Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 102
Capítulo 102: POV Blake Arely


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Don't" do Ed Sheeran.



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A enfermeira estava no telefone quando eu em aproximei do balcão. Ela nem levantou os olhos para me olhar, mas eu podia ouvir que a ligação era pessoal. Já tinha tido que fingir problemas de saúde para os guardas na porta, podia muito bem fazer o mesmo com ela. Mas não seria possível se ela nem olhasse para mim. Aquilo me bloqueava.
Eu pigarreei.
Nada. Ela já devia estar acostumada com aquilo. E de saco cheio.
Olhei à nossa volta. Alguns guardas andavam pelo corredor, enquanto outros estavam parados perto da porta de um quarto, conversando. Esses tiveram que abrir espaço quando a porta se abriu e uma médica saiu de lá. Eu a observei andar até a recepção torcendo para que chegasse perto o suficiente para eu falar com ela.
E, quando chegou, não deixei a oportunidade escapar.
"Com licença," pedi. Ela levantou as sobrancelhas, como se mostrasse que estava me ouvindo, mas ocupada demais para tirar os olhos da prancheta na qual escrevia. "Você é a médica de Chris Collins?"
Ela clicou a caneta e se aproximou ainda mais do balcão, colocando a prancheta em um uma caixa de acrílico. E então ela levantou o rosto para me olhar. "Sou," falou, cruzando os braços. "O que quer saber?"
"O que ele tem?" Perguntei.
Ela franziu as sobrancelhas. "O que você é dele?"
Eu engoli a seco. "Amigo."
Ela respirou fundo, descruzando os braços e pegando outra prancheta. "Sinto muito, amigo. Você terá que esperar ouvir dele."
Ela deu a volta no balcão e estava indo na direção do corredor, quando eu parei na sua frente.
"Eu sei, mas-" o que eu falaria? Que eu precisava saber? Que aquele podia ser o atentado que eu estava esperando? E que eu deveria ter evitado? E que a agência já estava anotando na minha ficha o quanto eu era incompetente?
Ela ficou me esperando falar alguma coisa, mas acabou dando a volta em mim e continuando seu caminho. Eu ainda queria correr atrás dela, já que não conseguiria nada da enfermeira no telefone.
Mas ela estava certa. Eu não era o tipo de pessoa que conseguiria uma informação sobre Chris. Em qualquer outra situação, podia falar tudo que eu sabia dele e fingir que era algum parente. Mas eu fazia parte da Seleção. Mesmo que não fosse pelo meu próprio interesse, as pessoas vasculhavam minha vida. A falsa, a que a agência tinha criado para mim. Mas não havia absolutamente nada nela que podia me ligar a Chris.
Voltei a me apoiar o balcão, ainda não estando pronto para desistir, mas sem conseguir pensar em alguma ideia melhor do que perguntar à enfermeira. Ela me olhou de lado e deu uma risadinha, fingindo ser pelo que tinha ouvido no telefone. Mas eu sabia que era por mim. Praticamente podia ler seus pensamentos, ela rindo por dentro de como eu nunca conseguiria o que eu queria.
Tinha a leve impressão de que eu deveria desistir de tudo. De que eu deveria fazer minhas malas e sair dali. O atentado tinha falhado, o que só me fazia pensar que teria outro. Mas eu tinha sido completamente incompetente para evitá-lo! Definitivamente não estava pronto para aquilo! E duvidava que conseguiria ser muito melhor no próximo.
Pensei em ligar para Jones. Ou até tentar falar com o Rei Maxon, que era meu contato ali. Mas, depois da noite anterior, eles não estavam deixando ninguém chegar perto da família real. Nem mesmo os selecionados. A Princesa Lola tinha desaparecido e todos fomos obrigados a comer nos nossos quartos até o almoço. Era o momento de se manter escondido. Não de sair batendo na porta do escritório do rei para pedir que mandassem alguém no meu lugar. Ou pelo menos para me ajudar.
