Kowai no Ai Suru escrita por Camihii, Luh Black


Capítulo 10
Aconchego


Notas iniciais do capítulo

Postamos!



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                Mas onde raios aquela menina se meteu? Já está meia hora atrasada... Aquela pequena maldita só me atrapalha, é incrível! Eu cumprimento ela na escola, como bons colegas de classe, e ela me trata do jeito que me tratou! Aí eu é quem fico atrás de briga com ela, é logico! Até já fiquei de castigo por culpa dela, por isso me atrasei pro encontro com a... com aquela vadiazinha rosa de meia tigela! Se eu ver aquela juba loura outra vez, não sei do que sou capaz!

                Arata disse que ia dar um jeito... mas estou com medo do “jeito” dele. Da última vez que pedi pra ele me ajudar a dar o fora me uma garota ele apareceu com umas 10 meninas que eu tinha ficado há algum tempo. O problema é que eu tinha dito que não traía elas, e quando me viram com outra garota... ainda sinto as dores dos tapas e unhadas que ganhei naquele dia. E o Arata ainda me veio com “Pelo menos nenhuma delas está atrás de você mais!”. Pro inferno, Arata. Mas ele é o unico com quem eu posso contar em um momento desses, o jeito é esperar. Quer dizer, ele prometeu que ia dar um jeito!

Flash Back on

- “O quê? Uau... tem certeza que era ela? Vai ver você a confundiu com alguém, sei lá...”

- Ah, claro! E quem mais tem um cabelo loiro com mechas rosas e fica usando uma bolsinha ridícula de ursinhos aos 16 anos?

- “Ora... vai ver a menina que você viu era mais nova!” – Ele tá brincando comigo.

- Arata! Era a Hana, eu vi!

- “Tá, tá! Só tô dizendo que hoje em dia o visual da Hana é muito popul-“  - ele com certeza tava brincando com a minha cara.

-Arata... se não quiser apanhar fique aí me esperando, e de boca calada.Tchau.

                Cinco minutos depois cheguei onde Arata me esperava. No caminho, devo ter tomado uns 2 copos de wisk pra tentar me acalmar, sorte a minha ser forte pra bebida. Tomara não ter ressaca amanhã.

- Kaoru, fica calmo e respira fundo! Tenho certeza que foi só-

- Se você disser que foi só coincidência eu te mato, Takada.

- Ok,não vou dizer. Vem, tem um parque aqui perto em que você pode esmurrar quantas árvores quiser, ao invéz de pessoas ou até de mim! Sabia que você fica violento quando tá nervoso? Eu ainda tenho cicatrizes do nosso último acampamento em que você não conseguiu pescar um peixe e começo a jogar as cadeiras pro alto. – mesmo sem querer, soltei um risinho fraco. Arata era o único que me aguentava quando eu ficava nervoso. – Muito bem, vá me contando a história toda pra gente poder pensar em uma solução. E tente esfriar a cabeça também, não quero passar meu dia de folga dolorido amanhã.

-Ok, por onde eu começo?

- Respirando fundo e se acalmando seria um bom começo!

- Haha, estou chorando de rir! – Como ele coneguia fazer piada em um momento como esse? – Muito bem. Eu estava lindo e maravilhoso perguntando há algumas pessoas...

- Garotas...

- Calado! Estava perguntando há algumas pessoas se sabiam onde Hana estava, depois de meia hora, quase desisti...até que vi a Hana se agarrando com outro cara nos fundos da festa. – já estávamos no tal porque, e eu amaçava um graveto que tinha visto caído no chão. – Como ela ousa me trair?

- Ela te traiu? Que deperdício... – Hã?

- Hã?

- Ah, eu quis dizer que idiotice, porque com certeza o tal cara era um plebeu.- Corrigiu ele, atrapalhado.

- Ah... certo. Mas com “quem” não importa, o que importa e que ela estava ME traindo! Arata! Você entende o que isso quer dizer?! Você entende o que o fato de Matsuda Kaoru ser traído quer dizer? – Eu estava agarrando o ombro dele e o balançando.

- Anh... bem... Mais garotas pra você ficar? O-Ow, calma Kaoru! Calma. Respire fundo, meu ombro não é uma árvore, esmurre a árvore, a árvore, sim? – Ele tirou minhas mãos de seus ombros e me apontou uma árvore. Ele tava pedindo pra apanhar!

- Arata... Eu sou Matsuda Kaoru, o herdeiro das empresas Matsuda e o cara mais popular do principal círculo empresarial do Japão. Eu traio minhas namoradas, mas se elas me traírem, como acha que minha reputação vai ficar? Tem alguma idéia da gravidade da situação?

- Aaah... você tá preocupado com a sua imagem, e não com o fato de terem te colocado chifres pela primeira vez... entendo. – Kaoru, não desgrace a sua vida passando o resto dos seus dias na prisão acusado de matar este projeto de ser na sua frente. Se bem que.. com a grana que eu tenho eu não iria pra cadeia... Se controle, Kaoru, se controle! Esmurre a árvore, a árvore!

- Arata, você sempre foi meu melhor amigo e o cara mais inteligente que eu conheço. Eu PRECISO dar o troco!

- Tudo bem...Hum... Já sei! Vai arrumar uma namorada!

- Uma... namorada? Outra? Mas pra que se eu...Ah! Aaah! Aaaaaaah! Entendi... – claro... que idéia genial! -  Como não pensei nisso antes? Uma namorada pra Hana achar que pra mim ela era só um brinquedo...

- E sua imagem volta a ser tão limpa quanto água mineral! Feito!

- Certo mas... quem vai ser a sortuda da história? Teria que ser alguém confiável, que não contaria pra ninguém...

- Isso já descarta todo o seu fã club.

- Se todo o meu fã club ta descartado, então quem?

- Hum... talvez... talvez eu conheça a pessoa certa pra isso, apesar dela ser um pouco mau humorada, ela é realmente confiável!

