Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 131
Capítulo 131: POV Kyle O'Malley


Notas iniciais do capítulo

Acho que vocês andaram percebendo que essa história passou por uma época de HIATUS (ou simplesmente esqueceram que ela existia). Eu só parei aqui mesmo por esses últimos meses, porque tive que focar no meu livro original, Diário de uma Princesa Escondida (postado no Wattpad), porque quero publicá-lo. Estou no segundo livro dele, mas agora vou escrever um pouco mais devagar e, consequentemente, voltar a postar capítulos dessa história aqui. Talvez não em um ritmo tão bom quanto vocês desejariam, mas pelo menos não vou deixá-la completamente de lado.
NÃO SE ALARME. Pode passar anos, essa história nunca vai desandar, porque eu já a planejei desde o começo. Não estou inventando coisas novas, não vai mudar o ritmo nem nada. Sim, pode ser que demore para terminar, porque ainda falta bastante coisa para acontecer. Mas prefiro demorar que mudar completamente a programação para fazer acabar logo e estragar um dos meus enredos favoritos. No final, depois de um tempão desde que a fanfic foi começada, vocês poderão reler e entender que tudo aconteceu exatamente como deveria, que o único problema mesmo foras as datas das postagens. Confiem em mim.
A melhor parte ainda está vindo!