Apoiei minha cabeça no balcão, bloqueando a voz da enfermeira. E se o ataque fosse algo paralelo? O que Chris Collins tinha para provar que tinha a ver com as minhas investigações? Será que ele podia ser o homem do dinheiro, o tal Zincoid? Será que todas as contas que eu tinha descoberto eram deles? Por qual outra razão alguém iria querer atacá-lo? E o que significava aquela palavra que eu tinha ouvido tanto nas gravações que eu tinha interceptado semanas atrás? Agele. O que era Agele? O que era Pour Beastings Arene? Arene tinha alguma coisa a ver com Agele? Era alguma língua que eu nunca tinha ouvido falar? E o que era Leone? Por que existia um projeto com esse nome? E o que o Keon podia ter a ver com o Chris?
"Alie, Johnson já passou por aqui?" Ouvi uma voz perguntar e levantei a cabeça para ver quem era.
Thomas Woodwork, um dos guardas pessoais do Príncipe Charles. Pelo que eu tinha estudado antes de vir, ele estava próximo de uma promoção, tinha muita promessa pela sua frente.
E também fama de fofoqueiro, me lembrei na hora. Era com ele que eu precisava falar!
"Ainda não, Tom. Mas eu aviso se ele passar," a enfermeira respondeu, sua voz doce como a de uma avó.
Eu revirei os olhos. Por que ela não podia ser assim comigo?
"Obrigado, Alie, você é um amor," Thomas disse, pegando sua mão e a beijando. E então ele se virou na direção do corredor e começou a andar.
Eu tinha certeza de que ele ia ao quarto do Chris, mas precisava pará-lo antes. Apressei o passo, chegando ao seu lado.
"Complicado, não é?" Perguntei, fazendo-o me olhar por cima do ombro. "O que aconteceu com o Chris."
"Desculpa, você é?"
"Blake," parei de andar e ele parou comigo. "Blake Arely, um dos selecionados." Nós apertamos nossas mãos. "Chris e eu viramos algo como amigos," continuei. "É uma tragédia o que aconteceu com ele."
Não, eu não sabia se era uma tragédia. Até então, eu não tinha a menor ideia do que tinha acontecido. Mas resolvi arriscar.
Thomas me olhou estranho. "Por que tragédia? Ele não morreu. Ele tá bem."
Eu respirei aliviado. "Ele está?" Perguntei, forçando minha atuação de amigo que finalmente podia se despreocupar. "Ainda bem! Ninguém me fala nada dele, estava começando a achar que era porque não queriam me contar o pior."
Thomas sorriu de leve. "Não se preocupe, ele está bem sim. Como novo. Era só um sedativo, que nem durou muito. Não tem nenhuma sequela."
Sedativo? Aquilo não fazia o menor sentido. Eu estava esperando algo muito mais sério.
A não ser que-
"É muito bom poder ouvir isso," levei uma mão ao peito. "Mas, me diz, por que alguém iria querer fazer alguma coisa com a Chris? Ele é uma ótima pessoa. E por que sedar? Estavam planejando fazer alguma coisa com ele?"
Como sequestrá-lo?, completei na minha cabeça, mirando Thomas fundo.
Ele deu de ombros rapidamente, olhando à nossa volta. Ainda estávamos longe da porta do quarto de Chris e, consequentemente, dos guardas mais próximos.
"Não era para ele," Thomas falou. "Pelo que parece, todos acreditavam que a comida aonde estava o sedativo era para o Príncipe Sebastian."
"Príncipe Sebastian?!"
"E a Princesa Nina," ele completou, balançando a cabeça. "Eles também são pessoas ótimas. Boas demais para esse tipo de coisa."
"Sim, completamente," falei. "E você sabe quem estava por perto? Aonde foi que aconteceu?"
"Sala de Música!" Ele respondeu, me olhando como se esperasse que eu estivesse tão inconformado quanto ele. "E não sei se tinha alguém por perto. Quer dizer, teve o cara que o encontrou e o trouxe para cá."
Levantei as sobrancelhas. "O cara que o trouxe para cá?" Perguntei.
Ele franziu as sobrancelhas a ponto de apertar os olhos, tentando lembrar. "Um dos selecionados, como é mesmo o nome dele? Ah!" Ele acabou quase gritando de surpresa. Por um segundo achei que ele fosse falar algo sarcástico e eu não tinha a menor ideia do que era. Mas ele continuou normalmente. "Danio Vicenza. É, acho que era esse o nome dele," Thomas terminou com um sorriso amarelo.
Danio. Um dos primeiros quartos que eu tinha vasculhado. E onde eu não tinha encontrado nada.
