P.O.V Sarah

“Você quer que eu beije essa mulher?” - Chuck perguntou um pouco irritado. Roan estava parado nos observando: “Desesperadamente” – Chuck suspirou “ta” e me puxou para um beijo, foi um pouco de surpresa mas o contato com Chuck logo me pareceu natural e a vontade de beijá-lo me invadiu, correspondi a ele sem me importar muito com o que estava acontecendo, o beijo de Chuck me consumia. Suspirei pesadamente, busquei por Chuck mais uma vez mas ele parou o beijo. Só então me lembrei que não estávamos sozinhos. Chuck olhou para Roan e pigarreou. “Bravo”...

A voz de Roan Montgomery exclamava em minha cabeça “Bravo”... Mais uma lembrança em sonho, elas têm sido frequentes ultimamente. A última vez que beijei Chuck, aqui no quarto e Morgan nos interrompeu, tive breves flashs em um trem, eu e Chuck estávamos fugindo eu acho. Me mexi um pouco na cama, Chuck dormia tranquilamente ao meu lado, o cabelo meio bagunçado pendia um pouco sobre o rosto, tive o impulso de tocá-lo mas parei o movimento a meio caminho do rosto de Chuck. O Sol entrava fraco pela janela do quarto, a manhã estava fria ainda. Me movimentei lentamente para sair da cama, não queria acordar Chuck. Fui ao banheiro e lavei o rosto, uma olheira fraca acompanhava meus olhos, resultados dos meus sonhos que me fazem acordar no meio da noite, ultimamente eles estão se tornando pesadelos. Desde que soube do perigo que Chuck pode estar correndo os sonhos acabam com frequência em Chuck preso em uma cadeira metálica e com fios e eletrodos presos à sua cabeça. Eu reconhecia o laboratório, era o mesmo do sonho em que eu dizia a Chuck que queria me casar com ele, sei que é uma lembrança e ao que tudo indica é uma péssima lembrança, o sentimento de medo e desespero que me invade sempre que me vejo naquele lugar é algo difícil de descrever. Escovei os dentes e resolvi ir para a cozinha preparar o café. Para minha sorte ou azar, Morgan já estava lá com uma garrafa de café e algumas torradas:

“Hey Sarah, bom dia! Dormiu bem?”— Ele fez questão de sorrir ao pronunciar a última parte da frase, olhei para ele por um instante. Ele estava com uma bermuda cinza e uma camisa de algum jogo que não conheço, meio desbotada pelo tempo, ele provavelmente a tinha desde os 12 anos de idade. Sorria para mim como se esperasse que dissesse “Tive uma ótima noite de amor com meu marido, desculpe pelo barulho”, lembrei da manhã passada quando ele interrompeu meu momento com Chuck, foi inevitável não sorrir:

“Bom dia Morgan, dormi razoavelmente bem. Tenho acordado muito durante a noite” — Resolvi ser sincera. Ele me encarou um pouco.

“O Chuck continua se mexendo muito não é? Pode dizer Sarah, eu conheço aquele cara.”

Sorri enquanto pegava uma xícara e enchia de café, sentei ao lado de Morgan e peguei uma torrada.

“Sim, ele se mexe bastante, mas não chega a me incomodar” – Concluí.

Morgan pegou um pote de geleia de maçã e afogou uma de suas torradas, ele ainda olhava pra mim.

“Sarah”— Ele parou no meio da frase como se estivesse pensando no que falar – Você acha que pode lembrar? Sabe...lembrar do Chuck?”— Ele me encarou um pouco cabisbaixo, Morgan Grimes pode ser um pouco sem noção às vezes, mas claramente se importa com Chuck.

“Não sei Morgan, não sei se vou recuperar completamente a memória”— Tomei um gole de café como se estivesse indicando que queria parar a conversa por ali.

