Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 104
Capítulo 104: POV Kyle O'Malley


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Too Much to Ask", da Avril Lavigne. AMO essa música e esse CD dela.



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"Eu garanto que tomaremos todas as providências possíveis para que isso nunca mais ocorra. Estamos trazendo guardas especiais de bases do exército e teremos provadores temporários para cada membro da realeza," Rei Maxon estava de pé e falava com confiança, mas sua mão estava apoiada na cadeira e a segurava com força. Ele olhava de Lola para mim e, toda vez que nossos olhos se encontravam, eu assentia, sério. Mesmo que não tivesse muita ideia do que aquilo significasse. "Também estamos trazendo investigadores de fora para descobrirem o que aconteceu e, principalmente, apontar o culpado. Agora," ele soltou da cadeira e se sentou à nossa frente, mirando mesmo a Lola, que estava confortável na poltrona ao meu lado. "Eu compreenderia se o seu desejo fosse voltar para o Reino Unido. Quero que saiba que isso não diminuiria nossa intenção de firmar a aliança entre nossos reinos. E que ficaríamos em dívida com Vossa Alteza pelo transtorno que a fizemos passar."

Eu assenti de novo, já prevendo que Lola decidiria mesmo ir embora.

"Majestade, o senhor não fez absolutamente nada," ela disse, continuando calma. Eu mesmo ainda estava tentando entender tudo, juntar cada pedaço. Mas Lola não parecia estar muito preocupada. "Aumentar a segurança é mesmo o mínimo que se deve fazer e acredito que ninguém aqui vai conseguir descansar até descobrirem quem é o culpado. Mas eu não vou embora." Na hora em que ela falou isso, eu virei o rosto para olhá-la. Como assim, ela ficaria? "Não vou parar a Seleção aqui. Eu não vou simplesmente fazer minhas malas e ir embora como se tudo que tivesse acontecido até então não significasse nada. Acredite, sua aliança vale muito para mim. E confio que vá conseguir nos manter seguros de agora em diante. Mas meu desejo de continuar aqui continua."

Maxon tentou não demonstrar, mas pude perceber quando ele respirou aliviado. Até engoliu a seco, tentando diminuir o sorriso que ameaçou tomar conta do seu rosto.

Já eu quis interromper. Quis pedir para a Lola sair comigo da sala cinco minutos para eu perguntar o que ela estava pensando!

Mas antes que pudesse falar alguma coisa, Maxon se virou para me olhar. "Príncipe Kyle, entendo que nossos países não estão no melhor dos acordos, mas quero que saiba também que não o deixarei para trás. E que todas as medidas que tomarmos para garantir a nossa segurança se aplicaria a você também."

Eu só concordei com a cabeça, por falta de coisa para falar. Ainda sentia que poderia voltar no assunto, poderia perguntar pra Lola se ela tinha certeza. Mas a rainha estava logo atrás de sua cadeira e me olhava com uma doçura que eu não pude estragar.

Decidi que falaria com Lola depois.

"Eu preciso lhe pedir uma coisa," o rei continuou e ela só piscou algumas vezes, esperando que explicasse. "Não podemos ignorar que esse atentado ocorreu durante a Seleção. E nós estamos gratos que você deseja continuar," atrás dele, a Rainha sorriu pontualmente para a Lola. "Mas cada um dos selecionados é teoricamente um estranho. E queremos a vossa permissão para investigarmos cada um, ao mesmo tempo que designaremos um guarda para segui-los sempre."

Uou. Um dos selecionados? Um dos caras da Lola?

"Acreditam mesmo que foi um dos selecionados que causou tudo isso?" Ela perguntou e, por um segundo, achei que fosse perder a calma. Ou pelo menos ficar mais assustada.

Mas, quando a olhei, ainda se mantinha tão formal quanto os outros que observavam e participavam daquela conversa. Só eu ali que ainda estava tentando entender a gravidade a situação? Só eu que ainda não tinha superado?

"Que um deles pode estar aqui com segundas intenções?" Ela perguntou.

"Por enquanto, não acreditamos em nada. Só no que podemos provar," Maxon falou, parecendo já ter preparado aquela resposta antes. "E gostaríamos de poder provar que nenhum deles teve alguma coisa a ver com o ocorrido. Mas a Seleção ainda é sua e preciso da sua permissão para poder investigá-los."