Mas não o tinha tirado da minha lista de suspeitos completamente. Não quando eu também não tinha provas da sua inocência.
"Viu, eu preciso ir," Thomas apontou na direção da porta de Chris.
"Claro, claro," falei. "Obrigado por tudo. Depois eu falo com ele mesmo."
"Nada," ele disse, me fazendo um aceno de cabeça e continuando seu caminho.
O que Danio tinha estado fazendo perto da Sala de Música? Ficava praticamente do outro lado do castelo. E, pelo que eu tinha visto do seu quarto, ele não parecia ter a mínima veia musical. Não teriam colocado algum instrumento lá se ele tivesse? Como tinham feito no quarto de Keon? E se ele estivesse lá de propó-
Eu mesmo me cortei na minha cabeça quando algo do outro lado do corredor chamou minha atenção. Na verdade, fez mais do que chamar minha atenção. Eu andei até o mural de cortiça sem nem pensar ou tirar os olhos do que eu vi. Era pequeno, mas eu tinha certeza absoluta que já tinha visto aquilo antes. Era o desenho do caderno de Keon.
As linhas pretas em várias direções, o desenho que até hoje eu não tinha conseguido decifrar, mas que tinha desenhado em todas as folhas que via na frente. Era impossível eu não ter reconhecido. Estava gravado na minha mente, mesmo que seu significado ainda me fugisse.
Passei os olhos no resto do papel aonde ele estava ingravado. Era um anúncio de um apartamento e ele era usado para ilustrar o topo. Dois quartos, cozinha, dois banheiros. Não parecia ter nada demais. E, no final, vários papéizinhos com o mesmo número de telefone para quem pudesse se interessar.
Não hesitei em tirar um de lá. Fiz o mesmo caminho de Thomas, mas continuei andando depois do quarto de Chris. O resto do corredor estava vazio e, quando virei à esquerda em outro, corri para entrar no primeiro quarto que vi.
A beleza de uma ala hospitalar particular era que quase ninguém a usava.
Fui direto ao telefone do lado da cama, disquei o número e o coloquei no ouvido.
Quando atenderam, soube que era uma gravação antes mesmo da voz eletrônica começar a falar.
"Quel est le mot de passe?" Ela perguntou. Depois de alguns segundos, repetiu. "Quel est le mot de passe?"
Coloquei o telefone no gancho outra vez, peguei meu caderno do bolso e escrevi exatamente o que tinha ouvido. Mas pela pronúncia.
Sabia que era francês, a língua mais reconhecível no mundo depois de Inglês. Eu só não falava uma palavra dela. Teria que pesquisar depois.
Voltei andando pelo corredor como se nada tivesse acontecido e parei de novo na frente do anúncio. Quando percebi que as únicas pessoas que sabiam que eu estava ali eram os guardas na porta de Chris, anotei tudo que estava escrito.
Principalmente a assinatura. Molarity Bren.
Outras palavras pra minha coleção de incógnitas. Mas pelo menos agora eu podia procurar em algum dicionário de Francês. Eu pelo menos tinha o mais perto de uma bússola para começar.
Saí da ala hospitalar normalmente e comecei meu caminho para os quartos dos selecionados. Queria ir outra vez no de Danio, procurar de novo no meio de todos seus cremes de cabelo, checar cada vidro se tivesse. Precisava encontrar alguma coisa que explicasse porque ele estava tão perto de Chris na hora exata em que ele precisava de ajuda.
Assim que virei o corredor, uma criada passou por mim. Como de costume, eu fiz um aceno com a cabeça, que ela retornou com um sorriso por pura educação. Ela carregava duas caixas pequenas na mão e andava apressada, passando rapidamente por mim e quase me fugindo completamente à atenção. Mas logo que sumia de minha vista, ela levou à mão ao rosto e colocou uma mecha atrás da orelha, expondo seus olhos.
Parei de andar na hora. Eu a conhecia.
Me virei para olhá-la, que continuava em passos rápidos.
Eu já a tinha visto pelo castelo conversando com Danio. Várias vezes. E uma até os vi entrarem juntos no quarto dele.
Corri para alcançá-la. Eu podia começar a investigá-lo logo ali.
"Com licença," pedi, fazendo-a parar e se virar com cuidado para mim, como se ainda não tivesse certeza de que eu falava com ela. Eu sorri e cheguei mais perto. "Posso perguntar seu nome?"
