Kowai no Ai Suru escrita por Camihii, Luh Black


Capítulo 12
Um Novo Sentimento


Notas iniciais do capítulo

Postamos!



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- Pare de insistir, Akira! Já falei que não simpatizo com esse idiota!

- Por favor, Kyoko! Pare de ser tão teimo... – os dois ainda estavam discutindo, e isso já há alguns minutos. Mas o ambiente não ficava pesado de jeito nenhum. Não comparado  á minha casa.

- Ah... Nakamura-san... – chamei, continuando a fingir. Os dois se calaram e voltaram-se a mim. Kyoko de cara fechada, se irritando com minha presença, seu irmão se mostrando atencioso. – Sinto muito, mas já está tarde e preciso voltar para casa.

- Ora, não é tão tarde assim, fique...

- Sinto muito, Nakamura-san. Mas eu já abusei demais da hospitalidade de vocês. – falei, me levantado e me dirigindo a porta, com Akira me acompanhando. Por alguma razão, sentia que precisava sair dali, mesmo não querendo.

- Se insiste tanto, Kaoru-kun. – desistiu, abrindo a porta para mim. – Obrigado por cuidar da Kyoko na escola, e perdoe qualquer idiotice que ela tenha feito hoje.

- Não, não tem problema, Nakamura-san, imagine. Eu é que peço desculpas por aparecer assim, tão de repente. Até outro dia Nakamura-san, Kyoko-san.

Era inacreditável que algo assim existisse. Akira ainda me observava até que eu virasse a esquina, sorrindo. Hee, quem diria. Kyoko é órfã! As aparências enganam... Talvez Kyoko seja o cordeiro em pele de lobo. Bagunço meu cabelo e me jogo no banco do carro. Bem, é provável que a partir de agora eu tenha mais respeito sobre ela...  talvez não devesse espalhar sobre seus pais, já que corro o risco de morrer nas mãos de Kyoko e de cara perder a confiança de Akira, que me pareceu apenas um bom e preocupado irmão.

Eu devo confessar... sair daquela casa foi difícil. A sensação que a minúscula casa dos Nakamura passa é inacreditavelmente acolhedora. Sensação que só sinto quando Momiji me abraça, mas que é algo que graças ás outras empregadas fofoqueiras, não acontece muito, já que minha mãe odeia Momiji, acha que é uma golpista ou sequestradora sem coração. Olha só quem fala! Será que a possibilidade de eu me mudar pra lá existe? Pare de sonhar, Kaoru.

Agora, bem em frente á minha casa, eu não sinto a mínima vontade de entrar. A mansão era bonita, bem tratada... mas se comparada a casa da Kyoko, é uma mansão feia. Certo, pare de sentir inveja, Kaoru. Apenas entre em casa.

- Kaoru-sama! Okaerinasai! – comprimentou Momiji, sorrindo como sempre. – E então, como foi a “salvação do seu orgulho”?

- Não sei se tive sucesso, Momiji. – respondi com um meio sorriso, parando por um momento e a olhando. Fui ao seu encontro e lhe puxei pela mão. – Momiji, vem comigo.

- Kaoru-sama?

- Apenas venha, Momiji. – falei, sem mais rodeios. Fomos para meu quarto, e assim que entramos, tranquei a porta e a abracei. Me ajoelhei e abracei sua cintura, para sentir como um filho abraça a mãe, já que os filhos nunca alcançam os ombros da mãe. Estava aconchegante. – Só me deixe ficar assim.

- Kaoru-sama. – não sei que cara ela fez, se ela sorriu ou ficou confusa, mas ela retribuiu o abraço. Abraçou com uma das mãos minhas costas e a outra minha cabeça. – Kaoru-sama, aconteceu alguma coisa, certo? – não respondi, apenas mexi um pouco minha cabeça.

“Sabe, a última vez que você me abraçou assim foi depois de perder um campeonato de videogame, há uns dois anos. – mexi minha cabeça e fiz um barulho qualquer de reprovação. Ela não precisava me lembrar disso. – Você sempre vem atrás de mim quando alguma coisa acontece e te deixa meio mexido. Claro, hoje não são todas às vezes como você fazia quando era menor, mas é sempre que se sente triste, que tem algo faltando, que você vem até mim, certo? Ou vem até mim, ou vai atrás do Mori-san, mesmo que eu sinta que ultimamente, você não tem me contado tudo.

“Naquele dia, você estava super confiante que venceria. Muita gente estava apostando em você, mas acabou ficando em segundo. Bem... aquele dia meu avental ficou um pouco molhado, e não foi de louça lavada.” – ela começou a acariciar meu cabelo, o bagunçando um pouco mais. – Kaoru-sama, você sabe que não tenho filhos, e que não posso tê-los, apesar de querer muito. Tanto que quando sua mãe engravidou, talvez eu tenha ficado tão feliz quanto ela mesma. Quando você nasceu, foi como se recebesse um presente de Deus.

“Acompanhei seus primeiros passos, ouvi suas primeiras palavras, conheço cada cicatriz que tem em seu corpo e em seu coração. Você é como um filho pra mim, e nesses poucos momentos em que me permite agir como uma mãe de verdade, você me deixa muito feliz. Kaoru-sama, eu vou estar sempre aqui ao seu lado, para te ouvir e te mimar, então não hesite quando precisar desabafar, certo?”

Não consegui me mexer, não queria me mexer. Aquilo era uma mãe, não era? Era isso que uma mãe fazia quando um filho precisava de ajuda, certo? Eu sabia que Momiji não cuidava de mim só por ser minha babá, mas também não pensei que eu era tão importante assim. Apertei o abraço, e continuamos assim por mais alguns minutos, apenas sentindo o delicioso sentimento chamado afeto. Não sei quando, e nem reparei quando aconteceu, mas quando dei por mim estava em minha cama, com Momiji me cobrindo, acariciando meu rosto e afagando meu cabelo, me desejando boa noite.

Não queria dormir. Se eu dormisse, demoraria até que pudesse voltar a me sentir assim. Se dormisse, talvez descobrisse que as palavras de Momiji não passaram de um sonho. Queria ficar acordado e sempre assim, abraçado em Momiji, com ela afagando meu cabelo, me dando conselhos. Queria sempre estar assim, como uma mãe cuida de um filho.

Mas eu não resisti e acabei dormindo, e fui acordado da pior maneira possível. Meu celular vibrava no meu bolso, já que não havia trocado de roupa quando cheguei em casa, e demorei um pouco para atendê-lo.

- Que é? – atendi mal humorado.

- Te acordei, Kaoru? Não imaginei que estaria dormindo tão cedo.

- Cedo? Já é meia noite!

- Bem... eu acho que te entendo, já que estava na casa da Kyoko-chan. E então, como foi lá? Conseguiu convencê-la?

- Não... não consegui.

- O que? Por quê? Não achei que meu plano fosse falhar!