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A verdadeira realeza é um jogo de luz e sombra. Jack era a luz para nossos pais. Eu ficava com a sombra. Simples assim. O primogênito, homem, capaz. E eu vindo atrás.
Não poderia dizer que nunca me incomodei com isso, mas o fato é que você se acostuma. Os raros momentos em que já senti alguma inveja dele desapareceram tão rápido quanto tinham aparecido. E, afinal, o que realmente queria para mim? As responsabilidades? O poder? O respeito? A atenção de todos aqueles que só veem em mim alguém que pertence à sombra da presença dele?
Uma mera coroa?
A política é um jogo de palavras e manipulação. Isso eu pude aprender mesmo das sombras. Meias verdades. Quase mentiras. Sorrisos falsos. Falar alto, mesmo sem nunca ter que fazer nada, sempre foi e sempre será o que move políticos e o tal chamado poder. Latir, sem nunca ter que morder. Ou morder de vez em quando, só para evitar as próximas brigas, sempre fora dos olhos atentos e luminosos da mídia.
Luz e sombra. Palavras e manipulação. Um sorriso para a câmera e talvez o mundo inteiro em suas mãos.
Eu não estava fazendo diferente. Nem sabia direito como fazer, mas era isso que me mantinha ali, em Illéa. Mesmo que a manipulação não fosse minha, nem os planos, nem mesmo a intenção de colocá-los em prática, era meu dever como príncipe segui-la. Viver à sombra de um futuro rei estava longe de ser liberdade. Era me acostumar a ser invisível, ao mesmo tempo que sempre sendo visto por ele quando queria. Era estar ali quando precisavam de mim e ser esquecido quando não precisavam.
Não, eu não guardava rancor por Jack. Nunca poderia. Ele seguia sua vocação e responsabilidade tanto quanto eu finjia seguir as minhas. E, como sempre juraria, os momentos em que eu gostaria de estar em seu lugar, ou talvez qualquer outro do mundo, eram raros. Na maior parte das vezes, minha invisibilidade, apesar de me enfraquecer, me mantinha no lugar. Eu não saberia sonhar com mais e nem se estaria disposto a tentar. Estava bem sendo esquecido na maior parte do tempo.
Afinal, esquecido dentro de um palácio era melhor do que lembrado no meio do nada.
Ainda assim, ainda que acostumado e adaptado à sombra, tinha que admitir que gostava de quando podia dar um passo à luz.
E era isso que Clarissa sempre tinha sido para mim. A luz que sempre fazia questão de me iluminar, mesmo quando o resto do mundo não me enxergava. Ela era o melhor que tinha nele, a melhor pessoa que eu já tinha conhecido. Até aquele dia, teria jurado que ela nunca, jamais faria mal a qualquer pessoa que fosse. Era feita de bondade, de generosidade. Era para ser a melhor pessoa do mundo.
Ela era importante. Quem realmente merecia toda a luz que vinha com a realeza, e nem era parte dela.
Mas agora tudo que a envolvia parecia mergulhado em um mar de escuridão.
Pela primeira vez desde que tínhamos ido à Illéa, eu queria ir embora. Já não tinha mais nada para mim ali, nada era tão divertido quanto eu esperava que fosse. Só queria ir embora.
Mas, ao mesmo tempo, não tinha tanta certeza assim se mudaria de ideia logo em seguida ou não.
Andava de um lado para o outro no meu quarto naquela noite, tentando entender tudo que tinha acontecido, tentando encaixar cada peça.
Karen tinha falado meu nome.
Clarissa. Clarissa tinha falado meu nome.
Ela sabia quem eu era, mas tinha dito que descobriu tarde demais.
Quando? No meio da noite? Dois minutos depois de começarmos a nos falar? Ou durante o beijo?
Aquilo era estranho. Me lembrava perfeitamente dele, como se tivesse acabado de acontecer. Mas era uma lembrança separada de Clare, separada de tudo que eu sabia dela.
Mas, ao mesmo tempo, quanto mais pensava nele, quanto mais lembrava de cada toque, cada sensação que tive durante aquela festa inteira ao lado dela, mais parece fazer sentido.
Era como se eu finalmente tivesse conhecendo Clarissa por quem ela era, não quem era obrigada a ser. Mas a verdade é que também tinha conhecido um lado um tanto terrível dela.
A única pessoa que sempre achei que me apoiaria tinha mentido para mim. Deliberadamente mentido para mim durante dias.
Parei na frente da janela, olhando para a varanda, para o jardim.
Não fazia nem uma semana que eu estive ali e fui arrastado para o esconderijo, só para quase morrer de preocupação por ela. Por alguém que tinha passado dias me contando uma mentira, me fazendo acreditar que uma garota existia, a garota que eu queria.
Nunca tinha me sentido tão idiota! Nunca tinha sido tão humilhado.
Era isso que mais me incomodava. Eu era idiota. Burro. Patético. Tão fácil de manipular que a pessoa que eu considerava mais doce no mundo inteiro tinha conseguido me enganar.
Não era possível que isso realmente tivesse acontecido, que logo Clarissa tinha feito eu ficar me perguntando aonde tinha errado com Karen. E por quê? Só porque ela descobriu tarde demais que era eu? E não conseguia me falar a verdade?
Um toque alto e estridente interrompeu meus pensamentos. Fui correndo até o criado-mudo e tirei o telefone que Jack tinha me mandado trazer especialmente para que pudéssemos conversar sem riscos de que nos ouviriam.
Atendi assim que o peguei, só para parar o barulho. Mas hesitei antes de levá-lo ao ouvido.
Não queria falar com ele. Nem com ninguém.
Infelizmente, provavelmente por não ouvir uma resposta minha, ele acionou a câmera, aparecendo na tela do telefone antes que eu pudesse evitar.
"Nós tínhamos um combinado, Kyle," falou, mencionando o fato de que já passava dois minutos da hora que tínhamos marcado de ligar um para o outro.
Eu bufei de cansaço e irritação. "É, bom, as coisas não são sempre como a gente quer, não é?" Falei, indo até a escrivaninha para apoiá-lo no único lugar possível.
Ele recuou a cabeça, me olhando estranho. Ficou nessa posição por alguns segundos, me dando a impressão de que o vídeo tinha congelado nessa conexão clandestina dele.
Que não era clandestina, mas dava essa sensação.
"O que aconteceu?" Perguntou. "É a princesa?"
Revirei os olhos. "Parece absurdo, eu sei, mas o mundo não gira em torno dela. Nem Illéa."
"O seu deveria," Jack rebateu, mas parecia não ter também paciência para aquilo. "O que anda fazendo por aí? Algum progresso?"
