Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 12
Capítulo 12: POV Dylan Stroud


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Troublemaker" do Weezer.



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Eu me concentrava no barulho da caneta batendo na madeira. As conversas que vinham de dentro do restaurante eram bem mais altas, mas a caneta estava mais perto de mim. Eu a controlava, eu esperava o barulho. E tentava manter o ritmo.
Mas ela escorregou dos meus dedos e eu a deixei cair no chão. Bufei de frustração quando tive que me abaixar para pegá-la de novo. E olhei no relógio.
Só faziam duas horas que eu estava ali. Ainda tinha mais quatro até eu poder ir para casa. Aquele era o trabalho mais entediante do universo. Mas depois de quebrar toda a caixa de taças de cristais que meu pai tinha encomendado da França, ele não confiava em mim nem para lavar a louça.
De onde eu estava, podia ver minhas irmãs serviam os clientes. Elas riam ao colocar os pratos na frente deles e depois saíam sorridentes andando até a cozinha. Elas não deviam nem parar um segundo para reclamar de como o tempo não passa.
Tentei me apoiar no meu cotovelo de novo e voltar a bater a caneta no pódio, mas não tinha mais tanta graça. Eu teria que encontrar outra coisa para fazer enquanto ninguém chegava ao restaurante.
Se pelo menos eu pudesse me sentar. Mas depois daquela vez em que eu tinha caído no sono no meio do expediente, meu pai tirou o banco que ficava ali na entrada.
Mas a culpa não era minha! Eu tinha ido dormir bem tarde. Se ele não tivesse me feito trabalhar no horário do almoço, eu não teria tido tanto sono!
Agora, eram oito da noite. Depois daquilo, eu praticamente só trabalhava depois do pôr do sol. Ele achava que seria melhor. Mas não era. Eu já podia imaginar meus amigos fazendo o esquenta para o qual eu tinha sido convidado. E quando todos já estivessem curtindo na balada, eu estaria correndo para a minha casa para me arrumar. Só assim para conseguir aproveitar umas poucas horas com eles.
Segurei no pódio com as duas mãos e abaixei minha cabeça até conseguir sentir o caderno das reservas.
Aquilo era muito chato! Se eu soubesse que seria meu último dia, quem sabe fosse suportável. Mas eu não tinha muita escolha. Podia ter acabado de passar na faculdade de Administração, mas eu não tinha a menor intenção de estudar. Era só pra não ficar parado. E exatamente agora, eu estava me arrependendo de ter tentado.
Mas ficar ali no restaurante não era uma ideia muito melhor. Eu já sabia que não tinha o menor talento para ser cozinheiro. Já tinha feito milhares de cursos e o máximo que eu conseguia era um novo recorde de queimaduras. Já tinha sido decidido na nossa família que eu cuidaria dos negócios e meus irmãos da cozinha. Meu irmão mais velho já era sous-chef do meu pai há um ano. Enquanto eu não era chamado nem para passar um café.
Meu deus, um café agora seria incrível. Será que eu poderia sair do meu posto por um minuto para buscar uma xícara?
Foi eu olhar para trás pra cozinha, que alguém abriu a porta e eu tive que me endireitar.
Eram os Smiths. Eles vinham toda noite no mesmo horário. Eu já podia saber que eram oito e dez. Eles calculavam certinho para começarem a comer às oito e meia. E eu não achava isso nem um pouco esquisito.
Não. Nem um pouco.
"Boa noite e bem-vindos ao Stroud," eu disse, como fazia sempre. Era para ter saído animado e convidativo. Mas soou mais como alguém que estava de saco cheio de estar ali.
Tipo eu assim.
Mas os Smiths sorriram para mim.
"Boa noite Dylan," a Sra. Smith disse. "Como está a sua mãe?"
"Bem," eu respondi, pegando a caneta e anotando no caderno que eles tinham chegado.
"E seu pai?" Foi o Sr. Smith que perguntou.
"Ah, ele está ótimo," eu disse. "Já deve estar preparando o seu jantar!" Apontei pra ele e pisquei com um olho só, que o fez sorrir de volta.