- Não foi seu plano que falhou, Arata. – expliquei – Fui eu. – fiquei em silêncio por alguns segundos – Você sabia que... A Kyoko é órfã?

- Como? Orfã? Wow... bem, ela não me fala muito sobre a vida dela. – é, pelo jeito ela não contou pra ninguém.

- Sim, o irmão dela me contou. Os pais dela morreram em um acidente quando ela era pequena, mas ela não lembra de nada. E bem... eu não consegui! Simplesmente não consegui! Akira conversou comigo, e ele está sempre preocupado com a Kyoko, se ela vai bem na escola, se alimenta direito, se tem amigos, se está feliz, sabe? E ele ainda trabalha e faz faculdade. E a Kyoko se esforça tanto pra recompensar os sacrifícios do irmão, então eu simplesmente não consegui obrigá-la a entrar nessa historia.

- Acho que te entendo.

- Mas não me arrependi de ir até lá. – comecei, me sentando na cama, acordando – Com certeza não. Sabe, a casa dela é minúscula. E tudo lá dentro é pequeno e obviamente velho. A televisão deles fica em cima de uma cadeira! Uma cadeira! E a casa é no estilo Japonês. Meu quarto é maior que a casa inteira deles. Aquele lugar é minúsculo para uma casa, mas... mas é aconchegante. Sabe... sabe aquele sentimento de bem estar, aquele sentimento que não te faz querer sair dali nunca? Era... confortável. Mas confortável de uma maneira que eu não estou acostumado a sentir.

- Hee... isso te animou, certo? – ele perguntou, após alguns segundos – Isso te fez correr até a Momiji, né? Igual ao campeonato de...

- De videogame. Sim, sim, ela também falou disso. – o cortei, mal humorado por me lembrar daquilo novamente – Arata.

- Sim?

- O que é isso? Isso entre a Kyoko e o Akira? – ele suspirou, como se respondesse uma pergunta boba de uma criança inocente.

- Isso se chama família, Kaoru. Uma coisa que nós dois, infelizmente, não conhecemos muito bem. E junto da “família”, também se costuma encontrar a “felicidade”, são amigas meio próximas, entende? Casas que tem isso dificilmente ficam desconfortáveis. – eu continuei calado, e ele também.

- Ela me abraçou, a Momiji. E disse que me ama como um filho. – murmurei, mais para mim que para o próprio Arata, como se ainda não acreditasse. – Ficou afagando minha cabeça, fazendo carinho. E ficou do meu lado até que eu dormisse. Ela disse que sou como um filho pra ela.

- E você a ama como uma mãe. – ele falou, também baixinho. – Ok! Chega de reflexão! Kaoru, você descobriu um novo sentimento, e como isso não acontece sempre, requer uma comemoração!

- O que?

- Vamos sair amanhã! E você escolhe o lugar.

- C-como?

- Humm... que tal agente sair de noite? Ouvi dizer que é bem divertido, mas como eu não tenho esse costume...

- C-certo... eu posso chamar uns amigos? – perguntei. Só nos dois seria chato. – Os que foram com agente no PaintBall, Jiro, Haruo e Kennichi.

- A-ah... esses três... C-claro, por que não?! Então... ah... amanhã me manda um sms, pra me avisar o lugar e hora pra gente se encontrar. Até.

- Até... – ele desligou antes que eu pudesse responder, o que era estranho, mas deixa pra lá. No momento, dormir é o mais importante, já que o lençol ainda está quente.

 

---//---//---

- Anh... Haruo, eu realmente tenho medo de perguntar, mas... que lugar é esse? – estávamos bem na frente de um tipo de restaurante, o que seria normal, se não fosse pelas adoráveis garçonetes vestidas de empregadas. Se é que esse seja o nome.

- Até parece que não sabe, Kennichi. As Maids não te dão uma dica?

- Maids?

- Maids, Arata. Garotas extremamente bonitas e fofas vestindo uniforme de empregadas, nos chamando de “Goshuujin-sama” e fazendo coisas extremamente fofas. Normalmente as pessoas vêm aqui pra jogar conversa fora...

- Ou para cumprir seus fetiches pervertidos olhando para elas, certo, Haruo?

- Não, não está certo, Jiro. É isso que você acham de mim? Muito bom saber!

- Okaerinasai, Goshuujin-sama! – cumprimentou uma das Maids, se curvando para nós. – Tem uma mesa para vocês logo ali. Me acompanhem, por favor.

- Hai, hai, Mari-chan. Você está linda como sempre! – o lugar era realmente confortável. As mesas eram redondas, as cadeiras almofadadas, e tocava uma musica agradável.

- Parece que você já é de casa, Haruo. – comentei, ao ver várias das Maids o cumprimentando, e ele mandando beijinhos.

- Isso é por que ele faz parte do grupo de pervertidos que só vem aqui para saciar seus fetiches, já que as Maids estão no top Moe do Japão.

- E você tá me parecendo muito informado, Jiro! Devíamos ter mandado você trazer sua namorada pra cá!

- N-nem a pau, Haruo! Não a contaminaria com esse lugar tão... tão...

- Mágico! Essa é a palavra! – intervi – Por mais que eu tenha meus princípios quanto ao sexo feminino, por mais eu respeite as mulheres... não imaginei que existisse um paraíso como esse  na Terra! Por isso as namoradas estão temporariamente banidas deste pequeno grupo!

- Esse é o espírito, Kaoru! – começou Haruo, se sentando na cadeira, animado – Veja bem... várias garotas fofas,  delicadas e lindas te chamando de “Goshuujin-sama” e te trazendo todos os pedidos que você quiser, caso tenha no cardápio. E se você acumular pontos, pode tirar uma fotos com elas! Vai mesmo querer trazer a dona pra um lugar desses? Para esse paraíso masculino?!

- Pouco me importa! Kazumi-chan não pode ficar mais linda do que já é, e ela é de longe mais bonita que as garotas daqui.

- Kennichi, caro colega acorrentado. – começou Haruo, pulando nas costas de Kennichi. – Tente, por um momento, imaginar a Kazumi-chan vestida de Maid. – os dois fizeram silêncio por um momento. – Tente imaginá-la te chamando de “Kennichi-sama”, te trazendo seu prato preferido, colocando-o delicadamente em sua boca com uma pequena colher de sobremesa – os olhos de Kennichi ficaram desfocados e ele abriu a boca como se fosse falar algo, provavelmente imaginando a cena. – Tente convencê-la, colega.

- Já escolheram seus pedidos, Goshuujin-samas? – era uma Maid, pequena, com o cabelo curto e castanho, com algumas presilhas prendendo a franja longa.

- Humm... qual é o prato do dia, Asuka-chan?

- Estamos trabalhando com pratos para o verão. O prato do dia é Sundae de 5 sabores com calda á sua escolha, Goshuujin-sama. – talvez eu devesse pedir para que ela repetisse esse Goshuujin-sama... é extremamente fofo!