- Vai me ajudar? Sério?

- Claro! Por que eu não ajudaria?

- Arata... Arata....V-você é o melhor amigo que alguém poderia ter! Você não pode ser humano, não existem humanos tão bons! Você vai pro céu cara, vai sim, pode ficar tranquilo.

Flash Back Off

 

- ...não tem problema, Kazumi-chan. Prometo tentar sobreviver, já que um dia sem te ver corresponde a um dia a menos na minha vida, mas se é pelo Otou-san, não tem problema. – era Kennechi no telefone. – ...Kazumi-chan, você é tão linda, tão fofa!... Posso passar aí então?... – E estava falando com a namorada. - Imagina, eu é que ia ficar inacreditavelmente feliz! – Falando sem parar.

                Aaah, que inveja. Kazumi-chan parece ser o que eu achava que a Hana era... Mas nunca, nunca mais me enganarei com as mulheres outra vez! Elas são seres perigosos e manipuladores.. devo tomar cuidado com minha próxima namorada!

- Cadê a Kyoko? Ela já tá muito atrasada, não? – Perguntei à Matsui-chan. 

- Vou ligar pra ela agora, Matsuda-kun, mas acho que ela já está a caminho.

- Do que tá reclamando Matsuda? Você também não costuma ser pontual, além disso, Kyoko tem um emprego, ao contrário de filhinhos de papai como você!

- Não sabia que vacas entendiam a língua de pessoas normais, Hirano.

- E descobriu isso agora por que me entendeu, né, seu boi chifrudo?

- O que você sabe para falar algo sobre mim, Hirano? O que você sabe de mim e da minha vida para me questionar! -  Ela... não, não tem como ela conhecer a Hana, ela é de outro círculo empresarial totalmente diferente do meu.

- O bastante, seu mauricinho de meia tigela! Mas, quer saber? Você tem razão! Não vou perder minha preciosa saliva com você – Essa garota... é tão irritante quanto Kyoko! Por mim, morriam as duas! Ela se virou para Kennichi que conversava com a namorada no celular - KENNICHI! Desliga logo a desgrama desse celular! – Ao menos nisso concordávamos.

- ... Não, minha linda, é uma colega de escola minha... Eu juro meu amor, eu nem converso com ela direito, foi um amigo que me arrastou pra cá, acho que é pra um trabalho da escola...

- Ele nem sabe pra que tá aqui! Pelo amor de Deus, me dá essa porcaria! – Hirano arrancou o celular da mão do Kennichi e jogo-o no chão. Fez justamente o que eu estava me segurando para fazer.

- Ka-Kazumi-chan! Kazumi-chaaan! – ele correu até o celular, choramingando e vendo se ainda funcionava, ou melhor, se a namorada ainda estava na linha. – Kazumi-chan, tá me ouvindo! Kazumi-chaaan!

- Larga de drama, homem! Ela não morreu!

- O que acha que ta fazendo, Hirano? Kazumi-chan vai ficar preocupada. – Ás vezes, Kennichi ficava incrivelmente rápido, como foi o caso de agora: Ele já havia ligado o celular, discado o número e esperava Kazumi-chan atender. – Kazumi-chan? Não, não, eu estou bem, amor. Foi só uma louca invejosa que jogou meu celular no chão...

- QUEM AQUI É A LOUCA INVEJOSA, SEU MOLENGA!?

- Não se importe com os gritos dela, Kazumi-chan, e só uma invejosa encalhada e...  – Dessa vez foi minha vez de agir. Arranquei o celular da mão do Kennichi e o joguei com força no chão. Já havia perdido a paciência, e nem ao menos sabia o porque.

- Kaoru! Qual é? Meu celular, você.. você quebrou ele! – O celular estava em pedaços no chão. Por que estava tão irritado? Ciúmes? Inveja? Droga... é tão ruim assim descobrir que levou um chifre? Ao invéz de pedir desculpas ou dizer que lhe pagaria outro, dei as costas e fui na direção de Matsui-chan. Ela havia acabado de desligar o celular.

- Ela chegou. – me avisou Matsui, apontando para a entranda da Exposição. O cabelo estava um pouco bagunçado, o que mostrava que estava correndo.

- Finalmente! – gritou Hirano, comemorando a chegada de Kyoko.

- Me desculpem a demora, mas tive problemas no trabalho. – Olha só! Não é que a nossa ilustre Dama Negra sabe se desculpar?!

- Que demora, hein, Nakamura? – Reclamei. Meia hora de atraso não tão seria ruim se eu não tivesse que ter aguentado Hirano e Kennichi.

- Vamos entrar? – Ela me... ignorou?

- Claro! Muito prazer, sou Kennichi e esse loiro gay aqui é o Jiro! – Gay... isso não me traz lembranças muito divertidas. Esqueça isso, Kaoru, você já tem problemas demais na sua cabeça!

- Somos da mesma sala, então não tem muito o que apresentar.

- Bem, vamos? – Aleluia! Vamos fazer logo esse trabalho pra eu poder ir atrás do Arata.

                No final, nos separamos. Meninas para um lado e meninos para o outro. Eu fiquei responsável pelas fotos, e Kyoko pelas anotações, “Não confio nas suas mãos.”. Aaah! Vai encher o saco da vovozinha, Kyoko!

- Vocês têm sorte de terem ficado juntos. – Comentei com os outros dois. – Kyoko é insuportável.

- Bah, não importa. Logo você se acostuma com ela, Kaa-chan. Mas, mudando de assunto... – por alguma razão, Kennichi ficou mais agitado. – Jiro, pra quem tanto mandava mensagens, heim?

- É verdade... ficou uma bela meia hora no celular. Quem era a vitima? – perguntei.

- Aah... bem...

- Fala logo! Eu também fiquei ansioso e sem graça no meu primeiro encontro com a Kazumi-chan.