E então eu me coloquei na frente deles e os guiei até a mesa aonde eles sem ficavam. Eu ajudei a Sra. Smith a se sentar e depois disse que Rose ia cuidar deles.
Como sempre.
Andando de volta para o pódio, eu revirei meus olhos. Por que eu precisava fazer tudo aquilo todas as noites? Eles sabiam aonde eles se sentariam, sabiam quem seria a garçonete. Por que eu precisava me importar?
Quando estava chegando de volta à entrada, uma das minhas irmãs me encontrou lá.
"Está parado hoje, não?" Lily vinha com a bandeja embaixo do braço.
"Muito," eu reclamei logo antes de bufar exageradamente. "Não tem como eu conseguir alguém pra ficar no meu lugar?"
Ela balançou a cabeça, me reprovando. Ela tinha 14 anos e já me olhava como se fosse mais velha. Só porque eu não queria trabalhar, não significava que ela era mais madura, só para deixar claro.
Mas era assim que as duas me viam, minhas irmãs gêmeas. Lily e Rose. E, pra falar a verdade, era difícil me lembrar que eram mais novas.
"Sinto muito," Lily disse. "Não tem ninguém, você vai ter que aguentar."
Revirei os olhos. "Eu daria todo o dinheiro que eu tenho na carteira para alguma coisa interessante acontecer."
Na hora em que falei isso, alguém do lado de fora do restaurante soltou um grito. Minha irmã e eu olhamos pelo vidro escurecido e vimos um cara caído na calçada, suas pernas entrelaçadas em uma bicicleta.
"Não, não era isso que eu estava falando quando disse que queria alguma coisa interessante acontecendo," eu reclamei, cruzando os braços.
"Será que ele se machucou?" Lily correu para a porta, apesar de já ter várias pessoas em volta do cara.
Assim que ela abriu a porta, eles levantaram os olhos para ela.
"Olha ele ali!" A mulher que estava bem de frente para nós disse, apontando para mim.
Eu sorri na hora, apesar de não ter ideia do que ela estava falando. Mas meu sorriso desapareceu quando todos me olharam assustados e correram para pegar as suas câmeras e as mirarem na minha direção.
Antes que eu pudesse reagir, vários flashes me cegaram. Tentei tampar o rosto com o braço, mas eles pararam logo depois.
Minha irmã tinha fechado a porta e me olhava assustada.
"O que foi isso?" Ela me perguntou, respirando forte e rápido.
"Eu não tenho a menor ideia," eu disse. "Meus fãs da vida?"
Ela revirou os olhos. E depois de respirar fundo uma vez, ela abriu a porta de novo.
Dessa vez, eu não me importei com as câmeras. Estava mais preparado. Não sabia para o quê, mas sorri para os fotógrafos e acenei.
Vai saber porque estavam ali. Talvez um dos vídeos que eu tinha feito no meu canal na internet finalmente tinha ficado famoso. Se eu virasse uma celebridade, a última coisa da qual eu precisaria era daquele emprego.
Não que eu realmente tivesse acreditado que aquilo era possível quando eu comecei o canal, mas agora não parecia uma ideia tão absurda.
"Por que vocês estão aqui?" Eu ouvi a voz da minha irmã, apesar de ser quase impossível com tanto barulho vindo da rua.
O barulho estava alto demais. Com o canto do olho, eu vi alguns dos garçons vindo na direção da entrada. Já até podia imaginar meu pai brigando comigo depois por ter levado tanta atenção para o restaurante.
Não que atenção fosse uma coisa ruim. Mas que tipo de pessoa assistiria o meu canal na internet? Ninguém que conseguisse pagar pela comida do meu pai.
O barulho abafou assim que os garçons chegaram até mim e nós nos viramos pra Lily.
"Dylan foi selecionado," ela disse, quase como se falasse alto.
"Pra quê?" Um dos garçons perguntou.
Mas eu já sabia pra quê. Era uma ideia ainda mais absurda do que meu canal ficando famoso, mas muito, muito melhor. Eu tinha até me esquecido!
"Para a Seleção da Princesa Lola do Reino Unido," Lily respondeu, ríspida.
E bem na hora em que Lea tinha se juntado a nós.
Por um segundo, eu rezei para que ela não tivesse ouvido. Mas o jeito que me olhou não deixava dúvidas.
Ela saiu marchando em direção à cozinha e eu fui atrás dela com Lily me seguindo.