- Entrão traga 5 pratos do dia, Asuka-chan!

- Ahn... não sei se vou querer o Sundae... como é essa “Delicia Refrescante”? – Arata e suas frescuras culinárias.

- Um refresco com sabor a sua escolha, uma rodela de limão e uma folha de hortelã. Ele te passa uma incrível sensação refrescante para um dia quente de verão, Goshuujin-sama. – respondeu ela, sorrindo.

- Bem... então eu vou querer um desses.

- Hai, hai, Goshuujin-samas. Trarei seus pedidos em breve. – ela se virou e foi para onde suspeito ser a cozinha.

- Arata... você é demais. – Haruo falou – Por favor, me ensine sua técnica!

- T-técnica? Como assim?

- Arata... aquela é a Asuka-chan, a Maid mais durona daqui, e ela não costuma dar informações muito corretas ou sorrir de forma doce. Normalmente o sorriso é claramente forçado. O tipo moe dela é Tsudere – esclareceu, com certa admiração – E por isso não costuma ser muito gentil com os clientes, apenas com os que ela se interessa.

- Tá dizendo que...

- Sim, Kaoru. O jeito feminino e fofo do Arata foi selecionado pela Asuka-chan. Sinto muito Jiro, até você com seu corpo extremamente magrinho perdeu pro Arata.

- Mas...

- Goshuujin-samas, aqui está! Quatro especiais do dia... – anunciou Asuka-chan, colocando na frente de cada um, um Sundae, depois se virando para o Arata. Será mesmo que ela tá afim dele? Comigo aqui? - ... E uma Delícia Refrescante para você Goshuujin-sa... Kyaah! – a tal Delícia Refrescante caiu direto no peito do Arata, e não me pareceu muito um acidente. – Go-gomenasai, Goshuujin-sama. Vou pegar um pano para limpá-lo!

- N-não, não precisa. Está tudo bem. – tentou, em vão, vendo Asuka-chan correr de volta pra cozinha. As outras Maids olharam e deram uma leve risadinha.

- Arata... – disse, ainda sem acreditar – Você é demais.

- Eu não disse!? Ela até derrubou o pedido em você! Provavelmente para te convencer a deixá-la recompensá-lo pelo acidente, que não foi bem um acidente.

- É como dizem. – começou Kennichi – Pessoas fofas atraem pessoas fofas!

- N-não acho! – falou Jiro, parecendo nervoso. – Uma garota fofa de verdade não faria isso! Sabe... se jogar em cima do cara...

- Mas essa é a parte legal!

- Goshuujin-sama. Sinto muito, sinto muito mesmo! – chegou ela, com um paninho úmido na mão, e começou a limpar a camisa do Arata.

- N-não, tudo bem. E-eu posso me limpar sozinho. – tentava, em vão, segurar as mãos dela. Eu ria, Haruo observava atentamente, tentando talvez entender a tal “técnica”, Jiro estava estranhamente incomodado, e Kennichi trocava e-mails, e pela cara dele, com Kazumi-chan.

- Eu insisto, Goshuujin-sama. Por favor, eu cometi um erro e quero repará-lo. – Arata estava totalmente vermelho, e olhava para nós atrás de socorro. Eu fingia não ver, Haruo ignorava o pedido de ajuda, Jiro virou a cara, nervoso, e Kennichi ainda estava no celular, mas dava breves olhadas para a cena.

- E-espere, Asuka-san... por favor... p-pare... Asuka-san! – ela parou, e parou porque Arata havia conseguido segurar as mãos dela. Todo mundo pensou que já estava tudo acabado, até Haruo já havia dado um suspiro de reprovação, mas não. Pelo que parece, Asuka-chan estava mesmo interessada no Arata, tanto que assim que ele segurara suas mãos, ela reagira e o beijara.

Foi um beijo rápido, um selinho, mas que foi seguido de um sorriso marotamente travesso da Maid, que voltou a limpar a blusa de Arata, que agora estava imóvel e ainda mais vermelho. Eu apenas ri mais da cara do Arata, Haruo comemorava em silêncio, talvez achando que entendeu a “técnica” do Arata, Jiro mexia impaciente no Sundae e Kennichi tirava uma foto da cara do Arata, que ainda estava imóvel.

- Prontinho, Goshuujin-sama. Eu volto a me desculpar pelo inconveniente.

- Tu-tudo bem, Asuka-san...

- Por favor, me chame de “Asuka-chan”, Goshuujin-sama! – ela sorria de um jeito inocente de menina travessa.

- Ha-hai, Asuka... chan.

- Então, acho que já podemos ir, certo? – falou Jiro. – O Arata precisa trocar de blusa, ou vai pegar um resfriado, e além disso eu tenho um lugar pra levar vocês.

- Mas já, Goshuujin-sama? Por favor, fique mais um pouco, eu insisto. – carinha de pena... Ouch, isso é um golpe sujo!

- É Jiro, vamos ficar. Ainda é cedo e amanha é sábado.

- Sim, qual o problema?

- Kaoru, Haruo... se você acharam esse lugar interessante, espere só o lugar que eu conheço!

- Que tipo de lugar, Jiro?

- Esse tipo de lugar, Haruo. – Jiro se aproximou da orelha de Haruo e lhe disse algo, que fez com que o rosto dele se iluminasse.

- Ok! Vamos nessa! Asuka-chan, sinto muito, mas precisamos ir. É um caso de vida ou morte.

- Hum... tudo bem então, Goshuujin-sama. – aceitou ela, com olhar tristonho. – Mas... Goshuujin-sama. – ela foi até Arata e se pendurou no braço dele, lhe passando discretamente um bilhete. – Por favor, volte a nos visitar, certo?

- H-hai... Até... até outro dia, Asuka-chan.

Saímos do Maid Café, com um Arata totalmente sem jeito, um Kennichi rindo comigo da cara do Arata, um Haruo sorridente e um Jiro estressado. Estávamos bem, e eu também estava animado, afinal, meu melhor amigo, que nunca foi muito popular com as garotas, foi paquerado indiscretamente por uma Maid extremamente fofa!

- Então... Arata... Tá arrasando corações! – brinquei, dando um murro fraco no ombro dele.

- N-não diga isso, Kaoru, não é verdade.

- Como não? Como não? Arata! – falou Haruo, o segurando pelos ombros. – Asuka-chan é a garota mais fofa e difícil daquele Café! Vários caras têm os corações e as ilusões destruídas diariamente quando são rejeitados por ela. E aí ela se joga em você! Como não é verdade? Arata, me ensine sua técnica!

- E-eu não tenho técnica, Haruo-kun. Foi só... só coincidência.

- Mas até eu admito, isso foi muita sorte, Arata. Você parece um cara muito tímido quanto às garotas.

- Bem, Kennichi-kun...

- Eu não achei legal. – interviu Jiro – Uma garota fofa que se preze não ataca assim. Dá meras indiretas, mas não se joga.