- Mas estamos falando do Jiro, e não de você, Kennichi.

- Ah, Kaa-chan e tão mau... Mas não importa. Anda, desembucha Jiro!

- Com quem eu... falava por SMS?

- Isso. – afirmou Kennichi.

- A pessoa?

- Aham. – afirmei. Agora até eu estava curioso.

- Que eu conversava?

- Aham.

- Pelo celular?

- Se não falar logo apanha! – ameaçou Kennichi.

- Ah, ninguém importante. Só um amigo. – a-amigo?

- Ah, claro. E você fica meia hora mandando mensagens pra um cara pelo celular! Acredito.

- É, Kennichi tem razão. Conta logo quem era!

- Tá... não era um amigo... – Menos mal. – Tava conversando com uma garota que eu conheci à um tempo. Estavamos marcando outro encontro.

- OUTRO!? – Berrou Kennichi, chamando atenção das outras pessoas. – Isso quer dizer que já teve um! Isso aê cara! Finalmente desencalhou, heim! Como ela é? Bonita? – Por que esse assunto de namoradas me desconfortável?

- Muito... não tem nem idéia!

- Não vai ser mais linda que a Kazumi-chan, é claro. Ela usa óculos, não usa? Daqueles grandões e fofos. Você adora meninas que usam óculos! – Kennichi já quase pulava em cima do Jiro. Eu só ouvia.

- Usa sim. Tem o cabelo curto e preto, parece bem mais nova do que realmente é. Além de ser muito fofa e tímida, o que a deixa parecendo uma boneca. É baixinha, desajeitada e delicada.

- Uaaaau! Tá podendo, heim! Ela não parece feia, não, cara! – Ok... reflita, Kaoru: Arata tem a mesma descrição, ele parece um bebezão de 13 anos, usa óculos grandes, ser mais desajeitado que o Arata não existe, e você viu os dois juntos no shopping à alguns dias... Naaaah! Impossível! É loucura da sua cabeça! Jiro arrumou uma namoraDA, e Arata é homem, não se aplica nesse meio... é... Jiro tem uma namorada, uma namorada fiel...

                AAAAARGH! Hana sua vadia maldita! Como ela ousa me trair? Eu, EU, Matsuda Kaoru, herdeiro de uma das maiores fortunas do Japão, um dos colegiais mais famosos de Tokyo. EU fui traído! Aquele projeto de vadiazinha me traiu! Como... como... como.... onde eu errei, Kami-sama? Alguém falou pra ela alguma coisa? Ela descobriu de algum jeito e quer me dar o troco?

- Não ser engane, Jiro. As santinhas são as piores! – Disse, finalmente abrindo a boca. – Bem... vou ao banheiro.

JÁ SEI! Hana é muito inocente, sendo assim alguém a persuadiu ou a ameaçou para me atingir, provavelmente algum cara que teve a namorada roubada por mim e quer vingança... é  claro! Como pude pensar coisas assim da Hana? Talvez Arata estivesse certo. Talvez fosse tudo um mal entendido.

Lá, lálálá,lálaaaaá, lálá, lálálálaaaaá. Como é bom saber a verdade! Oh, aquela não é a Hana? Vou falar com ela, mas... o que é... aquilo? Estou começando a achar que o inocente da história sou eu. Aquele projeto de vadia esta se agarrando com outro!

Calma, Kaoru. Respira. Não deixe que eles te vejam, assim tudo vai ser esclarecido mais facilmente. Isso... vá andando devagar... bem devagarinho... isso, tá indo bem e... Maravilha! Esbarrei em um monte de caixas! Hana se separa rapidamente do outro cara e se vira para ver quem é.

- Ara... Kao-chan! – Perae, eu não tô enxergando bem, vou perguntar qual o oculista do Arata, porque acho que tô precisando de um óculos. Ela tá sorrindo? Eu estava imovél e incrédulo. – Humm.. não era previsto você me ver aqui hoje, Kao-chan! O que está fazendo aqui? – Ela estava com sua habitual carinha inocente, como se acabasse de ser pega fazendo uma brincadeirinha infantil qualquer. Eu não respondi, e nem ao menos sabia o por quê. – Oohn... Kao-chan está surpreso, ne? Achou que eu era a única a levar o chifre, né?

                Mesmo fazendo sua carinha fofa e infantil, ela estava assutadora. De alguma maneira, ela estava assutadora. Não havia largado o pescoço do outro cara, que percebi ser o tal Kakeru que ela me apresentou outro dia. Ela teve essa coragem, me apresentar seu amante.

- Kao-chan.. tadinho, é tão ingênuo, tão inocente. – E você assustadora. Por que eu não conseguia dizer nada? – É tão chocante assim saber que eu também não gosto de você? Aliás, acho que ninguém te amaria. Até os seus pais ficam longe de você, há quanto tempo você não  os vê? Três, quatro semanas? – Como, como ela sorria tanto? -  No final você é inútil, não é de nenhum benefício para ninguém... quero dizer, você oferece algum benefício. Afinal seu pai é dono de uma das maiores multinacionais, mas as pessoas estão ao seu lado apenas por causa disso, ninguém gosta de você realmente. Você não tem ninguém. – Sorrindo como se fosse um anjo. Sorrindo cinicamente. Reaja, REAJA! – Você só tem a sua empregada, mas bem, ela é uma empregada, nee? Não vale tanto... Eu tenho pena de você... Você nunca vai amar ou ser amado, nunca vai ter uma relação como a que eu tenho com o Ru-chan. Você é um imbecil, Kao-chan. Sabe... acho melhor nos separarmos, não aguentaria ficar com um fracassado.

                Quem ela acha que é pra falar da Momiji? Momiji é muito mais nobre que ela ou qualquer um de sua família! Mas por que não consigo reagir, falar algo? Vamos, fale, fale algo...

