Sirius odiava rotina. Desde criança fazia o que dava na telha, seguia suas própria regras e não tinha medo de se arrepender. Seu pensamento ao entrar no trem que o levaria para Hogwarts pela primeira vez era “Aproveite ao máximo. Diga que não conseguiu, mas jamais diga que não tentou”. Ele era assim, um espirito livre, espontâneo, divertido. Sua juventude, apesar das brigas familiares, foi marcada por histórias que faziam as pessoas engasgarem de incredulidade. Com seus amigos, Sirius achava que era imortal, que a diversão duraria para sempre, sentia-se vivo e cheio de energia. Mas é claro que tudo isso não durou.

Perder a comunicação com seu irmão, Regulus, fora o primeiro baque a abalar a esfera de felicidade que Sirius vivia, mas nada o tinha preparado para lidar com a morte de seu melhor amigo, seu irmão, seu confidente. De vez em quando, Sirius se pegava pensando se era possível sentir tanta dor quanto ele sentiu ao ver o corpo de James Potter deitado na escada da casa onde morava. Lembrava-se como se fosse algumas horas atrás de ver os olhos castanhos rodeados pelo óculos que usava desde sempre bem abertos e sem nenhum sinal de vida neles.

Naquela noite, Sirius conheceu a verdadeira dor da guerra. Sem se importar com o que aconteceria com ele, Sirius desejou, pela primeira vez em sua vida, matar alguém. Matar um de seus melhores amigos. Peter Pettigrew. Seu coração estava estilhaçado, Sirius não lembrava nem como se manter em pé, seu cérebro e coração só queria vingança.

No início, Sirius achou que ele teria um julgamento onde poderia contar toda a verdade. Entretanto, após o primeiro mês em Azkaban, ele sabia que sua vida tinha acabado. Não demorou muito para seu coração desistir da esperança, a única coisa que o mantinha vivo era saber que Harry, seu afilhado, ainda estava lá fora, precisando de proteção. Ao descobrir que os dementadores ignoravam sua cela quando estava transformado em Almofadinhas, passou a ficar assim o tempo todo e, em poucos anos, nem se lembrava mais como era ser um humano.

Tudo mudou ao ver a foto de uma família ruiva no jornal, no canto, bem escondido, estava um rato, o qual Sirius reconheceria em qualquer lugar. Tinha uma nova meta: fugir de Azkaban. Mas ao faze-lo, Sirius se deu conta que não conhecia mais o mundo. Harry ter acreditado nele fez o homem se lembrar o porque de ainda estar lutando. Sirius não queria uma vida, não queria uma família, nem dinheiro ou fama, somente queria ver Harry feliz e tendo tudo que foi tirado dele e de seu pai.

Porém, agora estava Sirius deitado no sofá da antiga casa de sua mãe, uma casa que ele odiava e tinha péssimas lembranças, mas ele não se importava, afinal, Hermione também estava lá. Dois meses haviam se passado desde que Hermione Granger chegou e cada segundo desde então foi gasto transformando o pior lugar que Sirius conhecia em um verdadeiro lar.

Depois que Harry gritou com ambos, Sirius tinha se tornado mais próximo da mulher. De dia ela buscava um emprego, de noite ela dormia com ele para afastar os pesadelos. Pela primeira vez em sua vida, Sirius Black estava seguindo uma rotina, e ele gostava disso.

– Você está tão calmo. - Hermione sussurou. Sirius olhou para ela, admirado pelo fato de que ela havia crescido numa mulher deslumbrante. Naquele momento, Hermione estava deitada no meio das pernas dele, com a cabeça apoiada no peito cheio de tatuagens. Os cabelos revoltos estavam para todos os lados e os olhos dela brilhavam com emoção. Ela era de tirar o fôlego. E ela era dele.

– Só pensando em como as coisas mudaram nos últimos dois meses. - Hermione assentiu, sabendo exatamente do que ele estava falando.

– Eu gosto de como as coisas mudaram.

Hermione se mudou para pegar um pedaço de pão que estava na mesa de centro, Sirius aproveitou para olha-la. Ela não era perfeita. Ela tinha cicatrizes. A maior dela começava no ombro esquerdo, passava entre os seios e terminava no lado direito do quadril. O Sirius de dezessete anos acharia medonho, mas o Sirius de quarenta e três achava incrível. Ela tornou a se deitar nele, se aconchegando no calor que a pele dele e o fogo da lareira ofereciam.

– Eu não quero que você vá embora.

– O que?

– Não quero que arranje outra casa, mesmo que possa pagar. Quero que você more comigo.

Hermione parecia em choque por breves segundos, mas então ela sorriu e beijou os lábios de Sirius. Seu corpo nu roçou no corpo de Sirius e ambos gemeram.

– Eu não vou a lugar nenhum. - Ela prometeu. Suspirando feliz, Sirius acariciou a bochecha dela. Sirius Black não podia mais negar que estava apaixonado por Hermione Granger.

Às vezes, Sirius acordava no meio da noite, com frio e suando, olhando desesperado para as paredes de seu quarto, tentando lembrar a si mesmo que não estava mais em Azkaban. Logo Hermione se juntava a ele, abrindo os olhos com horror, tentando acalmar a si mesma, provavelmente lembrando de que não havia mais guerra. Nessas noites, ambos se amavam da forma mais profunda que existia. Ainda tinham um caminho a percorrer, mas ambos sabiam que estavam curando um ao outro.