Ela me olhou estranho, segurando firme às caixas na sua mão. "Liberty, senhor," disse, depois de baixar os olhos. E então me fez uma reverência, o que a obrigou a tirar uma mão das caixas.
E não pude evitar de notar a etiqueta. Ela voltou a mão a ela rápido demais para eu conseguir ler alguma coisa de onde estava. Mas parecia muito com as que eu tinha encontrado no quarto de Keon.
"Liberty o quê?" Insisti.
Ela engoliu a seco. "Liberty Roman, senhor." Ela olhava à nossa volta, claramente querendo estar o mais longe possível dali, mas obedecendo alguma ordem que devia ter recebido de não ignorar os selecionados.
"Senhorita Roman, tenho a impressão de já tê-la visto antes," eu falei, dando alguns passos à frente. Estava chegando perto demais dela, mas queria garantir que conseguiria ler a etiqueta das caixas caso ela se descuidasse outra vez.
"Não poderia dizer, senhor. Mas não é de se espantar."
"Por que não?"
Ela me mirou, esperando alguns segundos para responder. "Porque," começou, pausando outra vez, "porque fui designada a cuidar de um dos selecionados, senhor."
"Danio Vicenza," falei, sem conseguir me segurar.
Ela disfarçou seus olhos que queriam arregalar e os mirou no chão.
"Sabia que te conhecia de algum lugar!" Continuei, para amenizar. Ela continuou em silêncio. "E você gosta dele? Ele te trata bem?"
Quando ela voltou os olhos para mim, engoliu a seco. "Sem problemas, senhor. Mas se me perdoa, eu preciso ir."
"Não, claro. Eu entendo," disse, enquanto ela dava um passo para trás.
Antes que desse outro, ela se abaixou de novo para outra reverência e, dessa vez, eu tinha meus olhos grudados na caixinha.
Eu só consegui ver uma coisa. E talvez a tivesse imaginado. Mas era coincidência demais para eu ignorar.
Dei as costas para ela antes mesmo que começasse a andar e tirei meu caderno do bolso, lendo a última coisa que tinha escrito. Molarity Bren.
Bren. Era isso que eu tinha visto na etiqueta.
E, logo abaixo, eu escrevi seu nome. Liberty Roman.
Depois de alguns segundos, girei e fiz o caminho de volta na direção da ala hospitalar. Queria seguir Liberty de longe, ver aonde ela levaria aquelas caixas, mas, quando virei a esquina, ela não estava por lá. Ainda corri até o final do corredor, esperando vê-la no próximo. Mas nada. Era como se ela tivesse desaparecido do nada.
Respirei fundo, voltando a olhar para o meu caderno. Era ela que me levaria até o que quer que fosse Molarity Bren. E eu precisava começar a prestar mais atenção nela.
Comecei a andar, pensando no que deveria tentar conectar. Danio tinha sido o primeiro a chegar a Chris, que deveria ser o Sebastian. E Liberty era sua criada. Ela carregava caixas iguais àquela que o Keon tinha. Mas eram caixas de papelão normais. Poderia ser uma coincidência.
Mas aquelas palavras não podiam ser coincidência também. Eram estranhas demais. E eu decidi resolver aquele enigma naquele momento.
Apertei o passo, andando mais firme, já planejando chegar na biblioteca e procurar todos os livros de francês possível. Principalmente francês arcaico, que era mais provável que fosse.
Tinha virado mais um corredor quando ouvi uma música começar a tocar. Estava baixo, mas como o resto do castelo ali estava em silêncio, chamava bastante atenção. Diminuí meus passos, chegando perto da porta de onde vinha.
Estava só encostada e eu lhe dei uma empurradinha para poder olhar mais dentro. Podia ouvir barulhos se misturando à música e eram bastante estranhos. Quase como se alguém estivesse batendo várias vezes no chão. Com força e determinação. Minha curiosidade já tinha tomado conta de mim e, quando não consegui ver nada de mais, empurrei a porta mais um pouco.
Era uma sala de dança. E, no meio de todos os espelhos, uma menina vestida em roupa de balé preta e cinza girava, esticando suas pernas e tentando pegar impulso o suficiente para não ter se apoiar outra vez. Quando falhava, ela devolvia os pés no chão, frustrada. E começava de novo.