- Eu estou aliviado. – Isso, continue! - Você não sabe como eu estou bem agora, juro que estava me sentindo muito culpado. Afinal, eu também estava te traindo o tempo todo, e sempre me culpava, já que sempre achei que você era uma santa... Mas, agora que vejo que você não passa de uma vaca e outras coisas piores, que eu não vou falar em respeito aos seus pais, eu não me culpo mais. Mas só para você quebrar a cara e só para eu ter o gosto de tirar esse sorrisinho imbecil do teu rosto, vou falar que você está errada. – Arata ja vai me arranjar alguém de qualquer jeito. Logo essa mentira será verdade. - Já achei uma pessoa que me ama, e que eu também amo. Uma pessoa que realmente me satisfaz, e me faz bem. Não uma sanguessuga como você. Uma pessoa mil vezes melhor, e que você nem ao menos ter o direito de beijar os seus pés, já que suja como é, vai com certeza sujar os pés da pessoa que eu mais amo. Você nunca vai chegar aos pés dela. – Golpe final! Ela se esqueceu que eu conheço sobre seu passado. 

“Você é tão hipócrita, diz que ninguém é capaz de me amar, mas nem sua mãe te aguentou. Deve ser por isso que a tão famosa atriz fugiu, para sair de perto de você. Você fala que ninguém vai amar alguém sujo como eu, mas a sua própria mãe te desprezou. – Ela enrrijeceu e ficou vermelha. Toquei em seu ponto fraco. -  Oh... Desculpa, não queria ter usado essa palavra. Desprezou. Sei que não gosta dela. Afinal, você tem fobia de ser desprezada, não? – Continue. Está a atingindo. - Que medo mais estúpido, primeiro que vem de uma vadia infantil como você, segundo que é um medo totalmente sem sentido, já que você sempre será desprezada, você não passa de uma peça de um quebra cabeça, Hana. – Ela começou a chorar. Ótimo. – Você não passa de uma gostosa que os homens passam a mão e vão embora rindo da tua cara. Você é um lixo desprezível e inútil.”

- Eu duvido. Você... – começou ela, limpando o rosto. Incrível ainda poder revidar. – ... com uma namorada? Até parece. Só acredito vendo!

- ... – Eu ia dizer alguma coisa, alguma desculpa, mas fui impedido. Senti algo pulando sobre minhas costas, me abraçando por trás.

- Algum problema, Matsu-chan? – Era Kyoko. Ou alguém muito parecida com ela, o que é mais provável.

- O que você está fazendo? – perguntei, num sussurro.

- Te ajudando, imbecil! Agora cala a boca e me acompanha! – Medo e alívio. Medo por que, afinal, era a Kyoko ali, em cima de mim, com um sorriso que eu nunca pensaria ver naquele rosto.  Alívio, por que assim me livrava da Hana. Alí reparei que ela tem olhos azuis.

- Quem é você? – Hora da luta.

- Matsu-chan, que é essa? É a imbecil que seu pai obrigou você a namorar. – Entre no jogo, entre no jogo.

- Isso mesmo. Ichikawa Hana.

- Muito prazer. – Ela sorriu. Mas sorriu de uma maneira convincente, como se estivesse mesmo tendo prazer em conhecê-la. Assutadora. Assustadora mas interessante.

- Tsc, me trocou por isso, Kaoru? Me sinto até ofendida. Esse projeto de garota é o amor da sua vida?

- Hana, não ouse falar assim dela! – Pense em Kyoko com seu grande amor, Kaoru. Isso é difícil, eu sei, mas faça um esforço.

- Não fica assim, Matsu-chan. – A voz estava tão doce quanto a de Hana. Ela parecia ter cartas na manga. – Eu não me importo com o que ela diz. Pessoas como ela são pessoas dignas de pena. Mas eu adorei saber que eu sou o amor da sua vida. Eu também te amo muito, nee! – Se controle, não ria, não ria.

- Quem é você? – Hana perguntou.

- A namorada do Matsuda, sua capacidade é tão pouca que ainda nem conseguiu entender isso. Ou será que o fato de que você foi trocada por alguém está te deixando ainda mais burra? –  Mesmo sorrindo de uma maneira fofa, ela ainda consegue humilhar as pessoas. Ela realmente me dá medo.

- Nada que tenha a ver com o Kaoru me atinge. Não sou tão medíocre a ponto de deixar com que isso me atinja.

- Mas é um pouco, não? Aposto que agora está se remoendo de ódio. É por isso que não sinto nenhuma vontade de ser rica, afinal, tendo dinheiro, ninguém nunca vai falar as verdades que você tanto merece ouvir, mas quando uma pessoa falar você vai ficar bem impressionada. E uma imagem patética vai tomar conta de você, como essa que você está fazendo agora.

- Ah, então você é pobre, uma simples plebéia. Vai querer dar um golpe no Kaoru, não? – ela estava na defensiva, isso é bom.

- Ai garota, você precisa escutar mais quando uma pessoa fala. Ou pelo menos tentar entender o que ela fala. Se eu estiver falando muito rápido me avise, certo? Por que daí eu falo mais devagar, quem sabe assim você entende. Se você não entendeu, eu não quero ser rica. O dinheiro não faz e nem melhora uma pessoa, apenas apodrece mais. Um belo exemplo é você. – Humilhante. Era assim que Hana com certeza se sentia. Tenho certeza que graças ao teatrinho eterno dela, ela nunca foi confrontada assim.

- O Kaoru está com você apenas por causa de uma aposta. Você não deve saber, mas os adolescentes ricos apostam entre si, para acabar com o tédio, sabe? E normalmente apostam se vão ou não conseguir conquistar uma pebléia. – Bem... isso não é de todo mentira. Mas ainda assim, não se aplica a esse caso, já quem nem amigos somos.

- Isso não é uma comédia romântica, fofa. É a vida real, eu sei que você não deve saber nada sobre ela, já que com certeza é mais uma dessas burras mimadas que vivem presas em seu próprio mundo, mas na vida real isso só acontece em filme.