- Humm... Jiro-kun, você está com ciúmes, é? – brincou Haruo.

- N-não, é que... A Asuka-chan... – ele começou a ficar vermelho. Aí tem coisa!

- O que tem a Asuka-chan, Jiro?

- É que a Asuka-chan... ela... Ela se parece com a minha namorada. – silêncio por um momento. Então, a namorada do Jiro é fofa como a Asuka-chan? Meu Deus, estou rodeado de sortudos! – E... não gostei de ver alguém parecida com ela fazendo essas coisas. Minha namorada é tímida e tenho certeza que não teria coragem de fazer o que a Asuka-chan fez.

- AEEEEE! E viva o Jiro! Arrasando corações!

- Quem diria que o bobão do Jiro conseguiria uma namorada fofa como a Asuka-chan! Vamos querer conhecê-la, hein!

- Haha, se conhecerem ela, não vão acreditar que realmente é ela, o que não é bom.

- Ela não é perfeita como a Kazumi-chan, então eu posso conhecê-la.

- Aí é que se engana, Kennichi, pode ter certeza. Bem... chegamos.

Estávamos em uma praça até que bem cheia, cheia de garotas em grupinhos e alguns casais namorando. Haruo sorria como se estivesse no paraíso, e eu estava sem entender nada.

- Tá... que lugar é esse?

- O pessoal costuma chamá-la de “Praça dos Encontros”, porque é aqui que normalmente os casais vêm pra namorar ou os solteiros vêm para encontrar alguém. Mas meu objetivo aqui é outro, não garotas. – explicou Jiro. – Aqui é o único lugar da cidade em que conseguimos cerveja sem precisar mostrar a identidade.

- Sério? Sério mesmo? – perguntei. Eu não bebo há algum tempo, e relembrar velhos tempos vai ser interessante.

- No Maid Café não se vende bebidas alcoólicas, para proteger as Maids dos loucos bêbados e pervertidos, por isso quando o Jiro disse que queria nos levar aqui, foi impossível recusar. E eu, como líder desse grupo...

- Desde quando?

-... Proponho, ou melhor, ordeno um desafio para vocês. – nos sentamos em uma mesa, Jiro fez um sinal e logo uma garrafa de cerveja esta posta em cima da mesa. – Vamos ver quem consegue fazer a melhor cantada.

- O que? Tá louco? – um campeonato de cantadas, é suicídio. – Haruo, as mulheres são monstros. Quando uma delas se ofende e grita isso tudo alto, as outras, conhecidas ou não, vão ajudá-la! Eu prezo pela minha vida, sabia?

- Eu tenho a Kazumi-chan, não preciso conquistar outras garotas.

- Tô namorando uma garota fofa, e se ela fica sabendo disso, me mata. Passo.

- Não sou bom com essas coisas. Boa sorte.

- Qual é, pessoal? Vão fraquejar tão facilmente? Nem parecem homens... um bando de covardes! Não conseguem nem fazer uma cantada sem compromisso... cachorrinhos acoleirados. Por que não mostram como conquistaram, suas namoradas?

- Mas eu tô solteiro... pelo menos por enquanto...

- E como pretende arrumar outra namorada? Dizendo seu nome completo?

- Eu vou te mostrar, aí você cala a boca, ok? – falei, me levantando, já um pouco nervoso. Ele riu e afirmou com a cabeça. Olhei em volta, atrás de uma boa vitima. Virei o copo de cerveja e fui na direção de uma garota de cabelos negros, no meio das costas. – Com licença, mas pode me dizer onde é a saída?

- Saída?

- Sim, por que se não sair logo daqui vou ficar louco por você! – sorri. Dei aquele sorriso irresistível que nenhuma garota resiste. Ela sorriu antes de me responder.

- Então fique louco sozinho! – e virou as costas. Mas o que tá acontecendo comigo? Como assim eu levei um fora? Eu não levo fora há anos!... tá, desde ontem a noite... mas aquilo não foi bem um fora! Eu nem fiz o pedido!

- Puft... Hahahah! Grande demonstração, Ka-chan. – riu Kennichi, se levantando. – Agora prestem atenção que eu vou mostrar com se canta uma garota! Mas só dessa vez, e não contem para Kazumi-chan!

- Ok, vai lá, garotão!

- Boa noite... – ele comprimento, uma outra garota bonitinha, de cabelos curtos.

- Sim?

- Er... me perdoe se eu estiver sendo intrometido, mas você gosta dos W? Digo... é que vi o boton na sua bolsa, e não é uma banda muito conhecida, então...

- Ah, sim, eu gosto. É uma pena que não sejam conhecidos, por que eles são muito bons.

- Sim. Eu ouvi o último single deles, e ficou muito bom. – como? Como? Por que o Kennichi que tá namorando conseguiu pegar uma menina tão linda, e o principal, com um papinho desses?

- Hee... até agora o Kennichi tá ganhando. A garota é bonitinha, mas eu vou mostrar pra vocês como se conquista uma garota. Ele foi na direção de uma garota loira e alta, tinha cara de modelo. Com estava mais distante, não deu pra ouvir a conversa, e sim o sonoro tapa que ele levou na cara, antes de voltar com a mão no rosto para nossa mesa.

- Nossa, parabéns, Haruo-sama, o grande Deus dos foras. Conseguiu mais um.

- Vocês são loucos. Vou pegar mais uma cerveja, já volto.

- Ok! Jiro, sua vez! – falei, já que ele até agora não havia feito nada, só olhava o Arata ir buscar mais cerveja.

- Dispenso, obrigado.

- Ah, qual é Jiro? Ta com medo da sua namorada fofa? Ela nem sabe que você tá aqui.

- Na verdade... de uma maneira indireta, ela sabe.

- Como assim? Ela colocou um rastreador em você, por acaso?

- Não, mas... ela tem contatos. No mínimo 3 pessoas aqui, fora eu, a conhecem, e não seria legal se ela ficasse sabendo.

- Meu Deus... que namorada perigosa, tem certeza que...

- KYAAAH! Mas o que é isso? – era uma voz feminina que tinha gritado, e essa voz havia vindo de uma mesa com mulheres bastante bonitas e que com certeza eram tinham no mínimo 20 anos.

- Ah.. ah... D-desculpe, eu a-acabei tropeçando no meu cadarço. P-perdão, a-aqui, um guardanapo. – e claro, o Arata havia causado o pequeno desastre de derrubar além do próprio copo em cima de uma das mulheres, também derrubou os copos das 3 mulheres que estavam na mesa.

- Ora... Não tem problema. – disse a ruiva, trocando o olhar raivoso por um olhar de interesse. – Essas coisas acontecem. Mas por que você não me paga um drink pra recompensar? Para mim e minhas amigas? – ofereceu ela, já puxando uma cadeira para ele.

- M-mas... eu estou com uns amigos e...