“Sabe, eu lembro quando tudo isso começou”— Morgan pareceu não perceber meu desconforto e resolveu continuar – “Você trouxe o Chuck de volta, antes de você ele vivia se arrastando por aí sofrendo pela Jill, e então você chegou e uou” - Morgan fez um movimento com as mãos como se jogasse algo em cima da mesa – “Você parecia impossível para ele”— Ele concluiu me olhando nos olhos – “Acho que Chuck está achando que você voltou a ser impossível”.

Eu encarei Morgan observando sua expressão, desviei os olhos e os fixei na minha xícara. Não sabia o que falar.

“Aquele cara te ama”— Morgan falou apontando para o quarto.

“Morgan...”

“Hey vocês, bom dia! Acordaram cedo.”— Chuck falou saindo do quarto coçando a cabeça. A calca de moletom um pouco curta devido a altura dele, a camisa cinza combinando com a calça, ele veio até mim e me deu um leve beijo nos lábios:

“Bom dia amor”— Falou distraidamente, o ato pareceu algo costumeiro. Chuck só se deu conta dois minutos depois quando já estava com a caneca de café na mão:

“Sarah, desculpe foi o costume”— eu o olhei e sorri:

“Não tem problema, faltou o beijo do Morgan”— falei sorrindo.

Morgan largou a sua ultima torrada afogada em geleia e levantou as mãos para o céu em um gesto exagerado:

“Finalmente alguém que me dê valor nessa casa”

“Ah você também quer um beijinho, Morgan? Vem aqui vem”— Chuck andou na direção de um Morgan que já se levantava da cadeira e ia em direção ao quarto:

“Sai cara, beija a Sarah mesmo. Vou ligar pra Alex.”— Chuck voltou sorrindo, me peguei o observando por mais tempo do que de costume.

“Algum problema, Sarah?”— Chuck percebeu que eu estava o observando.

“Humm... não, está tudo bem. Vou com você até o Compre Mais, depois vou encontrar com Parker e Carina, vamos reativar o Castelo.”— Chuck pareceu meio desconfortável, fez uma careta quase imperceptível, contive um sorriso. Eu sei que Chuck se sente inseguro em relação a Parker.

“Eu vou me arrumar então, melhor não deixar os dois esperando.”— Chuck saiu em direção ao quarto.

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Quando eu e Chuck passamos pela porta do Compre Mais, Parker e Carina já estavam nos aguardando próximos ao balcão dos nerds, Parker estava em uma roupa social despojada, o que o deixava atraente. As vendedoras da loja já se aglomeravam próximas ao balcão, o movimento na loja ainda estava fraco. Segurei a mão de Chuck.

“Olá Walker, se me permite, hoje você acordou especialmente linda”— Parker beijou minha mão enquanto Chuck o encarava com cara de quem queria vomitar. Parker manteve sua mão na minha e sorriu sedutoramente.

“Bom dia pra você também, agente Parker”— Chuck se adiantou e se colocou entre mim e Parker. “Olá Carina, bom ver você também”— Chuck cumprimentou Carina que o observava com um sorriso debochado.

“Bem, temos muito trabalho hoje não é mesmo?”— Carina falou se dirigindo a mim. “Melhor irmos logo, temos muito o que organizar no Castelo”.

“Claro”— Emiti fracamente. Olhei para Chuck que observava Parker com uma expressão de pesar, claramente ele se sentia ameaçado. Lembrei que eu e ele deveríamos parecer um casal. Me aproximei dele e arrumei algo em seu crachá:

“Nos vemos no almoço?”— Perguntei sedutoramente. Chuck me olhou aturdido:

“Claro”

“Vou contar as horas”— Sussurrei antes de ficar na ponta dos pés e puxá-lo pela gola da camisa para um beijo leve mas demorado. Parecia que eu já havia feito aquilo pelo menos umas mil vezes.  Alguém pigarreou atrás de nós:

“Tchau, Chuck.”— Falei enquanto saía, ouvi um “tchau” fraco enquanto acompanhava Carina e Parker rumo ao Castelo.