                Elas estavam se encarando. Mas se encarando de uma maneira assutadora, mesmo que uma delas ainda sorrisse docilmente... bem, talvez isso fizesse da situação muito mais assustadora. Bem, supere esse medo momentâneo e comece a agir, Kaoru. Enquanto elas se encaram, eu abraço a cintura da Kyoko, e por um segundo a sinto tremer, mas ela retribui o abraço, aumentando ainda mais o sorriso em seu rosto... será que...Nããão. Impossível.

- Você o chama de Matsuda, que tipo de pessoa usa o sobrenome para se referir ao amor da sua vida? – Opa... pense em algo, pense!

- Ninguém mais o chama de Matsuda. Ou é de Kaoru, ou Kao-chan. Nenhuma namorada dele já se referiu a ele com o sobrenome. E é por isso que eu faço isso, para que eu seja algo marcante. Para que eu seja a única que o chame desse jeito. Para que ele me reconheça apenas pelo modo como eu o chamo. Para que o sobrenome seja algo pertencente somente a mim. – Wow... ela subiu no meu conceito ainda mais agora. Como ela pensa em uma coisa genial assim tão rapido?

- É por isso que você me chama assim. – digo, a abraçando mais forte e tentando demonstrar felicidade por uma descoberta. Para completar, lhe dei um beijo na bochecha. Ela tremeu mais uma vez, imagino o por que. Está com certeza seria minha primeira e última chance de fazer isso. Não se esqueça, Kaoru: é tudo mentira!

- Vamos. – disse Hana ao tal Kakeru, mas sem antes parecer extremamente irritada por ter perdido uma batalha. Talvez ela não estivesse acostumada a perder. Pega na mão do Kakeru, que se curva antes de ir embora, e os dois saem.

- K... Mas o que? – Antes que pudesse ter qualquer reação após a saida de Hana, Kyoko me da uma bofetada no rosto. Como assim? Uma hora ela me defende e na outra me bate?

- Arata me pediu, mas eu recusei. – Arata? Peraê... o Arata? Ela é a garota que ele falou que seria confiável pra me ajudar? Mas de onde eles se conhecem? Ela ignorou minha reação de surpresa, pegou o celular e foi se sentar no banco.

- Kyoko-chan. – Eu a chamo, me sentando ao seu lado, ainda acariciando meu rosto.

- Não me chame desse jeito, energúmeno. – Ugh... ela voltou ao normal.

- Kyoko-chan. – Voltei a insistir, mas dessa vez ela me ignorou. – De onde você conhece o Arata?

- Nós trabalhamos juntos. – Quê?

- Você trabalha na livraria?

- Não, Matsuda. Trabalho em uma loja de brinquedos e o Arata também.

- Não consigo imaginar você trabalhando em uma loja de brinquedos. – Mas que ver Nakamura Kyoko com um chapeu de urso, roupas fofinhas e luvas de ursos seria bem engraçado!

- Nem eu.

- Obrigado. – Isso, Kaoru! A surpreenda! Mesmo que você seja horrível com essas coisas, faça um esforço!

- Pelo o quê? – Eu tenho certeza que ela se surprendeu, mesmo sem tirar os olhos do celular.

- Bem... você sabe.

- Tanto faz. – remungou.

- Você me odeia. – Disse, tentando puxar assunto e parecer carente.

- Pensei que já estivesse claro. – Ugh, esqueci que ela voltou ao normal.

- E estava, pelo menos até agora pouco. Se você me odeia por que me ajudou? Podia muito bem ter ido embora, e eu que me explodisse! Por que fez isso? – Era realmente algo contraditório. Se me odeia tanto, por que ajudou?

- Boa pergunta. Também gostaria de saber. – Hã?

- Você me irrita!

- Eu sei. – Disso, sorrindo e voltando a olhar para mim. – Agora vamos.

 

---//---//---

 

- ARATA! ARATA! ABRE LOGO, DROGA! – Estava na porta do “casa” do Arata, esmurrando a porta. Queria respostas.

- JÁ VAI! Tá morrendo, é? – Perguntou ele, enquanto abria a porta.

- Que historia é essa de você conhecer Nakamura Kyoko?

- Que? Como assim? Você conhece a Kyoko-chan? – Perguntou ele, confuso, me dando passagem para entrar.

- Claro! Ela estuda na mesma sala que eu, e me odeia, o que é estranho.

- Então foi por isso que ela recusou... – Murmurou, mais para ele que para mim.

- Ela me disse que recusou...mas então... por que raios me ajudou?

- Hã? Ela te ajudou? Sário?... Uau.. isso é estranho...

- Com certeza é! Você sabe como a chamam na escola? Dama negra. Dama Negra! Todos têm medo dela... como é que...

- Kaoru, calma. Fica bem calminho, tá. Quer uma água com açucar ou algo assim? – Olhei para ele, sério. De repente, percebi que minhas mãos se encaixavam perfeitamente em seu pescoço. – Ok, já vi que não. Fique calmo e me conte a história desde o início. Ah, e toma esse travesseiro. Se quiser bater em algo, bata nele, ainda prezo pela minha vida.

- Certo... – O travesseiro, Kaoru, o travesseiro. – Eu estava em um trabalho em grupo da escola, lá naquela feira de matemática. Kyoko e uns amigos meus estavam lá também. Nos separamos das meninas e fomos fazer nossas partes. Ok. Aí fui ao banheiro. Kennichi e Jiro, dois amigos, estavam comentando sobre a nova namorada do Jiro...

- Aqueles caras daquele dia? – Arata me pareceu mais interessado do que devia, mas eu ignorei.