"O Dylan vai pro castelo, pai!" Ela gritou assim que nós tínhamos passado pela porta.
Meu pai terminou de limpar a beirada do prato no qual trabalhava e se endireitou para nos olhar. "Do que você tá falando?"
Seus olhos foram dela para mim, mas eu não falei nada. Só parei de andar na frente dele, enquanto via Lea continuar seu caminho até a geladeira.
"Do que ela tá falando, Dylan?" Sua voz ficou mais grave e eu tive que olhar para ele.
"Eu me inscrevi naquela Seleção masculina da princesa lá," eu disse, esfregando a nuca.
Não tinha contado para ninguém. Na verdade, só tinha me inscrito porque queria ver se seria selecionado. Não tinha a menor intenção de concorrer para me casar com uma menina tão desesperada que tinha que vir procurar marido em outro país.
Não que eu não conseguisse conquistá-la, claro.
"Como é que é?" Foi a reação tardia do meu pai.
Ouvi Lea batendo a porta da geladeira.
"Já eu te explico," falei para o meu pai, lhe dando um tapa rápido no ombro.
Antes que ele pudesse questionar, eu corri atrás de Lea. Não era uma conversa que eu queria ter, mas sabia que era a minha obrigação. Infelizmente.
Quando entrei na geladeira, ela andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça. Não era a imagem mais legal de se ver. Me fez querer sair de lá e esquecer desse negócio de obrigação. Quanto tempo eu teria que esperar para fugir para o castelo?
"Lea, me deixa explicar-" comecei, apesar de não ter ideia de como continuar.
Não que ela tivesse me deixado.
"Explicar o quê?" Ela me cortou e eu quase sorri de agradecimento. "Que você se inscreveu para participar de uma competição para se casar com uma outra mulher e nem me falou? Aliás, nem é para uma mulher qualquer! Não! Para uma PRINCESA!" A voz dela chegou a um agudo que fez meu ouvido doer.
"Eu não sabia que seria selecionado!" Confessei, e só de pensar que tinha mesmo sido selecionado, eu quis sorrir de novo.
Ia ser o máximo! Eu, no castelo. Várias câmeras atrás de mim. Eu poderia espalhar meu charme pelo país inteiro. Já tinha certeza absoluta que seria o preferido! Não tinha dúvidas. Ninguém ia conseguir torcer para outro cara quando me visse lá.
Lea não parecia tão animada quanto eu.
"Desde quando isso importa?" Ela me perguntou, não esperando nenhuma resposta. "Por que você se inscreveria? Eu achava que a gente tava bem! Esse é seu jeito de terminar comigo? É isso? Você quer terminar comigo? O que eu fiz? Tem alguma coisa de errada comigo?"
Era muita pergunta em pouco tempo. Eu nem lembrava da primeira. E tentar lembrar me fez esquecer da segunda.
"Não, não é isso," eu falei, para melhor ou pior. "Foi de brincadeira, eu nem achava que eles fossem levar isso a sério. Pelo amor de deus, é uma competição masculina!"
"Você não achava que fossem levar a sério!" Ela falou, como se isso devesse significar alguma coisa.
Se devia, eu não tinha ideia do que era.
Lea deu outros passos pela geladeira, de novo com as mãos na cabeça. Não era que eu não gostasse dela. Ela era da hora. Bonita. Legal. Sei lá, ela era uma garota normal. De longe a mais bonita no restaurante, mas isso não era difícil.
A verdade era que eu só estava com ela, porque estava difícil para eu sair ultimamente. Já faziam alguns bons meses que eu não conhecia alguma garota nova. E sozinho eu não ia ficar.
Mas não me faria muita diferença ficar com Lea ou não. Na verdade, um final de semana ela tinha saído de viagem e me deixado uma mensagem, que eu só fui ouvir no domingo de noite. E, até então, eu nem tinha percebido que ela não tinha ido lá pra casa como sempre fazia.
"O que isso quer dizer, Dylan?" Ela se virou para mim. "O que isso quer dizer para nós?"
"Como assim?"
"O que você vai fazer? Você vai pro castelo? Ou vai dizer que não quer mais ir?"