- Ora, você não vai querer deixar nos três, pobres mulheres solteiras, sujas e desamparadas, vai querido? Aliás... qual seu nome?

- T-akada Arata – tarde demais, ele já havia se rendido.

- Kaoru... me passe o telefone do Arata, ele precisa me ensinar a técnica dele! Você entende... ela é multiuso, para todas as idades! Ele precisa me ensinar!

- De repente... estou me sentindo altamente inútil. – murmurei, observando ainda sem acreditar, Arata ser cantado por três mulheres de no mínimo 20 anos, e sem nem ao menos se esforçar para isso. Larguei o copo e peguei a garrafa, incrédulo.

 

---//---//---

 

Como assim minha cantada é ridícula? Esperem só, amanhã eu... eu vou mostrar o que é cantada de verdade... E por que tá tudo estranho? Girando... nossa, o chão tá redondo! E tinha esse poste aqui?

Aaah... que sono... Haha, o Arata é demais... por que ele conseguiu que 3 garotas ficassem paquerando ele derrubando cerveja em uma delas? Que inveja... Isso quer dizer que meu reinado está chegando ao fim? Quer dizer que depois de ser chutado por aquela maldita vadiazinha, eu perdi todo aquele charme? Aah... mas eu vou mostrar pra eles o que é cantada! Eles vão... eles vão ver... Vou voltar a reinar!

- Matsuda-kun?

Hã? Eu ouvi meu nome... naaah, é a bebida.

- Matsuda-kun?

Mas eu nem bebi muito! Foram o que... umas... nossa, minha mão esquerda tem 10... ou isso são 12 dedos... ou será que essa é a direita... ah, o que importa e que eu só bebi um pouco!

- Matsuda-kun!

- Quem? – me virei. Tinha mesmo alguém me chamando... e quem diria que era ela! – SENSEI! QUE BOM TE VER!

- Ma-Matsuda-kun, você está bem? – vou mostrar pra eles agora... eu ainda sou o Matsuda Kaoru dos boatos.

- Sensei, estou tão feliz em te ver! – me joguei nela a abraçando. Ela não vai resistir a mim dessa vez!

- M-Matsuda-kun, o que está fazendo?

- Senseeei... eu preciso que a senhora verifique uma coisa...

- Matsuda-kun... isso é cheiro de álcool? Você andou bebendo?

- Bebendo? Não, sensei! Assim eu... eu me ofendo! Olha sensei, olha aqui no me pescoço... tem uma marca aí, não tem?

- Matsu-Matsuda-kun, pare de tentar me cantar! Eu conheço esse tipo de cantada fajuta! – ela falou, em empurrando, eu caí sentado no chão. Droga... como assim ela resistiu? Eu ainda sou Matsuda Kaoru, o irresistível! E como assim “cantada fajuta”? Poxa, essas mulheres são muito estranhas! Se damos atenção, elas reclamam, se não damos atenção, elas reclamam.

- Bah... não importa. Já me acostumei a ser chutado. – falei, a soltando e voltando a andar. Até que, provavelmente por causa do empurrão de algum fantasma de uma pessoa que morreu nessa rua, eu caí no chão. – Droga... quem foi que me empurrou?

- Matsuda-kun, você não me parece bem. – concluiu, se aproximando e me levantando, colocando meu braço em cima de um de seus ombros.

- É claro que eu não estou bem, Sensei! Por que eu estaria bem?

- Matsuda-kun, fique calmo. Vou te levar pra casa, não é longe, você está bêbado e...

- EU NÃO ESTOU BÊBADO! Eu só tomei uns... 15 copos? Ou foram 20? Bah! O que importa é que eu não estou bêbado!

- Matsuda-kun, você só tem 16 anos, não pode beber tanto! TÁXI!

- E o que tem de importante? Meus pais estão do outro lado do mundo “a negócios”, minha namorada virou ex por que ela me traiu com um vagabundinho qualquer, e pra completar minha última salvação da vergonha se recusa a me ajudar! Ninguém vai se importar se eu beber ou não!

- Matsuda-kun... não é assim. Tenho certeza que alguém se preocupa com você. Aqui, entre... Cuidado com a cabeça.

- Não fale do que não sabe, Sensei. – me joguei no banco de trás do Táxi, e a Sensei se sentou ao me lado.

- Matsuda-kun, com certeza você tem um melhor amigo que se preocupasse com você e não gostaria de te ver nesse estado! Vá para esse endereço, por favor.

- Meu melhor amigo estava bebendo comigo, Sensei... Nee, Sensei, estou com sono... – hehe... colo de mulher é sempre bom para dormir, com certeza ela não recusaria, como não recusou.

- Matsuda-kun, não durma... Matsuda-kun...

- Otoo-san não ouve o que eu digo, Okaa-san é uma idiota que não se importa com o próprio filho, e com certeza continuaria a sorrir mesmo se eu estivesse morrendo, os únicos amigos com quem eu posso contar moram do outro lado do país, meu melhor amigo não conta a verdade por ter saído de casa... eu com certeza sou muito chato.

- N-não é verdade, Matsuda-kun... Talvez você precise ver o lado deles também. Talvez seu amigo não queira te preocupar, e seus pais não saibam como lidar com você.

- Humm...

- Venha, Matsuda-kun, chegamos. – poxa... o que ela sabia? Ela não conhece eles, nem me conhece... e desde quando a porta da minha casa é redonda? Não era quadrada? Okaa-chan reformou hoje?

- Arigatou, Yamada-san. Prometo que não ira se repetir. Arigatou.

- Não tem problema, Momiji-san. Isso é normal na idade dele. Boa noite.

- Boa noite, e muito obrigada novamente.

- Tchaaaau, Senseeei! – oh... ela foi embora. Droga... não consegui nada hoje!

- Matsuda Kaoru-sama, o que significa isto?

- Isso o quê?

- Kaoru-sama, você está bêbado! Como pode explicar isso?

- Aaaah, Okaa-chan... eu só sai com uns amigos...

- Kaoru-sama, sua mãe não está aqui...

- Como não, Okaa-chan? Você está me carregando pro quarto, não tá? É você que sempre cuida de mim, né? Então, você e a Okaa-chan, e a Okaa-chan está aqui.

- Kaoru-sama...

- Okaa-chaan, estou com sono... quero dormir!

- Hai, hai, Kaoru-sama... só depois de tomar um bom banho, você está fedendo!

- NÃÃO! Okaa-chan, não quero tomar banho! Okaa-chan, a água ta friiiaaaaaa!

 

---//---//---

 

Droga... por que a Momiji tinha que me deixar de castigo? Eu só bebi um pouquinho sexta passada, e cheguei em casa bem, mesmo não me lembrando de como. E ela ainda me acordou aos berros... tirou meu videogame e até o celular! E o pior foi que não pude revidar, já que ela estava fazendo uma cara realmente assustadora.

- Ohayou, Kaoru-sama! – um grupinho de garotas me cumprimentou, entre risinhos. Devia ser o fan-club. Eu tenho fans aqui, então por que não consigo nada lá fora?