Eu balançava a cabeça para mim mesmo, ainda tentando imaginar o que significaria se provassem que era um selecionado que tinha causado tudo aquilo.

Mas Lola não parecia precisar de muito tempo de reflexão.

"A Seleção pode ser minha, mas o país e o castelo são seus," ela disse. "E, se tem alguém aqui que só tenha entrado para conseguir atacar a sua família, eu quero saber quem é."

Dessa vez, Maxon sorriu de verdade. Sua mulher o imitou, respirando fundo.

Eu realmente devia estar indo à loucura. Lola tinha acabado de falar da possibilidade de alguém ter entrado na competição para atacar a família deles, e eles sorriam?

"Muito bem," Maxon disse. “Vocês têm também a opção de ter um guarda sempre os seguindo. Já colocamos os nossos mais antigos e confiáveis em cada uma de suas portas. Mas a opção de ter um sempre consigo é de vocês."

Como se colocar guardas do nosso lado fosse fazer alguma diferença. Quem tinha sido atacado era um guarda e estava em uma cama de hospital naquele momento.

Lola pareceu pensar um pouco. Depois levantou o queixo na direção do rei, pronta para responder. "É uma ótima ideia," ela disse, sorrindo só o suficiente para deixar claro que não estava indo contra ele. "Mas gostaria que fossem guardas reais britânicos." Maxon levantou as sobrancelhas, surpreso. Enquanto eu fingia não querer comemorar a primeira realmente boa ideia que alguém ali tinha tido. "Não me entenda mal. Eu realmente acredito que vocês são capazes e cumprirão a promessa de garantir a nossa segurança. Mas eu ficaria mais calma com um guarda que já me conhece há mais tempo e que deve sua lealdade a mim."

O rei concordou. Depois se virou para mim. "Príncipe Kyle? Gostaria de chamar guardas irlandeses?"

Eu bufei uma risada que tinha sido guardada para vários pontos daquele conversa até então. "Não acho que os guardas irlandeses sintam alguma lealdade a mim," falei.

E o momento de dizer que talvez fosse melhor a Lola nem chamar ninguém, simplesmente fazer as malas e ir embora se apresentou outra vez. Mas meus olhos encontraram os da rainha e ela sorriu, do que eu tinha falado. E aquilo me desconsertou o suficiente para Maxon continuar falando.

Ele sorriu, se virando para Lola e se levantando. Pronto. A conversa tinha sido encerrada.

"Por enquanto, é só isso," disse. "Mas os mandarei chamar se tiver mais alguma novidade sobre o caso."

Lola se levantou também e fez uma reverência rápida e curta para o rei. Era completamente desnecessário, pura cordialidade que ela mesma tinha decidido ter em relação ao regente de Illéa. Eu ainda queria continuar sentado, mas levantei e lhe fiz um aceno com a cabeça, que ele devolveu.

Assim que deixamos o rei e a rainha para trás e saímos do escritório, Lola começou seu caminho em direção ao que parecia ser as escadas. Eu corri para alcançá-la.

"Lola," falei, a pegando pelo braço para que parasse de andar. A segurança já parecia ter aumentado, pois vários guardas estavam estacionados de metro em metro daquele corredor. "Tem certeza de que quer ficar?" Perguntei. "Não é melhor a gente ir embora?"

Ela olhou rapidamente pro chão, como se fosse pensar. E, antes que começasse a me responder, já balançava a cabeça. "Tenho certeza de que não quero ir embora," ela disse.

"Mas e se acontecer algo com a gente?"

Ela me segurou pelos ombros, levemente mais alta que eu naquele momento. Devia ser os sapatos.

"Kyle," ela começou, seu tom bastante compreensivo para ela estar usando para mim. "Se você quiser ir, eu entenderei. Não tem o que você fazer aqui. Você não está conduzindo uma Seleção para salvar seu país. Seu irmão está casado e você não precisa encontrar uma mulher tão cedo. Não vale a pena arriscar sua vida por uma simples viagem de férias."

