quanto mais o tempo passava, quanto mais eu achava que tudo estava prestes a se acalmar, que eu finalmente entenderia o porque de tudo, mais as coisas pareciam sair do meu controle!
Aquilo tinha sido um erro. Tudo aquilo, ir para Illéa, ter confiado que daria certo, cada passo que eu tinha dado desde então. Devia ter me casado com um Duque qualquer, esquecido esse negócio de aliança, encontrado outra saída. Aquilo não era brincadeira, não estava ali pelo divertimento dos telespectadores! Eles não entendiam isso! Will não entendia que estava pisando em cima da última esperança que eu tinha de tomar aquilo que devia ser meu por direito! Para ele, podia ser um beijo. Para mim, era minha vida inteira! Era o legado do meu pai que eu não conseguia alcançar sozinha! Eram meus sonhos, minhas raízes, todo o meu ser que eles estavam desprezando! Era minha coroa, a coroa de minha mãe, que, se dependesse deles, eu nunca teria! Era a minha vida que eles estavam jogando fora!
Não era possível que aquilo estivesse mesmo acontecendo, que eu estivesse mesmo ali, correndo pelos corredores de um castelo que não era meu, enquanto estranhos faziam pouco caso de tudo pelo que eu tinha batalhado desde pequena!
Eles não entendiam isso! Eles não conseguiam ver tudo que eu estava arriscando por estar aqui! Ninguém entendia, nem Marc, que tinha me culpado por tentar proteger o que eu podia da aliança pela qual eu tinha abandonado todas as outras. Eles não conseguiam ver que não era por capricho meu que estava ali. Não conseguiam se colocar no meu lugar!
O que eu tinha estado pensando? Por que tinha acredito que aquela era uma boa ideia? Como pude me deixar cair naquilo? Não devia nem ter entrado no avião. No momento em que me perguntaram o que eu esperava da Seleção, eu devia ter acreditado no meu instinto de que tinha alguma coisa errada, de que não daria certo. Mas eu tinha estado desesperada! Eu teria aceitado qualquer coisa! Eu aceitei qualquer coisa! Aceitei colocar minha vida inteira na mão de caras que nem me conhecem, nem se importam comigo!
Meus pensamentos foram interrompidos pelo que vi assim que virei o corredor. O jeito que ela andava, como balançava o cabelo, provavelmente cantando baixinho para si mesma. Era Clarissa, tinha certeza! E era exatamente quem eu precisava ver.
Apressei meu passo para chegar até ela, mas estava bem longe. Enquanto fazia meu melhor para alcançá-la, imaginei o que diria. Primeiro, queria poder abraçá-la e ouvi-la dizendo que não era tão ruim assim, que estava ali por mim, que encontraríamos juntas a saída. Depois, ela provavelmente me lembraria dos outros selecionados, criaria esperança aonde não existia, ignoraria os sinais do desmoronamento que estava acontecendo à minha volta. E, só por alguns minutos, só até eu conseguir voltar a respirar direito e parar de sentir aquele nó na minha garganta, eu me forçaria a acreditar nela.
"Claire!" Gritei, quando já estava perto o suficiente para que ela me ouvisse.
E tive certeza de que ouviu, pois, só para despedaçar meu coração de vez, ela mesma aumentou a velocidade em que andava.
Engoli a seco o gelo que sentia percorrer pelo meu corpo todo e tentei outra vez, meu tom quase suplicante o suficiente em si para que ela entendesse tudo que tinha acabado de acontecer comigo. Mas ela começou a praticamente correr, não conseguindo se afastar de mim rápido o bastante.
Meus pés pararam antes da esperança de que ela se virasse morresse dentro de mim. Até mesmo quando ela entrou no próximo corredor, fiquei torcendo para que me notasse de canto de olho, que percebesse pela minha falta de ar, pelo jeito que eu estava agarrada com as duas mãos à minha saia, que eu não estava bem.
Eu não estava nada bem. Não achava que podia me sentir mais sozinha do que já me sentia, não achava que era possível querer tanto desaparecer até que a única pessoa no mundo que eu tinha certeza que lembraria de mim fez questão de me ignorar.
Como uma onda que me engolia, senti toda a tragédia que me rodeava me tomar. Todo o desespero e todo o medo que tinham estado entalados na minha garganta fizeram questão de vir à tona. Meus dedos fraquejaram, minhas mãos, meus braços tremeram e minhas pernas ameaçaram me derrubar bem ali, no meio de um corredor qualquer de um castelo estranho.
Mas talvez o pior para mim foi sentir o pânico me subir à garganta. Soluços engasgados cortaram o silêncio dos guardas que me observavam como paisagem. Por um segundo, me arrependi de nunca ter me deixado pensar naquilo direito, por nunca ter me deixar reagir emocionalmente à pilha de problemas que já vinha sentindo acumular há tempo.