- Ohayou, Kaa-chan! – era outra garota... acho que do grupinho rival ao meu fan-club. Por que a rivalidade? No final, todas me amam!

Estávamos na melhor hora do dia: o Almoço. O que quer dizer que podíamos relaxar o quanto quiséssemos. Olhei no refeitório, atrás de algum vestígio dos inúteis que chamo de amigos, já que os 3 saíram correndo para comprar o lanche.

Não estavam na fila, por que já não tinha mais nada pra comprar lá. E como eles conversam com todo mundo, podiam estar em qualquer lugar. Também não estavam na famosa “Janela Mestre”, onde normalmente as garotas ficavam para admirar os integrantes dos clubes de esporte, que almoçavam lá em baixo revezando socos, chutes, e uma mordida no almoço, e como sei que o Haruo quer distância dos clubes de esportes, eles com certeza não estão lá.

Também não estavam no “Canto Norte”, onde normalmente os mais populares ficavam tirando sarro uns dos outros. Muito menos no “Canto Sul”, lar dos “delinquentes”, que verdade só gostam de bagunçar um pouco. Nada deles no “Canto Oeste”, dos Nerds e CDFs, ou no “Canto Leste”, moradia dos solteirões.

Também não iam estar no pátio, já que só os casais ficavam lá, os únicos que tem namoradas são o Kennichi e o Jiro, só que nenhuma das duas estuda aqui. O telhado estava sendo rigorosamente vigiado, eu já havia conferido, então os babacas só podiam ter voltado pra sala.

- Nee... Nakamura-san...

- Sim? – oh... é a Kyoko! É verdade, não falei com ela ainda... ela tem me evitado. E com razão, suponho.

- É... é verdade que você Matsuda-san estão saindo? – era uma menina pequena, provavelmente do primeiro ano, que perguntava isso pra ela. Responda, Kyoko, responda!

- Sim. – ela respondeu, dando um leve sorriso. Como assim? Ela havia aceitado meu pedido sem me falar? Ela me evitou a manhã inteira por que não sabia como me falar que tinha aceitado o pedido? Será que... será que...

- Jura? – ela perguntou, com um misto de animação e decepção.

- Não. – quê? Eu me animei tanto pra nada? E a resposta tinha que vir acompanhada com essa voz fria e repleta de desprezo? Não é possível... ela só deve ter me odiado mais depois daquele dia...

 

---//---//---

 

Eu realmente queria que alguém me respondesse como fui parar aqui. Eu queria saber por que raios eu estou em um dos restaurantes mais respeitados da cidade com o babaca do meu pai na minha frente, esperando a bendita garçonete chegar.

- E então, como está na escola?

- Tá tudo legal. – respondi, sem a mínima vontade.

- E o resto? Seu dia-a-dia e tudo mais?

- Estava tudo ótimo até agora... – até você me ligar ordenando que eu viesse me encontrar com você.

- Kaoru, eu queria conversar com você sobre um assunto importante.

- Pode falar.

- Soube que terminou com a Hana. – ah... ótimo! Quando eu já estava quase esquecendo essa pequena maldita, ele vai e joga tudo em cima de mim outra vez! Valeu, pai, você é demais! – Quero saber por quê.

- Porque eu quis, pai. Simplesmente não tava mais dando certo, e como ela já estava gostando de um outro cara, e eu de uma outra garota, terminamos.

- Pois então volte com ela. Tem noção do quanto isso abalou minha amizade com o Ichikawa?

- Pai, tanto eu quanto ela concordamos com isso. Não tem mais volta!

- Não interessa! Ichikawa já conversou com Hana, e pediu para que eu conversasse com você também.

- Pai, será que dá pra me escut-

- Não, não dá, Kaoru. Você já me tirou a paciência, e já tenho te ouvido há muito tempo! Escute aqui, você vai voltar com a Hana e estudará para suceder a empresa! E não tente argumentar, já está decidido.

- Aah! Por favor, me poupe! Acha o quê? Que o que você falou está falado? Ótimo, me obrigue a isso tudo e eu sumo no mundo, mas só depois de espalhar toda a sujeira que você joga pra debaixo do tapete! Já cansei de ser seu fantoche, pai, e muito menos vou te obedecer.

- Escute aqui, garoto, você me deve respeito!

- Me respeite também, quem sabe assim eu posso te respeitar?

- Olá, senhores. – ah, enfim a garçonete tinha chegado. Que bom, porque eu já estava a ponto de explodir aqui outra vez. – Meu nome é Nakamura Kyoko e os atenderei essa noite. – o quê? Olhei para a tal garçonete, que realmente era a Kyoko. Ótimo! A última vez que a vi, estava bancando o bom samaritano, e agora ela esta servindo o meu jantar com o carrasco do meu pai aqui. Ótimo! Mais um ponto pra você, Kaoru, isso mostra que o mundo está conspirando contra você!

Ela saiu após nos entregar o cardápio, agindo como se não me conhecesse, o que de certa forma é um alívio pra mim. Se meu pai descobrisse que minha colega de classe está trabalhando como garçonete, certamente ia ser mais merda pra encher o meu saco!

Depois que ela saiu, meu pai abriu o cardápio e não voltou a falar, mas estava obviamente nervoso, já que lançava olhares impacientes para mim, que fingia não ver e escolhia alguma coisa no cardápio.

- Já escolheram? – perguntou Kyoko, de forma cordial e com um sorriso que eu nunca imaginei ver em seu rosto. Tanto, que chegava a ser assustador vê-la sorrindo daquele jeito, era um sorriso gentil.

- Sim, sim. Quero um Blanquette de veau*. E você Kaoru?

- Um Boeuf bourguignon**.

- Certo. Desejam mais alguma coisa?

- Ah, sim, querida. Apenas mais uma coisa. Olhe para esse garoto. – ótimo, ele vai começar a falar, e tenho certeza que mais tarde a Kyoko vai se vingar por isso. – É um belo rapaz, não?

- Ah... sim. Um belo rapaz. – ela me olhou rápido, mas deu pra sentir o ódio naquele milésimo de segundo.

- Não lhe parece um perfeito empresário?

- Creio que sim, senhor.

- Me diga, senhorita. Você é bonita e parece ser inteligente. – inteligente tudo bem, mas bonita... talvez um pouquinho. – Você não preferia casar com um empresário do que com um designer de jogos? – ótimo! Agora ele tá apelando! Ela nem ao menos aceitou namorar comigo, e ele tá falando em casamento! Fala sério... – Um empresário seria muito bem sucedido. Ao contrário de um trabalho tão inútil como fazer jogos, não?

