Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 103
Capítulo 103: POV Dane Lewis


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo a música "Chandelier" do B.O.B com a Laurianna Mae.



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OS ALTOS E BAIXOS DOS JOGOS REAIS AQUÁTICOS - E Tudo que Você Precisa Saber da Seleção da Princesa Lola até Agora.
Aparentemente o público precisava saber alguma coisa sobre a Seleção. Segundo o jornal que carregava essa chamada, precisavam saber da minha cicatriz e da minha carreira no exército. Eu não era o único que tinha uma foto estampada logo na página principal, mas minha declaração tinha ganhado seu próprio espaço, em letras grandes. "Seria improvável passar o dia inteiro sem pelo menos alguma tensão."
Nem me importava tanto que tinham feito questão de pegar a pior das frases de tudo que eu tinha dito. Eu falaria tudo de novo.
O que me incomodava era o zoom na minha cicatriz e as milhares de perguntas que seguiram. O que aconteceu com ele? Como será que ele está hoje? Será que isso o impediria de algum dia se tornar rei?
É. Porque um defeito na pele realmente podia dizer muito sobre o caráter de alguém.
O único outro selecionado a ganhar destaque além da briga era Keon, por ele ter vencido. E eles aproveitaram para falar do passado da sua família, de seu pai, August Illéa, e de como ele era visto em sua carreira. Os outros só apareceram para encher espaço. E até colocaram uma sessão explicando os nossos parceiros. Mas, deles, só sabiam mesmo o nome e a profissão.
Sobre o tal atentado que diziam ter ocorrido no castelo, por outro lado, não tinha nada. Falavam da Lola e de seus encontros com algumas fotos para ilustrar. E mantinham um ranking votado por leitores de quem deveria ganhar, comigo em terceiro lugar e hoje Keon em primeiro. Mas se eu queria mais informações do que tinha acontecido na noite anterior, eu teria que procurar em outro lugar.
Joguei o jornal de lado, tomando o último gole que sobrava do meu suco. Meu quarto não era dos piores lugares onde almoçar. Tinha uma visto bonita do jardim e a luz que entrava de manhã garantia um clima agradável pelo resto do dia. Mas eu já estava cansado de ficar preso ali. Em casa, quando passava horas fechado só no meu quarto, pelo menos tinha a companhia de Bengala, meu cachorro. Ali eu realmente tinha que ficar sozinho.
Sentia muita falta dele ali no castelo. Às vezes, quando via alguma sombra de canto de olho, podia jurar que era ele entrando no cômodo. Era bastante idiota da minha parte de achar, mesmo que por um segundo, que podia ser ele. Mas era um costume difícil de combater. Eu já estava mimado, já tinha me acostumado demais a contar com a presença dele sempre. Era com ele que eu descarregava o estresse do dia-a-dia. E ele nem percebeu quando eu fui obrigado a começar a só lhe fazer carinho ou brincar com ele com uma mão só. Me perguntava se ele sentia tanta falta de estar comigo como eu sentia dele.
E se a minha mãe estava cuidando direito dele.
A carta dela estava logo embaixo do jornal e eu a tirei de lá para dar outra lida. Só passei os olhos pela enorme quantidade de nomes de vizinhos e amigos seus que ela dizia estarem torcendo por mim. Pelo que Marlee tinha nos explicado logo no primeiro dia de Seleção, Lola não se importava com algumas câmeras e nós precisaríamos dar entrevistas quando pedissem. Mas ela não participaria do Jornal Oficial e minha mãe sentia falta daquilo. Segundo o que tinha escrito, ainda não tinha desistido. Hoje seria o segundo desde que a Seleção tinha começado e ela estaria esperando na frente da televisão para me assistir.
Eu mesmo duvidava que até a família real aparecesse hoje. O máximo que tinha conseguido das minhas criadas era que tinha acontecido um atentado e que os membros da realeza estavam sob segurança dobrada, o que me impossibilitava de ver a princesa. Quando ela me contou, parecia jurar que era só por Lola a minha curiosidade e preocupação. Mas eu tinha outras pessoas naquele castelo com quem eu me importava. Pessoas que poderiam estar facilmente perto de um eventual ataque.