Mas, depois de um, talvez dois suspiros que intensificaram minha falta de ar, eu já me obriguei a parar de chorar. Era um gosto amargo que deixava seu rastro na minha boca, mas era melhor do que me entregar a lágrimas. Me recusava a desabar mais um centímetro ali, no meio do corredor, para que qualquer um visse. Tinha guardado aquilo com convicção demais dentro de mim e o medo de não conseguir parar uma vez que começasse a chorar me dominava.
Apertei meus dois olhos com as mãos, proibindo-os de se atreverem a soltar uma única lágrima.
Eu estava sozinha. Eu não tinha Clarissa, eu não tinha selecionado algum que me quisesse. Nem mesmo Marc, que eu tinha chegado a pensar que seria o mais perto de um porto seguro que encontraria ali.
Eu não tinha ninguém. E logo não teria meu pai.
Apesar de todos os meus esforços, pude sentir uma lágrima quente contornar minha bochecha. Tive que levar minhas mãos à minha barriga, tentando me abraçar, tentando manter tudo dentro de mim, fazendo o melhor para impedir que meu próprio corpo me traísse e que eu desabasse de uma vez.
Eu estava perdida. Aquele tinha sido o maior erro que eu poderia ter tomado e não tinha como voltar no tempo!
O que eu ia fazer agora?
Olhei para trás, para o corredor vazio a não ser pelo ocasional guarda.
Como se o passado estivesse lá e eu pudesse descobrir um jeito de voltar até ele e impedir que aquilo tudo acontecesse.
Mas qual parte? A Seleção? Will? Dylan? Aonde eu tinha errado?
Ao virar meu rosto de volta para a frente, meus olhos notaram portas duplas de metal um tanto familiares. Não tive que pensar. Elas levavam à cozinha e, mesmo sabendo que seria uma péssima ideia ir atrás de Marc, mesmo sem ter ideia do que dizer ou até mesmo se queria falar com ele, eu entrei.
Assim que o notei por entre os criados que passavam assustados por mim, meus sentidos se entorpeceram. Já não importava o que nós tinhamos falado no dia anterior, mal conseguia pensar no que tinha nos levado a brigar. Para ele, que trabalhava sozinho na pequena sala da padaria, o mundo continuava o mesmo. A vida ainda era a mesma que ontem, que antes de ontem. Quem sabe, se eu entrasse ali dentro com ele, conseguiria me sentir de novo como antes. Quem sabe aquele fosse o mais perto de voltar no tempo que eu conseguiria.
Minha esperança durou pouco demais e eu parei de andar quando ainda estava longe.
Não. Eu não podia fugir outra vez. Marc não era a solução, não era nele que eu encontraria a grande salvação. Não ganharia nada fingindo por mais alguns minutos que nada estava errado. Tudo estava errado. Tudo estava absolutamente errado!
E era culpa minha. Tinha precisado ficar ali parada, o assistindo trabalhar, para perceber que eu não tinha mais ninguém a culpar a não ser eu mesma. Fui eu que decidi levar aquilo em frente. Eu que tinha passado anos voluntariamente esquecendo o fato de que não seria herdeira sozinha. Eu que tinha adiado aquela decisão depois de Reid, aceitado a distração assim que ela cruzou meu caminho.
Assim que ele cruzou meu caminho.
E eu que tinha empurrado os selecionados para longe de mim! Por ser fria, desinteressada! Se tivesse alcaçado Clarissa, quem sabe fosse isso mesmo que ela me diria. Jogaria na minha cara o que eu realmente precisava ouvir! Que eu estava errada, mas não por ter aceitado a Seleção, por fazer pouco caso dela e por manter os selecionados distantes. Por não me abrir, por me achar boa demais para deixar os selecionados me conhecerem. E isso porque ela nem sabia do Marc! Nem sabia dos meus momentos de fraqueza em que eu me deixava considerar ter o mínimo de esperança de tudo aquilo com ele não ser em vão.
Mas era. Eu precisava entender aquilo, precisava entender que o controle me fugia porque eu deixava. Queria acreditar em outra coisa, em coisas que nem existiam, nunca seriam verdade. Eu que tinha desprezado o controle e agora gritava por ele, sofria pela sua falta.
E eu estava mesmo perdida. Bem mais do que gostaria de acreditar. Bem mais do que suportaria admitir.
Eu queria tudo de volta. A Seleção, meu tempo, uma chance de impedir que os selecionados me desprezassem. Queria voltar atrás mais do que já tinha desejado qualquer coisa na minha vida! Mas eu já estava quebrada. Eu já não conseguiria negar que, mesmo que conseguisse realizar um pedido tão absurdo, faria tudo de novo. Poderia me convencer mil vezes de que manteria o controle, de que daria uma chance verdadeira para aquela Seleção, mas, no fundo, mais forte do que a certeza de que eu precisava respirar, sabia que não conseguiria me manter longe de Marc. Até mesmo agora, quando minha única vontade era de chegar perto dele para empurrá-lo e culpá-lo por tudo de errado no mundo e na minha vida, sabia que repetiria cada segundo que tinha passado ao seu lado e continuaria ansiando por mais.