Ela não sabia, mas tinha uma razão sim para eu estar ali. E eu desviava dela toda vez que meu irmão me ligava e perguntava se eu estava mais próximo de conquistar Lola. Mesmo que eu nunca fosse levar aquilo adiante e que fosse continuar mentindo para Jack, dizendo que tudo está indo muito bem, eu também não poderia ir embora. Não sem ela.

E minha ideia de poder seguir Karen até o Reino Unido estava indo por água abaixo.

"Mas eu espero que fique," Lola continuou, depois de alguns segundos meus em silêncio. "Eu espero que você fique. É uma das únicas pessoas aqui em quem eu confio," levantei as sobrancelhas, surpreso. "É uma das únicas que eu conheço," ela correu para explicar. "E não precisa se contentar com os guardas daqui," ela continuou, como se nós não estivéssemos cercados deles. "Eles que resolvam o que quer que esteja acontecendo nesse castelo. Você pode ficar despreocupado, terá um guarda propriamente britânico ao seu lado."

Eu concordei com a cabeça, com o mínimo de diferença que aquilo faria. Ela tirou as mãos dos meus ombros, me deu um sorriso de despedida e se virou para continuar descendo as escadas.

Mas tinha outra coisa sobre a qual eu precisava falar.

E então corri de novo atrás dela. "Espera, Lola." Chamei, fazendo-a parar no degrau que estava.

"Kyle, nós podemos continuar falando disso depois do jantar? Eu recebi uma chamada de um dos selecionados para ir encontrá-lo agora."

Desci até estar logo na sua frente. "Você acha que foi ele? Que ele vai admitir?" Perguntei, mudando completamente do assunto que eu tinha em mente.

Ela riu, de leve. "Não, definitivamente não. É o Alex, já o viu? Duvido que ele conseguiria fazer mal a alguém."

"Ah," respirei fundo. "Mas então, você disse que vai trazer os guardas para eles poderem nos seguir, né?" Ela concordou com a cabeça. "E vai mandar algum seguir Clarissa?"

Ela apertou os olhos, tentando me ver melhor. "Clarissa?"

Enfiei as mãos nos bolsos. "Poderia ter sido ela, Lola. A comida dela também estava envenenada. E não acho que eles se importem aqui com ela. Só porque ela não é da realeza, só porque é, teoricamente, uma," abaixei a voz antes de continuar, "criada," completei com uma careta.

Lola levantou as sobrancelhas, quase como se estivesse se divertindo com aquilo. "Não se preocupe, Kyle," ela disse, com um sorriso de lado. "Deixarei que te matem antes que coloquem um dedo em Clare."

Ela voltou a descer as escadas, me deixando para trás.

"Isso deveria me acalmar?" Perguntei, alto o suficiente para que ela me ouvisse.

E depois ainda riu.

Eu deixei que se afastasse um pouco antes de voltar a descer as escadas eu mesmo. Quando passei pelo segundo andar, a vi batendo na porta do tal selecionado e logo entrando. Mas eu ainda ia até o primeiro andar. Eu ia até a ala hospitalar.

Não queria entrar lá. Não que tivesse algum problema em passar pelos guardas. Pelo contrário, assim que cheguei perto, eles abriram caminho para mim. Mas eu não gostava de hospitais. E nem alas hospitalares. Não gostava do cheiro, da limpeza extrema e nem das caras dos médicos. Tudo lá dentro parecia errado, parecia que acabaria em problema. Não conseguia imaginar alguém que quisesse trabalhar ali. Eu mesmo preferia me manter o mais longe possível.

Mas não tinha visto Clare o dia inteiro. E, pelo que fiquei sabendo, ela tinha ficado do lado do guarda envenenado a noite inteira. Ela era boa demais para ver o que estava logo à sua frente. E eu tinha que alertá-la.

Assim que cheguei na porta do quarto dele, os guardas de lá abriram também caminho para mim. E eu podia vê-la, sentada na poltrona do lado da cama dele, o assistindo dormir. Mas não entrei. Pedi que a chamassem para mim e a esperei a alguns passos dali.

Quando ela saiu, fechou a porta com cuidado para não acordá-lo. Usava um vestido comprido e branco, que se arrastou até que estivesse à minha frente. Não pude evitar de sorrir. Ninguém no mundo olharia para ela e diria que não era da realeza. Mesmo parecendo ter passado a noite em claro.