Que eu não quero mais ir? Ela tava louca? Quem, em sã consciência, faria isso? Por que eu ficaria em casa, trabalhando nesse restaurante, adormecendo em cima do caderno de reservas? Tudo isso quando eu podia estar passando minhas noites no castelo, tendo gente me servindo e trocando conversas com o rei? Pelo amor de deus, né.
"Olha, Lea," eu comecei, a segurando pelos ombros. "Eu não vou falar que não quero ir. Essa é uma oportunidade única."
Ela se soltou de mim e deu um passo atrás, apesar de ainda parecer que estava me atacando.
"Uma oportunidade única para o quê? Para se CASAR COM A PRINCESA?"
"Não!" Eu gritei, mesmo sem querer brigar assim com tanta gente na cozinha. "Uma oportunidade única de fazer o restaurante ficar famoso. De eu mesmo virar famoso. Eu não vou atrás da princesa. Quer dizer, se acontecer, eu não vou reclamar-"
Ela me cortou com um tapa estalado na minha cara. Não doeu tanto quanto me assustou.
"Quer saber?" Ela disse, chegando mais perto de mim. Tão perto do meu rosto, que eu podia apostar que estava nas pontas dos pés. "Vai. Vai pro castelo. Se divirta. Mas se você tá achando que vai conseguir conquistar alguém desse jeito, melhor desistir. Duvido que a princesa esteja procurando um canalha!"
Depois de quase cuspir na minha cara, ela deu a volta em mim e saiu da geladeira.
Eu queria me incomodar com o que ela tinha dito, mas a verdade era que nem me afetava. Eu sabia que podia tê-la tratado melhor. Mas eu não me importava com ela. Sabia que seria bem melhor quando eu realmente gostasse da menina.
E quem sabe não fosse assim com a princesa?
Eu ri sozinho. Tá, falei para mim mesmo, também não vamos enlouquecer, né?
Depois de um tempo, eu saí da cozinha. Todos me olhavam durante o caminho todo até meu pai. Mas eu não me importava. Pelo contrário, estava quase perguntando se queriam autógrafos. Poderia valer muito algum dia.
"Então você vai se mudar para o castelo?" Meu pai me perguntou assim que percebeu minha presença. Ele nem precisou olhar para mim.
"Pois é," eu disse, olhando pela cozinha. E então eu vi o relógio. "Que esquisito."
"O quê?"
"São oito e meia. Achei que fossem passar os selecionados só no final."
Meu pai levantou os olhos para o relógio, depois eu o percebi olhando para fora do castelo pela pequena abertura de onde entregavam os pratos.
"Não, foi a primeira coisa que fizeram," ele me disse, logo antes de voltar a montar o prato na sua frente. "Dizem que essa princesa vai fazer tudo do jeito dela."
"Estou vendo que vai ser divertido."
Na hora em que falei isso, ele parou e se virou para mim.
"Presta atenção, Dylan," ele começou, super sério. Tão sério, que eu vi meu irmão por cima do ombro dele me olhando como se soubesse que vinha bronca pelo caminho. "Por mais que você não tenha falado nada sobre isso, essa Seleção já parece que vai nos trazer bastante gente. Já é uma coisa boa para nós."
"Isso é ótimo-"
"Sim," ele me cortou. "Mas lembre-se: tudo que você faz lá dentro reflete em nós aqui fora. Se você quebrar alguma regra ou fizer alguma besteira, nós podemos perder todos os clientes que nós já temos."
Eu quis revirar os olhos, mas achei melhor não.
"Tá bom," eu falei ao invés. "Prometo. Não quebrei nenhuma regra. Não farei nenhuma besteira."
Na minha cabeça, eu já estava imaginando em mil jeitos de quebrar a minha promessa.


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Notas finais do capítulo

Ainda não revisei, perdoem os erros.

Só algumas explicações: Eu passei esses dias sem escrever, porque estava me concentrando na minha história original. Não quero que isso volte a acontecer, mas ela é a minha prioridade. Primeiro, porque eu quero publicá-la. E segundo, porque eu a deixei beem parada enquanto escrevia QACEOM e essa daqui. Passei mais do que dois meses sem escrevê-la pra focar nas fics. E eu preciso voltar a balancear.

Se vocês estão gostando, comentem! É o que me anima pra voltar a escrever mais rápido!



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