- Sim, eles mesmo. Bem, eu fui ao banheiro, já tinha colocado na minha cabeça que a Hana tinha sido manipulada ou algo assim. Aí eu a vi, e quando fui chamá-la, ela estava se agarrando com um cara. – Ele me passou um copo d’água, do qual tirei um gole antes de voltar a falar. – Aí a gente conversou um pouco. O mais estranho é que ela sorria como se estivesse falando sobre algo bom! Certo... aí eu também comecei a falar da mãe dela, aquela história toda, você sabe. Todo mundo sabe que ela é sensivel a esse assunto, tanto que começou a chorar quando falei disso. Então... a Kyoko pula nas minhas costas e me abraça por trás. Depois começa a falar de uma forma fofa como se fosse minha namorada mesmo, me defende e...e... E por que raios você tá rindo, Arata?

- Haha.. não, peraê...Haha, to tentando imaginar a Kyoko-chan falando de forma doce... Haha! Cara, deve ser muito engraçado! - Eu estava sério. Ele estava rolando de rir no chão. Seu pescoço parecia se encaixar cada vez mais em minhas mãos. Lembre-se do travesseiro, Kaoru, o travesseiro.

- Sim, sim. Provavelmente eu fui o primeiro a ver isso. Mas o que interessa vem em seguida: Ela disse que recusou me ajudar.

- E recusou.. mas sei lá, Kyoko-chan é estranha. Acho que ela sente uma incrível necessidade de ajudar as pessoas quando vê que elas estão em uma situação não muito favorável, como a sua, em que você provavelmente estava sendo humilhado.

- Obrigado pela parte que me toca. – Quero saber o que faria se ele fosse  meu inimigo, sendo que é meu melhor amigo e me trata assim. – Certo... o que eu faço agora? Ela disse que não me ajudaria.

- Hum... coloque-a contra a parede! Force-a. Peça-a em namoro amanhã, eu duvido que a Hana vá aparecer nos proximos dias.

- Tá... e se ela recusar?

- Me liga.

- Certo... Foi mal chegar aqui assim, mas tava meio sem saída, sabe?

- De boa! Amigos são pra essas coisa... mas você me paga um almoço pra compensar, ok? – propôs ele, rindo. Até que não seria uma má ideia.

- Beleza! Há um tempo a gente não sai pra se divertir! Sexta eu consigo sair mais cedo, pode ser? Eu sei que sexta você não trabalha, então seria legal. Que tal?

- Anh... Foi mal, Kaoru, mas sexta não vai rolar... eu já tenho um... compromisso. – Ele coçou a nuca. Sempre que ele coça a nuca e porque tá escondendo alguma coisa.

- Ah, é? E que compromisso é esse que te impede de passar uma tarde com seu melhor amigo?

- Um compromisso inadiável.

- Que compromisso? – Voltei a perguntar. Ele estava estranho.

- Anh... bem...É uma prova! É isso! Minha professora vai passar um teste e depois da aula eu tenho uns compromissos com o Conselho Estudantil

- Arata... sexta não tem Conselho Estudantil em escola nenhuma.

- É mas... eu preciso terminar umas coisas, e só vou ter tempo sexta! Então não rola. Que tal sábado? Ou domingo, por mim tanto faz! Agora anda, vai embora por que eu preciso estudar! – Mandou ele, obviamente vermelho e me empurrando para fora do apartamento.

- Peraê... você vai a um encontro? É isso, vai ver uma garota? Uau, Arata! Não me conta nem isso!

- Não é nada disso, Kaoru! Apenas vá embora! TCHAU! – Se despediu, me empurrando para fora do apartamento.

- Ok... eu te ligo amanhã no almoço. Tchau!

- Certo. – O ouvi dizer, antes de me virar para ir embora.

                Ora, ora! Quem diria. Arata esta tendo um encontro e nem me avisa. Estou me sentindo um inútil agora. Um encontro sexta... legal... Ahn... legal? Peraê? Sexta também é o encontro do Jiro, não é? A descrição bate com o Arata... Nãããããõ! Impossível... vê-los no shopping foi pura coincidência, tenho certeza, exatamente como esse encontro! Tenho certeza. Só pode ser... só pode ser...

---//---//---

 

- Arata?

- Ah,é você Kaoru.

 

-  Sim, e muito nervoso também! – comentei. Estava pelo celular com o Arata, depois de colocar a Kyoko “contra parede”. Tá... e o que eu ganho?

- Sério? Ah! O que você fez quanto a Kyoko-chan?

- Quanto a aquela imbecilzinha? – Me humilhou!

- Kaoru, não a chame assim!

- Como não Arata? Eu a pedi em namoro na frente de TODA a escola! EU! Matsuda Kaoru pedi a garota mais assustadora da escola e fui rejeitado!

- O-o que? Você pediu a  Kyoko em namoro na frente da escola inteira? Você é idiota por acaso?

- Mas... foi você que falou pra colocá-la contra parede!

- Eu disse pra colocá-la contra a parede, mas de um jeito sutil! Achou mesmo que ela ia se submeter a você só por que a pediu em namoro na frente da escola toda? Ao contrário das garotas normais, Kyoko-chan tem personalidade! – Por esse lado é verdade. 

- Tá... e o que eu faço agora? – perguntei – Acabei de ter outra discussão com a ela na sala, mas dessa vez ninguém viu. Ainda assim... agora ela me odeia ainda mais!

- Isso é obvio, já que você esqueceu de pensar um pouco antes de agir! Não é você que diz “Se deve conhecer o território antes de atacá-lo!”? 

- Ah... mais esse caso é...

- Não, Kaoru, não é diferente! Faça assim, caro amigo com carência de neurônios saudáveis: Coloque contra a parede de uma forma sutil mas agressiva, entende? Não exponha isso a todo mundo, ou pode ir para os ouvidos da Hana, mas faça Kyoko ter que aceitar  algum tipo de compromisso com você, seja de verdade ou mentira!

- Aaahn... acho que entendi! Um jeito que não nos mostre muito, mas tenho que fazê-la cumprir meu objetivo! – Arata é um genio!

- Isso. Simples, não?