- Muito obrigado pelos elogios, senhor. Mas em minha opinião os dois trabalhos possuem seus prós e contras. E sobre ser ou não sucedido, acredito que em qualquer emprego há a chance de não conseguirmos o sucesso. – ela é certamente assustadora. Além de estar encarando meu pai, ela está sorrindo como se estivesse falando com um amigo intimo, e como se fosse normal pra ela. – Porém não acho que o casamento deve ser resolvido pelo emprego dos envolvidos, se um ganha pouco, se outro ganha muito, isso não tem muita importância em um relacionamento, não? O importante não é o dinheiro, é a própria pessoa.

- Bom, acho que a opinião de alguém que não sabe o que é ter dinheiro não vale, não? – certo, sabia que meu pai era arrogante, mas não a esse ponto!

- Claro que não, senhor.

- Pai, pare de atormentar a coitada. – achei melhor dar um fim naquela conversa antes, porque já era obvio que eu sofreria as consequencias mais tarde, tanto do meu pai quanto da Kyoko.

- Tem razão, filho. Não devo culpar míseras garçonetes por suas escolhas estúpidas, não? Até por que uma garçonete nunca poderia casar com você, se bem que você terminou com a Hana, não? Talvez essa daí seja a sua única oportunidade de se casar.

- Não são escolhas estúpidas, pai! E a minha situação com a Hana não é do seu interesse.

- Ah, me desculpe. Querer ser designer de jogos não é uma escolha estúpida? Ganhar a vida fazendo jogos idiotas que só servem para fazem a mente de adolescentes influenciáveis e estúpidos como você. Uma grande profissão, filho!  E a Hana é sim do meu interesse, você está prejudicando a empresa, seu grande idiota!

Quando ele ficava nervoso, também ficava absolutamente insuportável, e só tendia a ser mais controlador, e como minha paciência já estava no limite... Não pensei duas vezes... afinal, além de me humilhar em publico, o desgraçado ainda quer controlar com quem eu namoro ou não! Me levantei, peguei meu casaco e virei as costas. Dane-se ele, já me cansei disso tudo.

Fora do restaurante, de terno e gravata, ok, sem a gravata, mas eu estava ajeitado. A rua, só pra variar, estava escura, pessoas passavam por mim como se eu não existisse, e agora também estava nervoso. Já passava da meia-noite, já que aquele era o único horário que meu pai tinha disponível.

Pai... por que será que ainda o chamo assim? O cara nunca, em momento nenhum, agiu como um pai de verdade, e parece ter mais afinidade com os filhos dos outros donos de empresas que com  próprio. Isso me enchia... Oh, sou Matsuda Kaoru, filho do dono das empresas Matsuda, o cara que tem conexão com todos os lugares do mundo, o cara mais sortudo do mundo... e estou sentado em uma rua escura, atrás de um dos melhores restaurantes da cidade, sem dinheiro, com fome, e extremamente deprimido.

Eu realmente odeio a droga de vida que eu tenho, e agora além de estar com fome, também estou chorando. Ele nunca me disse que “homens não devem chorar”, afinal.

- A vida é uma merda, não? – alguém falou, se aproximando de  mim. Era Kyoko.

 

---//---//---

 

Foi uma boa conversa, devo confessar, já que as pessoas não costumam ser muito sinceras comigo, e sempre falam que está tudo bem. Afinal, quem ia querer arrumar encrenca com um Matsuda? Mas talvez ela esteja certa. Talvez eu devesse tentar outros meios e buscar a tal felicidade... ela deve existir.

- O que pensa que está fazendo aqui? – merda... era o Mori.

- Bem... eu não vim na última aula, então pensei em chegar um pouco mais cedo... – mantenha a calma... é só uma espada real encostada perigosamente no meu pescoço, e quem está segurando a tal espada é um louco professor de esgrima, que não tem a mínima dó dos seus alunos, e de um certo aluno em especial.

- Você está uma duas horas adiantado...

- Eu sei.

- Isso não é normal. – droga... ele tá rindo, ele tá rindo!

- É-é... eu sei...

- Já que você está no auge da sua determinação – começou ele, recolhendo a espada – E tem faltado muitas aulas ultimamente...

- Pe-peraí, Mori. Vamos...

-Vamos dar duro neste treino antes que os outros cheguem! Assim que se fala, garoto! Tome seu capacete, já está vestido e isso só agiliza as coisas.

- Mori, calma... – já era tarde. Agora ou me dirigia à morte ou à funerária. A “batalha” começava. Naturalmente, eu estava levando uma surra dele, mas já havia conseguido alguns pontos também, não era tão ruim.

- Kaoru... – nova rodada, só esperávamos o sinal para começar. Ninguém havia chegado ainda.

- Que é?

- Você acordou cedo, chegou cedo pra sua aula e reclamou pouco para começarmos a praticar. Já estamos praticando há uma hora e você nem ao menos fez menção de reclamar... Por acaso encontrou seu pai ontem?

Abaixei a espada. Eu era tão obvio assim? Era tão fácil perceber quando alguma coisa acontecia comigo? Sinal dado, voltamos a treinar.

- Por que... por que acha isso?

- Por que tá escrito na sua cara desde que você entrou aqui. – sim, eu era um livro aberto pro mundo. – Normalmente você só acorda depois das 3 no sábado, por isso praticamos de noite, mesmo que você esteja matriculado na turma de manhã.

- Momiji disse algo assim. – defesa, ataque, defesa, defesa, contra ataque, fim da partida. Era assim que ele fazia quando conversávamos enquanto praticamos, e ninguém sabe quem vai ganhar no final. – Bem... uma pessoa me disse que trabalhar ajuda a parar de pensar nas coisas, e como eu não sei o que é trabalhar, resolvi me distrair com algo que eu goste e que exija minha atenção.

- Sim, é uma boa idéia.

- Ela me disse isso depois de outro jantar desastroso com o meu pai, que agora tá ficando mais controlador que tudo. Só que eu não vou ceder dessa vez. – paro e respiro por um momento. Ele era rápido – Normalmente os filhos respeitam os pais por que os próprios os ensinaram isso. Mas ele não me ensinou a respeitá-lo, ele não agiu como um pai nesses últimos 16 anos, e por isso não merece ser chamado de tal ou receber respeito por isso também.

- Você provavelmente está certo... Só que você precisa de uma imagem de pai para se formar como homem.

- Neste momento, estou treinando esgrima com o cara que tem tanto a imagem como o meu respeito. E como esse cara, apesar de muito chato, é uma boa pessoa... – ele parou, e ficou me olhando por trás do capacete protetor – Não se preocupe, estou em boas mãos.

- Com certeza está. Esse cara é muito bonito e inteligente, não é?

- Prefiro não responder.

- Ótimo... o pessoal tá chegando, me ajuda a colocar mais pistas.

- Ok.

 

---//---//---

 

A Kyoko tinha razão. Trabalhar muda as pessoas, seja para o bem ou para o mal. E minha coluna mudou bastante porque decidi ajudar o Mori, e foi pra pior, por que tá latejando de dor. Aah, o que um suco gelado não faz para salvar vidas!