Já fazia horas que eu estava ali, não fazendo nada. E fiquei tão distraído, que quase não ouvi quando alguém abriu a porta. Foram só os passos de uma das minhas criadas, Vivienne, e sua sombra que me denunciaram sua presença. Ela tinha as mãos juntas à sua frente e sorriu quando encontrou meus olhos.
"Senhor Dane, me mandarem lhe informar que o Dr. Louis Phillip chegou e está chamando pelo senhor."
Me levantei de prontidão. "Aonde?"
"Salão dos Homens, senhor," ela disse, mirando o chão e dando um passo atrás.
"Muito obrigado, Vivienne," eu lhe fiz um aceno com a cabeça e saí pela porta que ela tinha deixado aberta.
Antes de me afastar o suficiente, a ouvi começando a recolher as coisas do meu almoço. Parei e me virei para olhá-la por cima do ombro. Era estranho ter alguém trabalhando assim para mim depois de passar tanto tempo dormindo em camas duras no exército em lugares bastante inóspitos. Muitas regalias, muitos detalhes de serviço que elas prestavam que só me fazia me sentir um impostor para todos os meus companheiros de batalhão.
Ela parou alguns segundos para o olhar para o jornal e eu voltei para dentro do quarto só o suficiente para que me ouvisse.
"Pode pegá-lo para você," eu disse, lhe dando o susto de uma vida.
Ela se virou, mão no peito e bufando para conseguir ar. "Perdão, senhor," pediu, correndo para se endireitar.
"Não, não precisa se desculpar," eu me aproximei. "Pode pegar o jornal para você. Já terminei de ler."
Ela arregalou os olhos e engoliu a seco. Eu não sabia se estava mais envergonhada de eu tê-la visto ou de aceitar. E o silêncio entre nós estava fazendo tudo ser ainda pior.
Agora sim eu me sentia um impostor. Até quando eu tentava merecer um pouco mais todo aquele luxo, eu não tinha sucesso.
"Bom, eu preciso ir," falei, apontando para a porta.
Ela concordou com a cabeça, mãos atrás das costas e olhos tão fundo no chão que parecia prestes a fazer uma reverência.
E ela a fez, logo antes de eu passar pela porta. Quando eu já estava um pouco longe, dei uma última olhada por cima do ombro. Ela tinha o jornal em mãos e o olhava fixamente, um sorriso enorme no rosto.
Talvez não tenha sido tão fracassado assim. Eu tinha conseguido animar uma pessoa, mesmo que pela razão mais simples. Até que tinha um pouco de Maggie em mim.
Ainda pensava nela quando cheguei ao primeiro andar e a vi no final do corredor. Pude reconhecê-la mesmo a vários metros de distância. Nem via seu rosto, mas seu jeito de andar era inconfundível. E ela me fez apertar o passo para chegar até ela antes que me saísse de vista.
"Margaret!" Gritei ainda um pouco longe dela. Já podia imaginá-la me corrigindo e evitando me olhar. Mas era bem por isso que eu insistia em seu nome.
Ela parou, congelada em seu lugar. Carregava uma boa quantidade de tecido em seus braços, o que me fez ainda mais querer chegar perto dela. Queria poder ajudá-la.
Mas quando ela se virou para mim, seu rosto estava estático. "Será possível você parar de me chamar de Margaret?" Ela pediu. Em qualquer outro dia, podia jurar que soaria mais descontraído. Mas dessa vez, ela parecia bastante ofendida.
"Perdão. Maggie," me corrigi, levando as mãos atrás das costas assim que eu parei na sua frente. "Está tudo bem?"
"Tudo perfeito," ela disse, abrindo um sorriso que ela logo escondeu. Foi tão rápido, que eu nem sabia se o tinha visto de verdade.
Eu a olhei de lado, esperando sinais de que ela fosse se contradizer. Realmente não parecia estar nada bem. E ela continuava desviando o olhar de mim.
Quando a tinha avistado, já imaginei toda a conversa que poderíamos ter. Eu reclamaria da vida e ela veria o lado bom. Nem tinha pensado em um grande assunto, apesar de ter toda a intenção de mencionar o tal atentado para descobrir o que ela sabia. Mas o que eu queria mesmo era só poder jogar conversa fora, vê-la feliz e me deixar contagiar um pouco antes de ter que ir provar para outro médico que meu braço não tinha salvação.