- Sim, mas... como eu faço isso?  

- Como eu pensei que me perguntaria isso, você vai fazer exatamente o que eu mandar!

- Certo, pode falar.

---//---//---

 

                Terno, gravata, buque, cabelo arrumado depois de muito sacrifício e sapato engraxado. Estou pronto! Se isso não funcionar, nada mais funcionará!

- Ara... Kaoru-sama, onde vai tão arrumado? E para que essas coisas? – era Momiji que perguntava, após um longo tempo parada atrás de mim e de ter se maravilhado ao pedir que ela penteasse meu cabelo. – Você nunca se arrumou assim, nem para encontros com a Hana-san...

- Não fale mais este nome maldito nessa casa Momiji! E não queria saber porquê! – disse, ao vê-la tentar argumentar.

- Se insiste, Kaoru-sama.

- Nesta noite, Momiji, estarei decidindo o destino da minha vida! Estou bem? Pareço um garoto dedicado?

- H-hai... mas, Kaoru-sama... onde vai vestido assim?

- Estou indo salvar meu orgulho, Momiji! – fui até ela e depositei-lhe um beijo na bochecha, logo apos saí do quarto. – Me deseje sorte, e não sei que horas volto... – Se é que vou voltar, completei em pensamento. Mas assustar a Momiji não seria bom.

- Ha-hai...

                Estava decidido! Nada me faria mudar de ideia, nem que ela me matasse, o que provavemente irá acontecer. Mas sou um homem e devo enfrentar meus desafios e resgatar meu orgulho sem medo da morte!

                Pedi para Ishida-san parar algumas quadras antes do meu destino, ou chamaria muita atenção. Andei por alguns minutos e enfim cheguei até a frente do meu destino. Lembre-se das palavras do Arata, Kaoru, lembre-se.

“Bata na porta sem medo, lembre que seu orgulho e sua vida estão em jogo!”. Bato na porta. Uma batida leve, porém firme o bastante para Kyoko ouvir onde quer que ela esteja dentro da casa, que parecia extremamente pequena. Ouvi passos e me preparei. Ao abrir a porta, ela me olhou com cara de profundo ódio. Não decaia, Kaoru, não decaia!

                “... Sorria mesmo se ela estiver te esfaqueando...”

- Olá, Kyoko-chan! – A comprimentei com meu melhor sorriso de bom rapaz. Não obtive resposta, mas vi um homem, que deveria ser supostamente o irmão da Kyoko chegando atrás dela.

- Kyoko, o que foi? – Eu já o conhecia. Era o mesmo cara que vi com Kyoko no primeiro dia de aula. – Quem é esse? – Pela descrição do Arata, era ele mesmo. “ Kyoko me mostrou uma foto dele. Se chama Akira, é alto, parece um atleta, tem cabelo curto e preto. E um pouco parecido com a Kyoko, também.” .

- Olá, prazer, Matsuda Kaoru. – O cumprimento, ainda com o sorriso de “bom-moço”. Kyoko me olhava de uma forma assustadora, e eu me assutava comigo mesmo por ainda não ter agido normalmente. O que um homem desesperado não faz na hora do aperto?!

- Akira, pega o martelo! – ordenou ela. Akira, a olhou com cara de espanto, e eu fiquei mais assustado. Ela não parecia estar brincando.

- Mas, Kyoko... – tentou argumentar ele, mas ela interviu.

- Ah, esqueça! – Logo após de falar, tentou fechar a porta, mas eu a segurei e empurrei a porta de modo gentil, para não parecer que queria machucar a Kyoko.

- Espere, por favor. – “Esqueça sua arrogância, você agora é um cara humilde! Seja sempre humilde e diga sempre ‘por favor’ e ‘obrigado’...”. Akira me olhou assustado e senti o ar vindo de Kyoko ficar mais denso. Precisava ser direto.

- Kyoko, quem é esse? – perguntou Akira.

- Ninguém digno de atenção, Akira. Só mais um idiota que insiste em me encher a paciência. – respondeu ela, seca. Senti meu corpo tremer. Aquela foi a primeira vez que Kyoko lançou para mim seu tão famoso olhar.

- Muito prazer Nakamura-san! Sou Matsuda Kaoru, colega de classe da Kyoko-san, e estou apaixonado por ela. – Disse, me curvando. “Para terminar, diga que esta gostando dela. Mas diga isso na frente do Akira, assim ele vai querer explicações. E lembre-se de ser amigavél!” .

                Não sei que cara os dois fizeram, pois fiquei curvando durante um tempo, esperando alguma reação. Até que ouço Akira falar.

- Espere só um momento por favor, sim? – Disse ele, em um meio sorriso, e logo após se dirigindo á Kyoko. – Você vem comigo. – Hora da segunda parte do plano.

- Por favor, espere um momento. – Novamente segurei a porta, antes que ele conseguisse fechá-la totalmente. “Não deixa que eles conversem sozinhos também, isso pode deixar Akira na retaguarda já que Kyoko com certeza vai falar mal de você.”. – Kyoko-san não tem culpa m nada, ela nem sabia disso. Eu só preciso dizer a ela meus sentimentos de uma maneira digna.

                “ Eu apenas me encantei por seu jeito reservado de ser. Além de muito bonita, seus desenhos são bem feitos e sua atitude faz com que todos tenham respeito por ela. Além de sua inteligência e esperteza. Kyoko-san, peço desculpas se lhe causei problemas, prometo não voltar a fazê-lo. Nakamura-san, Kyoko-san, tenham uma boa noite e desculpem-me por tamanho incômodo. Foi um prazer conhecê-lo.”            

                “Apele para seu lado sentimental, diga que não quer causar problemas ou coisas assim. Não demore na conversa, ou ele vai te achar um chato por encher muita linguiça. Então faça menção de ir embora. Ele não te deixará ir depois disso.”

- Ah, espere, Matsuda-san. – dou um sorriso de lado. Havia dado certo. Certamente Arata é um gênio!