Mas ainda sim, trabalhar não parece ser tão chato. Mori parecia se divertir ensinando o pessoal a lutar esgrima, principalmente por que ele é mal, e sempre derruba os alunos. Talvez eu devesse frequentar mais o Clube de Esgrima.

Os pássaros estão cantando, eu estou todo suado, o Mori está rindo dos alunos e os alunos o estão amaldiçoando, o sol está raiando, e eu estou de bom humor. Não dá pra melhorar as coisas... ou dá! Quem eu vejo passando pela calçada do Clube e então se direcionando para a entrada do mesmo? Sim, Nakamura Kyoko.

Sorri triunfante. Eu venci. Ela certamente aceitou me ajudar, mesmo que provavelmente o Arata a tenha convencido. Não interessa! O que interessa é que Nakamura Kyoko está me olhando com raiva e vindo na minha direção para dizer que vai me ajudar! Tem que ser isso!

- Olá, Kyoko-chan! Parece que vai aceitar a namorar comigo agora, né? Se rendeu ao meu charme?

- Cuidado, Matsuda. Cuidado com o que fala. Nunca se sabe quando algo pode cair na sua cabeça...

- O quê? O que raios você está falando?

- Não importa. Eu estou aqui para te ajudar. Não me pergunte o porquê. Eu vou fingir ser sua namorada. Fingir, ouviu? – wow... eu... acertei?

- Ah! Obrigada, Kyoko-chan! – SIM! Eu acertei! Estou salvo!

- Parado! Não se mova. – ah... certamente não foi o meu charme que ganhou essa luta, ou ela teria deixando que eu a abraçasse. Eu realmente estou perdendo a manha – Eu tenho condições. E caso você não as respeite tudo está acabado. Se você fizer alguma coisa que eu não queira, caso desrespeite qualquer regra imposta, eu mesma vou até a casa do ser rosa e conto tudo para ela, entendeu? O quanto será que ela vai rir quando perceber que tudo é uma farsa?

- Certo. Quais são as condições? – não dá pra recusar nada a essa altura.

- Você não vai me chamar mais de Kyoko-chan.

- Mas...

- Cale a boca. Certo. Você não vai encostar em mim sem que eu dê permissão. Eu marcarei os encontros. E se eu quiser terminar com você, eu termino.

- Tudo bem, eu aceito tudo isso. Desde que você me ajude de verdade, por favor, não vá desistir na metade.

- Você realmente não me conhece, não? Eu não abandono as coisas pela metade, a não ser que tenha um bom motivo. Então, não me dê esse motivo e tudo vai ficar bem.

- Certo, então, namorada! – haha, eu realmente venci! Mesmo que ela ainda seja assustadora e tenha imposto as regras, quando deveria ser o contrário, eu ainda venci!  E sei exatamente onde vou apresentá-la como minha namorada – Bom, eu sei que segundo as condições você escolhe os encontros, mas eu tenho uma idéia para o nosso primeiro encontro.

- O quê?

- Não fique brava. Mas vai ter uma festa hoje à noite. Com todos os japoneses importantes. Uma vez por ano há uma festa assim, é como uma festa em que os mais novos são apresentados para as outras famílias. E que negócios são feitos. Quer ir?

- Não.

- Mas, Kyoko! Você vai ser apresentada como a minha namorada, não há oportunidade melhor.

- Não. Não há motivo suficiente para eu ir. Odeio festas, elas me irritam profundamente, principalmente uma com seres frescos e ricos.

- Mas, o Arata vai estar lá, junto com a irmã dele! – droga, ela resistiu... Espere, ela gosta de livros, então isso deve ajudar! – E não apenas isso, também vai ter muita gente importante lá. Cinegrafistas, estilistas e escritoras. Até mesmo a Yamamoto Rie.

- Certo, eu vou. Mas vou avisando que se algum riquinho maldito vier mexer comigo eu não vou me segurar.

- Com os adolescentes não precisa. Mas, por favor, com os adultos tente atuar um pouco.

- Eu não tenho roupa. E eu não sei me comportar nessas coisas. Como é uma festa dessas?

- É fácil. Vai ser como um casamento. Tem mesas, uma pista de dança, que na verdade é mais usada para algumas valsas e para os adultos se mostrarem, é em um salão. Como uma festa de casamento ocidental.

- Eu não tenho roupa.

- Isso é o de menos. A gente compra. Eu tenho um cartão de crédito se não sabe.

- Eu não vou fazer compras com você.

- Como assim.

- É insuportável ficar sozinha com você. Eu estou quase me matando aqui.

- Bem, você vai ter que lidar com isso, já que estamos namorando agora.

- Sim, mas não tão rápido. Eu tenho que me acostumar aos poucos.

- Eu vou fazer uma ligação. Assim todos ficamos felizes.  – Apenas atenda, pequeno maldito. – Arata! Que bom que atendeu. Eu venci, ela aceitou namorar comigo.

- Tecnicamente, foi ela que venceu, já que você dependia e ainda depende da ajuda dela.

- Você já tá sabendo?

- Ela me falou ontem à noite. Como acha que ela te encontrou?

- Ah... tá explicado...  Mas vamos ao que interessa. Você, a Momo e eu vamos na festa de hoje!

- Quê? Mas eu tava afim de ficar e ler um livro!

- Ficou sabendo que a Yamamoto Rie vai estar lá?

- Sim, mas...

- E que a Kyoko também?

- Convenceu ela? Você esta evoluindo como ser humano, afinal. Ok, eu vou. Era só isso?

- Não. Eu, você e a Kyoko vamos sair hoje à tarde pra comprar um vestido pra ela, ela disse que não quer ficar sozinha comigo.

- Ela ainda te odeia, afinal. Ok, me encontre no shopping as duas. Preciso desligar, nos falamos mais tarde.

- Ok, até. – desliguei e me voltei para Kyoko – O Arata vai nos encontrar no shopping.

 

O mundo da voltas, e tantas voltas que fui obrigado a concordar com meu pai: Kyoko era bonita, só precisava de um empurrãozinho para mostrar isso. O vestido preto e branco que chegava até seus joelhos, acompanhando o cabelo preto e curto preso em alguns pontos, junto da maquiagem leve que destacava os olhos, a deixou bem bonita. E bonita de uma maneira que me deixava feliz por ter gasto tanta grana nela.

A namorada eu já consegui, só falta apresentá-la para o resto da Sociedade Empresarial Japonesa e ela ser aceita por eles. Feito isso, não vou ter mais problemas!

 

 


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Notas finais do capítulo

Hello! Aqui é a Camihii! E não, meu pc n foi consertado i.i Agora msm estou em um hotel fazenda postando o cap pelo pc daqui... Ai ai, como as coisas são difíceis...

Por favor, me desculpem se houver algum erro gramatical, ok? É que realmente o tempo está meio corrido...

Bem, espero q gostem!! E não se esqueçam, mandem reviews!!