Aquele tinha sido meu erro, percebi. Eu nunca tinha estado tão certa de que algo era errado e de que eu precisava daquilo. A culpa era minha, não adiantava reclamar para Marc por ele existir e atrapalhar tudo. Eu que tinha afastado os selecionados, pegado o desvio e o tomado como caminho principal.
Eu que tinha aberto mão do controle.
E o que mais me assombrava era a possibilidade de nunca o conseguiria de volta. E por algo-
Por alguém que tinha tanta aversão de pensar no seu futuro quanto eu precisava pensar no meu.
Abaixei minha cabeça, respirando fundo pela primeira vez desde que tinha saído do salão. Estava prestes a deixar que raiva tomasse conta de mim, assim como tristeza. Medo também e vontade de rir euforicamente da minha própria desgraça. Até uma pontada de determinação em mudar tudo aquilo parecia ameaçar me dominar, e isso eu precisava agradecer à minha mãe.
Não sabia o que fazer. Mal sabia como deveria me sentir.
"Lola," só percebi que tinha fechado os olhos quando ouvi a voz de Alaric.
Eu os abri para encontrá-lo logo na minha frente, o olhar mais preocupado que eu já tinha visto na minha vida em seu rosto.
Me dei o direito de pensar um pouco menos quando o senti enrolar seus braços em volta de mim. Era exatamente do que eu precisava, alguém que me abraçasse forte, que me segurasse de pé, que me olhasse como ele me olhava. Não com dó, não com pena do que tinha acontecido. Mas como se realmente me visse.
Ele se afastou, segurando meu rosto em suas mãos e eu não consegui pensar em nada para falar a não ser obrigada.
E, mesmo assim, minha voz pareceu não sair. Então só o abracei outra vez.
"Eu estou aqui," ele disse, sem saber que era o que eu precisava ouvir.
Era o porto seguro do qual eu precisava.
Devemos ter ficado ali por alguns bons minutos. Sempre que sentia que talvez fosse hora de parar, eu o apertava mais forte. Quando achava que estava prestes a chorar, quando meus olhos me traíam e iam na direção de Marc, quando eu percebia que logo teria que tomar uma decisão. Cada pensamento assustador ou estupidamente esperançoso garantia um abraço mais apertado. E, por sorte, Alaric não parecia se importar. Pelo contrário, me segurava cada vez mais mais firme, cada vez mais segura.
Eu tinha mesmo que tomar uma decisão, ou pelo menos uma atitude. Se ele tinha saído do salão, agora todos também teriam. Todos estariam esperando que eu me pronunciasse. E eles não podiam me ver assim.
Com certa relutância, acabei me afastando de Alaric. Ele logo voltou a segurar meu rosto e eu sorri um pouco triste para ele, sem conseguir exprimir tudo que ele merecia ouvir só de ter me encontrado.
Talvez fosse mais fácil simplesmente acabar com aquilo tudo. Senão a Seleção, então pelo menos aquele dia.
Engoli a seco. "Onde eles estão?" Perguntei, não querendo especificar ninguém.
"No salão," ele respondeu. "Marlee só deixou que eu saísse para te encontrar." Concordei com a cabeça, desviando meus olhos dos dele. "O que você quer fazer?" Seu tom era baixo, inofensivo, reconfortante.
E meu sorriso era fraco.
"Quer ir para o seu quarto?" Ele perguntou.
"Não," falei, ao mesmo tempo que percebia que era verdade.
Só tinha um jeito de aquele dia terminar. Me esconder no meu quarto, por mais atrativo que parecesse, só adiaria o momento em que eu poderia deixar tudo aquilo para trás, só prolongaria as conversas e as especulações. Por isso, pedi que Alaric me acompanhasse de volta ao salão.
Assim que vi as portas outra vez e imaginei todos lá dentro, quis voltar atrás. Mas Alaric me segurava pela cintura e, mesmo que inconscientemente, me ofereceu a quantidade certa de apoio que eu precisava para entrar e encarar todos outra vez.
Infelizmente, as câmeras ainda estavam lá com os outros, inclusive as criadas. E, por estranho que fosse, a expressão de preocupada no rosto de Marlee me deu certo conforto.
"Alteza," ela disse, me fazendo uma reverência enquanto todos se levantavam pela minha presença. "Vamos conversar lá fora."
"Não," eu levantei uma mão para ela. Tinha uma pessoa para quem eu ainda não tinha olhado, mas, nessa hora, fiz questão de me virar para ele. "William Owens, você está expulso da Seleção." Seus olhos se atreviam a tentar parecer arrependidos, mas eu tinha decidido não me deixar afetar. "Você tem uma hora para sair do terreno do castelo e nunca mais aparecer na minha frente." Ele não se mexeu um único centímetro e eu aproveitei para olhar para a jornalista que acompanhava as câmeras. E pensar que todos em casa tinham escolhido logo ele como o preferido! "Acho que já passou da hora de eu anunciar também o meu favorito," falei, torcendo para que aquilo, como meu pai uma vez tinha me dito para fazer, mudasse toda a conversa da mídia. Alaric segurava minha mão e eu apertei a sua um pouco mais forte antes de falar, "Alaric Harrison."


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