- Sim, Nakamura-san?

- Anh... por favor, entre. Assim podemos conversar um pouco.

- Aah, não, não poderia. É muita gentileza sua, Nakamura-san, mas certamente Kyoko-san não gostaria que eu entrasse. Já estou incomodando demais. Boa noite e até um outro dia.

- Anh... espera, Matsuda-san. Faremos o seguinte então. Eu vou esquecer por um instante o que disse agora pouco. Você parece um bom rapaz, e como é colega de classe da Kyoko, gostaria de conhecê-lo um pouco melhor.

- Akira, não...

- Kyoko, faça um chá, sim? Por favor, entre. – Antes de se virar, Kyoko novamente me lançou seu  tão conhecido olhar. Eu entrei junto a Akira.

                A casa era pequena mas parecia aconchegante para poucas pessoas. Não tinha muitos movéis, apenas o mais importante. Era no estilo japonês, por isso no centro da pequena sala tinha uma mesinha com duas almofadas. Era estranho, me pergunto onde estariam os pais da Kyoko. Também havia uma pequena televisão, pequena até demais ao meu ver, uma pequena estante com alguns livros e um rádio. Nada muito grande, nada muito caro, mas bastante aconchegante. Me senti bem ali dentro.

- Então, Matsuda-san.....

- Por favor, me chame de Kaoru. – pedi.

- Certo... Kaoru-kun, como você conheceu Kyoko?

- Bem... todos na escola a conhecem. Ela é reservada e bastante inteligente também. Tanto os alunos quanto os professores têm respeito por ela. Apesar de ter poucos amigos, muitas pessoas gostariam de saber mais sobre sua vida, já que ela não fala muito sobre isso. – Se pensarmos por um certo lado, estou fazendo um favor a Kyoko, já que estou dizendo tudo isso para seu irmão. Bem... de certa forma, não é mentira. Apenas estou escondendo alguns fatos.

- Entendo. Fico feliz de saber disso, Kaoru-kun. Sabe como é, tenho que cuidar de Kyoko sozinho, faço faculdade e trabalho. Por isso não tenho muito tempo para saber mais sobre sua vida, e fico muito preocupado. – Sozinho? Como assim?

- Anh... por favor, me perdoe se minha pergunta for muito ousada, e se for nem responda mas... Por que “sozinho”? – Ele de repente ficou sério, olhou para a porta que dava para a cozinha, onde Kyoko estava, e se aproximou de mim.

- Sei que não deveria te contar isso, e entendo que não saiba também. É algo pessoal,  se Kyoko descobrir que te contei ela me matará.  – ele parou por um momento,  voltou a sussurrar. – Há uma razão para Kyoko ser um pouco anti-social. Somos orfãos.

                Kyoko é... orfã? Espere... quer dizer que... seus pais estão... mortos? Ela vive sozinha com o irmão, e não é a toa que tem uma bolsa escolar então...

“Me desculpem a demora, mas tive problemas no trabalho.”.

“...além disso, Kyoko tem um emprego, ao contrário de filhinhos de papai como você!”

- Eles morreram quando Kyoko era muito pequena, então ela não tem muitas lembranças deles, mas eu sei que isso ainda a atinge um pouco. – continuou – Provavelmente ela disse a si mesma que não deveria me causar problemas, por isso não me conta muito sobre seu dia-a-dia.  Por exemplo, só descobri que Kyoko trabalhava à pouco tempo. Eu não queria que ela trabalhasse . Queria que ela se dedicasse apenas aos estudos, para ter um futuro melhor que o meu ou de nossos pais. Nessas horas, eu finalmente me toco que Kyoko está crescendo, e me sinto um inútil por não ter percebido isso antes.

                Agora eu entendo. Talvez entenda pouco, mas entendo o porque dela se dedicar tanto. Ela sabe que Akira se sacrificou para ficar junto dela e cuidar dela, sendo assim, não quer lhe trazer preocupações ou coisas desagradáveis. Nunca pensei que ela fosse alguém tão forte.

- Akira, o que está conversando com esse paspalho? – perguntou Kyoko, entrando na sala com uma bandeja de plástico nas mãos. Colocou-a sobre a mesa e serviu três copos de chá.

- Kyoko, não o chame assim. É seu colega de classe!

- Ele te disse isso? Não julgue o livro pela capa, Akira. Ele é apenas mais um mauricinho!

- Mas ele me pareceu uma boa pessoa, Kyoko.

- Akira... ele é um lobo em pele de cordeiro! Não se engane, por favor.

- Kyoko, seja mais amigavél. Eu estava realmente querendo conhecer algum amigo seu da escola...

- Ele NÃO é meu amigo da escola, Akira, e eu quero distância dele, além disso... – os dois discutiam, me ignorando por certo momento, mas não me senti desconfortável.

                Muito pelo contrário. Aquele ambiente para mim parecia extremamente aconchegante. A pequena discussão dos dois sobre quem eu realmente era para Kyoko era apenas algo passageiro, quase um brincadeira, tanto que deu para perceber que Kyoko se sentia bem ali, com seu irmão. Aquela sala mínuscula me parecia muito mais aconchegante que meu quarto, mesmo com coisas tão pequenas e baratas.

                A televisão pequena estava posta em cima de uma cadeira, e não de uma mesa como deveria ser. O rádio parecia apenas tocar CD, além de ser incrivelmente pequeno. A mesinha de madeira era bastante simples, as almofadas que serviam de assento eram finas, o que nos fazia parecer sentar no chão duro. A bandeja era redonda e de plástico, os copos de vidro, e alguns continham rótulos. Apesar de tudo ser tão inacreditavelmente simples, também é inacreditavelmente aconchegante.

                Pela primeira vez em muito tempo, consegui sentir o tão falado “Calor da família”.


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Notas finais do capítulo

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Enfim, mande um review! u.u