"Vários," por incrível que parecesse, ficava cada vez mais irritado com aquela conversa, que estava longe de ser uma distração. "Estamos completamente apaixonados. Você será convidado para o casamento. Posso ir agora?"
Só pelo jeito que ele ajeitou sua postura, já sabia que meus comentários seriam respondidos à medida, um bando de palavras sobre responsabilidade e amadurecimento vindo na minha direção.
Jack ficou parado de novo, olhando para a sua tela, ou melhor, me olhando, enquanto eu mordia forte e tentava descontar o resto da minha raiva em minha própria mandíbula.
"Eu menti para você," ele disse, para minha surpresa, e, pela primeira vez, conseguiu me distrair completamente. "Nós não precisamos que você case com Lola. Não temos o menor interesse em juntar a Irlanda com o Reino Unido."
"Hã? O que que eu estou fazendo aqui, então?"
"Você está ganhando tempo," respondeu. "Está tentando servir de apoio para a princesa durante todo esse processo."
"Você só pode estar brincando."
"Não," ele realmente não parecia ver graça alguma naquilo. "E você terá que continuar."
"Continuar o quê?! Eu não faço nada! Mal vejo a menina, pelo amor de deus."
Jack bufou uma risada, parecendo divertido ao balançar a cabeça para si mesmo. "Sabia. Papai me deve cinquenta pratas."
Revirei os olhos, sem tempo para aquilo. "Eu quero ir embora."
"Não, você precisa continuar mostrando seu apoio."
Me levantei na hora, voltando a andar de um lado para o outro. "Apoio para quê, caramba? E eu quero a verdade agora, não faço a menor questão de ser mais um pião nos seus joguinhos."
Foi a vez de ele revirar os olhos. "Senta nessa cadeira e me escuta, Kyle, que eu tenho muita coisa para fazer."
Da hora. Eles me mandaram para o outro lado do mundo sem nem saber direito o porquê, e eu que precisava escutar agora.
Mesmo com toda a minha raiva e relutância, obedeci.
"Nós te mandamos para aí, porque precisamos que a princesa não tenha dúvida alguma de que estamos do lado dela. Não vou discordar de que seria ótimo se vocês se casassem, mas não temos o menor interesse em juntar nossos países. E também não sou louco o suficiente para realmente achar que ela teria algum interesse por você."
"Obrigado por acreditar em mim."
"Nós precisamos que você fique aí por mais um tempo-"
"Para quê, exatamente?"
Ele respirou fundo, buscando paciência, nem um pouco feliz por eu tê-lo interrompido.
"Tem uma coisa acontecendo, Kyle. Uma coisa importante que vai afetar o mundo inteiro, principalmente o nosso lado de aliados. E vamos precisar da princesa mais do que você poderia imaginar, ainda mais se ela realmente levar essa Seleção até o final e se casar com um illéano."
"Do que você está falando?" Dava para ver no seu tom que era algo muito sério, e a minha voz refletiu que eu tinha entendido.
Meu irmão respirou fundo outra vez. "Eu não posso te contar agora, nem por essa ligação. Mas preciso que confie em mim." Revirei meus olhos, um sinal claro de que não confiava. "É sério, Kyle. Se você tem qualquer interesse em manter nosso país vivo e relevante, precisa confiar em mim."
"Confiar que eu tenho que te obedecer?"
"Quão difícil realmente é, Kyle?! Só continuar do lado da princesa, sendo um amigo, pelo menos! É tão complicado assim? Quer trocar de lugar?"
"Não," falei antes que pudesse pensar. "E o problema não é a Lola. Se fosse, seria fácil."
"Quem é o problema, então?"
Bufei, levantando de novo da cadeira.
Não queria falar daquilo, não para ele.
Mas era melhor do que ficar andando de um lado para o outro no meu quarto, sem conseguir entender nada.
"Eu vou explicar, mas de uma só vez, sem detalhes. E essa conversa não sai daqui," apontei para a câmera, tentando deixar claro o quanto eu falava sério.
Jack levantou as mãos no ar, como se mostrasse que era inocente. "Combinado."
Bufei outra vez e me sentei na frente da câmera.
"Na noite da festa antes do primeiro dia da Seleção, eu conheci uma garota e passei a noite inteira com ela, mas não falei meu nome." Ele franziu as sobrancelhas, confuso, mas não me importei e continuei. "Depois disso, ela desapareceu. E eu acabei descobrindo que era a Clarissa. Ela também mentiu seu nome, mas sabia quem eu era. E tentou me enganar até o último segundo. Por que você está rindo?" O som das suas risadas quase encobria minha voz. "Não tem graça."
"Claro que tem!" Ele quase não conseguiu falar, levando as mãos à barriga para se recuperar das gargalhadas mais inúteis e idiotas do universo. "É esse seu problema? É sério isso?"
Balancei a cabeça. "Que seja."
"Não, espera," falou, quando percebeu que eu levava a mão ao telefone para desligar. "Olha, eu não sei o que deu na cabeça de vocês para ficarem inventando nomes. Isso é realmente estúpido. Mas posso pelo menos adiantar uma coisa."
"E que coisa é essa?" Perguntei, sem a menor paciência e saco para aquilo.
"Clarissa é apaixonada por você, Kyle. Está escrito na testa dela. Sempre foi."
"Como é que é?"
"E você não está nem perto de ser inocente nessa história aí. Seu imensurável problema pode ser resolvido com você simplesmente deixando de ser idiota e a perdoando logo. As pessoas fazem coisas bestas por amor. Dá um desconto para a garota, está bem? E esteja pronto na quinta-feira para a próxima atualização. Nós estamos em processo de fechar alguns contratos novos de exportação e importação com o Reino Unido e sua presença aí precisa ser uma vantagem, não uma desvantagem. Então, se você puder fazer as pazes com a melhor amiga do que logo virá a ser uma das mulheres mais poderosas do mundo, seria ótimo. Obrigado."
Antes que eu pudesse responder, ele desligou.


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Notas finais do capítulo

IMPORTANTE: Eu só continuo postando aqui no NYAH pelas pessoas que ainda leem aqui. Mas eu mudei completamente para o WATTPAD. Só entro para postar capítulos novos dessa história aqui. É praticamente impossível eu ver mensagens ou comentários aqui. Então, se você tiver uma conta lá, LEIA lá, COMENTE lá, que eu respondo absolutamente todo mundo lá! Okay?
E deem uma olhada na minha história original lá, porque o primeiro livro já está terminado e chegando a 300 mil visualizações!



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