Era Valentine. E ela parecia estar muito melhor do pé.
Mas disso eu já sabia. Ela tinha insistido em ser minha parceira nos Jogos Aquáticos, dizendo que eu devia isso a ela e que seria um bom jeito de voltar a fazer exercício físico.
Mesmo assim, era bom saber que eu não tinha estragado completamente sua carreira. Claro, eu esperava que toda a frustração dela não fosse por minha causa. Que não estivesse conseguindo fazer o que precisava por qualquer razão, menos seu pé que tinha machucado.
Quando comecei a me afastar da porta para continuar meu caminho até a biblioteca, a música mudou. Saiu de uma dramática em estilo de Ópera, para uma delicada e calma.
Eu não sabia quanto tempo tinha. Não sabia o que esperar do futuro. Precisava descobrir o que aquelas palavras significavam. Tinha certeza de que não tentariam nada tão cedo, não agora que a seguraça à família real tinha sido dobrada. Mas quanto mais rápido eu conseguisse juntar as peças, melhor.
E eu sabia disso. Sabia que devia me afastar e ir à biblioteca.
Mas eu queria ver mais um pouco. Valentine não tinha me notado. Era bom poder vê-la bem, dançando, sem ter que ficar reclamando de mim. E ao olhar de volta para dentro da sala de dança, ela se mexia tão delicadamente, que foi o suficiente para decidir que todo o resto teria que esperar.
Me apoiei no batente da porta, encontrando o equilíbrio perfeito entre me esconder e conseguir assisti-la.
Ela começou devagar, como a música, em um dos cantos. E então veio desenhando pela sala com movimentos leves e precisos. Era como se nem precisasse de esforço. E nem precisasse pensar. Ela dançava de olhos fechados, sentindo o ritmo e não hesitando um segundo sequer nem em relação à sala. Chegava perto do espelho, mas nunca o tocava. Girava elegantemente no último segundo e mudava sua direção.
A música ficou um pouco mais emocionante no refrão e seus movimentos mais fortes. Mas ela os intercalava com os delicados e eu fiquei me perguntando como seria o próximo. Até tentava advinhar para onde iria, se giraria, se viria na minha direção, se abriria os olhos sem querer e encontraria os meus a observando no espelho. Quando ela se inclinava para a frente e esticava a perna para tentar alcançar o máximo possível, eu torcia para que conseguisse. Mas ela não precisava do meu apoio. Dançava como se fosse seu jeito de respirar. E não parecia querer parar tão cedo.
Cheguei até a apoiar minha cabeça no batente da porta, me descuidando um pouco de me esconder, mas querendo ver mais da sala. Não que o reflexo do espelho fosse ruim, só não era o suficiente.
Sem nem pensar direito no que fazia, coloquei a mão no bolso e tirei de lá um papel que eu carregava comigo desde os Jogos Aquáticos. Eu o tinha encontrado no meu quarto esperando por mim naquela noite. Se o tivesse recebido em qualquer outro momento, juraria que era uma brincadeira de mal gosto. Mas quem quer que tivesse escrito tinha feito questão de deixá-lo em meu travesseiro. Queria muito que eu o recebesse. E, se não fosse pelo que estava escrito, poderia jurar que tinha vindo de Valentine, já que era a única pessoa que me conhecia ali.
Mas ela nunca falaria que a princesa não era a única que me queria competindo pelo seu coração. Eu nem conseguia imaginar aquilo saindo de sua boca. E tinha certeza de que, se eu lhe perguntasse, ela riria alto da minha cara.
A música terminou e eu dei um passo atrás e então me afastei de vez dali, não querendo que ela me visse ou soubesse que eu tinha estado a observando. Dei uma última olhada no bilhete e o guardei no bolso.
Aquela era uma questão completamente diferente que eu também precisava investigar.


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Notas finais do capítulo

Imagino que todo mundo vá passar os próximos dias preocupados em ler A Herdeira haha. Eu mesma só vou escrever outro capítulo quando tiver terminado o livro todo.

Mas se você não tiver o livro ainda (ou quiser uma edição de capa dura), eu estou fazendo um sorteio! Na verdade, é para comemorar um ano de fanfics minhas! E um dos prêmios é o livro A Herdeira. Enquanto os outros são especialmente para gotinhas!
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