"Aconteceu alguma coisa?" Ela me perguntou, franzindo as sobrancelhas, preocupada.

"Não, nada além do que já tinha acontecido," assegurei. "Você chegou a dormir?"

Ela respirou fundo, apoiando as mãos na cintura como se precisasse daquilo para se sustentar. "Dormi," disse. "Não bem, mas dormi."

"E comeu?"

Ela virou o rosto para me mirar. "Por que quer saber, Kyle? O que houve?"

"Não houve nada," eu me defendi. "Só quero que você se cuide."

Ela bufou uma risada, desviando o olhar. Eu me coloquei na sua frente.

"É sério, Clare," falei. "Não é só porque ele está mal que você precisa ficar junto," falei, apontando para a porta.

"Comparada com ele, eu estou muito bem."

"Rei Maxon disse que ele estava bem, que não teve sequelas e que nem durou muito tempo."

Ela revirou os olhos. "Ele está bem agora! E fisicamente!" Ela parecia brava, mas ainda continuava bem mais dócil do que qualquer outra pessoa que eu conhecia. "Como você acha que está a cabeça dele? Alguém tentou envenená-lo!"

Eu assenti, só para não a contrariar demais.

"Eu entendo. Mas isso não significa que você precisa ficar do lado dele o tempo todo! Ele não tem família?"

Ela deu um mínimo passo atrás, parecendo um pouco ofendida. "Tem. E eles todos já vieram visitá-los. E eu não estou aqui porque preciso estar. Estou aqui porque quero."

Quis revirar os olhos, mas só respirei fundo discretamente. E, quando me aproximei dela, busquei suas duas mãos para segurar nas minhas.

"Clare, eu sei que você se sente culpada por ter estado com ele na hora," nem queria pensar que era por isso que ela tinha mencionado que aquele jantar seria especial, "mas talvez isso seja um sinal."

"Um sinal?" Ela levantou as sobrancelhas, me dando esperanças de que estava começando a me entender.

"Um sinal de que você devia se afastar dele," expliquei. Ela desviou o olhar para o chão, mas eu continuei. "Você nem conhece esse cara. E se não tivesse ido jantar com ele, não teria passado perigo."

Ela soltou das minhas mãos e deu outro passo atrás. "Você o acha perigoso?"

Balancei a cabeça de um lado pro outro, sem querer admitir, mas tão pouco negar. "Não sei se perigoso. Mas eu não confio nele, Clare. Tenho uma má impressão de como ele te olha."

Ela bufou uma risada um pouco inconformada. "De como ele me olha," ela repetiu, como se falasse consigo mesma.

"Não quero que você se machuque," continuei.

"Certo," ela disse.

"Só acho que você devia se afastar dele, que precisa conhecê-lo melhor antes de-"

"De me sentar na mesma mesa que ele?" Ela completou, me cortando. Depois deu um passo à frente, voltando a segurar nas minhas mãos como antes. "Eu estou bem, Kyle. Não precisa se preocupar. Chris é incrível. E tem um bom coração. O que aconteceu não foi por culpa dele. E nem acontecerá de novo."

"Mas eu ainda acho que é mais seguro se afastar."

Ela balançou a cabeça, soltando minhas mãos. "Você realmente acha que eu sou do tipo de sairia correndo no minuto em que alguém com quem eu me importo precisa de mim? Realmente não me conhece, não é?"

Sem me dar chance de resposta, ela se virou de costas e entrou de novo no quarto.

Quis segui-la. Só para falar que era aquele jeito dela que ia fazê-la se machucar. Só porque alguma coisa tinha acontecido com o cara, agora ela era obrigada a ficar do lado dele como se fosse sua namorada? E como ela já se importava tanto assim com ele? Eu a conhecia sim e sabia que me preocupava muito mais com o bem dela do que ele. Nada garantia que ele mesmo não tinha criado aquilo, se envenenado para conseguir sua atenção. E ela, inocente como era, nem desconfiava.

Me aproximei da porta, decidido a entrar e continuar aquela conversa. Mas assim que olhei lá dentro, a vi conversando com ele, que tinha acordado. E ela sorria. Inocente demais.


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Notas finais do capítulo

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