Mas se ela não estava afim, eu não forçaria.
Dei um passo atrás. "Bom, eu preciso ir mesmo," disse e ela assentiu. "Tenho uma sessão de fisioterapia agora pro meu braço."
Quando eu falei isso, ela levantou os olhos e encontrou os meus. "Mesmo?"
Podia jurar que o que quer que a incomodasse tinha passado, pois, mesmo sem sorrir, seu rosto já tinha se iluminado.
"Mesmo," falei, um pouco orgulhoso de estar conseguindo a conversa que tinha tanto esperado. Ela até abriu um sorriso, o que me fez querer contar mais. "Lola mandou trazer um médico especialista para mim. Ela está determinada a me fazer deixar esse castelo sem dor."
Seu rosto fechou outra vez e Maggie voltou a mirar o chão. "Que bom," ela disse, sem parecer achar que aquilo era realmente bom.
"Não sei se vai funcionar, já fiz vários tipos de terapia," continuei. "Ela insiste que essa é a melhor, que esse cara vai fazer toda a diferença. Mas tenho a impressão de que eu só estou ganhando uma chance de prová-la errada, sabe? Quer dizer, pelo menos eu posso ter certeza de que esse médico é bem mais do que eu poderia pagar sozinho. Mas ainda sinto que é uma perda de tem-"
"Aproveite," ela me cortou, esfregando a testa e a boca, mesmo que o movimento a forçasse a aguentar todos os tecidos com um só braço.
Por que ela não podia nem conversar direito comigo? Por que não conseguia me aguentar falando? Minha presença era tão insuportável assim que ela não podia me trocar três palavras comigo?
"Maggie, eu lhe fiz alguma coisa?" Perguntei, dando um passo à frente, que ela descontou indo para trás. "Tem alguma coisa errada?"
"Tem," ela disse, levantando o rosto e me olhando firme. Fez questão de engolir a seco antes de continuar, sua raiva enrubescendo suas bochechas. "Você está me atrapalhando. Pode não parecer, mas eu tenho muita coisa para fazer. Estou muito, muito ocupada. E não tenho tempo para ficar ouvindo sobre como a princesa trouxe um médico especialmente para você!"
Eu balancei a cabeça, dando outro passo à frente. "Maggie, não é-"
"Boa sorte, Dane. E me deixe trabalhar," ela se virou, marchando para longe de mim.
Quando já tinha se afastado por alguns metros, ela começou a correr. Como se precisasse ficar o mais longe possível de mim o quanto antes. Como se só olhar para a minha cara já fosse insuportável.
Mas o que eu tinha falado? Que achava que não funcionaria? Ela estava se cansando tanto assim do meu jeito que não queria nem mais conversar comigo? Será que eu finalmente tinha chegado mesmo ao fundo do poço? Que tinha me tornado tão impossível de aguentar por perto?
Só podia ser isso. E eu entendia, devia mesmo ser mais grato. Não queria ser o cara que deixasse o mundo dela cinza. Não quando eu mesmo estava me beneficiando tanto do jeito que ela mesma via a vida.
Mas era a verdade, não? Eu já tinha mesmo feito vários tipos de terapia. Física e psicológica. Já tinha discutido o assunto com muita gente, apesar de sempre largar logo que começava. Eu só não tinha tempo para perder ficando de licença. E nunca senti nenhum progresso.
Ali no castelo, era um jeito de preencher meus dias quando não tinha encontros com a princesa. E eu não tinha nada a perder. Além de que era mesmo um médico bem mais caro do que eu, ou até mesmo o batalhão, poderia pagar na minha vida.
Eu lembrava do que tinha falado para Maggie depois dos Jogos Aquáticos. Eu não iria desistir.
Mas ela não entendia o que era viver com aquela dor. E ela não devia me culpar por me manter cético. Por enquanto, eu não tinha nada a perder. Mas pior do que tudo que eu já sentia seria criar esperança por algo que nunca voltaria.


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Notas finais do capítulo

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Essa semana, nós não vamos postar os contos do Novos Começos, mas voltaremos semana que vem.
E quem estiver lendo o meu, Castelo de Água, MUITO obrigada



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